Mistérios de Frost Ville escrita por Isa Holmes


Capítulo 15
Couro, canivete e clorofórmio - II


Notas iniciais do capítulo

E em comemoração pelas mais amadas férias estou aqui com mais um capítulo! Uhul!

Primeiramente queria deixar um aviso. Sei bem que a história é para maiores de treze anos, mas como explicado nos avisos (que podem ser encontramos na página principal) encontramos marcado "violência e tortura". Bom, chegamos a esse ponto. Esse capítulo contém um conteúdo um pouco mais forte (talvez para maiores de dezesseis) e quero deixar isso bem claro aqui, ok? Nos encontramos nas notas finais e boa leitura galera!

(Uma opinião? Se gosta de um ênfase na leitura recomendo que leia com a mesma música que escrevi. Aqui, olhem. https://www.youtube.com/watch?v=XGQn_mD30W0)



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Frost Ville, Inglaterra.

Domingo, 8 de setembro de 1868.

Maravilhoso! Tudo foi extremamente maravilhoso!

No crepúsculo do dia de hoje segui para a casa de Gael Foster. Escrevi uma carta para a moça no dia anterior perguntando se não queria ir a uma festa de um conhecido meu. Recebi a carta em resposta hoje de manhã e fiquei contente em ver que ela aceitou.

Antes de me encontrar com a senhorita Foster fui até a prefeitura perguntar para o sr. Jones se estava tudo organizado e de acordo com o planejado. Graças a Deus tudo ocorria bem.

Assim que cheguei na casa da moça respirei fundo e a chamei. Quando me atendeu vi que era um desperdício. Gael estava deslumbrante com um belo vestido champanhe e um medalhão. Seus lábios estavam mais vermelhos do que nunca, os cabelos cor de ouro presos num coque belíssimo. Uma verdadeira dama. Pelo menos essa era a impressão que passava.

Entreguei-lhe uma rosa que colhi no caminho e a moça sorriu. Belo sorriso o qual Gael tinha. Tinha, é claro, porque agora é tarde. Mais tarde do que nunca foi, afinal de contas, nesse exato momento a mulher está em seu devido lugar. Gael Foster está nas mãos do diabo enquanto queima no inferno.

E tudo foi mais rápido do que eu imaginei.

Antes que saíssemos de sua propriedade agarrei a mulher pelo pescoço. A rosa caiu e Gael gritou, fazendo com que eu a calasse com a outra mão. Em defesa— algo que admiro até agora — a moça me deu uma cotovelada no rosto. Filha de Satã, quebrou-me o nariz! Ainda posso sentir o sangue escorrendo pelos lábios. Tenho que pedir para Charlotte que limpe isso antes que piore.

Maldita bruxa! Debatia-se sem parar, gritando por cima da minha mão.

Decidi então chamar o resto dos homens. Assoviei em sinal e eles não tardaram em aparecer. Enquanto a maioria preparava a fogueira aos pés daquele lampião velho perto da casa pedi para Mohammand que me desse uma de suas cordas. Amarrei as mãos da moça e a encarei. Gael perguntou por que eu fazia aquilo. Respondi que sabia dos seus segredos. E em resposta? A mulher cuspiu no meu rosto. Já eu, revoltado e mal acreditando na sua ação, lhe lancei um tabefe.

Arrastei-a para o lampião quando estava tudo pronto. Seus gritos naquele momento eram no mais puro latim. Vindicta, dilectum. Vindicta!, Gael dizia repetidamente. Não parou até que a amarrássemos no ferro.

Ainda recordo do olhar sombrio com que a moça me observou antes de eu acender o fósforo e tacá-lo na palha em sua volta. As chamas primeiro devoravam a palha, e, depois, começaram a corroer a mulher. Tal cena era um pouco perturbadora. O fogo tragava a moça sem dó ou piedade, seu grito de dor era digno de surdez.

Encarei os homens ali presentes e todos estavam boquiabertos. O mais novo, sr. Evans, parecia rezar. Ora, não era para menos. Tal cena só servia para ser vista por homens de estômago forte e não crianças.

Os gritos de Gael ainda ecoavam, a fumaça se esgueirando para a lua. Não demorei para perceber que a mulher tentava dizer algo. Daqui duzentos anos, meu amor, dizia ela, no mais claro latim, Daqui duzentos anos eu prometo estar contigo novamente.

