Quem É Você? escrita por Amanda Cunha


Capítulo 5
O Sutiã Azul e o Cheiro de Morango




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No primeiro momento, eu a estava beijando.

No segundo momento, Weasley estava me beijando de volta.

Por um instante, eu puxei sua cabeça para trás para poder pegar ar.

- Por que você parou? – ela me perguntou. E aquilo foi realmente excitante.

- Eu não parei. – eu respondi e voltei a beija-la.

No terceiro momento, estávamos no apartamento dela.

Weasley tinha me puxado para dentro do prédio, respondido ao “Boa noite” do porteiro sem nenhuma vergonha (já que estava levando um homem lindo como eu para casa), me guiado (mas que ironia) até o elevador...

- Olha... Isso deve ser ótimo para você. – eu disse, me referindo aos botões do elevador, que possuíam escrita em braile.

- Seu idiota. – ela riu.

E então a observei tatear até o terceiro botão, e aperta-lo.

Ela estava descabelada, a roupa por baixo da minha capa, amassada.

Da minha parte, fiquei feliz que ela não pudesse me ver, ou então provavelmente se assustaria com a diferença de relevo em minhas calças.

Sabe... Eu não sei dizer exatamente o que me fazia sentir tanto desejo por ela... Eu já tinha ficado com tantas mulheres, de todos os tipos... Provavelmente mais bonitas e mais ricas, mais sensuais e mais...

Mas foi quando a Weasley abriu a porta, entrou no apartamento e atirou a capa para cima de mim, que eu me dei conta.

- Não está mais frio aqui. – ela comentou, e acendeu as luzes do abajur.

- Por que você precisa de luz? – eu perguntei, curioso. Eu sempre achava que a qualquer momento descobriria que ela não era cega.

- Eu não preciso, mas você precisa.

Ela veio até mim e tirou a própria blusa, revelando o sutiã azul de renda. E imediatamente, ficou vermelha como um pimentão.

Era isso. Gina Weasley era decidida e corajosa, porém não vulgar e falsa, como a maioria das mulheres com quem eu me encontrava.

Inebriado, me aproximei mais, tocando sua cintura com a ponta dos dedos e o ombro com os lábios. Eu podia vê-la se arrepiar por inteiro.

Weasley ergueu as mãos a procura dos botões da minha camisa.

- Deixe que eu faça isso. – murmurei, mas seus dedos brigaram com os meus.

- Eu quero fazer. – ela disse, e assim que abriu os primeiro botões, enfiou as mãos por debaixo, tocando o meu peito. – Essa é a minha forma de ver.

Eu não podia acreditar na sensação de ser tocado... Por ela. Era diferente... Ela me tocava como se estivesse me descobrindo e, pela primeira vez, eu tive medo do que ela poderia “descobrir”.

- Você pode se ocupar da minha calça, se quiser. – ela disse para mim.

Sem mais nenhum pedido, eu a envolvi em meus braços, puxando-a para cima, de modo que suas pernas envolvessem minha cintura, e a deitei no sofá.

Ela riu.

Esse movimento foi... Imprevisível. – murmurou.

Eu sorri e decidi fazer as coisas ficarem mais interessantes. Afinal, eu estava “mole” demais para um Malfoy.

Então, abri o botão da sua calça, abaixei o zíper e a livrei daquela peça inútil.

Olhando suas pernas, brancas e torneadas, decidi fazer o que eu tive mais vontade.

- Ei... Isso faz cócegas! – ela reclamou, quando beijei seus pés.

Tão espontânea.

- E isso? – perguntei e beijei seus tornozelos, de leve. Depois, fui subindo para as panturrilhas.

- Isso... – ela suspirou. – Está bem melhor.

- E isso? – perguntei novamente, e segui para a parte interna das coxas.

Vi quando ela segurou a respiração e jogou a cabeça para trás. A demonstração de prazer mais singela e cativante que poderia existir.

Então, quando estava quase chegando , e as reações da Weasley tinham passado para pequenos gemidos, eu me ergui e a beijei na boca.

Ela afundou os dedos nos fios do meu cabelo e me beijou com intensidade.

- Como você faz isso? – ela perguntou, os olhos arregalados e brilhantes.

