Mistérios de Frost Ville escrita por Isa Holmes


Capítulo 13
Pode mandar brasa!


Notas iniciais do capítulo

Meu deus. Me perdoem por todos esses meses sem este capítulo.
Como escrevi no meu perfil o meu notebook velho acabou quebrando, sendo assim acabei ficando apenas com o celular. Graças a Odin ganhei o meu notebook novo esses dias e já estou de volta à ativa!
Para matarmos a saudade aqui está mais um capítulo da nossa amada cidade gelada e misteriosa, Frost Ville.



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A adrenalina ainda aquecia o meu corpo quando saí do chalé.

Enterrei as mãos no bolso do casaco e apertei o passo para o mais longe da casa. Não demorou muito para que eu avistasse Jack, que estava com as costas apoiada no lampião da propriedade. Acenei para ele e logo o garoto se aproximou.

— Cadê todo mundo? — perguntei.

Jack sorriu maliciosamente.

— Vai mesmo querer saber?

— Pode manda brasa!

Ele riu.

— Soluço disse que o pai entrou no quarto enquanto ele tentava pular a janela. Stoick disse para o garoto viking que era mais fácil ele ir pela porta da frente. — dessa vez Jack soltou um risinho debochado — Soluço acabou tendo horário para voltar. Bizarro, não é?

Concordei distraída.

— E os outros?

— Os outros seguiram o Soluço sem mais nem menos. Acho que estavam preocupados de serem pegos...

— E por que você não foi junto com eles?

Jack arqueou as sobrancelhas cor de ébano.

— Porque eu notei que você sumiu — ele bufou, deslizando as mãos na nuca — Esse homem aí é louco, loura! Não ia deixar você sozinha com ele! Mas afinal de contas, o que você estava fazendo lá dentro?

Suspirei fundo e me aproximei do lampião. Apoiei as costas no ferro frio e enferrujado e deslizei até o chão.

— Eu estava tirando conclusões — respondi no meio do tombo.

Jack sentou na minha frente, largou a mochila de lado e arqueou a sobrancelha, junto de um cenho enrugado. Aquilo parecia mais uma careta do que uma expressão.

— Como é? — perguntou ele.

— Eu estava conversando com o homem que você denomina louco, Jack.

— Você está brincando, não é?

— Por que eu brincaria com isso? O homem precisava conversar com alguém, e nós precisamos de conclusões. Achei que eu poderia fazer algo, e fiz. Demorou, mas fiz.

Como? — explodiu ele.

— Como eu havia dito, o homem precisava conversar. Então eu o ouvi. Demonstrei interesse — respondi — Percebi que Devalos tem uma linguagem culta, então também decidi usá-la. Não apenas isso, mas também tive respeito e paciência. Não posso negar que manipulei um pouco o homem. Ele percebeu no começo, mas só no começo.

— Você é esperta, hein loirinha?— Jack sorriu, satisfeito — Mas me diz uma coisa. Como ele confiou em você? — esputou o garoto, irônico — Quero dizer, a gente acabou de invadir a casa dele! Eu não confiaria...

— Apenas falei o que o homem queria ouvir. O manipulei — silenciei por alguns segundos — Mas o ponto principal é a promessa que ele criou. Fez com que eu prometesse que aquela conversa não passará do lampião aqui. Mas eu cruzei os dedos na hora, sendo então, que não temos nenhuma promessa oficial.

— E isso faz sentido, loura?

— Uhum.

Jack sorriu.

— Então pode mandar brasa!

Abri um sorriso, quase me afogando em gargalhada, e logo desembuchei:

— Se não me engano comecei perguntando sobre o diário...

— Diário? — Jack estranhou — Mas que diário?

— Oh, desculpe — dei um tapinha na minha testa — Eu ainda não contei, não é? Aquele livro, o que pensamos que poderia no ajudar em alguma coisa, é um diário.

Jack parecia preste a cair de cara na neve.

— O Devalos tem um diário? — perguntou ele — Caraca, que clichê.

Revirei os olhos.

— Não, Jack! — bufei — O diário é da namorada dele!

