Mistérios de Frost Ville escrita por Isa Holmes


Capítulo 17
E quem disse?


Notas iniciais do capítulo

Olá meus mini-detetives! Infelizmente minhas aulas voltaram e eu estou muito preguiçosa para começar tudo de novo. Ora, quem nunca fica assim, não é? haha

Estou aqui novamente com mais um capítulo e quero agradecer novamente, do fundo do meu coração, à Sarinha Frost que recomendou Frost Ville ♥ Obrigada, minha mini-detetive!



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Assim que despertei ainda pouco consciente a primeira coisa que senti foi um peso enorme na cabeça, o embaralho da mente e uma baita de uma tontura. Sentia ânsia pelo estômago embrulhado e o resto do cheiro de clorofórmio grudado no rosto.

Certo de que não vomitaria, sentei e encontrei coragem para abrir os olhos.

Estava no frio, quase na chuva. Estava na floresta.

Eu via a cabana de Breu, o lampião e uma roda de adolescentes inconscientes, mas nenhum sinal do homem no qual me meteu na confusão.

Levei uma das mãos até a cabeça e encarei o céu.

— O céu morto não é lindo, Jack? Eu gostaria de tê-lo apreciado com mais entusiasmo na primeira vez. Tem ar tão magnífico, perfeito para uma noite romântica.

Virei-me e lá estava ele, magro e esguio, surgindo de dentro das sombras como se saísse dos meus mais profundos pesadelos.

Seus olhos âmbar me encararam com curiosidade.

— Achei que não conversaria mais com você — disse ele, aproximando-se com o diário de Gael nas mãos.

— Como assim? — perguntei.

— Ora! Você é forte, garoto! Achei que ficaria apagado até eu matá-lo! Iria te fazer o favor de não sentir dor, mas parece que você decidiu a forma mais difícil...

Fiquei em silêncio.

— Viu que roda bonita? Alinhei vocês em volta do túmulo de Gael. Quero que minha querida veja seus corpos se esvaindo em sangue. Ficará tão orgulhosa de mim, tenho certeza!

— Não pode cometer uma loucura dessas! — protestei, enfrentando-o — A policia virá atrás de você mais cedo ou mais tarde! Meus amigos sabem sobre você e devem estar atrás de ajuda nesse instante!

— Relatando o quê? — perguntou o homem. Aproximou-se de mim devagarinho, agachando na minha frente, colocando uma das mãos no meu queixo — Que existe um bruxo na cidade?

Novamente silenciei, derrotado.

— Estamos no século vinte e um, Jack! Ninguém nessa época acredita em magia! Para todos é computação, ilusão e encenação. É totalmente ridículo, principalmente vindo da boca de crianças!

— Meus amigos irão vir atrás de mim! — insisti.

— São crianças! Acha que estou preocupado com isso? Até lá já vou ter feito o meu trabalho...

Encarei seus olhos e o meu coração acelerou. Estava com medo e não tinha plano algum.

Breu soltou o meu queixo e sorriu.

— Vamos começar? — perguntou ele, largando o diário no chão enlameado e pegando uma faca — Lhe darei a honra de ser o primeiro.

Arregalei os olhos e me arrastei pela lama e a grama, desesperado e com o objetivo de sair vivo de toda aquela loucura. Infelizmente — e como sempre em todo aquele tempo —, Breu foi mais rápido e agarrou um dos meus braços, fazendo um corte largo, profundo e ardente.

Berrei pela dor lancinante e vi parte do meu braço ser coberto por sangue.

Breu ainda segurava o meu braço quando passou um dos dedos pelo ferimento, levando-o para minha testa, desenhando alguma coisa. Sussurrava sem parar palavras em latim enquanto contornava o desenho diversas vezes.

— O que está fazendo? — perguntei.

— Não te interessa, garoto. Já falei demais.

Ouvi um trovão soar e uma chuva forte começou.

Encarei Devalos e entrei no modo de sobrevivência.

