No Other escrita por Pacheca


Capítulo 43
Capítulo 43 - Holocene


Notas iniciais do capítulo

Olás, pessoas ♥ Então, como vão vocês? Eu vou bem, mas enfim... Holocene é uma música do Bon Iver e (spoiler alert) é música de bad. Logo, já esperem os feels >< Eu tenho mais algumas que eu ouvi pra me inspirar a quase chorar, mas deixo vocês escolherem vocês mesmos. Aproveitem ♥
https://www.youtube.com/watch?v=TWcyIpul8OE Sim, amo Bon Iver ♥



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— Ele disse mesmo isso? Duran? Seu ex? – Ali parecia a ponto de ter um infarto, de tão chocada que estava. Ou uma parada cardíaca, mais provável. – Qual o problema dessa garoto? Porra…

— Eu não sei. Pode não concordar Ali, mas eu tenho todo direito do mundo de beijar Shaun. Ele não pôde ficar com a tal Julie? Então...

— Olha, eu posso até ter sido injusta em falar que você estava agindo errado só por não gostar muito de Shaun, mas o que o Duran falou...Ele nunca faria isso, Megs.

— É, mas ele fez. Shaun também não podia ter simplesmente me defendido e me tirado de lá. Que inferno.

— Estamos falando do diabo mais bonito do mundo? Ele estava há pouco tempo na sala, sendo praticamente interrogado sobre você. – Louis cruzou os braços, dando a deixa que sua irmã precisava para continuar o relato.

— Ele não disse muito, mas sabe como as pessoas podem ser. Um dos antigos colegas de Shaun já distorceu tudo para duas meninas. A gente que pulou no meio e corrigiu.

— Shaun consegue calar a boca por um minuto? Meu deus.

— Eu não entendo esse povo. Aqueles dois não eram melhores amigos, mas se davam bem. Sinceramente, é colocar mulher no meio que acaba tudo. Ou os outros acabam por você. A culpa não é sua em nenhum dos casos.

— Quer saber? Eu não dou a mínima. Querem me chamar de vagabunda? Problema deles. Querem deixar Duran em maus termos comigo? Ele não precisa de ajuda ao que parece. Então, não vou perder meu sono e nem minha paz com isso. Licença.

E sai da sala. Estava a caminho do banheiro, quando dei de cara com Shaun querendo fugir da sua sala até o último instante possível. Parei enquanto ele se virava para se desculpar. E sorrindo ao me ver. Eu aparentemente tinha razão. Shaun atualmente parecia muito mais preocupado comigo que Duran. Sorri de volta.

— Fugindo, princesa?

— Tentando manter minha posição de alguém não liga mais, por assim dizer.

— Não aguento mais os questionários também. Aliás, se quer continuar correndo, é melhor meter o pé.

— A aula já vai começar. Preciso ir ao banheiro. – Acenei, deixando-o para trás. Ele voltou para dentro da sala. E não o vi mais depois disso, até a hora de ir embora.

— Quer fugir mais um pouco, princesa?

— Para de me chamar assim, é muito brega. – Ele riu, enquanto eu jogava a mochila dentro do carro e entrava logo em seguida. – Pra onde?

— Você sabe. – E me tirou daquele lugar, ignorando tanto quanto eu os olhares e cochichos ao nosso respeito.

A famosa caverna. Ele se sentou com a pernas esticadas e ficou esperando enquanto eu acabava de apreciar o céu claro do lado de fora. Sentei ao seu lado e fiquei calada, esperando que ele iniciasse a conversa.

— O que Annie falou é verdade? Da briga sua com…

— Ele falou aquilo, se a pergunta é essa.

— Sinto muito.

— Não sinta. Eu não fui muito mais legal que ele.

— Foi chamada de vagabunda.

— É, mas eu deixei bem claro que ele estava me dando motivos para agir assim. Ele está bravo com a possibilidade de eu gostar de você.

— Se é só isso, posso mandar uma mensagem tipo, hey cara, sua mina ainda tá completamente na sua, ou estava té você agir feito um retardado. Corre atrás, abraços.

— Shaun. – Chamei, ainda rindo. Ele me olhou, daquele jeito que parece sério, mas é só normal. – Não precisa, estaria mentindo. Parcialmente.

— Algo que eu precise saber?

— Eu disse que você parecia mais preocupado comigo que ele.

— E dai? Isso não vai fazer com que ele te odeie, sabe?

Fiquei calada. Shaun suspirou e se ajeitou para ficar mais perto, tirando a parte do meu cabelo que provavelmente estava escondendo parte do meu rosto. Não olhei para ele diretamente, mas ele entendeu que eu estava ouvindo.