Mas então ela mudou. A mulher mudou a língua e a partir dali eu não entendia mais nada. Se bem me lembro sua nova língua era o Francês. E foi nele que ela permaneceu. Gael falou e falou até que não tivesse mais nenhum barulho para que escutássemos o qual não fosse a palha estalando no fogo.

Até agora não sei com quem a mulher falava ou pedia vingança.

Mas uma coisa é certa: O resto da noite foi pura farra!

Os homens e eu seguimos para a prefeitura depois da execução claro que partimos depois de escondemos o resto do corpo e limpamos as evidências. No caminho o sr. Jones disse que guardava uma surpresa para mim. E que surpresa! Quando chegamos lá e nos servimos das melhores bebidas, Mohammand disse que Ville era uma nova cidade, e que em comemoração de livrá-la de todos os males, ele a nomearia com um novo nome. Eu mal podia esperar por aquele resultado! Em agradecimento de todo o meu trabalho Mohammand Jones declarou que do dia de hoje em diante a cidade de Ville passará a se chamar Frost Ville. Foi uma grande alegria ouvir aquilo!

Em meio a bebedeira, o sr. Jones assinou os documentos.

No final todos nós fizemos um brinde pela morte da bruxa e juramos que nunca comentaríamos o acontecido com qualquer outra pessoa. E isso ficará em segredo até o resto de nossas vidas.

Bom, isso se ninguém além de nós viu.

Barnabas Frost.

~x~

Frost Ville, Inglaterra.

Quinta-feira, 12 de setembro de 1868.

Há um ou dois dias não escrevo, sei bem disso. Mas agora estou de volta por causas extremas.

Estou de volta por desabafos.

Que Deus me tenha! Sabe-se lá se estou ficando louco ou não! Na verdade, meu senhor, que homem que fica louco do dia para a noite? Pelo que bem sei um louco nasce louco e morre louco. Fim da história.

Ó que situação difícil minha vida me metera. Se eu for relatar tais acontecimentos com alguém estarei logo, logo em um hospital psiquiátrico. Em um manicômio! Ou pior... Quem sabe não estarei morto?

Por favor, não deboche de mim. Exagero é a última coisa que está passando em minha mente.

Ah meu Deus, como sou tolo! Sabe-se lá, nesse momento, o que é exagero e o que não é.

Meu Deus estou enlouquecendo...

Meu Deus estou enlouquecendo...

Meu Deus estou enlouquecendo...

Que seja! Vou logo ao ponto! Chega de interrupções!

Ah Deus, que vergonha, que vergonha... Diga-me como posso explicar isso?

Ah sim. Eu já expliquei. Já expliquei que a loucurame consome! Ah se esse caderno fosse um homem... não tenho dúvida alguma de que eu estaria ouvindo poucas e boas. Na verdade não sei como o tal homem falaria com tanto riso para despachar dos pulmões. Claro que ele não seria nenhum dos que convivi nos últimos dias. Ó sim, eu já havia me esquecido. Estou a tempo sem explicar as coisas. Ah que tolo, que tolo... Se eu não explicar minhas observações, como poderia concluir o que penso? Como sou burro! Pelo menos a burrice não me impede de explicar as coisas que passei — assim espero. Coisas horríveis, por sinal.

Depois da comemoração e carraspanaa sorte de todos começou a mudar de mal à pior. Parecia como umamaldição. Parecia não: parece. E é essa a minha conclusão. Uma maldição. Um excessivo toque de magia negra!

Só pode ter sido ela! Ó meu bom senhor, o diabo a mandou de volta para se vingar. Não é à toa que a mulher repetia várias vezes Vindicta, dilectus. Vindictam!. Agora sei o porquê! Meu Deus, só podia ser! Gael Foster só podia ser amante do demônio!

Um por um. Um por um. Todos se foram, não sobrou nada. Ela matou todos. Ela despejou seu ódio em nossas almas piedosas. Primeiro Mohammand Jones, tendo seu corpo mutilado e exposto na praça da cidade aos olhos de quem bem entendesse. Ah que horror... Ainda recordo dos raios solares castigando a pele sedenta de sangue do homem. Coitada de sua esposa, agora viúva. E que Deus proteja a prefeitura, agora sem um comandante.