- Mas eu não fiz nada demais. – respondi.

Será que ela achava aquilo realmente tão bom quanto eu achava?

Rapidamente, sem que eu esperasse, ela voltou a me beijar e puxou a minha calça para baixo, tocando-me no lugar de mais profundo desejo.

- Oh... – deixei escapar e impulsionei meu corpo para frente.

- Isso é... – ela começou e me tocou novamente. – Macio e quente...

Eu sorri, tentando entender o porquê da surpresa, mas, na realidade, entender alguma coisa naquele momento não era mais uma capacidade minha.

Suas mãos pequenas me apertaram mais e eu tive a sensação de que não poderia suportar por muito tempo.

Então, estava prestes a retirar a pequena peça azul que me separava dela, quando ela resolveu perguntar:

- Qual será... O gosto dele?

Parei meus movimentos, e olhei para ela:

- Você não sabe?

Ela sorriu, envergonhada:

- Como eu poderia saber?

- Mas você nunca...?

- Não.

Eu não estava acreditando.

- Você está me dizendo que é virgem?

- Não! – ela sorriu, nervosa. – Mas, foi só uma vez e depois... Bom, depois veio a Grande Guerra e tudo mudou.

Claro. Ela não era virgem. Ela tinha transado com o Potter!

Claro. Ela era a Weasley, namoradinha dele!

Claro. Eu era um Malfoy, que estava prestes a ir para a cama com a Weasley pobretona, ex-mulher do Potter, que tinha arruinado a minha vida.

Que tipo de insanidade tinha me acometido?

Decidido, me esforcei absurdamente para tirar as mãos de cima dela e me afastei, procurando por minhas calças.

- Ei, o que foi? – ela perguntou e veio até mim, cambaleando.

A pele branca e fina, coberta pela lingerie azul e adornada pelos cabelos vermelhos. Era como a visão do céu.

- Você acabou de me dizer que só fez sexo uma vez na sua vida.

- E daí? - o seu rosto demonstrava inocência e incompreensão.

- E daí que você mal me conhece.

Ela riu:

- Você vai me dizer que nunca transou com pessoas que acabou de conhecer?

- Pessoas, não. Não seja tão pouco específica assim. Apenas mulheres.

Ela não riu, mas era uma piada.

- A questão é que eu estou louca para fazer de novo.

E então aqueles olhos enormes grudaram nos meus.

- O quê?

- Eu quero ficar com você, Alex Villard. Quero muito ser sua por essa noite, mesmo que seja só essa.

Weasley estava colando o seu pequeno corpo no meu, roçando os seios em minha pele, as pernas nas minhas, e eu estava achando que um dos seus poderes mágicos era o poder de convencimento.

- Você está indo longe demais. – sussurrei.

- Então diz que você não quer o quanto eu quero. – ela disse, os lábios roçando nos meus.

- Eu não posso dizer isso.

- Porque seria uma mentira.

- Não seria a minha primeira mentira, Weasley.

Ela parou, os olhos arregalados, e afastou o rosto. E eu sabia que tinha criado um enorme precipício entre nós.

- Você me chamou de Weasley.

- Não é o seu nome?

- Sobrenome. – ela afirmou. – Usado entre pessoas que não têm intimidade.

- Nós não temos intimidade.

- Então por que você acabou de me tocar daquele jeito?

Aquela lembrança de minutos atrás era excruciante para mim e já fazia minha calça apertar novamente.

- Porque você me provocou.

- Ah, fui eu que provoquei? – ela parecia estar brava. De novo.

- Você não faz ideia.

Ela ficou quieta, parada... Praticamente nua... E pensativa.

- Sabe o que eu acho? – ela finalmente perguntou, mas nem me deixou responder. – Que você é um covarde, Alex Villard. Você não tem coragem de fazer amor comigo pelo mesmo motivo que não tinha coragem de ver aquelas obras de arte: o medo do que você estava sentindo ou poderia sentir.

Lá estava ela, vendo através de mim como nenhuma outra pessoa de visão excelente seria capaz de ver.

- Você também estava com medo naquele dia. – eu disse, levemente irritado.

