Parada olhando para os olhos do Logan que refletiam desespero e impotência, enquanto as portas da cúpula se fechavam, Vampira se perguntou: onde o plano teria dado errado.

Quando o Coronel Fury veio ate ela com a proposta “salve o mundo”, a idéia pareceu ser bem simples. Ela só precisaria absorver os poderes de um garotinho chamado Dorian, cujo poder mutante era o de “desligar” qualquer tipo de energia a sua volta, depois entrar – em segurança – na pirâmide onde os X-Men estavam travando uma luta com o Apocalipse, usar seus poderes absorvidos no mutante, o tornando vulnerável, fechar a cúpula e pronto.

Plano concluído.

Mas em algum momento entre “fechar a cúpula” e o “pronto”, as coisas não deram certo. Talvez tenha sido porque no ultimo momento antes das portas se fecharem em um ato final, Apocalipse havia resolvido segura-lá, a prendendo junto com ele.

As coisas haviam acontecido muito rápido e a única coisa que ela fez foi empurrar o Logan para fora – uma ação totalmente impulsiva. Na hora Vampira não queria que o Wolverine ficasse preso também, mas agora seu lado mais egoísta estava subindo a tona e por mais vergonhoso que parecesse, a mutante estava começando a se arrepender do seu ato heróico. O medo não era uma boa companhia, ela bem sabia e o fato de ficar presa com o Apocalipse, completamente sozinha, por tempo indeterminado, em sei lá onde, não era uma perspectiva de futuro muito emocionante.

Depois de alguns minutos, ele a soltou e voltou a ficar parado, as luzes da nave/cúpula/prisão se apagaram. Respirando pesadamente Vampira esperou que algo acontecesse, mas não existia “uma luz no fim do túnel” ou “uma escada reluzente, que a levaria ate os portões do paraíso”. Não tinha certeza de que estava morta ou não, mas sabia que o que a esperava era um imenso e aterrorizante: nada.

***

Logan tentava desesperadamente se soltar do aperto mortal do Noturno, chegou ate mesmo a colocar suas garras para fora e usá-las, mas reconsiderou, afinal o Noturno era só um garoto que achava estar fazendo o certo.

Tudo parecia esta acontecendo em câmera lenta, ele não poderia ser rápido ou forte o suficiente para impedir. O pânico afastava os pensamentos racionais da sua mente, fazendo com que a única coisa real naquele turbilhão de medo, fosse os olhos cinza que o fitavam com suplica. Por mais que no ultimo instante ela tivesse sorrido – não um sorriso genuíno, apenas um repuxar de lábios, como quem diz: vai ficar tudo bem.

Mas ele sabia que não ficaria.

Um grito estrangulado deixou seus lábios.

– Vampira.

E tudo acabou. A cúpula desapareceu no ar, como se nunca tivesse estado lá.

Kurt o soltou e as suas forças abandonaram seu corpo, caiu de joelhos no chão desamparado. Seu coração doía tanto que era quase insuportável.

Eu deveria ter feito algo pensou, mas estava cansado, ate mesmo para sentir raiva de si mesmo.

A Mística junto com o Ciclope entrou na galeria, mas Logan nem mesmo percebeu a presença deles. A única coisa que conseguia fazer era olhar para aquele espaço vazio a sua frente. Esperando, rezando, para que de alguma forma ela voltasse.

Quando se vive tanto tempo quanto ele e se passa por tantas Guerras inúteis, se aprende há dar muito pouco valor as coisas – ou as pessoas – pois você sabe que não importa o quanto elas sejam importante, é tudo passageiro. Não se envolver era o meio mais seguro de não perder a sanidade para a imortalidade.

Mas quando a viu pela primeira vez, suas regras haviam mudado. Vampira apenas com um olhar tinha conseguido despertar todos os seus instintos de proteção.

Lembrava cada detalhe. Era uma noite fria, o Professor tinha convocado todos os X-Men para recrutar uma nova mutante que o Celebro havia encontrado. Era para ser uma simples missão, mas a mutante em questão era muito poderosa e estava entrando em colapso. Foi uma perseguição bem cansativa, considerando que a Vampira ficava mudando de aparência e poderes a todo momento, mas quando a encontraram finalmente, ela havia se tornado perigosa de mais para qualquer um se aproximar – qualquer um que não tivesse o poder de cura super acelerada. Então ele se candidatou para a tarefa e quando seus dedos a tocaram e seus olhos se encontraram, Logan percebeu que não se tratava de uma Mutante destrutiva e má, mas sim de uma menina aterrorizada e perdida.

Eu prometi pra ela que a protegeria, custe o que custasse. Ele deixou escapar um gemido de dor.

E quando começou a treiná-la e conviver dia após dia, o instinto de proteção se transformou em afeto e ate mesmo orgulho, do tipo que só um pai poderia ter.

De certa forma eles eram muito parecidos, já que por causa dos seus poderes ela também vestia a mascara de indiferença para afastar as pessoas. Logan bem sabia que era um fardo pesado de mais para se carregar tão jovem. Talvez seja por isso que ele tenha se aproximado tanto, mas no fim das contas descobriu a garota engraçada e gentil, que os outros nem desconfiavam que existisse. Ele a entendia e percebeu com o tempo que aquela solidão já não se refletia mais nos seus olhos tempestuosos.

– Onde esta a Vampira. Perguntou a Mística se virando para encará-lo.

– Ela ficou presa na cúpula... junto com o Apocalipse. Respondeu o Kurt, já que o Wolverine continuava com o olhar perdido.

– Você a deixou presa. Disse Mística com raiva, se dirigindo ao Logan.

– Não pode impedir. Disse Logan com a voz quebrada e quando finalmente a encarou, seus olhos cheios de lagrimas não derramadas, refletiam um sofrimento tão cru que a Mística poderia jurar, que sentia o gosto amargo no fundo da garganta – gosto esse que recusava a chamar de tristeza.

– Você é patético Logan, nem ao menos consegue protegê-la. E ela o teria dado um chute – pois Wolverine não tinha animo nem mesmo para se defender – mas Kurt se teletransportou na frente dele e parou seu chute no ar.

– Você já deu o seu recado Mística, hora de ir. Noturno disse com uma frieza antinatural para ele, e talvez tenha sido por isso que ela o obedeceu.

– Não acabamos aqui Wolverine. Com essas palavras se transformou em um corvo e saiu pela porta que havia entrado.

– Temos que ir, esse lugar não vai se manter de pé por muito tempo. Disse Ciclope olhando para a areia que escorria entre as frestas das paredes.

– Não pude impedir. Repetiu Logan.

Ciclope e Noturno ficaram estático quando um soluço reverberou pela galeria.

Mesmo de olhos fechados, os olhos dela o atormentavam, seu peito se apertava cada vez mais, sua garganta ardia com os gritos que se recusava soltar. Sua cabeça latejava ate que em um rompante não suportou mais e fez algo que não fazia a tantas décadas, que esqueceu que podia.

Ajoelhado no chão, em uma pirâmide no meio do deserto, depois de derrotar talvez o mutante mais poderoso que já existiu.

Logan chorou.