Armando arregala os olhos:

– Tem certeza, meu amor? – fala surpreso.

– Como eu disse posso estar enganada, mas a Anne está com os mesmos sintomas que eu tive quando estava no início da gravidez da Camila. Você não lembra, meu querido? Tonturas, enjôo, falta de apetite.

Armando, coça a cabeça como se remetesse a um passado bem próximo, dá um sorriso a sua Betty e assente com a cabeça.

– Pensando melhor eu agora me lembro! Você ficou muito mal também! Lembro-me que fiquei muito preocupado e você falava que não era nada e nem queria ir ao médico. – recorda-se Armando.

– Se ela estiver mesmo grávida, não é bom que fique aqui sozinha. Ela precisará de cuidados. - fala Betty ansiosa.

Anne volta do banheiro e nota as expressões preocupadas de seus amigos.

– Não se preocupem gente! Isso logo passa! Acho que tudo o que aconteceu comigo, mexeu no meu organismo. – diz Anne tentando acalmá-los e a si própria.

– Venha comer Anne! Se não conseguir tome pelo menos este suco de caixinha, está fresquinho ainda o Armando colocou na bolsa térmica assim como os lanches. –fala Betty carinhosa com a amiga.

– Tudo bem eu vou tentar. –responde Anne tomando um pouco do suco de amora. - Está gostoso! –fala animada enquanto prova o suco.

Depois que fazem o lanche, onde só Betty e Armando comeram, pois Anne por mais que tentasse não conseguiu, arrumam tudo e se sentam no sofá para conversar.

Betty segura nas mãos da amiga e pergunta de supetão:

– Anne você ama o Daniel Valencia?

Anne pega de surpresa olha admirada para ela. Betty percebe que os olhos da sua amiga vão se inundando de lágrimas que agora escorrem livremente por aqueles lindos olhos azuis turquesa.

Anne se endireita no sofá e resolve abrir o seu coração para os amigos tão queridos.

– Eu amo sim o Daniel Valencia. Amo como jamais amei outro homem!

Betty se anima e volta a falar:

– Daniel te ama também Anne. Então minha querida por que você não o perdoa e dá uma nova oportunidade a ele?

– O que ele fez comigo é imperdoável. Aproveitou-se de minha falta de memória e me envolveu. E eu estava tão feliz com ele! Pensava realmente que era sua esposa. - Anne fala com a voz embargada pelo choro.

Betty olha para Armando e ele entende o seu olhar e assente com a cabeça.

– Anne a história que eu vou lhe contar é verdadeira. Foi uma história muito triste também, como está sendo a sua, mas quero que escute com atenção, pois os protagonistas desta história fomos eu e o Armando.

Anne olha para Betty e depois para Armando surpresa e ao mesmo tempo curiosa.

Betty conta toda a sua história, desde quando foi trabalhar na Ecomoda, contratada como uma simples secretária e tudo o que aconteceu até ela se tornar a presidente da empresa.

Enquanto segue relatando a sua história, Betty percebe que Anne fica impressionada e olha para ela e para Armando, incrédula.

Após o fim do relato da sua história, Betty suspira e olha para Armando que retribui seu olhar com imenso amor e ternura.

Anne percebe o quanto eles sofreram, mas também percebe a grande sintonia que há entre eles e quanto se amavam.

Desde a primeira vez reparou nisso. Sempre acreditara que foram feitos um para o outro, tal a química que emanava dos dois.

Jamais suspeitaria que eles tivessem uma história tão sofrida.

Anne começa a refletir melhor e se dá conta que a história dela e de Daniel foi também triste, com mentiras e enganações.

No íntimo não sabia se teria a grandeza de Betty que perdoou Armando, o seu grande amor.

– Olha Betty e Armando, agradeço muito a vocês por terem compartilhado comigo a história de suas vidas. Achei-a muito linda, mas não sei ainda se posso perdoar o Daniel. – fala Anne demonstrando muita sinceridade.