O garoto gargalhava ainda mais, pouco se lixando para o que eu dizia ou deixava de dizer. Jack se contorcia, pressionando a barriga com seus braços. Sua gargalhada era até gostosa de ouvir.

— Para com isso, Jack! — sibilei, já de saco cheio — Estamos falando de uma coisa séria. Isso não é brincadeira garotão!

— Desculpa aí, loura, mas isso é uma baita novidade!

— Então ria disso: Ela morreu! — rebati. No mesmo momento Jack parou com o riso histérico — Ela foi morta. A mulher foi queimada viva na frente dele.

— Então o obrigaram a ver a cena? Quero dizer, se ele viu...

— Eu não sei. Ele não disse nada a respeito disso, queria logo dar fim no assunto.

Jack tossiu.

— Que mais, loura?

— A mulher na capa do livro... ela é a namorada dele. Devalos me explicou que fez o diário com as próprias mãos. Ele deu para ela em comemoração de aniversário... — parei para pensar — ...Ah! E o nome do diário... Nós o interpretamos errado. Devalos disse que lemos o que queríamos ler. Disse que fomos manipulados por nossos cérebros.

Jack revirou os olhos.

— Então como foi que ele nomeou o caderno?

— Ele o nomeou de “Diário de Ville” — estremeci por culpa de uma brisa aleatória — Ele disse que esse era o nome antigo da cidade e que apenas depois foi incluído “Frost”. Devalos disse que quando decreto o nome oficial, foi quando nos tornamos uma cidade. Se bem me lembro ele disse que esse dia seria o de amanhã. — pigarreei — Vai acontecer alguma comemoração, Jack?

— Sim — Jack confirmou enquanto amassava um tufo de neve na mão e jogava longe — Todo ano o prefeito organiza uma festa na Praça dos Caçadores em comemoração. Todos receberam um convite. Você não sabia? Cada ano tem um tema. Esse ano vai ser em comemoração aos anos antigos, igual a um baile de gala.

— Talvez meus pais tenham pego e se esqueceram de avisar — silenciei por alguns segundos — Sabe, se bem entendi, a namorada do Devalos morreu no aniversário da cidade...

— Já que estamos falando de acontecimentos, vamos incluir o meu aniversário também — o garoto resmungou.

— É amanhã? — perguntei.

— Pois é. Mas isso não é importante, loura. Vamos manter o foco na sua investigação.

Tentei protestar, como nas muitas outras vezes, e dizer a Jack que aquilo também era importante, mas ele deu de ombros, dizendo que conversaríamos sobre isso mais tarde.

— Tudo bem... — rendi a situação, voltando ao assunto que o interessava mais — Sabe o que mais Devalos disse? Que talvez amanhã à noite aconteça um fenômeno meteorológico. Algo chamado Céu Morto. No fim do dia, em vez de anoitecer e o céu ficar escuro, ele fica verde, verde musgo. Por isso acho que a namorada dela morreu no aniversário da cidade. Ele disse que isso acontece há cada, mais ou menos, 200 anos. Achei estranho. Talvez o homem tenha se confundido nos cálculos, afinal de contas, 200 anos é muito tempo — refleti um pouco e balancei a cabeça, confusa com meu próprio raciocínio — O que quero dizer é que tudo acontece, aproximadamente, na mesma data.

Jack arqueou a sobrancelha. Parecia estar segurando o riso.

— Sabe o que eu acho estranho? — comentou Jack — o fato de um diário ser mantido em uma biblioteca.

— Eu tive o mesmo pensamento! — sorri animada — Devalos explicou que sua namorada queria que ele guardasse o diário dela em segurança caso algo a acontecesse. E foi o que ele fez. Disse ele que antes de lá se tornar uma biblioteca era apenas um prédio em ruínas. Havia um prédio lá e ele não perdeu a chance de usá-lo como algo útil. Quando o lugar se tornou uma biblioteca ele esperou a chance e tomou o que era seu de volta.

— E por que ele devolveu um livro falso ao em vez de explicar a situação em que estava?

— Eu... eu não sei — desabei — Droga! Esqueci desse detalhe.