- Eu estou com medo. – ela se aproximou novamente, procurando pelo meu rosto, tendo a certeza de que eu estaria olhando para ela quando ela dissesse. – Mas eu, pelo menos, tenho a coragem de admitir que tenho sentimentos fortes por você. Eu tenho sentimentos fortes por você, Alex.

Eu teria a beijado, como um casal romântico no final do filme ou como um casal apaixonado após uma linda declaração de amor. Mas nós não éramos assim.

Gina era uma garota livre, que pensava amar um cara que não existia.

E eu era um mentiroso ordinário, que enganava garotas como a Weasley. Digno de um Malfoy.

E, por favor, eu não estava nem aí! Não queria nem saber da Weasley cega e pobretona.

Então, sem dizer uma palavra, segurei os pulsos dela, liberando meu rosto de suas mãos, peguei meus sapatos, camisa e capa e saí.

~~~###~~~

Nós ficamos uma semana sem nenhum encontro.

Condizente. Eu tinha a minha capa maravilhosa de volta e não precisava mais procurar por ela. Muito menos persegui-la.

Por isso, na sexta-feira seguinte, eu decidi chamar Hillary para um passeio.

- Aonde vamos? – ela perguntou assim que entrou no carro, as coxas quase inteiramente amostras pelo curtíssimo vestido.

- Para a Praça de San Marco. Descobri uma delicatessen ótima por ali.

- Hum, que delícia! – ela exclamou, e logo depois fez uma careta. – Mas, Draco... Eu vou engordar trinta quilos!

Eu revirei os olhos.

- Isso é impossível, Hillary.

- Claro que não é. – ela começou a analisar o próprio corpo.

- Você não vai engordar tudo isso. Você poderia comer o dia todo e não iria engordar tudo isso. – eu disse, e ela ficou imediatamente feliz e grudenta.

E então ela cobriu meu pescoço de batom.

É, Malfoy, você sabe exatamente o que fazer para deixar uma mulher feliz...

Em cinco minutos, chegamos.

E, olha que coincidência. A delicatessen era em frente à Accademia!

- Nossa, Draco... – Hillary reclamou. – Isso aqui está lotado de estudantes.

Era engraçado como ela se referia a estudantes como se fossem... Baratas.

- Todos nós já fomos estudantes alguma vez na vida. – comentei.

Mas admito que eu tinha minhas dúvidas sobre ela.

De qualquer jeito, mulher com déficit de inteligência era bem melhor para mim. Principalmente para a satisfação de todos os meus desejos.

Olhei ao redor para verificar... Bom, na realidade, eu não sei por que eu me dava ao trabalho. Aquele cabelo vermelho escandaloso chamaria toda a minha atenção. De qualquer jeito, nenhum sinal.

Para que Hillary tirasse aquele enorme bico do rosto, eu disse a ela que poderia escolher a mesa, desde que ficasse longe de muita gente e próxima a janela.

Havia apenas uma mesa nessas condições e Hillary a escolheu direitinho.

Assim que fizemos nosso pedido à garçonete, a Weasley decidiu aparecer.

Eu podia ver pelo vidro: ela atravessou os portões da Accademia, acompanhada por vários colegas de classe. Estava usando uma saia florida que ia da cintura aos joelhos. Eu podia ver a pele branca das pernas que eu tinha beijado há sete dias. E podia sentir algo crescer embaixo da mesa logo que esse pensamento ocorreu.

Reparei que ela tinha parado para conversar por um tempo no portão. A quarentona que voltava com ela não estava por perto. Fiquei me perguntando se ela estaria voltando para casa com outra pessoa...

- Hum... Está uma delícia, Draco. Toma. – Hillary lançou a colher entupida de torta em minha direção.

- Não. – eu disse. Odiava esse tipo de “intimidade” entre casais. Até porque não éramos um casal.

E eu achava ridículo mesmo. Cada um tinha que comer o seu, e com a sua colher de preferência. Será que as pessoas não ouviam falar em micróbios? Germes?

De repente, vi quando o AEG(amigo esquisito-gay) da Weasley apareceu perto dela.

E achei que estava na hora do show.

- Vamos. – eu disse.

- Vamos? Como assim, Draco, nós acabamos de chegar!

- Eu não quero mais ficar aqui. – e então lancei meu melhor sorriso para ela. – Sabe como é... Temos coisa melhor para fazer no hotel.

Entendendo, Hillary mordeu o lábio de forma sensual e... Vulgar. Depois, encheu a boca de torta, enquanto eu a puxava para o lado de fora.

Você deve estar se perguntando se eu paguei a conta.

Mas claro que eu paguei! Deixei o dinheiro na mesa. Não sei se você sabe, mas Malfoys não recebem troco. Não é preciso, na verdade. Mas você provavelmente não está acostumado com isso.

Voltando ao assunto principal.

Eu provoquei uma armação que seria digna de novela mexicana.

Saí com Hillary, de mãos dadas, e me aproximei da Accademia o suficiente para que o AEG nos visse. Então, tendo isso verificado, a agarrei no meio da rua e a beijei com vontade.

Não... A minha armação não era digna de novela mexicana, não. Era muito melhor. Armar para que o alvo (a quem você pretende fazer ciúmes) o veja beijando outra é ridículo. A pessoa está lá, fazendo nada... É só pegar a outra mulher e tascar um beijo.

Mas provocar esse tipo de cena para uma pessoa cega. Ah... Isso sim é digno de um profissional. Como eu.

E foi assim que, quando terminei de beijar Hillary, pude ver a Weasley parecendo bastante brava e puxando o AEG para outro lugar.

Ela tinha os olhos arregalados, diante da imagem de que se formara em sua cabeça com o relato garantido do amigo.

- Uau, gatinho... – Hillary disse, esfregando as unhas enormes na minha nuca. – Você nunca me beijou desse jeito.

- Vamos para o hotel. – eu disse, querendo acabar de vez com aquela história.

Eu não precisava da Weasley. Eu não sentia absolutamente nada por ela. E eu podia transar com a Hillary ou com qualquer outra mulher bonita que eu visse na rua. Aquela garçonete, por exemplo.

Não. Eu não era um covarde.

E foi por isso que, quando chegamos no quarto, eu arranquei as roupas dela e as minhas (na verdade, as minhas eu tive cuidado, pois eram caríssimas e não podiam estragar), a prensei na parede e fiz o melhor sexo da minha vida.