Na verdade, que Deus proteja Mohammand. Que Deus proteja Mohammand das garras dos mortos revoltados que um dia ele ousou arrancar a vida pela ideia de bruxaria.

E que Deus também proteja Ewan Thomas de todos os condenamos que ele teve de levar à corda para salvar os bons da cidade.

Coitado! Estava animado no dia anterior à sua morte. Ia ter um filho! Que condeno o homem teve... Foi encontrado morto em sua casa pela esposa. Os olhos sangravam o mais denso bordô pelo simples fato de terem sidos arrancados para fora da ligação de seu corpo. Sabe-se Deus para onde foram levados. Pelo menos o corpo ainda estava lá, na cama, o lençol respingado.

E o sr. Evans? Este não condenara a vida de ninguém a não ser de Gael Foster. Meus pêsames pelo jovem que não mereceu tal tragédia. Sendo o mais novo de nós deveria ter aproveitado a vida. Na flor do trabalho, na flor da maturidade. Na casa dos vinte, se bem me lembro. Fora morto asfixiado. Deve ser horrível ter de procurar o último fiapo de oxigênio. Meus pêsames novamente ao garoto, meus pêsames...

Sinto que esqueço alguém...

Ah sim! Anthony! Anthony Clarke, o advogado. Este pareceu ter sido poupado de sofrimento, ou talvez seu assassino só estivesse apressado. Mas espere... Como um morto se apressa? Que compromisso ele teria? Morremos para descansar nossas almas piedosas e não para desgastá-las mais. Mas é escolha de Gael. A decisão foi dela se quis perder seu tempo em procura de vingança e sangue. Ora, que engraçado... mortos matam... mortos ainda têm o privilégio de sentirem o sangue em mãos...

Que Deus me ajude!

Cada dia foi um. Cada dia um homem. Não sobrou mais nada a não ser eu.

Não aceito estar com medo, mas ter uma ideia desta é perturbador. O bom é que sou inteligente a ponto de pensar rápido e adotar a ideia de mudança. Deixarei a casa com qualquer um que passar a minha frente. Tenho minhas bagagens prontas e pegarei o próximo trem para a cidade de Londres.

Charlotte vive na pergunta sobre a decisão repentina, mas fiz um juramento e este ficará mantido até o dia em que eu for bater as botas (algo que espero não acontecer recentemente). Relatei apenas que viajaremos hoje. Nada a mais, nada a menos. Não me importo se ela gostou da ideia ou não. Lutarei pela minha vida custe o que custar. Não sou homem para estar morto, ainda tenho que limpar as maldições humanas que restam no mundo.

Acredito que sentirei falta desta cidadezinha. Ah sim, sentirei falta. Lugar onde cresci e me tornei o que sou hoje. Quem sabe eu não volto um dia para cá, cidade de clima único e paz amaldiçoada, agora nomeada Frost Ville.

Paz amaldiçoada...

Tal palavra revela que não voltarei cedo. Ora, que seja! Minha vida vale mais que qualquer outra coisa. Falta e saudade não é mais importante que a existência. Não me manterei em um lugar onde agora habitua fantasmas, principalmente quando estes cometem bruxaria e são amantes do diabo.

Meu Deus, melhor eu não tardar em ir, tanto pelo horário do trem quanto pela minha segurança. Chamarei Charlotte e direi que partiremos neste momento.

Bem, não prometo nada, mas quem sabe eu escreva quando voltar.

Ó pai, ó Deus. Proteja minha alma piedosa. Não deixe com que a morte e o diabo me condenem...

Tudo bem, chega de lamentos! Agora irei rezar! Irei rezar e pedir a benção de De (...).

— Deus... — sussurrei — Deus! — repeti, desta vez por indignação. Além de a última palavra obter rabiscos por sua volta, a folha em que o diário estava aberto e o resto delas (todas sem mais nenhuma palavra) estavam todas manchadas pela cor vermelha. Na verdade na cor bordô, como comentou meu antepassado. Na cor do sangue.

Passei a mão pela folha manchada enquanto ainda assimilava todas as informações possíveis.

— Meu Deus!

Peguei o celular e disquei o número da Merida. No terceiro toque a ruiva atendeu. Bem, na verdade não era beeem a ruiva.