Jack gargalhou. Novamente aquela risada gostosa de ouvir...

— Que fora, hein loura?

— Não enche! – o empurrei, também rindo, fazendo com que ele tombasse na neve.

Jack ficou ali, deitado. Apoiou a cabeça nos braços e ficou olhando o azul do céu e o arder das estrelas. Deitei bem ao lado dele. A neve dava um friozinho gosto, trazendo uma sensação de calafrio. A brisa passeava por entra a noite, fazendo com que os meus cabelos roçassem contra o branco vasto.

— Que mais você tem aí? — perguntou ele.

Soltei um sorriso.

— Devalos quis saber por que queríamos o diário de Gael. Acabei culpando o Soluço. Expliquei que ele queria confirmar se existia ou não a suposta lenda que possa ou não ser a chave para o nome da cidade. Devalos disse que não existia lenda alguma.

Jack apoiou o rosto na neve e me encarou. O garoto parecia perplexo. Ele sentou novamente, agarrou meu braço — com um tanto de força —, obrigando-me a sentar também, e sussurrou falhadamente, enquanto o seu bafo quente desmanchava no meu rosto:

— Qual o sobrenome dela? Ele disse pra você? Qual o sobrenome da namorada dele?

— F-Foster — respondi, arrepiada — Gael Foster.

Jack continuou com a mesma expressão. Se afastando de mim começou a espalhar a neve que cobri os pés do lampião. Quando feito ele novamente me puxou para perto.

— Eu vi isso com a Merida mais cedo. Está vendo? Gael Foster, uma cruz e uma data do século XIX. O que você acha que pode ser Rapunzel?

— Uma homenagem, óbvio. Responda-me uma coisa. Devalos mora aqui há quanto tempo?

— Bem antes de eu nascer, se não me engano. Ele nunca saiu dessa casa.

— Então está certo. Os dois moravam juntos. Isso aí é uma homenagem. Talvez o lampião tenha algo relacionado com ela e ele tenha feito uma homenagem para ela nele. É uma gravura bonita. É muito doce da parte dele.

— Nunca saberemos o que realmente é apenas por deduções — Jack sussurrou — Quero dizer, nós erramos quando se tratou do fato do Gustavo... Mas ficaremos com sua observação, a minha e da Merida está uma mais tosca que a outra.

Arquei a sobrancelha duvidosa e Jack fez uma careta.

— É sério, loura. Nem queira ouvir.

— Está certo. É melhor continuarmos antes que amanheça.

— Estou pouco preocupado com isso — alegou Jack — Eu ainda vou passar em uma lanchonete para ver se como alguma coisa.

— Se eu fosse você ia pra casa. Seu avó pode ficar preocupado.

— Não é a primeira vez, loura — Jack riu — Fica tranquila.

— Ah, tudo bem — levantei e comecei a limpar a neve da minha roupa —, então vou com você.

— Como é? Mas você acabou de dizer que...

— Esquece o que eu disse, Jacky — estendi meu braço e o ajudei a levantar — Não tem problema, contudo que eu chega antes das 6h00 em casa.

Jack arqueou a sobrancelha, nada convencido.

— Meus pais estão viajando — emendei enquanto andávamos — Estão em Londres cuidando de algumas papeladas importantes. Fiquei com o Flyn, meu irmão mais velho. Ele também está batendo perna por aí. Ele sempre sai, então negociei com ele. Não conto para nossos pais que ele sempre bate perna por aí escondido, se ele não contar que eu dei um rolé por uma madrugada.

— Espera aí... você tem um irmão?

— Uhum.

— Nunca o vi no colégio.

— Flyn está no começo da faculdade.

— Se eu estivesse na faculdade não deixaria ninguém cuidar da minha vida.

— O que quer dizer?

— Ué. Se seu irmão sai escondido, quer dizer que ele precisa de permissão para bater perna, não é? Mas que droga! Ele tem idade para viver livre, não tem?