— Não quero que fique criando sentimentos por mim porque os por ele não estão se concretizando, ok? Então, não acha que seria muito mais fácil se você verbalizasse isso tudo? Sem preocupações.

— Quer mesmo que eu fale em voz alta? – Virei para ele, minha testa quase pregada na dele. Ele concordou, me prendendo daquele jeito. – Eu não sei. Não estou criando essas coisas. Acho que já te disse que eu só quero abafar essa coisa que eu sentia por você e não entendia muito bem.

— E ainda assim quer ir para a Dinamarca, huh? Ainda vai demorar um pouco pra isso, sabe?

— Sou tão transparente?

— Pra mim, é.

— Shaun, não dá pra fingir que vai ficar tudo bem se eu fizer isso com você. Eu vou tentar ir embora por outro cara.

— Eu tenho um histórico em ser usado.

— Não devia se habituar a isso.

— Seu medo não é me deixar, sabe disso. Tem medo de que eu te convença do contrário, não é?

— Cheio de…

— Como sempre. – Ele riu. E aquela risada estava tão próxima da minha que eu nem conseguia pensar direito. Eu estava magoada com Duran, e enquanto isso Shaun tentava me convencer de que tudo ia dar certo, independente do que eu escolhesse. Como é que eu podia brincar com um cara incrível daqueles?

— Eu não te mereço, sabia?

— Não valho muita coisa, pode acreditar.

Ri. E para minha surpresa, pela primeira vez, não foi Shaun quem me beijou. Fui eu quem o fiz. Um dia deixando com que aquele sentimento que eu tinha por Duran ficasse enterrado não ia matá-lo. Muito menos me matar. Talvez, como eu já tinha argumentado, quem mais se ferisse nessa história fosse o dono daqueles olhos violetas que me olhavam cheios de afeto. Mas eu não podia usar minha razão naquele instante mais.

Foi ele quem me levou para casa. Fui direto pro meu quarto, o coração um pouco turbulento. Ali tinha me mandado uma mensagem confirmando a tarde na minha casa no fim de semana. Simplesmente mandei um sim e fui tomar um banho, ainda sorridente.

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— Quem é essa? – Letícia tinha vindo passar o dia conosco, depois de rapidamente encerrar o expediente na empresa. Naquele instante, ela estava com um porta-retrato em mãos, onde eu abraçava a Pequena.

— Minha meia irmã. Fofa, né? Já tem três anos. – Ela se parecia com meu pai em quase tudo, menos o cabelo loiro da mãe. Sorri.

— Ainda está brigada com Duran? – Ela perguntou, deixando a foto de lado e vindo se sentar perto de nós. Ali também esperava a resposta. Provavelmente queria depoimentos completos para transmitir para Annie depois, já que a prima não pode comparecer porque ia viajar durante o fim de semana.

— Uhum, mas...Não estamos falando disso. Não hoje.

— Por que não? Ele só deve estar esperando você ligar…

— Ali, eu não estou errada. Não é só por orgulho, sabe? E não preciso ficar triste hoje.

— Falando nisso, você anda bem felizinha, hein? Você saiu com Shaun ontem e desde então não quer falar em Duran.

— Ali, sabe que eu te amo, mas não vou te contar. Foi mal. E, não preciso que vocês coordenem cada passo meu, ok? Vou resolver isso, gente, acalmem-se. Vamos só curtir hoje, que tal?

Fim de discussão, início duma noite de filmes e sorvete. Elijah tinha saído com os amigos da faculdade e minha mãe ia dormir na casa de Kyle. Logo, estávamos as três largadas no meio da sala, assistindo os filmes na TV e largando o pote sujo de sorvete na mesa de centro.

Acabamos dormindo por volta de uma da manhã, e no dia seguinte, as meninas ficaram comigo até a hora que minha mãe chegou, depois do almoço. Eu ainda dormi de tarde, mas claramente tive problemas. Quando a noite chegou, o sono tinha sumido. E então eu só consegui dormir depois de meia noite.

Dá pra imaginar minha lerdeza no dia seguinte. Eu quase dormi numa das aulas e no sinal do almoço, Louis apareceu todo saltitante, arrastando a irmã e já explicando que seríamos dispensados depois do almoço para reunião de urgência dos professores.

— Eu ouvi isso, menino. A gente bem que podia ir dar um rolê no shopping, não? Faz tempos que a gente não sai assim. – Leo tinha dado a sugestão tão animado que eu não tive coragem de negar.