— Rapunzel? C-Cadê a Merida?

— Ué, esqueceu? Tem o baile hoje. O aniversário da cidade, lembra? Viemos fazer compras. Na verdade eu a arrastei — a loira riu —, mas isso não importa. Ela está no provador agora. Dei alguns vestidos para que experimentasse. Mas, diz aí. Onde você tá? Dormiu até tarde ou quê? Não deu nenhum sinal hoje!

— Meu avô me pôs de castigo, Punzie.

— Ué, por quê?

— Cometi invasão de domicílio — respondi com as palavras do meu avô — Olha só, loura. O Devalos mandou uma carta para o North dizendo que eu invadi a casa dele! O velhote armou pra mim e agora estou trancado no sótão de casa! — dei uma pausa — Já você, né? Só no bem bom. Seus pais não receberam nada?

— Não, e ninguém aqui tocou no assunto.

— Estão todos aí?

— Aham — respondeu e eu pude ouvir Soluço falar alguma coisa — Mas, vem cá, então você não vem? Mas que droga Jack, é seu aniversário!

— Isso é o de menos, loura — respondi e senti um arrepio — Gael não era a única que tinha um diário, sabia? Achei algumas coisas de alguns antepassados meus e junto disso encontrei outr...

Senti um choque forte e berrei, deixando o celular cair no chão.

— Alô? Jack? Jack?! O que aconteceu? Você encontrou o quê? Jack?! Você tá aí?

Esfreguei minhas mãos uma na outra por conta do choque e me agachei para pegar o celular de volta.

— Sabia que Barnabas foi o homem mais fácil de matar, Jack?

Foi aí que eu senti meu coração tamborilar no peito. Suor brotou na minha testa e eu arregalei os olhos quando olhei por sobre o ombro, quase caindo para trás.

No velho sofá do sótão de casa estava sentado ninguém mais, ninguém menos que o meu professor de história.

Eu ainda podia ouvir Rapunzel berrar do outro lado da linha.

Devalos se ajeitou no sofá, eu, pelo contrário, mal conseguia me mexer.

— O gato comeu sua língua Jack? — sorriu ele.

— Como você entrou aqui? — consegui levantar em defesa, o celular ainda no chão.

— Ah Jack, você não precisa saber disso... — Devalos levantou e seguiu em minha direção — Eu ainda lembro, sabe? A vela que Barnabas usava quase lhe queimou a cabeça quando perdeu a vida. Sabia que ainda tenho a faca? — perguntou ele, e em seguida fez um gesto com o dedo, como quem cortava a própria garganta — Rápido e fácil — riu.

— Do que você está falando?

— Por favor! — ele abriu os braços sorrateiramente — Não se faça de idiota, moleque! Nós dois sabemos que Barnabas era um inútil! Fantasmas não existem!

— Mas bruxas sim... — sussurrei.

— Bruxos também — sorriu ele, maliciosamente — Não foi Gael que matou ele. Nem ele e nem os outros. Fui eu.

— Porque ela era a sua amada... completei, encaixando todas as peças desde a decisão da investigação Você fez por vingança...

— Garoto inteligente... — Devalos riu, passeando pelo cômodo. Ele sempre mantinha as mãos pra trás e, sempre que podia, mexia em alguma coisa — Vamos ver se você é realmente bom em investigação igual ao seu pai. O que mais sabe?

— O que mais tem pra saber? — retruquei.

— O homem me encarou.

— Depende do que está procurando.

— Eu procuro por respostas.

— Então que as revelações comecem! — anunciou ele, sorrindo do outro lado do cômodo. O engraçado é que, não demorou nem um milésimo de segundo, e o homem estava ao meu lado, sussurrando no pé do meu ouvido: — Você vai morrer mesmo.

Seu sussurro me deu arrepios, obrigando-me a me virar de susto. Devalos já estava distante novamente.

— Acho que a maioria você já sabe, não é Jack? — continuou ele — A morte de Gael, a origem do nome dessa maldita cidade, a magia por trás da história, e, como você bem disse, a intimidade entre Gael e eu...

— Isso é ilógico! — urrei, mal me dando conta do perigo — Primeiramente que tudo isso aconteceu em meados do século dezenove, e estamos aqui, você e eu, em pleno século vinte e um. Século vinte e um! Passaram-se anos! Você, já que viveu naquele século, deveria estar morto!

