– Você não tem o direito de entra aqui dessa forma e... e... imprensa o Gambit na parede como se ele estivesse cometendo um crime.

– Ele é um criminoso, cometer crimes é a especialidade dele, eu sabia que aquele miserável estava escondendo alguma coisa. Wolverine começou a andar de um lado para outro, como um leão enjaulado, ate que estacou no meio da sala e a encarou com olhos semicerrados. – Há quanto tempo isso vem acontecendo?

– Há tempo nenhum. Disse a mutante na defensiva, já tinha visto o Logan com raiva muitas vezes, mas nunca com essa fúria assassina. – Ele só me beijou.

– Vou matá-lo por isso.

– Wolverine, você não entende. Começou ela, tentando explicar a situação de uma forma que arrefecesse a raiva dele, ainda podia sentir a fraqueza do seu corpo, no entanto a adrenalina a permitia ignorar todos os “efeitos colaterais pós-resgate”. – Ele estava me tocando.

– Vou arrancar as mãos daquele filho da mãe.

– Logan, Logan, Logan. Chamou ela desesperada, não sabia o que dizer, ser tocada por alguém em sua opinião era tão impressionante quanto se Deus tivesse descido ate a Terra dançando Moonwalke, mas suas palavras não parecia exercer efeito algum sobre ele, nada que falasse parecia poder derrubar aquela muralha de raiva que o cercava.

– Ele me tocava e eu não absorvi os poderes dele... você tem que me escutar... Gambit não estava se aproveitando de mim... Sua voz estava estridente e falha.

Talvez tenha feito o calculo errado, ou por seu corpo não estar reagindo tão rápido quanto a sua mente. Mas independente do motivo, o fato é que em um momento Vampira estava apoiando o braço na beirada da cama, com intenção de se levantar e impedi-lo de sair, e no outro, estava caindo de cara no chão.

Com uma agilidade que surpreenderia qualquer pessoa que não o conhecesse, Wolverine atravessou o quarto e a segurou antes que seu corpo caísse.

Porem, quando suas mãos seguraram os braços magros da garota, ele teve sua força vital sugada. Sua mente deu branco e o ultimo movimento que fez – puramente por instinto – foi passar um dos braços em volta do corpo da garota, para protegê-la enquanto os dois deslizavam para o chão.

Vampira sabia exatamente o que estava acontecendo, afinal, já havia passado por aquilo milhões de vezes, tinha ate criado uma tabela na sua cabeça com todas as etapas.

Primeiro vinha à dor: A pior parte era sempre o inicio, quando sua cabeça parecia estar a ponto de explodir, tinha a sensação de que seu celebro se expandia com a sobrecarga de informação, ate a ruptura.

Em segundo era os poderes: Chamava essa etapa de “a menos pior”, cada poder que absorvia desempenhava em seu corpo uma sensação diferente, a do Logan por exemplo, seu poder de cura fazia com que o seu corpo inteiro formigasse, como se cada célula estivesse acordando. A dor de cabeça a pouco sentida, não passava de uma lembrança distante, uma onda de bem-estar a afogava de uma forma quase divina.

Mas isso nunca durava por muito tempo, não com o Wolverine.

Ele sempre esta com tanta raiva...

E a terceira etapa era a que mais odiava, pois era nesse momento que deixava de ser ela e passava a ser outra pessoa.

Sempre teve um cuidado monumental de nunca tocar o Logan, já que os sentimentos dele em especial sempre tiveram o poder de devastá-la de uma forma que nenhum outro podia.

Eles eram tão parecidos, ambos tinham medo de se aproximar das pessoas por causa dos seus poderes, mas o Wolverine era velho, já havia passado por muitas perdas, ele melhor do que ninguém sabia o quanto seu “dom” poderia ser uma maldição e por mais que continuasse bem fisicamente, por dentro, sua alma era tão solitária que fazia o coração da mutante se partir de tristeza.

Saber que isso era o que seu futuro lhe reservava, fazia seu sangue gelar e temer cada vez mais tocar a pessoa que mais amava e respeitava em todo mundo.

– Guria. Chamou Wolverine, a raiva anterior sendo vencida pelo cansaço e preocupação.

– Logan. Gemeu ela, ainda perdida em seus sentimentos.

Mas devagar do que gostaria, ele se moveu de forma que nenhuma parte do seu corpo a tocasse.

A posição em que estavam poderia ate ser constrangedora – para os dois – se não fosse pela situação. Ele estava no chão esparramado, com as costas apoiadas na mesa de cabeceira. Vampira estava deitada em seu colo, com a cabeça apoiada em seu ombro – por cima da camisa preta que ele usava – e a mão direito segurava a barra da camisola hospitalar que havia subido alguns dedos acima do seu joelho – em algum lugar na sua mente, agradecia por não estar usando uma camisola com abertura na parte de trás, como nos filmes – o braço esquerdo, que ainda estava preso ao IV, escorregava lentamente pela beirada da cama.

– Guria. Repetiu Wolverine, sua respiração movendo alguns fios de cabelo que estavam na testa dela.

