Paralelo T. escrita por Tom


Capítulo 5
Capítulo 5 - Revolução


Notas iniciais do capítulo

Mudanças são necessárias quando começamos a errar demais.



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E Torie já não ouvia mais nada a não ser a sua imaginação aflorando enquanto ela batia de forma rápida no teclado de seu computador.

Amerie já não conseguia ver mais nada depois de ter corrido com Rodolf no colo pelos túneis subterrâneos por cinco quilômetros. Suas vistas estavam turvas e os saltos de sua bota já haviam se quebrado há algum tempo, mas isso não a fez parar. O medo de estar sendo perseguida e as suas lembranças cada vez mais próximas a faziam ter medo de ficar tão próxima assim da propriedade do prefeito. Será que eles já teriam dado falta do garoto?

- Calado! – Sibilou a mulher com irritação. A criança não parava de chegar desde que o lugar havia ficado escuro demais para não conseguir se ver a própria sombra. O rosto estava todo manchado com lágrimas e pelo nariz escorria catarro. Ame não saberia dizer se sentia nojo ou remorso por tê-lo trago consigo. Na hora, tirá-lo do pai e da mãe desnaturados parecia ser uma hipótese melhor do que matar, só que agora... A loira controlou seus pensamentos. Ele era uma criança.

Mas o que seu chefe pensaria?

Amerie sempre havia tido a curiosidade de conhecê-lo. Nunca se encontraram nem sequer se falaram, ele apenas sabia exatamente onde ela morava e o que ela fazia. Como? Era impossível descobrir. Ela também gostaria de saber por que o motivo das tantas mortes que ele ordenou e por que matar logo a criança... Sempre eram pessoas maiores de idades. Sempre. Mas não era isso que importava no momento.

E então Amerie e a criança caíram.

Aconteceu tudo muito rápido. A mulher não sabia mais em quais túneis se localizava. Seus olhos com as suas próprias lágrimas e o cansaço da corrida lhe tampava a visão. Seu corpo dolorido não tinha mais senso de coordenação para conseguir se equilibrar naquele lugar. Ah! Aquele lugar. Era um precipício. Feito exatamente para surpreender quem quer que passe por ali sem conhecer a planta subterrânea do lugar. Mas Amerie conhecia-o bem. Ela sabia exatamente que na mesma direção que ela caia havia uma árvore que brotava em diagonal diretamente da parede do buraco. Ela sabia e havia calculado que aquela ramagem seca conseguiria suportar exatamente os seus cinquenta e cinco quilos, mas ela sabia também que não conseguira se salvar se o garoto fosse junto.

“O que faço... O que faço...” Pensou desesperada enquanto ouvia os berros do garoto aos seus ouvidos. Como ele poderia ser tão irritante àquele ponto? Eles estavam em queda livre e se ela se concentrasse mais no choro de Rodolf do que em si própria ambos morreriam. Qual havia sido o texto da carta que havia chegado hoje mais cedo? “Mate o filho do prefeito.” A mensagem passou na mente de Amerie como um letreiro de neon.

Ela havia decidido.

Trouxera a criança junto.

Mas Amerie era uma mulher de palavras.

Antes mesmo de perceber o que havia feito, seu corpo bateu contra a árvore estrategicamente localizada. Apenas o seu corpo. O grito da criança ainda poderia ser ouvido a distância, em queda livre. Bom. Pelo menos até que um baque surdo subiu das profundezas do abismo e o som se cessou. A Assassina havia feito o que lhe fora pedido.

A criança estava morta.

[...]

Amerie ainda se abraça no galho. Sua boca se abria com os seus soluços causados pelo choro excessivo. Seu corpo estava todo dolorido com o impacto, alguma coisa deveria ter se quebrado, e a sua pele estava toda cortada com tantas batidas nas paredes dos túneis. Mas não era por conta da dor que ela chorava, nem da morte da criança. Ela chorava porque não conseguia mais evitar pensar em Antti Charlisle.

‘- Amerie Piktrius! Te achei! – Gritou o garoto de quinze anos com os seus cabelos castanhos e desgrenhados. Ele possuía um sorriso travesso no rosto enquanto fixava seu olhar em uma garota que estava escondida atrás da mesa. Seus cabelos loiros estavam totalmente visíveis.

- Não vale. Você roubou! – Reclamou a garota de lá, também com os seus quinze anos. Ela saiu debaixo no móvel lançando um olhar irritado, pelo menos temporariamente, para o seu descobridor. – Era impossível me ver. – Terminou parando exatamente em sua frente, com os braços cruzados.

