Paralelo T. escrita por Tom


Capítulo 6
Capítulo 6 - Surpresas


Notas iniciais do capítulo

São nas situações mais difíceis em que temos as melhores ideias.



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A irritação de Torie apenas aumentava. Enquanto ela descontava toda a sua indignação em um texto para enviar a Daryos Hedty, o garoto da jogo, sua mente trabalhava rápido em liberar todo o sentimento que ela estava guardando por ele.

Sentimentos que não eram muito bons.

Ela se perguntava frequentemente o porquê do motivo de sua mudança. Perguntava-se o que teria feito-o esquecer de que eram melhores amigos e que faziam brincadeiras juntos para que ele conseguisse se afastar e se tornar a pessoa fria que ele estava no momento. Além de fria, claro, bipolar.

Havia vezes que ele parecia estar voltando ao normal. Gritava, brincava, dava atenção à garota e não parecia que ele tinha uma namorada. Mas apenas parecia, porque toda vez que estavam juntos, como amigos, ela tendia a entrar e ele voltava a ficar estranho novamente. Fingindo que eles, Torie e Daryos, não tinham nenhum sentimento pelo outro. Mas eles tinham.

E ele estava trocando uma excelente garota por uma vaca.

- Que grande demente. – Sussurrou para si mesma e para ele enquanto clicava no botão de “enviar” para que a mensagem chegasse até o garoto. Já fazia pelo menos dois dias que eles discutiam dessa forma mais “discreta”. Ele dizendo que não estava estranho, que era ela que estava. Ela dizendo que ele era um idiota totalmente lerdo que não conseguia ver as coisas que estavam debaixo de seu nariz.

Era frustrante para Torie pensar que ela já sentiu e talvez ainda sentisse um “algo” a mais por ele. Era frustrante o quanto ela queria sair daquele jogo, se dedicar às suas histórias e à leitura de seus livros, mas não conseguia porque ele ainda estava lá. Só que, pelo garoto mudar tanto assim, ele estava conseguindo com que ela se afastasse. E como estava.

“Estou conversando com o Daryos.” Digitou na tela do seu celular a mensagem para Ilee. A loira tinha certeza de que a amiga se interessaria bastante pela conversa dos dois. Na verdade, ela queria mais era que o menino se fodesse. Isso fazia com que Torie risse apesar de a situação ser um pouco séria. Ilee sempre a fazia rir quanto a esse assunto.

“E o que está rolando? Clima tenso?” Ela perguntou na resposta. Torie deu de ombros como se isso fosse adiantar alguma coisa. Ilee não a via... Ela morava longe demais para que isso acontecesse. Deprimente.

“Estamos discutindo.” Respondeu simplesmente. A garota do outro lado do celular conseguiria entender que o assunto não era para ser conversado agora. Torie não se sentia... Confortável. Atualizou, no computador, a sua página de mensagens e viu que não havia nenhuma nova. Ele ainda não tinha respondido... A loira não duvidava que ele estivesse com preguiça demais para isso. Fechou aquela janela, agora bastante irritada.

- Está tão diferente que nem se importa mais em conversar comigo. – Falou em um tom estridente, apertando com uma força um pouco excessiva o mouse. Estava começando há passar o tempo e logo ela ficaria sem o computador e não teria mais tempo de escrever um pouco mais de sua história. Soltou um suspiro longo, abrindo as páginas que continham o texto.

“Vou escrever. Até.” Mandou para Ilee e praticamente no mesmo momento ela respondeu com um “Oka e.e”. Manias. Torie sorriu antes de deixar o celular de lado e se reclinar na cadeira, para pensar. Aquela seria uma história complicada.

E então a última coisa que a garota percebeu antes de começar a escrever era que ela tinha apenas uma hora para continuar com algo descente. Seus dedos já batiam contra o teclado e as palavras se formavam com facilidade perante os seus olhos.

“‘Por que os homens bonitos costumam serem sempre os perigosos?’ Pelo menos era isso que se passava na cabeça de Amerie enquanto ela ainda olhava para a pessoa que se postava na porta de sua casa. A mulher se manteve imóvel, sem saber exatamente o que fazer. E se ele tivesse ido ali para matá-la? Mas essa nem era a questão maior. Como ele havia descoberto que ela morava ali? Impossível! A não ser que...

Talvez ele trabalhasse para o Chefe.

- Amerie Piktrius Virtanen, eu sei que está aí. – Falou ele com sua voz grave e máscula. Aquilo era um atrativo novo para Ame. Ela suspirou profundamente, mas não ousou abrir a porta. Direcionou-se rapidamente até a mesa da sala e pegou sua adaga, colocando-a no bolso do casaco onde a arma seria facilmente alcançada e voltando a observar o homem misterioso pelo mini binóculo.

