Quem É Você? escrita por Amanda Cunha


Capítulo 4
A Perseguição e o Elogio


Notas iniciais do capítulo

Esse foi o capítulo que eu mais gostei de escrever até agora e espero que vocês também gostem!Sabe, andei pensando e há algo de especial nessa história para mim: a ideia de que os personagens não são criados por nós, mas que agem sozinhos, tornando-se eles mesmos, sem que o autor nem perceba. E é assim que eu me sinto com o Draco. Ele age sozinho, acreditem! E de repente, estou eu lá rindo dos absurdos que ele acabou de dizer ou fazer. Enfim... Boa Leitura!



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"— Você parece atônito — disse ele, sorrindo ante a minha expressão de surpresa. — Pois, agora que sei disso, tratarei de esquecê-lo o mais depressa possível.

— Esquecê-lo?!

— Veja — explicou-me: — Considero o cérebro de um homem como sendo inicialmente um sótão vazio, que você deve mobiliar conforme tenha resolvido. Um tolo atulha-o com quanto traste vai encontrando à mão, de maneira que os conhecimentos de alguma utilidade para ele ficam soterrados, ou, na melhor das hipóteses, tão escondidos entre as demais coisas que lhe é difícil alcançá-los. Um trabalhador especializado, pelo contrário, é muito cuidadoso com o que leva para o sótão da sua cabeça. Não quererá mais nada além dos instrumentos que possam ajudar o seu trabalho; destes é que possui uma larga provisão, e todos na mais perfeita ordem. É um erro pensar que o dito quartinho tem paredes elásticas e pode ser distendido à vontade. Segundo as suas dimensões, há sempre um momento em que para cada nova entrada de conhecimento a gente esquece qualquer coisa que sabia antes. Consequentemente, é da maior importância não ter fatos inúteis ocupando o espaço dos úteis.

— Mas o sistema solar! — protestei.

— Que importância tem para mim? — interrompeu-me ele com impaciência. — Você diz que giramos em torno do Sol. Se girássemos em volta da Lua, isso não faria a menor diferença para o meu trabalho."

Eu posso apostar que, considerando que você não tem a minha capacidade mental e intelectual, você não entendeu nada.

Pois deixe-me explicar: Trata-se de um diálogo entre Sherlock Holmes e o Dr. Watson, em que este último acaba de revelar que a Terra gira em torno do Sol, e não em torno da Lua, como Sherlock pensava.

É uma cena excelente, narrada por Watson.

Agora você pode voltar lá no início e ler novamente.

E agora, entendeu?

Então vou explicar a importância desse diálogo para o momento:

NENHUMA.

Era apenas o meu passatempo enquanto eu passava horas em frente à Accademia, esperando por algum sinal da Weasley.

Mas vocês marcaram um encontro? Você deve estar perguntando. E deve ser um idiota se acha mesmo que eu marcaria um encontro no meio do dia, no sol, em frente à universidade.

E espera aí? Você acha mesmo que eu ia sair com a Weasley?

Então por que você está aí parado, esperando por ela?

E eu diria que você é um total sem noção que não entende nada de investigação policial ou estratégias de perseguição.

Ela está em posse da minha capa!

E eu preciso da minha capa de volta, obviamente. E eu não vou pedir. Porque a última coisa que um Malfoy faz em sua existência é pedir algo a alguém.

Era quase uma da tarde quando os alunos começaram a deixar a faculdade.

Weasley apareceu, usando um cachecol azul que... Bem, ficava interessante nela. Os cabelos escandalosos estavam presos, o que os deixava não tão escandalosos assim.

Ela estava acompanhada por um cara... Narigudo. Não, ele não era narigudo. Eu seria mais verossímil ao dizer que ele tinha tanto nariz quanto a Weasley tem cabelos escandalosamente vermelhos. Ou, ainda mais, que seu nariz era quase tão grande quanto a minha inteligência e beleza.

Ao deixarem a Accademia, eles entraram num restaurante próximo, e eu observei bem quando ele tocou as costas dela enquanto entravam.