- Claro que não! Assim você me ofende. – Ele falou com uma voz falsamente indignada. Estendeu as mãos para apertar as bochechas da menina. Já era mania. – Sabe de uma coisa? Acho que a gente deveria ir embora daqui. Se meu pai descobrir, estaremos piores do que mortos. – Continuou, olhando para os lados como se a qualquer momento a morte fosse aparecer ali para levá-los embora. Ainda vasculhando o cômodo vazio a não ser por eles dois, percebeu que a amiga estava calada demais. Virou-se para ela, confuso. Assustou-se quando percebeu a intensidade com que ela o fitava.  – O que foi?

- Ah... Ahn... Nada. – Respondeu uma vermelha Amerie, desviando o olhar. Suspirou profundamente. – É só que... Eu queria fazer uma coisa. – Falou em voz baixa. Sua mente estava anotando todo o detalhe daquela cena. Trabalhando rápido. Só não rápido o suficiente para acompanhar o seu coração acelerado. – Posso, Antti?

- Se não for me matar, pode sim. – Falou tentando quebrar o clima. Aquilo decididamente era um comportamento estranho demais para uma Piktrius. Antes sequer que ele pudesse fazer alguma piadinha idiota, viu seus lábios selados com os de sua amiga. Ele estava surpreso demais para pensar alguma coisa que não fosse Agnes. O que ela diria? Ele já passava mais tempo com Ame do que com a própria namorada. E então, ele a afastou. – O que você está fazendo?  – Perguntou simplesmente.

- Achei que você... Não, esquece. – Disse uma Amerie prestes a chorar. Por que ela havia achado que ele a corresponderia? Era provável que ele gostava mais da vaca da Agnes do que dela. Mas por que não era isso que parecia depois de todo o tempo que passavam juntos? Tantos momentos compartilhados, suas risadas...

“Controle-se Amerie. Controle-se Amerie!” Gritou para si mesma em pensamentos. Ela já estava bem longe do escritório nesse momento. Imaginara que Antti a seguiria, querendo uma explicação ou até... Um beijo, mas ela tinha certeza que ele havia saído correndo para a direção oposta com o rabinho entre as pernas para Agnes.

- DESGRAÇA! – Gritou o mais alto que conseguiu. Suas lágrimas a estava sufocando e então, se jogou no piso do banheiro mais próximo que ela tinha conseguido encontrar daquela enorme mansão.’

A Amerie mais velha também estava chorando, só que diferentemente de seu “eu” há 22 anos, ela estava tentando se levantar e se mover para uma depressão que se formara ali. Havia algumas pedras que equilibravam o seu peso, como uma parece de escalada, e então ela conseguia hora ou outra se mover para cima. Seria um caminho lento, mas necessário. Ela tinha que chegar a sua casa.

[...]

Depois de passar pelo menos duas horas escalando a parede do precipício Amerie tinha conseguido chegar a sua casa. Por mais que sua mente estivesse turbulenta demais, ainda existia um pequeno espaço para ficar armazenado o pensamento de que o seu chefe, seu querido chefe, havia pensado em tudo para caso ela caísse naquele lugar. Mandou-a estudar o mapa, “fez” surgir uma árvore no ponto preciso e ainda permitiu que se apoiasse em pedras devidamente distribuídas. Era tudo... Estranho demais.

Presa em seu quarto, ela limpava os seus ferimentos com fúria e berros de dor. Na verdade, estava bem pior do que ela havia imaginado. Farpas haviam se espalhado por todo o seu corpo, o dedão da mão esquerda havia se quebrado durante a queda, – dedão que ela tinha colocado no lugar depois de muito tempo de preparação – seus pés estavam cheio de calos e seu cabelo louro estava totalmente horripilante. Não queria ver o aspecto de seu rosto que por vezes fora a sua arma mais importante.

Arma.

A adaga de Ame, pelas forças divinas, havia continuado no mesmo lugar em que fora colocada antes. Era o seu bem mais precioso. Um presente de seu pai antes de ele ser brutalmente assassinado. Foram essas e outras que fizeram com que Amerie se tornasse o que ela é hoje. Quer dizer, no momento ela estava totalmente desequilibrada.

Não interessava o que se passava, ela continuava a chorar. Lembrava-se de todas as mortes que já havia cometido, lembrava-se de Rodolf e de Antti com aquelas duas mulheres em um momento nítido de traição a Agnes, lembrava-se dos momentos feliz e tristes ao lado do prefeito quando eram mais novos... A mulher estava enlouquecendo.