- O que quer aqui? – Perguntou ela com a voz mesclada de calma e indecisão. Talvez até medo. E se ela estivesse ficado como um zero a esquerda para o Chefe e agora ele havia mandado alguém para matá-la? Pelo menos sem lutar e vencer ela não sairia dali. Analisou o corpo musculoso de seu oponente, as curvas que o deixavam tão... Superior. Seria uma pena matar alguém igual a ele.

- Sou Matthew Flavttion Williams. Carrasco sênior e substituto de Immanuel Jaryt, subordinado do homem que você conhece como Chefe. – A voz do homem saiu mais calma do que a de Amerie. Ele não estava com medo nenhum de estar ali, o que poderia significar que ele não faria nada. Claro que ele sabia que Ame era uma assassina. E uma das melhores.

- Por que eu deveria deixar você entrar? – Ela perguntou em tom de desafio. Só o fato de ele trabalhar para o seu chefe não queria dizer nada. O homem poderia ser um desertor que buscava vingança das atrocidades que Ame já tinha feito, ele poderia realmente ter vindo matá-la, só que infelizmente, para Ame, ele não tinha ido ali chamá-la para sair. Seria uma ótima experiência.

- Tenho uma mensagem do Chefe para você. – Ele completou as suas informações. Amerie analisou-o mais uma vez, como se para ver se não sairia nenhuma arma super tecnológica de seus bolsos e abriu a porta.

Ele era ainda maior visto cara a cara.

Seu cheiro era de um perfume, importado, masculino. Ame não conseguiria identificar.

Ele parou na soleira da porta enfiando as mãos no bolso da jaqueta e olhando-a com as sobrancelhas erguidas. O homem parecia achar graça naquela situação, como se já estivesse acostumado a ser tão visivelmente observado daquela forma por mulheres. Ame ergueu a cabeça, com um ar superior e se virou de costas, andando até a sala de estar onde dois sofás ficavam virados um contra o outro, apoiado em paredes. Um deles, o maior, estava quebrado e se alguém com mais de vinte quilos sentasse nele cairia facilmente.

 Ame fez questão de se sentar no sofá pequeno.

A queda de Matthew a fez rir.

O homem franziu as sobrancelhas por um momento, sem entender a situação, mas logo se pôs de pé. É... Ele tinha se irritado.

- Me desculpe. Eu deveria tê-lo avisado sobre isso. – Disse Amerie com falsa cortesia, como que para irrita-lo ainda mais. A agora morena Am não seria mais uma daquelas que ele achasse que poderia ter. Não mesmo. Matthew pegou uma cadeira da mesa da cozinha e a arrastou até parar de frente a mulher, sentando-se em seguida.

- Chegou aos ouvidos e olhos do Chefe que você tentou não matar a criança. – Ele foi direto ao assunto e aquilo não era uma questão em aberta. Era uma afirmação totalmente segura. Ame se odiou por conta do deslize, soltando um suspiro e pensando na melhor coisa que poderia dizer.

- Eu não poderia matá-lo na mansão. Faria barulho demais. – Ela respondeu com uma voz doce. Teria de convencê-lo achar que pegar Rodolf tinha sido parte de seu plano e não uma fraqueza de seu ser. Só que Amerie já estava chegando aos seus quarentas anos. A arte de convencer já estava lhe ficando meio fraca, apesar da beleza.

- Mas você matou o guarda com tanta facilidade e silêncio. – Continuou Matthew. Sua voz saiu em desafio, como se para deixá-la sem saída. Mas ele ainda não entendia totalmente do ramo. “Amadores”. Pensou Ame, com desdém.

- Os homens são mais fácies de persuadir e matar. – Comentou a mulher simplesmente. Ela cruzou as suas pernas e estendeu os braços em horizontal logo acima do encosto do sofá, como se para mostrar o que queria dizer. Por mais que o clima ali estivesse um pouco pesado, Ame não poderia parar de reparar o quanto Matthew era bonito. Não só bonito, claro, charmoso e galanteador. Se ele não estivesse, talvez, pensando em matá-la, Amerie teria uma noite ‘legal’ depois de dias.