— Ele mora com os meus pais. Ele é digno de vagabundagem. A não ser estudar, Flyn não faz mais nada. Ele é dependente do meu pai, e isso o dá o grande direito de ainda mandar na vida do meu irmão, afinal de contas, é ele quem paga as contas da família. Está entendendo aonde quero chegar? Meu irmão tem que sair escondido para ter o que quer.

Jack assentiu.

— Por que ele não levanta a bunda da cadeira e vai arranjar alguma coisa para fazer?

Soltei uma gargalhada, tocando o ombro de Jack.

— É o Flyn, Jack. Ele é inexplicável. Mas, fica tranquilo. Um dia ele aprende.

— Pelo menos você tem um irmão amigável. Tyler é um saco! — bufou Jack — Aquele garoto sempre me odiou!

Odiar...

Jack! — exclamei — Jack, eu me lembrei de uma coisa.

— Fala, loura.

— Devalos. Já notou o como ele te olha com... com ódio?

Jack fungou.

— Como não notar...

— Pois bem. Perguntei a ele o porquê de tanto ódio. E sabe o que Devalos respondeu? Respondeu que todo rancor não era por você, e sim por alguém próximo. Diga-me Jack. Há alguém na sua família, ou próximo dela, que já fez mal ao nosso professor?

Tisc, tisc. Ninguém.

— Ah! E Peri — continuei — Acho que você já deve ter tirado a conclusão de que ele mentiu.

— Pois é. Na verdade isso ainda está um pouco confuso. Quero dizer, você concluíu que aquilo era um diário, mas ela persistiu em dizer que era um livro sobre curiosidades. Peri disse que leu uma parte!

— Ela não leu nada Jack, acredite. Devalos me obrigou a abrir o diário, e, acredite, mesmo sem nenhum cadeado ou coisa assim, o diário estava em total proteção. Peri inventou toda aquela história. Agora quero que você responda o porquê da mentira dela.

Jack suspirou.

— Ela gosta de aparecer. Peri deve ter inventado algo para se enturmar e demonstrar que sabia alguma coisa. Agora, o outro lado da conversa... — Jack pareceu incomodado. Passou uma das mãos pela a nuca e disse: —...pode gerar dos sentimentos dela por mim.

— Periwinkle gosta de você, pegador? — sorri maliciosamente.

— Desde quando éramos pequenos, loura. Mas não posso culpá-la — ele ergueu as sobrancelhas e soltou um sorriso sedutor — Ninguém resiste a Jack Frost.

Revirei os olhos, zombeteira.

— Você se acha não é, pegador?

— Não dá para evitar, loura. Sou um pedaço de mal caminho — ele sorriu — Mas, e aí? Tem mais alguma informação antes de eu te fazer provar o bolo de flocos de neve mais gostoso dessa cidade?

— Flocos de neve? Vai me fazer comer gelo, Jacky? — zombei.

O garoto revirou os olhos.

— Esse é apenas o nome da sobremesa, loura. É a dona da lanchonete. Ela faz uns flocos de neve com açúcar que é uma delícia. O bolo em si é de chocolate. Mas, ande, não mude de assunto! Estou com fome e quero comer uns dois pedaços com chocolate quente. Há mais alguma coisa ou podemos entrar?

— Você acredita em magia, Jack?

— Como é? —Jack encostou-se a um poste.

— Eu não sei... Vi Devalos fazer coisas inexplicáveis quando saí. Ele... começou a falar latim e... começou a fazer uns gestos com a mão... parecia magia. Eu não sei se é real... Talvez eu esteja apenas delirando...

Encarei Jack de relance, que estava quieto.

— Bom. — começou ele — Não tenho uma conclusão exata, Punzie. Não sei nem mais no que acreditar depois de tudo o que passamos. Mas, se quiser mesmo delirar — ele abriu a porta da lanchonete e indicou a entrada para mim, sorrindo — sugiro que entre nessa lanchonete agora e coma todos os pedaços de bolo que você aguente.


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Notas finais do capítulo

E aí está mais um capítulo. Novamente, pessoal, me desculpem pela demora.
Não prometerei que o próximo será breve, está bem? Da última vez que o fiz demorei quase quatro meses para postar outro. Xô, macumba!