Um mórbido silêncio brotou no sótão, até que o homem começou a gargalhar.

— Imortalidade, Jack. Já ouviu falar? — sorriu ele, aproximando-se novamente — Magia pode trazer a imortalidade quando se trata do envelhecimento humano. É só fazer uma mágica aqui, outra ali, e puf, aqui estou eu, saudável como um cavalo.

— Por que decidiu isso? — perguntei — Você podia muito bem estar com ela agora.

— Acredite Jack — ouvi sua voz soar, mas dessa vez eu não o via. Procurei-o por todos os lados e então o encontrei ao meu lado. Ofegante com o susto, levei a mão ao coração —, eu ainda vou vê-la. E vai ser com a sua ajuda.

Novamente o homem sumiu de vista. Meu corpo não se movia, mas meu coração, pelo contrário, tamborilava mais e mais.

Nervoso, olhei para os lados na procura de Devalos.

— O que quer dizer?

— Quero dizer que Gael vai voltar. Ela vai reviver. — Devalos, dessa vez, estava novamente sentado no sofá, o diário de Barnabas nas mãos — Sabe a descrição que Barnabas deu sobre a morte de Gael? Deixa eu ver se... Ah, aqui! O fogo tragava a moça sem dó ou piedade, seu grito de dor era digno de surdez. Se lembra da parte que Barnabas descreve uma suposta coisa que Gael dizia? Do latim para o dócil francês. Seu antepassado era um inútil mesmo. Ela não estava falando com o diabo. Ela falava comigo. E sabe por que ela mudou a língua? Porque o que ela dizia eram as instruções para trazê-la de volta. Daqui duzentos anos, meu amor. Daqui duzentos anos eu prometo estar contigo novamente. Porém, para isso, preciso que colabore com o que tenho. Por favor Breu, escute-me. Daqui a duzentos anos, no mesmo local, na mesma hora, pegue e os mate. Mate os descendestes dos que nos fez sofrer. Está no diário, querido. O diário que me destes. Siga as instruções. Lá tem as instruções. No céu morto, meu amor. Se colaborar voltarei no próximo céu morto.

Silêncio.

— Breu? — sussurrei.

— Breu — o homem sorriu maliciosamente — Eu não sou quem você pensa que eu sou, Jack. Eu não sou professor de história e muito menos sou assim. — Devalos apontou para si mesmo e me lançou um olhar doentio — Quer ver como eu sou?

Antes que eu pudesse responder, uma nuvem de areia negra tomou o sótão — pelo menos o espaço onde o homem se habitava —, impedindo-me de ver qualquer coisa. Tossi algumas vezes e tentei abanar toda aquela poeira. Cada vez com que mais as coisas aconteciam, mais o meu desespero crescia.

Quando a poeira abaixou eu pude ver o mesmo homem do pingente que eu e os outros encontramos na praça dos caçadores. Sua estatura era alta, a pele cinzenta — quase morta —, os cabelos carvão e os olhos âmbar.

— Você... — sussurrei — É você quem está causando toda essa confusão! — comecei a remexer o bolso da minha calça. Assim que achei o pingente taquei-o na direção do homem — Foi você que sequestrou aquelas garotas e aquele menino! Foi você o tempo todo!

Como sempre o silêncio tomou o lugar — a não ser pela minha respiração pesada. Breu — Devalos, ou o que seja — me encarou, sorriu e começou a bater palmas.

— Bravo, Jack! Bravo! — gargalhou ele, divertindo-se com a situação — O que mais você concluiu diante disso?

Encarei meu celular e percebi que a chamada ainda estava de pé.

— Os sobrenomes... — sussurrei, encarando-o, os punhos cerrados de raiva.

— O quê? Eu não ouvi direito.

— Os sobrenomes! — urrei — Thomas, Jones, Evans e... Frost. Aquelas garotas, o garoto e eu somos os descendentes dos homens que mataram Gael!