~~~###~~~

O sábado se passou sem novidades.

O domingo foi um tédio.

Na segunda, eu nem a persegui.

Na terça, decidi passar o dia contando todo o meu dinheiro – o que demoro mesmo o dia e a noite toda.

Na quarta, eu juro que quase não a persegui. Só para verificar se ela não tinha se matado ou algo assim após aquela visão.

Mas não. Estava vivinha, fazendo sua rotina chata de sempre.

Naquela noite, eu sabia que ela sairia para caminhar.

Naquela noite, a frase “Eu tenho sentimentos fortes por você, Alex” decidiu não sair da minha cabeça.

Ah, tudo bem, pode ficar aí... Eu disse a ela... Não tem nada mais interessante acontecendo mesmo.

E então olhei para o lado e vi Hillary deitada na cama, nua por debaixo dos lençóis.

Realmente, não havia nada de mais interessante.

E eu estava começando a me dar conta de algumas coisas.

Draco Malfoy não podia se envolver com a Weasley.

Por isso, me vesti em dois segundos e saí para o frio gélido das nove da noite.

Dirigi até a orla e pude avistar de longe os fios vermelhos esvoaçantes.

Na mosca.

Enquanto caminhava até ela, percebi que todas aquelas noitadas de sexo tinham gerado uma bela dor nas coxas.

- Oi. – eu disse.

Weasley se virou para mim de supetão.

- Quem é? – perguntou, mas eu sabia que ela sabia.

- Eu. – respondi.

- Não acredito, Alex, vai embora daqui. – ela disse, séria. Estava sentada nas pedras com os pés na água, como costumava fazer para relaxar. Mas naquele momento, a última coisa que eu diria é que ela estava relaxada.

- Eu não posso ficar aqui, com você? – perguntei, inocentemente, e me sentei ao lado dela.

- Não, não pode.

- Por quê?

- Porque eu não quero.