E realmente estava.

Soltou um enorme berro. Um berro daqueles que dura bastante tempo, mas que depois deixa a sua garganta totalmente horrível. Um berro que eliminava pelo menos uma parcela do que ela estava sentindo no momento. Um berro de revolta. Era isso. Ela queria demonstrar toda a sua revolta perante aquela situação. Aquelas situações.

Por que apenas com ela?

Sem hesitar, foi até o seu aparelho nada moderno de som, mas que pelo menos tinha entrada para pen drive e colocou a sua música favorita, da sua banda favorita, para tocar. “Assassin”  tocava em último volume enquanto Amerie ficava no meio de seu quarto, se mexendo no ritmo frenético da música de rock. Aquela letra fora praticamente feita para ela. Tudo bem que a atual ação não era compatível com uma mulher de quase 40 anos, mas ela não se importava.

Estava na hora de demonstrar um pouco de sua revolta.

Estava na hora de esquecer-se do passado.

 Foi até o armário do banheiro, abrindo-o com tanta força que a portinha foi lançada do outro lado do pequeno cômodo. A loira, sem se importar com a quebradeira de sua casa, pegou uma tinta para cabelos que estava ali. Tirou o casaco todo rasgado, jogando-o no chão e permanecendo apenas de sutiã.

Ela estava totalmente cega perante as suas ações.

Aplicou a tinta sem nem sequer hesitar. Seus cabelos foram totalmente cobertos pelo produto enquanto ela remexia o quadril ainda no ritmo estridente da caixa de som. Por pelo menos alguns momentos ela havia se esquecido de Antti, de Agnes, de Rodolf, de seu chefe, de suas mortes. Havia se esquecido de si mesma.

[...]

O resultado final havia ficado melhor do que Amerie esperava. Agora que ela já tinha voltado ao seu ‘normal’, o que implica se lembrar de todos os problemas, a mulher se fitava no espelho totalmente maravilha.

A pela branca reluzia com a luz do cômodo.

O lápis preto permitia que seus olhos azuis se destacassem mais.

Os lábios, como sempre, estavam vermelhos sangue.

E os cabelos... Ora, eles estavam totalmente negros.

Antes que ela abrisse um largo sorriso com o seu novo visual, alguém bateu na porta. Ela franzia as sobrancelhas, preocupada. Sua casa ficava tão afastada quanto escondida da cidade e da redondeza. Quem poderia ser e o que queria? Alcançou sua adaga em cima da pia do banheiro e foi em direção ao hall de entrada. Novamente houve a batida na porta e Ame se aproximou através do mini binóculo que ficava um pouco acima de sua cabeça. Até com o salto ela precisava se levantar um pouco na ponta dos pés.

Prendeu a respiração com o que via.

Amerie calculou que ele ainda não deveria ter seus 35 anos, mas a jaqueta de couro e os cabelos e negros cortados em estilo militar lhe davam a aparência de ser mais velho. Seus olhos verdes esmeralda pareciam cintilar com o sol que batia contra o seu rosto e a sua barba era bem feita e totalmente distribuída ao redor da bochecha, queixo e em volta dos lábios.

Era o homem mais lindo que ela já tinha visto.”

Torie mal terminara de escrever a última palavra e já estava respondendo a mensagem de Ilee. As duas estavam discutindo a melhor forma de ela abordar o garoto do jogo, mas a garota por de trás do aparelho telefônico estava malévola demais.

- Credo. – Riu Torie enquanto lia a nova mensagem. Por mais que aquilo fosse engraçado, ela sabia que mais cedo ou mais tarde teria que dar um basta naquilo. Primeiramente o garoto ficava totalmente diferente com ela e depois ele dizia que Torie não se livraria dele tão fácil?

Não fazia sentido na cabeça da garota loura.

Ela se levantou, antes fazendo o ritual de desligar o computador e foi em direção ao seu quarto, se jogando na cama. Já estava quase na hora de ir para a escola mas ela havia decidido que hoje não iria. Não para conversar com pessoas indesejadas. Ela queria ler um pouco... Queria formular uma resposta àquele garoto que tanto importunava as coisas que ela sentia e praticamente não entendia.


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Notas finais do capítulo

Graças a Deus consegui escrever esse capítulo ainda hoje.

A música ouvida por Amerie é Assassin do MEU e APENAS MEU, Muse. u_u

Quem se interessar pela letra, aqui > http://letras.mus.br/muse/570100/traducao.html

Espero que tenham gostado desse capítulo. :3