— Vocês são cinco, Jack. Esqueceu do garoto Clarke. Mas ninguém pareceu percebeu o sumiço dele. Muito menos você. Esse foi o mais fácil. Foi tranquilo por conta de ter acontecido numa madrugada — Breu se aproximou — Mas sabe qual madrugada, Jack? Justo a qual você e seus amigos invadiram a minha casa — o homem me encarou. Seu rosto estava quase colado ao meu, deixando com que eu sentisse sua respiração — Quase que tudo for por água a baixo por conta da sua maldita fissuração pelo caso, Jack! — gritou ele — Mas agora nem eu e nem você precisamos nos preocupar, não é mesmo?

— Aquele menino — sussurrei, olhando em seus olhos âmbar —, aquele do colégio que estava junto com a Jones. Você o matou?

— Ele não estava colaborando Jack — Breu respondeu — Foi preciso.

— O que você vai fazer comigo? — perguntei, enfiando a mão no bolso.

— Você ainda não entendeu Jack? — sussurrou ele — Mate os descendentes dos que nos fez sofrer. Mas não aqui. Ah, não... — ele tocou meu ombro, fazendo com que eu agarrasse o objeto do meu bolso — Eu tenho que seguir as instruções, por isso você vem comigo.

Percebendo que Breu ia reagir saquei meu canivete. Tudo aconteceu numa fração de segundo. O homem lutou comigo, tentando pegar a faca da minha mão. Tombei e caí, deixando o canivete escorregar. Quando eu ia pegá-lo novamente Breu pisou na minha mão e o chutou para longe. Aturando uma dor alucinante na mão direita e com a cabeça a mil avancei para a caixa que tinha as coisas do meu pai e saquei sua arma.

— Não chega perto! — gritei.

— Você não tem coragem, pivete — riu ele, aproximando-se com aquele sorriso malicioso e olhar doentio.

Desesperado, mirei no homem e apertei o gatilho.

Nenhum estrondo.

A arma estava descarregada.

Breu gargalhou e meu medo aumentou. Avançando para a portinha do sótão — com o objetivo de sair dali — senti o homem agarrar o meu pescoço, enforcando-me, levando-me ao desespero extremo enquanto juntava o meu corpo para perto do seu.

— Me solta! — gritei, começando a arranhar o seu braço com a esperança de que me deixasse em paz — Me solta!

— Eu avisei, Jack. — o homem sussurrou em meu ouvido, em meio aos meus gritos — Eu avisei que você vem comigo.

Enquanto eu lutava para me livrar das garras daquele homem pude sentir algo ser pressionado contra o meu rosto. O cheiro de clorofórmio tomou conta das minhas narinas. Senti a inconsciência chegar, e depois, nada. Tudo era escuro. Escuro igual a um poço.


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Notas finais do capítulo

Para os curiosos, primeiramente, quero que saibam que "Vindicta, dilectus. Vindictam!" significa "Vingança, querido (ou amado). Vingança!". Então, se foram no google tradutor antes de chegar aqui não se assustem. Ele está errado.
~x~
E aqui estamos galerinha! Final de mais um capítulo (talvez o capítulo dos capítulos)!

Mesmo com algumas coisas (a maioria) esclarecida ao longo dos capítulos quero deixar outras — essas que nem fazem importância de aparecer no capítulo ou não — aqui.

Uma, por exemplo, é o quadro que o Jack achou no sótão (aquele que estava junto com o diário, lembram?). Aí a pergunta vem em nossas mentes "Como Barnabas pintou aquele quadro junto com o diário se ele morreu?". Isso foi outro presente de Mohammand para o Frost, pessoal. Mohammand Jones deixou bem claro com Barnabas que contratou um amigo pintor para guardar um quadro do conhecido. Barnabas, ambicioso como sempre, não deixou de aceitar. A pintura, para resumir, foi feita antes mesmo de Barnabas Frost escrever aquela folha do diário.

"O nome da cidade mudou do nada, e os habitantes? Não estranharam?" Ah não. Mohammand foi mais esperto e criou o assunto da evolução da cidade, como mesmo Devalos — Breu — disse: "O dia que decreto o nome, foi o dia que aberto ao mundo". O dia que decreto o novo nome, foi o dia no qual eles se tornaram realmente uma cidade. Grande desculpa, não? Pois é. E Mohammand pensou em tudo! Como a cidade era — é, na verdade — gelada ele não pensou duas vezes em usar a desculpa, desse jeito poderia usar e abusar do complemento "Frost".