Eu ri.

- Quero ver quem vai me impedir.

Então, sem palavras, porém com muito gestual, Weasley se levantou e andou para longe.

Em dois passos, eu estava ao seu encalço.

- O que você está fazendo, me seguindo?

- Não sei... É o que parece?

- Ah, claro. Eu tinha me esquecido que esse é um costume seu. Na verdade, achei que você tinha parado com isso na sexta passada, mas... Ah, não! Acabei de me lembrar! Você me seguiu sexta à tarde também e fez um show daqueles no meio da Praça de San Marco!

Eu sorri.

- Ah, então é isso... – murmurei, usando meu tom mais falso. – Você estava lá? Você viu?

- Como se você não soubesse.

- Ah, espera aí, Gina! Você acha mesmo que eu ia beijar alguém no meio da rua lotada de gente só para que você visse?

- Acho!

Eu sorri novamente. Ela era muito convencida, particularmente naquele momento, mas estava com a razão.

- Pois acertou.

Ela ergueu os ombros num gesto de “tanto faz” e voltou a andar.

- Você quer parar um minuto? Vai acabar tropeçando.

Ela parou, pensou um pouco e enfim se virou para mim:

- Olha só, Alex, eu não quero mais problemas, ok? Você não quer nada comigo, eu sei. Você já deixou claro na semana passada. Já que a decisão está tomada, você não tem mais motivos para me perseguir.

Não! Aquilo não tinha lógica alguma!

- Eu gosto.

- De me perseguir? – ela ergueu as sobrancelhas.

- De você.

Weasley arregalou os olhos. Depois de um tempo, suspirou:

- Você é tão contraditório.

- Irritante... Impressionante... Contraditório. Melhor começar a anotar.

Ela riu e arrancou o elástico que prendia o cabelo.

Tinha sido tão gracioso e inesperado que eu achei que ela pudesse estar tentando me seduzir de novo.

- Não posso fazer isso... – ela murmurou, frustrada.

- O quê?

- Isso. – ela apontou para o elástico em suas mãos. – Se eu ando um pouco mais rápido, ou corro, ele escapa.

- Pois eu acho que ele está lindo assim. – eu disse, sem saber se estava mais impressionado com os cachos ruivos caindo pelos ombros ou se pela forma como ela mudara de assunto tão repentinamente.

Ei, Malfoy, você não costumava ser tão idiota assim...

Num movimento leve, Weasley jogou o elástico fora e voltou a andar.

Mas então, parou repentinamente.

- Espera! - disse, e então se pôs de joelhos e começou a tatear atrás do elástico.

- Eu achei que você quisesse se livrar dele.

- Eu quero! Mas não posso jogar no meio da calçada, preciso achar uma lixeira.

Senti muita vontade de rir com o desespero dela por “sujar” a rua. E, ao mesmo tempo, um certo incômodo no estômago.

- Achei! – ela exclamou, com o elástico na mão, e ao se erguer, se desequilibrou.

E teria caído, se não fosse pela minha perspicácia.

Num movimento rápido, eu segurei a sua cintura com um braço, impedindo-a de levar um tombo.

- Ei, Alex... – ela sussurrou, e eu achei que pudesse ficar ali por horas, segurando-a nos braços. – Eu ouvi o som de alguma coisa... Rasgando.

- O quê? – e comecei a olhar para a roupa dela, procurando por algum rasgo. – Acho que as suas roupas estão intactas. Não sei se devo ficar feliz com isso ou não...

- Eu... Acho que foi alguma coisa sua. – ela disse, me ignorando.

E quando eu vi, havia um rasgo enorme de quatro centímetros e meio na coisa mais valiosa da minha vida: a minha capa.

- Você está vendo isso? – eu perguntei.

Weasley gargalhou.

- Pode ter certeza que não.

- A minha capa foi destruída! – eu estiquei o estrago para que a Weasley pudesse tocar.

- Nossa... Foi um rasgo e tanto. – ela comentou. – Pobre capa.

Eu a olhei, indignado:

- Você está zombando de mim?

- Não, claro que não. Essa capa também é importante para mim... Se é que você me entende.