Armando que se manteve calado a maior parte do tempo resolve falar:

– Anne, sei como você está se sentindo agora. Não queremos que tome nenhuma decisão precipitada. Pense com carinho. Na hora certa o seu coração vai lhe dar a resposta.

Betty fica tão feliz com a atitude de Armando que se levanta e o beija ali mesmo.

Anne percebe que está sendo demais na sala e com uma desculpa levanta-se para ir ao banheiro.

Mas ao fazer isto, sente de novo uma tontura e volta a se sentar novamente.

Betty percebe todo este movimento de Anne e corre até ela.

– O que foi, amiga? Está novamente com tontura?- pergunta aflita.

Anne não responde, mas balança a cabeça confirmando.

–Anne você precisa ir ao médico! Você tem algum de confiança aqui nesta cidade? – pergunta-lhe Betty.

Anne balança a cabeça negando.

– Aqui não tenho, pois moro há pouco tempo nesta cidade. Tenho um médico de confiança sim, mas o seu consultório é em Cartagena.

Betty permanece calada e pensativa.

– Já sei o que vamos fazer! – fala Betty depois de algum tempo- Você vai voltar conosco a Bogotá e vai ao nosso médico de confiança, o doutor Fernando.

Armando sorri para Betty concordando e ainda acrescenta:

– E vai ser a nossa hóspede por um tempo. Até ficar completamente boa.

Anne fica muda.

Não sabia o que fazer. No fundo seus amigos tinham razão. E se estivesse com alguma doença grave? A quem recorreria? Não era bom ficar sozinha.

– Está bem meus amigos, - fala Anne decidida- eu vou com vocês, mas primeiro tenho que ligar para a ONG e avisar que vou ficar alguns dias fora.

Enquanto Anne faz a ligação, Armando fala com Betty:

– Meu amor, vamos falar ao Daniel que ela vai ficar hospedada em nosso apartamento? E se ela estiver mesmo grávida? Vamos contar a ele?

Betty pega na mão de seu amado marido e diz:

– Meu amor, tudo à seu tempo. Primeiro nós a levaremos ao doutor Fernando e depois resolveremos isso com calma. - e acrescenta- E por falar nisso, meu amor, por favor ligue para ele e marque uma consulta para hoje mesmo. Quero confirmar as minhas suspeitas.

Armando concorda de imediato.

Assim que Anne desocupa o telefone, Armando pede para usá-lo.

Enquanto isso, Betty vai com Anne até o quarto ajudá-la a fazer a mala.

Em Bogotá, Daniel Valencia está muito impaciente.

Estava achando muito estranho que Armando ou Betty não tivessem lhe telefonado para contar como foi a conversa com a dona Silvia da floricultura.

E mais estranho ainda o fato de ter ligado para a Ecomoda e terem lhe informado que Betty e Armando saíram na hora do almoço e talvez não voltassem mais aquele dia à empresa.

“Muito estranho - segue pensando Daniel- O que teria acontecido? Será que tiveram notícias de sua Anne? Mais tarde volto a ligar.”

A viagem dos três de volta a Bogotá transcorreu da forma mais tranqüila.

Armando dirigia sempre atento ao volante enquanto as duas amigas conversavam.

Pelo que pode perceber o assunto principal foi a sua pequena Camila.

Anne queria saber de tudo sobre a menina que era o seu xodó.

Betty contava todas as gracinhas de sua filhinha e Anne e Armando riam encantados.

Segundo Betty, Camila era comilona igual ao pai, adorava todas as novidades que lhe apresentava: as variadas sopinhas de legumes, as frutas raspadinhas, os suquinhos.

– Principalmente o de amora. - fala Armando sorrindo para Betty.

Ela retribui o sorriso.

Anne percebeu o quanto o casal se dava bem e como a tratavam com carinho e atenção, como um membro da família.

Ela sem dúvida estava feliz por tê-los conhecido. Amava essa família de todo o coração.

E assim a viagem terminou sem nem perceberem.

Logo que chegaram ao prédio onde moravam, enquanto Armando estacionava o carro na garagem, Betty e Anne desceram e foram até o playground do edifício e lá estava dona Julia com a Camilinha.