Outro caso é o medalhão — ou pingente — de Gael. Se lembra que ela usava um medalhão quando foi morta? Pois é. O seu também tinha as mesmas fotos e, a única diferença, eram as iniciais — B.B de Breu Black, e, no caso de Gael, G.F. Os dois pingentes faziam um par.

E agora pensamos: "Que fim deu o corpo (se é que sobrou corpo)?"

Barnabas e os homens esconderam sim o resto do corpo de Gael, mas Breu encontrou e o enterrou no lampião, no local de sua morte. E é aí que desvendamos o mistério das inicias do lampião e a tulipa negra. O lampião é sim um túmulo — este feito pelas mãos de Breu.

Ah, agora chegamos na parte de como Breu sabe o que está escrito do diário de Barnabas (afinal de contas, seria ilógico ele saber que Barnabas o confundia com o diabo). Simples, ora. Breu o leu na noite da morte do Frost. "E por que ele não levou o diário consigo? Assim protegeria os segredos com ele, não?" Sim, meus queridos detetives. Breu ia levar o diário consigo se Charlotte não desse o luxo de aparecer, apressando-o para ir embora. Posso até dizer que ele voltou pare recuperar os segredos, mas já era tarde. O diário havia sumido (sido guardado, na verdade).

Uma pergunta que talvez passe na cabeça de pouco: "Breu tem preferencia de vítimas?". Sim, tem, e essa preferencia é na idade. Breu precisa dos descendentes dos homens que mataram Gael, então tanto faria ser Gustavo ou Giulia, ou Jack ou Tyler? Não. Não tem tanto faz. Breu precisa do descendente mais novo para que o seu ritual dê certo. Jack é o mais novo, Giulia também (essa por segundos, não é? Afinal de contas ela e o irmão são gêmeos).

"E Charlotte? Ela se mudou?". Bom, tenho que dizer que não. Se Charlotte se mudasse pra Londres, como a linhagem dos Frost em Frost Ville continuaria? Então não. Charlotte não se mudou e permaneceu em Frost Ville.

"Jack e companhia invadiu a casa de Breu, mas como ele não encontrou as meninas e meninos perdidos?". Esconderijo secreto é a palavra certa. Breu tinha um esconderijo em algum lugar da casa (ou fora dela) onde mantem suas vítimas cativas.

Espero que agora o motivo do céu morto esteja explicado. Este foi apenas criado para demonstrar que o ritual deveria acontecer duzentos anos depois da morte de Gael pelo fato de o mesmo ter de ter tudo igual da primeira vez — horário, local, dia e, no caso, meteorológicamente.

"A morte do prefeito, juiz e outros homens importantes não abalou a cidade?" Ah sim, abalou e muito. Em homenagem um grupo de pessoas decidiram criar uma homenagem, sabe? Para honrar os homens que fizeram a cidade crescer. E é aí, meus queridos detetives, que surge a praça dos caçadores. "Caçadores? Pelo que eu saiba a única coisa que eles caçaram foi uma bruxa, e isso foi mantido em segredo, não é?" Sim, sim, detetive, você está certo. Mas é só uma homenagem, não é? Podemos interpretar caçadores ao sentido deles como muitas coisas — por serem bravos, por exemplo. "E Jack? Se ele viu a placa de mármore onde tem o nome dos homens como ele não percebeu um Barnabas Frost (seu sobrenome) ali?" Ele não percebeu porque não tem. Isso mesmo, vocês leram muito bem: não tem. Barnabas, para os habitantes, não eram importante. O homem só era um caçador de recompensas qualquer que fazia o que tinha que fazer. As pessoas queriam honrar aqueles importantes que fizeram de tudo (que eles sabiam) pela cidade — o prefeito, juiz, advogado e detetive (estes conhecidos por Deus e o mundo). Barnabas não tinha nada haver com isso. A praça em si é importante pela homenagem. "Jack diz que bem que podiam ter esculturas dos homens na praça". Pois é, podia mesmo, mas com que homem para posar? Todos estavam mortos e mortos não voltam da vida (isso em nossas observações, porque se depender do Barnabas... hehe).

Se tenho mais mistérios para desvendar aqui (que ainda não foram esclarecidos) eu não me lembro, mas, se um de vocês lembrarem e quiserem pergunta vão em frente e até o próximo capítulo!