Ok. Eu sabia que o detetive deveria manter uma distância mínima de dez metros de seu alvo, mas quer saber?

Dane-se.

Sabendo que não poderia ser reconhecido por ela, entrei no restaurante e escolhi uma mesa ao canto, de modo que eu pudesse ver os dois.

Vi a Weasley cheia de sorrisos para seja-lá-qual-fosse-a-história-sem-graça daquele idiota. E ele, cheio de si, não parava de falar.

Será que conversavam sobre artes?

Há. Duvido que ele saiba tanto sobre o assunto quanto eu. Duvido que a Weasley o ache tão interessante quanto eu.

Mas pelo jeito... Ela achava, pois tinha acabado de tocar as mãos dele, de uma forma... Bem, não me venha com o discurso de “toque é coisa de cego” e tal.

Eu estava prestes a deixar o lugar, pois não ia ficar ali vendo aquilo, quando o amigo esquisito-gay da Weasley resolveu aparecer.

E, para a minha surpresa, abraçou o narigudo e os dois ficaram lado a lado, de mãos dadas, sorrindo para a Weasley.

Então, cheguei a minha primeira conclusão da investigação: Era um casal gay e a Weasley. Com certeza, Weasley estava prestes a ter um dos melhores almoços da sua vida.

Após o almoço, ela voltou para a faculdade e assistiu mais aulas até às cinco da tarde. E eu realmente me pergunto quanto tempo é perdido em aulas inúteis...

Quando saiu, Weasley seguiu até o estacionamento, acompanhada por uma quarentona que carregava esquadros e outros materiais. As duas entraram no carro e seguiram até, o que eu supus ser o prédio que a Weasley morava: pequeno e sem graça.

Fiquei observando quando a luz se acendeu na janela do terceiro andar, mas as cortinas se mantiveram fechadas.

Depois das oito horas, sem movimento algum, decidi voltar para casa.

No dia seguinte, todo o processo se repetiu.

Weasley vai para Accademia, sai para o almoço – com duas amigas histéricas, por sinal.

Elas se atrasaram no almoço, e decidiram agir como malucas por isso.

Nunca achei que ver três mulheres correndo fosse algo tão... Digno de gargalhadas. Elas parecem galinhas aos berros, ou bebês completamente desajeitados que, de uma hora para a outra, parecem ter se esquecido como movimentar o próprio corpo e precisam fazer isso de uma forma exagerada e estranha.

Enfim...

Weasley sai da faculdade, volta para casa com quarentona, entra no prédio e não sai mais.

No terceiro dia de investigação, quando eu já estava chegando à conclusão que a vida dela era realmente tediosa (o que eu poderia esperar, não é? Ela quase tinha casado com o Potter!), Weasley decidiu sair de casa, às sete e meia da noite.

Ta. Pelo jeito você ainda não entendeu.

Ela saiu de casa sozinha.

Usando calças de ginástica e tênis, ela saiu andando como... Oras, como alguém capaz de ver!

Por um momento, achei que ela pudesse estar me enganando o tempo todo. Que não fosse cega coisa nenhuma e que tudo era parte de uma armação para, finalmente, encontrar Draco Malfoy, o bruxo das trevas escondido por aí.

Mas depois me dei conta que isso não fazia o menor sentido e que, para um detetive investigativo, meu raciocínio estava indo para além da compreensão lógica.

Então, decidi que segui-la realmente seria a melhor opção. E mais de perto, já que não correria o risco de ser visto.

Ela caminhou devagar e tranquilamente até a orla. Seus passos, apesar de cautelosos, definitivamente não eram de alguém que não podia ver, mas eu já tinha aceitado que a Weasley tinha uma boa capacidade de movimento.

Eu ri sozinho, me dando conta de que quando pensava isso de alguma mulher, eu não estava em situações de exercício físico ao ar livre, mas entre quatro paredes num exercício físico muito mais intenso.

Ela andou por vinte minutos, o rabo de cavalo ruivo balançando de um lado para o outro, e depois parou, tirou os tênis, sentou-se nas pedras e mergulhou os pés na água.