Dona Julia colocou a menina no gira- gira e a rodava bem devagarzinho.

De repente Camilinha vê Betty e balbucia estendendo os bracinhos:

– Ma...mã.

Foi lindo! Betty e Anne se derretem e vão até onde elas estão.

Betty pega a filhinha e a beija várias vezes.

– Filhinha você se lembra da tia Suz..., quer dizer, da tia Anne? – pergunta Betty carinhosa.

Camilinha olha para Anne e sorri toda feliz e estende também os bracinhos pedindo o colo dela.

Betty deixa Anne pegar a garotinha, que toda feliz recebe sorridente os beijinhos da amiga.

Betty pergunta a sua mãe como foi o dia com a pequena Camila e ela lhe diz toda orgulhosa:

– Minha netinha é um anjinho! Brincou bastante, depois almoçou toda a sopinha e agora, após brincar no parque, ia lhe dar um banho e a mamadeira da tarde para que ela tire uma soneca.

Não dá trabalho algum.

Betty fica muito contente em saber que o dia foi muito bom para a sua filha que estava sendo muito bem cuidada pela avó.

Armando chega com a mala de Anne, beija a filhota com todo amor e carinho e a pega no colo. Camilinha logo pega nos seus óculos.

– Pare nenê, senão o papai não enxerga nada! – fala Armando em tom carinhoso com a menina que agora desviou a atenção dos óculos e quer puxar os cabelos dele.

Todos sobem no elevador.

Betty explica rapidamente a dona Julia que Anne vai ficar alguns dias com eles.

Dona Julia muito discreta sorri para Anne e ouve calada. Sabe que depois sua filha vai lhe contar tudo quando estiverem a sós.

Armando fala a Betty e a Anne que conseguiu marcar a consulta com o doutor Fernando para às sete horas da noite.

Já eram seis horas!

Todos ficam admirados como o tempo passou tão rápido e correm para tomar um banho e se arrumarem.

Betty indica o quarto de hóspedes a Anne.

Como ele tem uma suíte, Anne toma o seu banho tranqüila.

Armando fica brincando com a Camila enquanto Betty toma o seu banho e depois ela reveza com ele.

Depois que estão todos prontos se despedem de dona Julia e da Camilinha.

Chegam ao consultório faltando 5 minutos para as sete. Ufa! Até que enfim chegaram a tempo!

Anne fala com a recepcionista, que atenta vai preenchendo sua ficha com seus dados.

Em pouco tempo é chamada para entrar à sala do doutor Fernando.

Betty a acompanha e Armando fica ansioso esperando na recepção. Sua vontade é de ligar para Daniel para que ele ficasse a par de tudo. Mas como havia combinado com a Betty, teria calma e esperaria.

“Como é duro ter que esperar!” – refletia ele enquanto elas entravam na sala do médico.

– Boa noite Betty! Tudo bem com você? E a família ? – pergunta o doutor quando a vê.

– Boa noite doutor Fernando! Graças a Deus todos vão bem, obrigada. Esta é a minha amiga a Anne. – fala apresentando-a.

– Boa noite, Anne! Tudo bem minha jovem? Como tem se sentido?

Anne meio sem jeito cumprimenta o médico:

– Boa noite doutor! Eu não estou me sentido muito bem, tenho tido enjôos e tonturas e não consigo me alimentar direito. Será que é grave doutor? – completa com a voz angustiada.

– Hum! Parece-me sintomas bem peculiares. – fala o médico com simpatia- Vou fazer alguns exames e saberemos ao certo do que se trata.

Depois de meia hora de exames o doutor Fernando pede que elas se sentem na mesa à sua frente.

Betty e Anne estão muito ansiosas. Doutor Fernando fala olhando direto para os olhos de Anne:

– Minha jovem pode ficar tranqüila, você não tem nada de grave! O que você tem é o desejo da maioria das mulheres. É o milagre da vida! Você está Grávida! Parabéns!

Anne fica pálida! Sente como se o ar faltasse em seus pulmões! Como se o chão se abrisse sob seus pés neste exato momento.