- Tenho certeza que sim. – Ele retrucou cinicamente. Escorou-se na cadeira e olhou para um ponto distante acima da cabeça de Amerie, pensativo. A mulher gostaria de ler mentes para saber qual seria o seu veredicto. Agora que o homem havia se calado ela conseguia prestar melhor atenção nos detalhes de sua própria casa. A porta do banheiro, que estava totalmente sujo, estava aberta. Rastros de sangue estavam espalhados pela casa e sua banda favorita ainda tocava baixo, através de seu som. – Entretanto, a criança foi encontrada morta no fundo do precipício de um dos túneis e você está aqui, viva. – Ele continuou inesperadamente. Ame afirmou com a cabeça e começou a esboçar um sorriso torto.

- Eu cumpro com o que digo e principalmente com as minhas ordens. – Falou com a voz superior. Matthew voltou a fitá-la, agora sem aquele ar misterioso, mas sim com um inicio de admiração.

- Então temos aqui uma assassina que gosta de Muse? Bom saber. – Ele falou mudando totalmente o tom de voz. A mulher percebeu, só agora, que o seu ar sério de antes era apenas uma fachada para o cargo que exercia.

Amerie Piktrius adorou aquilo.

- O que posso fazer? Tenho bom gosto. – Disse Amerie se levantando de forma lenta e, também, um pouco sensual. Foi até o seu som e aumentou um pouco mais o volume. Agora a música que tocava era Undisclosed Desires e ela olhou de esguelha para Matthew. Ele a poderia fazer esquecer-se de tudo por alguns momentos. – Mas tenho certeza que você não veio aqui apenas para me investigar e falar de meu gosto musical. Estou certa? – Ela perguntou com a voz calma enquanto voltava a se sentar de frente ao homem.

- É. Apesar de eu preferir determinadas bandas alemãs, não vim aqui apenas para isso. – Ele falou enquanto se levantava para tirar um envelope do bolso. Antes mesmo de abrir, Ame já sabia o que era. Outro assassinato. Ela se perguntava o que a população achava dessas mortes misteriosas que viviam acontecendo em sua cidade.

Não é normal pessoas com nome importante morrerem assassinadas.

Não é normal a polícia não achar o responsável.

Eles deveriam temer quem quer que fizesse aquilo.

Ame sorriu enquanto estendia a mão para pegar o papel. Abriu-o sem hesitar e começou a ler o nome que estava escrito ali. Ela não entendeu. A assassina costumava a matar pessoas totalmente conhecidas na sociedade, mas ela nem tinha ideia de quem era aquela ali. O que o chefe queria com aquilo?

- Tem certeza que é para mim esse envelope? – Perguntou uma confusa Amerie. Matthew tomou-o de suas mãos e leu as mesmas palavras, dando de ombros.

- Me mandaram te entregar esse, mas não vejo nada de estranho. Algum problema? – Ele perguntou curioso. Talvez o homem pensasse que fosse algo do passado da mulher, mas não tinha nada a ver com isso. O problema era o fato de Ame nunca ter ouvido falar de nenhuma Lyana Labrouth. Nunca. Decididamente essa não era uma mulher famosa na cidade.

No rodapé da folha estava escrito um endereço. Era de um orfanato onde Ame havia passado dois anos de sua vida antes de fugir e se tornar o que era hoje. Mas isso nem a afetava tanto assim. Mesmo na sua época ela não havia conhecido nenhuma Lyana.

- Estranho... – Ela sussurrou e deixou a palavra morrer ali. Levantou o olhar para Matthew que a olhava ainda curioso, mas Ame abriu um sorriso comum. – Não se preocupe. Foi apenas uma confusão que tive por um momento. Nada mais. – Ela falou com a garganta seca. Olhou para a porta e depois para o homem a sua frente. – Acho que já está na hora de você ir, não?

- Está me mandando embora? – Perguntou ele com um sorriso sacana.

- Pode-se dizer que sim. – Ela retrucou e ele deu novamente de ombros. Recuou alguns passos de costas, o tempo necessário para que ele piscasse e depois se virasse para ir embora. O som de batida da porta chegou aos ouvidos da mulher e ela percebeu que estava sozinha novamente.

Conhecendo ou não aquela mulher, Amerie tinha que cumprir suas ordens. Dois assassinatos em dois dias. O Chefe estava começando há ficar um pouco apressado demais.”

Torie parou de escrever enquanto seu estômago roncava. Ela não comia desde o almoço e já estava quase iniciando a noite. Era bem provável que o termo “morrendo de fome” se encaixasse naquela situação. Salvando e fechando a página de sua história, a garota em seguida se encaminhou para a cozinha.

Nem Daryos conseguiria tirar a sua calma naquele momento.  


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Notas finais do capítulo

Para mim esse capítulo ficou meio "esperava mais". -q

Mas mesmo assim, espero que tenham gostado. :3



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