Aproximando-me mais, vi quando ela fechou os olhos e inspirou fundo, como se pudesse sugar toda a brisa fresca para dentro dela.

Então, mesmo sem me sentar ou tirar os sapatos, repeti seu gesto, enchendo meus pulmões com a brisa do mar. Era mesmo uma ótima sensação.

Fizemos isso, juntos, três ou quatro vezes e então eu me cansei.

Estava meio frio. Não para mim, eu estava achando ótimo aquela temperatura gélida, mas comecei a achar que ela poderia estar sentindo frio. Eu gostaria que ela pudesse me ver para que eu pudesse ter a liberdade de emprestar meu casaco, mas...

Acho que não, ela ia acabar roubando meu casaco como fez com a capa. A capa, inclusive, que eu ainda não tinha conseguido pegar de volta.

Ficamos ali por mais um tempo. Eu olhava para baixo, acompanhando o movimento dos pés dela, observando os fios vermelhos voarem...

Até que ela se ergueu, recolocou os tênis e voltou para casa, com um homem-sombra ao seu encalço.

Durante a noite, revirando na cama, eu quase achei que tudo não tinha passado de um sonho. Eu tinha acompanhado uma garota cega de cabelos escandalosamente vermelhos, sem que ela soubesse que eu o fazia. Tinha respirado a brisa, admirado seus pés brancos na água e a seguido de volta até em casa, desejando que não caísse pelo caminho.

Só o que eu não sabia é que o sonho ainda não tinha acontecido. Até o próximo dia.

Weasley acordou cedo.

Foi para a Accademia.

Assistiu às aulas provavelmente insuportáveis.

Almoçou com o amigo esquisito-gay.

Voltou para as aulas.

Voltou para casa de carona da quarentona.

Acendeu a luz do apartamento.

Às sete e meia, eu esperava que ela saísse para caminhar novamente, mas não.

Às oito horas, um carro parou em frente ao prédio e poucos minutos depois, vi a luz se apagar.

Vi quando um cara alto saiu do carro, e quando a Weasley apareceu na entrada.

Ok. Eu já sabia que a Weasley estava tendo algum prestígio artístico e tal... E que estudava quase o dia todo, e depois voltava para casa para, muito provavelmente, estudar e fazer arte.

Eu também sabia que ela tinha amigos de todos os tipos.

Porém, um namorado... Eu realmente não imaginava.

E eu não podia me culpar por pensar assim, já que... Bom, a Weasley não tinha nada demais. Era uma pobretona sem graça, metida à inovadora das artes e, como se já não bastasse... Cega.

Ela era cega! Como alguém poderia querer ficar com uma garota cega?

Bom, aquele cara provavelmente queria.

Mas o que mais me chamou a atenção naquele momento não foi o fato de ele ter segurado a mão dela, ou o sorriso que ela deu para ele.

Foi a roupa que ela estava vestindo.

Ela estava usando uma capa preta. Mas não uma capa preta qualquer.

Era a minha capa preta.

Fala sério. A Weasley era tão pobretona que até roubava a minha capa na hora de sair!

Então, caminhei até a esquina, entrei no meu carro, e afundei no acelerador.

Os dois foram a um restaurante na Praça de San Marco. Não era o melhor da cidade, mas... Era bonzinho.

De modo que eu me dei ao trabalho de estacionar e entrar, justo no momento em que o namorado da Weasley tirava a capa dela e entregava para o guardador.

Praguejei várias vezes, observando o guardador levar minha capa embora.

Mas que abuso! Além de sair com a minha capa por aí, para obviamente se vangloriar da boa moda, a Weasley ainda deixava que a levassem, correndo o risco de perdê-la no restaurante. E roubar doce da Weasley era mais fácil do que de criança, né?

Qualquer um poderia se aproveitar dela. Inclusive aquele namorado magricela. Síndrome do Potter, só pode ser.

- O senhor vai querer uma mesa? – o funcionário me perguntou.