Antes que fosse tarde, e preocupado com a minha vida — mesmo não tendo um plano —, agarrei o braço que Breu usava para desenhar em minha testa e avancei para cima do homem. Rolamos na lama enquanto Breu tentava encravar a faca que tinha no meu peito. Com o coração tamborilando e suor brotando na testa segurei a mão armada e tentei afastá-la de mim. Toda a força era o suficiente, mesmo que ela não existisse. Breu era maior que eu e, apesar do corpo magrelo, tinha força de sobra. Sorte também estava em seu vocabulário, afinal de contas, como o efeito do clorofórmio ainda passeava pelo meu corpo, deixando-me molenga, isso o deixava com a total possessão do momento. Por um momento consegui rolar para cima do homem, tomar controle e posse da situação, mas foi apenas por um momento.

Quando vi, Breu estava novamente em cima de mim, a faca a centímetros do meu coração.

Tentei afastar sua mão novamente, mas ele a cortou, fazendo-me recuá-la. O homem me encarava com ódio e não parecia piedoso com a decisão de me matar.

Eu não tinha mais opção. Estava certo de que não sairia vivo. Deixei com que minhas lágrimas se misturassem com os respingos da chuva e fechei os olhos.

Não! Jack!

No começo achei que era alucinação, que estava ouvindo coisas que não devia. Mas ouvi um urro dolorido e, quando abri os olhos, vi que havia uma flecha encravada na mão armada de Breu. O homem saiu de cima de mim, tentando arrancar a flecha encravada, derrubando a arma que usava, dando-me a chance de pegá-la para proteção.

Ainda assustado olhei para a direção da onde a flecha havia surgido.

Um relâmpago iluminou o céu esverdeado e eu pude avistar Merida posicionada com o arco.

Merida!

— Jack! — ela berrou — Cuidado!

Levantei os olhos e encontrei Breu avançando em minha direção, a flecha posicionada para o meu peito. Rolei para o lado e ele tropeçou e caiu. Arranquei a flecha da sua mão e a quebrei.

— Você não pode fugir do destino, Jack! — urrou ele.

Encarei-o com raiva.

— E quem disse que o meu destino é esse?

— Não pode me vencer! — o homem levantou e sorriu, todo sujo e encharcado — Você é um mísero moleque!

— E quem disse que ele é apenas um? — perguntou Merida, se aproximando e me estendendo a mão, ajudando-me a levantar.

Breu soltou uma gargalhada e se aproximou de Merida, encarando-a com desgosto.

— E quem disse que eu tenho medo de uma garotinha? Você é que tem que ter medo de mim.

— Nem eu e nem ninguém presente aqui tem medo de você — respondeu ela.

Merida levou uma das mãos até a boca e assobiou.

— Você tem um plano? — sussurrei.

— Não exatamente — Meri respondeu —, vamos esperar David chegar.

— O David...?

Mas eu não me importei em ouvir uma resposta. Quando olhei para os quatro cantos da floresta, encontrei meus amigos surgindo das sombras das árvores. Então Merida continuou a falar:

— Nem em um bilhão de anos que te abandonaríamos, Jack. — disse ela.

Sorri maliciosamente.

— Então vamos acabar logo com isso.

Breu ainda estava meio desorientado quando gritei para que meus amigos o atacassem.

Corremos em sua direção como um bando de guepardos, cada um de um ângulo. Devalos primeiro decidiu tomar conta dos que estavam atrás de si, lançando uma onda de vento, forte e inexplicável, com sua mão direta, que jogou meus amigos para longe. Rapunzel teve uma queda no chão, rolando e rolando até ficar imóvel. Já Soluço — com um doido de um azar — foi tacado contra uma árvore, batendo a cabeça e o braço direito. Se não fosse a chuva e os trovões, pude jurar ouvir o barulho de um osso quebrando.

Não tardou e ele fez o mesmo comigo e com o resto. Violeta, Wilbur, Merida e eu voamos pra longe. Logo pude ouvi-lo gargalhar.

Senti um impacto horrível atingir minhas costas, e então escorreguei para o chão e cai de bruços. Uma dor agoniante tomou conta da minha coluna e assim que tentei me virar vi o que tinha me atingido.

— Maldita árvore... — sussurrei, virando de bruços de novo.

Minha dor era tanta que não conseguia nem levantar.

— Jack... — chamou-me Merida, do outro lado — Está tudo bem?

— Já estive melhor... — sussurrei.