– Desculpa. Sussurrou ela.

– É temporário. Disse ele, se referindo à absorção dos seus poderes.

– Não por isso... quer dizer, por isso também, mas principalmente pelo Gambit.

– Eu sabia que ele queria alguma coisa. Sentenciou com um suspiro, estava cansado ate mesmo para sentir raiva, como se todas as noites mal dormidas, preocupação e raiva, dos últimos 34 dias estivesse em fim cobrando seu preço.

– Eu te entendo, Logan. E realmente entendia, graças a seus poderes, por alguns segundos ela sentiu todos os pensamentos e sentimentos dele como se fosse os seus próprios.

– Ele não é confiável.

Vampira não disse nada, não poderia.

Por mais que 95% dela confiasse no Gambit, ainda existia aqueles 5% que foi usado durante toda a sua vida. Primeiro pela Mística, depois pela Sina, Irmandade, Magneto – e por mais que fosse difícil admitir – ate mesmo pelos X-Men, porque não importava o que todos eles diziam, no fim das contas todos queriam algo dela, ou melhor, todos queriam algo dos seus poderes.

– Ele veio por mim, eu vi. Foram apenas vislumbres rápidos e incoerentes das memórias do Wolverine, mas que para ela, naquele momento era tudo que importava.

– Ele não veio por você, mas sim por ele mesmo.

– O que ele ganharia se me trouxesse de volta?

Assim que ela fez a pergunta, as palavras do Professor Xavier, fizeram eco na cabeça dele.

“A Vampira será a mutante mais poderosa do mundo, porém ela não saberá controla seus poderes e por isso se tornará a arma mais perigosa que já existiu”

– Eu não sei. Mentiu.

Saber que uma tempestade esta chegando e não fazer à mínima ideia de como se proteger dela, era aterrador. Não importa o que fizesse, seria atingido e cada parte do seu ser gritava que isso não seria nada divertido.

– Por que ele tem que querer alguma coisa, por que ele simplesmente não pode... gostar de mim? Perguntou, não para o Wolverine, mas para o ser superior que controlava o destino do mundo, o ser irônico e cruel, que a amaldiçôo desde o primeiro dia da sua vida.

– Já andei muito por esse mundo, conheci muitos homens como ele. Talvez outra pessoa teria falado de uma forma mais gentil e delicada, mas uma das melhores – ou pior – características do Wolverine era a sua inflexível honestidade, que algumas vezes poderia ser brutal. – Gambit é um sobrevivente, pode gostar de você, mas não importa o que aconteça, a sobrevivência dele vira sempre acima da sua, acha que ele é um herói só porque veio ate aqui e te salvou?

Logan ouviu os suspiros entrecortados dela, porem continuou, estava sendo difícil para ele dizer as palavras tanto quanto estava sendo para ela ouvi-las, mas Vampira tinha que escutar, tinha que entender.

– Ele já tinha a droga de um plano formado, que não colocava o pescoço dele em risco nem por um momento, Gambit sabia exatamente o que queria e como conseguir, é assim que a sua mente funciona, sempre. Disse o mutante, mudando de posição de forma que ela levantasse a cabeça e o encarasse.

Wolverine viu tanto desespero e dor naqueles olhos cinzentos, que por um momento duvidou se estava fazendo a coisa certa.

– Gambit quis te resgatar por um motivo, não se engane achando que é porque aquele maldito coração francês bate um pouco mais rápido quando esta perto de você.

Repentinamente Vampira se levantou do colo dele, graças ao poder de cura absorvido, seu corpo já não estava mais cansado ou debilitado. Porem seu coração ardia e sua cabeça doía com todas as possibilidades.

Aqueles 5% realmente faziam uma diferença monstruosa.

– Estou apaixonada por ele. As palavras saíram em um sussurro, mas com uma veemência que fez o Wolverine pronunciar um “porra”.

– Ele não é bom o bastante pra você.

– Talvez eu não seja boa o bastante pra ele. Rebateu ela.

– Claro que é. Com a graça de um gato, Wolverine se levantou.– Deus, eu não deveria ter essa conversa com você. Seu tom era tão exasperando que fez a garota sorrir. – Você é uma criança, guria.

– Nem tanto, Logan. Com pena dele, que segurava os próprios cabelos azulados como se quisesse arrancá-los, Vampira suavizou a voz. – Sei que esta preocupado, mas não há nada que possa fazer, ou dizer que vá me fazer mudar de ideia.

– Não posso ficar de braços cruzados.

– Eu sei. Conhecia ele bem demais para esperar algo diferente. – Não estou pedindo que o trate com beijos e abraços.

Wolverine rosnou.

– Só estou pedindo que não o persiga com as suas garras. Um brilho de satisfação piscou nos olhos escuros dele, o que fez a garota acreditar que o mutante estava pensando nas varia possibilidade de como poderia matar o seu francês sem usar as garras. – Ok, só não me faça escolher entre os dois.

– Se ele te machucar, eu o mato. Palavras curtas e verdadeiras.

– Ok

Não era uma aprovação, mas vindo do Wolverine já era um ótimo começo.