- Não. Vim ao restaurante, mas eu preferia comer no chão. Ou, quem sabe, vocês podem me arranjar uma esteira para que eu não suje a minha capa (extra)?

Mas é claro que, educado como eu sou, não foi isso que eu respondi.

Fui guiado até uma mesa à uma boa distância da Weasley. Eu quase não podia vê-los, mas o que eu queria mesmo era encontrar uma maneira de pegar a minha capa de volta.

Então, pedi um uísque.

E me lembrei de quando a Weasley saiu atrás de mim na chuva, com aquela saia preta pingando nos pés.

E de quando ela ficou pensando sobre aquela história de “É arte ou não é arte? Eis a questão” com os lábios vermelhos apertados em reflexão.

E agora ela estava lá com outro cara... Um carinha qualquer que provavelmente achava incrível toda aquela arte sensitiva e inovadora dela.

Por volta da sexta dose de uísque, vi quando o casal sem graça decidiu sair.

E percebi que finalmente teria a minha chance.

E é isso que um Malfoy faz. Numa tacada só, ele consegue o coelho ruivo... E a capa do coelho ruivo.

Observe.

Sorrateiramente, assim que Weasley vestiu a capa, eu intervi, com a voz mais grave que o comum:

- Com licença. A senhorita está usando a capa errada.

O namoradinho dela olhou para mim.

- Não. Essa capa é da minha acompanhante.

Eu revirei os olhos.

- Você não está vendo a etiqueta? – eu perguntei e Weasley, de repente, pareceu acender os olhos.

- Você é o Alex? – ela disse para mim.

Com isso, o outro pareceu... Não gostar muito. Então, ele olhou para a etiqueta...

- Alex, não... – Aqui diz Mal...

- É o meu nome do meio. – eu o interrompi, me metendo entre ele e a capa. Ou melhor, entre ele e a Weasley. – Minha mãe sempre gostou que eu usasse o meu nome do meio.

- Então é mesmo você. – Weasley puxou meu braço, me fazendo virar para ela.

Estranho como, mesmo sem me ver, ela queria que eu olhasse para ela.

- E você, a ladra de capas alheias. – eu disse e ri internamente ao ver o rosto dela ficar vermelho como um pimentão. De novo.

- Oh, me desculpe. Eu não tive nenhuma intenção de ficar com ela, eu só...

- Saiu correndo no meio da chuva e esqueceu de devolver. Eu sei.

Ela deu um meio sorriso, pensativa.

- Ei, Gina... Você conhece esse cara?

Não. Ela só estava com a minha capa e agora está conversando comigo com certa... Intimidade. Mas eu sou um estranho. Ela nunca nem me viu na vida.

Apesar de que essa parte de me ver, fisicamente falando, é verdade.

- Ele é... Um conhecido.

- Ah, ok. – ele pigarreou, tirou a capa da Weasley e me entregou. – Pronto, capa devolvida. Podemos ir embora?

Claro que não.

- Você vai mesmo fazer isso? – eu indaguei e ele me olhou, surpreso.

- Fazer o quê?

- Deixar que ela vá para casa assim, nesse frio?

Ele olhou para a Weasley. Ela estava usando uma blusa fina de mangas curtas.

Olhando para si mesmo, ele percebeu que usava apenas a própria camisa de botão e um colete (meio brega, por sinal).

Touché.

- Ah, mas não tem problema, eu... – Weasley começou a dizer, mas eu não deixei.

- Claro que tem. Você não vai sair, de jeito nenhum, no meio da noite do inverno europeu usando... Isso. – eu disse, apontando para suas vestes... Ínfimas.

Ela pareceu ponderar.

- É, Gina... Eu também não acho que seja uma boa ideia. – o namoradinho disse.

Ficamos em silêncio por um tempo, e eu me preparei para minha cartada final.

- Bom, acredito que exista uma opção. – eu disse, como quem não quer nada. – Como estou usando outra capa, posso emprestar essa aqui novamente para você usar até sua casa. Lá, você poderá me devolver.