— É o anel, Jack... — continuou ela — É o anel que ele usa na mão direita.

— Como é?

Um trovão soou e a chuva aumentou. Pude ouvir então os passos de Breu se aproximarem.

— Arranque o anel, Jack. — Merida apressou-se a falar — É por causa do anel.

E Devalos chegou ao seu destino. Agachou a minha frente e segurou-me pela gola do meu pijama, forçando-me a encará-lo.

— Vamos tentar novamente, Jack? — perguntou ele, pegando de volta a sua faca — Desta vez sem erros, está bem? Faremos direitinho para deixarmos Gael orgulhosa.

— Meus amigos... — sussurrei.

— Eu cuido deles depois — sorriu ele.

Meio desorientado e tonto olhei para sua mão e encontrei o tal anel que brilhava num tom âmbar bonito e extravagante.

Breu começou a me arrastar pela lama, puxando-me pela gola da blusa mesmo, até a roda feita com os adolescentes que sequestrou e dopou. Tacou-me no chão como um saco de batatas e tomou a faca nas mãos, em posição.

Pude jurar que seria morto justo naquele instante, sem ter chance de arrancar anel algum ou coisa assim, se não visse uma silhueta esguia e uma voz bem conhecida atravessar uma das árvores.

Jack! — gritou David, e então encarou Devalos — Parado, você está preso!

Mas Breu pouco se lixou e deu de ombros para o detetive. Já eu, um pouco mais ágil, aproveitei a distração do homem e o derrubei. Subi em cima de Devalos, arrancando-lhe o anel, e David chegou, desarmando-o.

O detetive pegou suas algemas e, enquanto as punha no pulso de Breu, lia seus direitos.

— Sou o detetive David Campbell e você está preso pelo sequestro de Megan Jones, Giulia Thomas, Owen Evans, Alan Clarke e Jack Frost, tudo certo? Você tem o direito de permanecer em silêncio; tudo o que você disser poderá e deverá ser usado contra você no tribunal. Você tem o direito de ter um advogado presente durante qualquer interrogatório. Se você não puder pagar um advogado, um defensor lhe será indicado — David pigarreou — Você entendeu os seus direitos?

Mas Devalos não ligava pra isso. Estava mais preocupado com outra coisa.

— Devolva-me! Devolva-me o anel! — implorou ele, como se toda a superioridade e psicopatia fosse pelo ralo — É tudo o que tenho! Foi ela quem me deu! É o meu poder, sem ele sou um humano qualquer. Devolva-me o anel! Deixe-me trazer minha amada de volta!

Mal lhe dei ouvidos e guardei o anel no meu bolso.

Não tardou e outros policiais começaram a chegar ao local. Viam-se as luzes azuis e vermelhas dançarem por meio das árvores e os homens correndo de um lado para o outro.

— Você entendeu os seus direitos?! — perguntou David mais uma vez, observando Breu assentir enquanto entregava o suspeito para outro policial — Mande-o para a delegacia. Quero bater uma séria conversa com o nosso homem depois.

Assim que o policial se afastou com Devalos, David agachou ao meu lado.

— Está tudo bem, campeão?

— Assassinato. — sussurrei — Está condenado por assassinato. Ele matou Mark.

— Mark Mason?

Assenti e então David agarrou meu braço.

— O que é isso? — perguntou ele, indignado — Está perdendo muito sangue! Está tudo bem, Jack. Logo, logo estaremos num hospital. Você vai ficar bem, campeão.

— Soluço — sussurrei —, acho que ele quebrou o braço.

Mas David não me ouviu. Pegou o rádio que tinha na cintura e começou a chamar a central, dando o seu nome e número do distintivo.

— Preciso de uma ambulância urgente! — gritou ele.

Vi a movimentação a minha volta e tudo girava. A voz de David começou a ficar longe e, a última coisa que eu vi, antes de apagar novamente, foi uma mancha alaranjada e turva se aproximar de mim.


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Notas finais do capítulo

É Breu, não foi dessa vez! E você, David, deve um bom e belo "desculpe-me" para os nossos mini-detetives! E que isso sirva de lição para não duvidar mais dos menos! Nós somos capazes de muitas coisas rsrsrs.