- Essa capa vale mais do que o seu apartamento, sabia?

- Ah, é? Eu não sabia que você era tão rico assim...

- Eu não sou! – eu disse, um pouco mais alto do que deveria. – Mas foi um presente dos meus pais... E eles, sim, têm um bom patrimônio.

Ela pareceu incomodada.

- Me desculpe pela capa. Se você quiser... Eu posso leva-la para casa e costura-la rapidinho.

- Você? Costurar?

Desde quando cegos podem costurar?

Vendo que ela estava sem graça, consegui prever tudo. Ela não ia costurar coisa nenhuma. Ia fazer um feitiço de reparação!

- Bom, você sabe... – ela começou. – Com todo o meu estudo das artes, eu tenho uma certa facilidade com trabalho manuais.

Então decidi brincar um pouco com aquela situação.

Que situação? Você pergunta.

E eu reviro os olhos, imaginando o quão tapado você é por não ter percebido o óbvio, e respondo:

Ela acha que eu sou um trouxa. Nós vivemos num mundo de trouxas! Ela não sabe quem eu sou! E também nunca viu a minha varinha (pelo menos não a mágica, não é?).

E ela não quer fazer o feitiço de reparação na minha frente, claro!

- Tudo bem... Mas você mexe com agulhas? – duvidei.

Ela começou a ficar vermelha e a mexer no cabelo rubro com certo nervosismo.

- Eu consigo... Me virar com elas.

- Deve ser um atentado à humanidade.

Ela me mostrou sua língua. E eu achei meio engraçado que, na verdade, ela apontou mais para a minha direita...

- Não vou deixar. – decidi. - Você vai estragar a minha capa. E ela é minha melhor amiga.

- Bom... Não posso fazer mais nada.

- Claro que pode. – eu afirmei. – Você pode pegar a sua varinha mágica e resolver isso num instante.

Aqueles olhos arregalados me fitaram, surpresos.

- Como você soube?

- Bom... Modéstia parte, eu sou um gênio.

Ela fez uma careta.

- É sério.

- Estou falando sério.

- Ok. Agora a verdade.

E eu fiquei um pouco encucado pelo fato de que, se fosse qualquer outra pessoa, eu teria mandado pastar... Mas como era a Weasley, eu tinha achado... Bonitinho.

- Quando você mencionou a Grande Guerra, eu tive certeza. Mas eu já suspeitava...

Ela ficou quieta, pensativa.

- Eu sou uma idiota.

- Eu não disse isso.

- Eu falei da Grande Guerra para você...

- Por Merlin, Gina, você me levou na sua casa! Eu poderia ter visto algum utensilio mágico...

- Acredito que você tivesse coisas mais interessantes para ver. – ela disse, e, acredite, me deixou sem palavras.

- Na verdade, eu gostaria mesmo de não ter ouvido aquilo sobre a Grande Guerra. – eu disse, depois de um tempo.

Ela ficou vermelha novamente, sabendo do que eu estava falando.

E então rolou aquele momento de clima excruciante. Aquela coisa meio “ninguém se move, ninguém fala, um constrangimento aqui e ali, mas você finge que está tudo bem”.

Mas esse tipo de coisa não afetava um Malfoy, claro.

- Bom. Me dá aqui a capa-melhor-amiga-tão-perfeita-e-cara. – ela esticou a mão para mim.

- Está com ciúmes?

Ela riu.

- Nenhum. Sei que não tenho a menor chance perto dela.

Então, Gina se sentou nas pedras, com a capa nas mãos, pegou sua varinha e fez o feitiço.

Eu me sentei ao seu lado para verificar.

A capa estava intacta novamente.

- Não precisa agradecer. – ela me disse.

- Não mesmo. A culpa foi toda sua.

Ela apoiou a cabeça no meu ombro e alisou o tecido da capa:

- Agora ela está curada.

E eu sorri.

- Ela deve ser a capa mais feliz do mundo. – comentei, e senti o maravilhoso cheiro de morango dos seus cabelos inundarem todo o meu ser.


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Notas finais do capítulo

Aí está, gente!

Acho que serei sucinta hoje. Apesar de não gostar dessa palavra.

Beijos e obrigada a todos!



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