- Mas ela não está indo para casa.

- Não estou?

Weasley olhou para ele com tanta profundidade que eu comecei a achar que os olhos dela não serviam para ver, serviam para outra coisa.

Ele a encarou por um tempo também.

- Bom, eu achei que...

- Que eu ia para a sua casa?

Uau. Bem direta.

- Não, Gina... – ele parecia frustrado. – Eu só...

- Olha, David. – ela suavizou a voz. – Eu gostei bastante de conhecer você. Obrigada pelo jantar. Mas eu realmente acho que o melhor agora é voltar com o Alex. Para a minha casa. Para devolver a capa.

Eu realmente estava impressionado com a... Franqueza dela.

- Tudo bem, Gina. Se é o que você quer.

Então, ela se despediu rapidamente dele e eu estiquei a mão para ela, que a pegou sem hesitar.

- Agora me devolva a capa.

Eu ri, e a vesti novamente, antes de sairmos para a rua fria.

O vento frio congelou até o último fio de cabelo. Da Weasley. Porque eu estava acostumado.

- Onde está o seu carro? – ela me perguntou.

- Ali, do outro lado. – eu disse.

Ela riu baixinho.

- Eu não sei se você sabe, mas “ali” não significa nada para mim.

- Significa que não é “aqui”.

Ela riu de novo.

- Além disso, - continuei. – Tenho certeza que você pode se virar bem com isso.

Weasley olhou na minha direção:

- Então... Qual é o seu nome do meio?

Lúcio, eu estava prestes a responder.

- Malvin.

- E porque a sua mãe gosta tanto desse nome?

Eu não esperava pela pergunta, mas já estava tão acostumado a mentir que a história parecia estar na ponta da língua.

- Era o nome do meu irmão mais velho. Minha mãe decidiu que seria bom que eu tivesse o nome dele, como se ele pudesse... Tomar conta de mim.

Uau... Eu realmente parecia um cara legal.

- Eu acho que a sua mãe teve uma ótima ideia. Irmãos são importantes para a vida toda. Estejam vivos ou mortos.

Eu sabia que ela tinha perdido irmãos na Grande Guerra. Também, com tantos irmãos, seria uma enorme sorte se nenhum caísse na teia.

Mas eu tinha que agir como se não soubesse:

- Você tem irmãos?

- Eu gosto de dizer que eu sou a sétima de uma geração. E a única mulher.

- Você sabe o que dizem, não é? – comentei, e abri a porta do carro para ela. – O número sete é um dos mais poderosos, tanto para o bem quanto para o mal.

- E isso significa que eu sou especial? – a Weasley perguntou, se achando.

- Eu não disse isso. Mas, se você quer pensar assim.

A sua reação a isso foi realmente engraçada. Ela parecia estar se controlando para não me dar uma cacetada ou algo assim.

- Pois eu acho que você teve uma enorme sorte em me encontrar. – ela disse, entrando no carro.

Eu dei a volta e sentei no banco do motorista.

- Mas sem dúvida! Finalmente terei minha capa de volta.

- Como você me encontrou, afinal?- ela me perguntou, assim que o carro entrou em movimento.

- Você não é tão especial? – eu zombei. – Por que não descobre por si mesma?

- Então não foi uma coincidência. – ela afirmou. – Você estava procurando por mim.

- Pela minha capa.

- Que estava comigo.

- Que você roubou de mim.

- Você me emprestou!

- Geralmente, quando se empresta alguma coisa, esperamos que se devolva.

- Eu acabei de devolver.

- Na prática, a capa ainda está com você.

Ela estava nervosa, da mesma forma que tinha ficado quando eu disse para ela aquilo sobre os “sentimentos fortes”. Eu sabia, pela forma que ela mexia os braços e pelos olhos, que estavam arregalados e brilhantes.

- Você quer a capa de volta, é isso? – soltando o cinto, ela se desdobrou toda para conseguir se livrar da capa. Então, brava, jogou a capa em cima de mim.

- Você quer fazer de recolocar o cinto?

- Por quê?

- Porque é mais seguro.

- E você se importa com a minha segurança?

- Ah, Gina, você pode acreditar que sim. Se alguma coisa acontecer com você, eu serei o culpado.

Ela ficou olhando para mim, e aquela sensação de que podia me ver voltou.

- O que foi? – eu perguntei, girando o volante para fazer a curva e parando em frente ao prédio dela.

- É só que... Você me chamou de...

- Gina. – concluí. – Não é esse o seu nome?

- É.

Ficamos em silêncio. Fiquei um pouco perturbado, imaginando o que ela estaria pensando. Enquanto eu olhava para ela, vendo os cachos vermelhos enrolados em seus dedos, me dei conta de que nunca tinha passado tanto tempo conversando com uma pessoa sem me sentir entediado.

- Bom, chegamos. – eu disse e soltei o cinto de segurança. Peguei a capa emprestada e saí do carro.

Ao abrir a porta para a Weasley, ela decidiu não sair.

E aí eu me pergunto: Uma garota pobretona como a Weasley tem a chance de voltar para casa no carro de um Malfoy, na companhia excelente de um Malfoy, usando a capa de um Malfoy, e ainda fica enrolando na hora de sair do carro, quando há um Malfoy com a mão esticada, esperando para ajuda-la?

E você acreditou mesmo que eu estava chateado com isso? Claro que não.

Pois meu plano acabara de se completar.

- Alex? – ela perguntou, quando finalmente resolveu sair. – Nós estamos na minha casa?

- Em frente a ela, na verdade.

Os olhos se arregalaram ainda mais.

- Como você sabe onde eu moro? Eu não te disse...

Eu fiquei quieto.

- Você me seguiu! – ela afirmou. – De que outra maneira você poderia saber?

Eu continuei quieto, tentando segurar o riso.

- Por que você não diz nada?

- Você não me perguntou nada.

Ela sorriu e, por mais estranho que pareça, foi algo lindo.

- Você me deixa... Curiosa.

Eu estiquei a capa para ela:

- Toma.

Ela tateou a capa.

- O quê? Mas ela é sua.

- Eu sei, mas nós ainda estamos na rua, e ainda está muito frio.

- Mas eu já vou entrar em casa.

- Vai acabar ficando doente. – insisti.

- Você é pior do que a minha mãe. – ela reclamou e pegou a capa.

- Eu posso ajudar? – perguntei, vendo-a sem enrolar mais para colocar a capa do que para tirar dentro do carro.

- Não. Posso fazer isso sozinha.

- Ah, é... Eu quase me esqueci. Você é especial.

- Sabe? Você sabe onde eu moro, você me segue até o restaurante...

- Ei, espera aí... Eu não falei nada sobre te seguir até o restaurante.

- Você me traz em casa, me enche o saco por causa do frio... É, acho que sim, eu sou especial.

- Na prática, ainda não te levei em casa.

E o seu rosto ficou vermelho mais uma vez.

- Você quer mesmo conhecer a minha casa? – ela perguntou.

E eu me surpreendi novamente.

- Seria um prazer.

- Então, admite.

- Admitir o quê?

- Que eu sou mesmo especial.

Eu sorri ao ver a expressão de satisfação no rosto dela.

- Bom... – eu fingi pensar um pouco. – Acho que vou ficar sem conhecer a sua casa.

Ela abriu a boca, surpresa.

- Você é mesmo...

- O quê? Irritante? Esse foi o “elogio” da última vez.

Ela sorriu.

- Eu ia dizer impressionante.

Sabe? Eu nunca pensei que me sentiria satisfeito ao ouvir um real elogio da Weasley. Eu realmente não precisava disso para me senti melhor. Mas posso dizer que a minha parte Alex Malvin Villard gostou bastante.

E, então, sabendo que ela não esperava e que também não poderia prever pelo meu olhar ou movimento, eu a puxei pela cintura e a beijei.


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Notas finais do capítulo

Vou amar receber comentários!! Beijos!



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