— Se eu puder dormir lá. – Eles riram de mim, mas acabou que eu estava um pouco mais animada. – Eu preciso ir guardar meu material.

— Guarda o meu também, flor. Sabe a senha. – Concordei, pegando os livros que Louis me estendeu. E deixei o refeitório. Confesso que, naqueles poucos minutos sozinha, eu busquei Shaun pelos corredores, mas não o encontrei. Não deixei aquilo me abater e voltei até meus amigos, pronta para o passeio.

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Se alguém estivesse se escondendo de alguém da escola, estaria enrolado. Muita gente tinha tido a mesma ideia que a gente, mas não importava muito. Rodamos um pouco, namoramos algumas vitrines, Louis deu notas para alguns atendentes, mas rimos o tempo todo. E foi muito bom. Já estávamos para ir embora, quando Lólli pediu um sorvete. Quem também animou foi com ela, mas eu não quis. Fui olhar os preços numa loja de eletrodomésticos.

Sabe quando a gente está tão distraído que nem percebe o que está acontecendo? Eu estava num daqueles momentos, com o olhar perdido num noticiário qualquer. E no instante seguinte, quando eu pisquei e tudo ganhou foco, meu coração gelou. A voz mecânica recitava os detalhes de um acidente da estrada que ligava Flórida e Califórnia. Algo sobre um motorista de caminhão embrigado, mas minha mente voava para a placa do carro amarrotado feito uma bolinha de papel. Todos os quatro envolvidos mortos na hora.

— Não, não… – Leo deve ter me ouvido resmungando, mas eu estava tão concentrada em controlar as lágrimas e as mãos trêmulas enquanto digitava o número no celular...e nada. Caixa postal. Eu não precisava daquilo, tinha certeza, mas não queria aceitar.

E sem me explicar, sem dizer nada, sai do shopping correndo. Eu absolutamente não devia ter feito aquilo, só pelo risco de ser atropelada e tudo mais, mas correr...talvez eu só quisesse abrir minha porta e ouvir surpresa, mas não, claro que não.

Óbvio que não. Quando eu praticamente escancarei a porta e vi minha mão com rosto todo molhado, e o telefone em mãos, Elijah encurvado no sofá cobrindo o rosto com as mãos...aquilo foi muito pra mim. Antes que minha mãe tentasse explicar qualquer coisa eu subi a escada pulando a cada dois degraus e me tranquei no meu quarto.

Eu ainda soluçava, e a cada e-mail enviado e sem resposta, cada mensagem sem ser atendida, cada ligação pelo celular ou pelo Skype...A verdade era muito pra mim.

— Pai… – Do que adiantava falar? Não era como se ele fosse me ouvir. Nem ele, nem minha madrasta, nem minha irmã, nem ninguém. Larguei tudo em cima da mesa e fui arrastando os pés até meu banheiro, abrindo o chuveiro e parando debaixo da água relativamente fria.

Quando dizem que chorar não é nada bonito, eles ainda estão sendo simpáticos. É pior. E não é pelo catarro que fica agarrado no nariz vermelho, ou os olhos inchados, ou os dois riscos marcados pelas bochechas. Tem mais a ver com o desespero, a angústia, aquela dor e aquele vazio que ninguém nunca entenderia. Ou pelo menos que você acha que ninguém vai entender.

— Megan. Abra a porta, meu amor. – Devia ser minha mãe, mas quando eu notei que tinha sentado dentro do box, não tive forças nem para chorar mais. – Falo com você quando se acalmar, mas não faça nenhuma bobagem, ok?

Que bobagem eu poderia fazer? Nada ia apagar aquilo. Fiquei de pé, sentindo os joelhos fracos e desliguei o chuveiro, saindo do banheiro sem as roupas encharcadas. Vesti uma camisa antiga de Elijah que usava para dormir e me deitei, encolhida. Pelo menos por alguns minutos. Depois, quando já estava ficando exausta, fui me sentar no parapeito da janela.

Bateram na porta de novo. Pelo silêncio seguido, nessa vez, era Elijah. Quando eu também não respondi, ele bateu de novo. Suspirei, indo destrancar a porta. Ele entrou e se sentou na cama, no meio da bagunça que eu tinha feito no meu estado de negação. Evitei olhar pra ele.

— Eu nem nunca tive a chance de dar um adeus.

— Nenhum de nós teve.

— Não, você não entende, Megan. Mamãe ligava para ele para dar notícias, você até viajou com ele há não muito tempo, até Jack sabia mais dele que eu. Eu fui o único que ainda remoia as coisas do passado e não enxergava o homem que estava bem aqui.

— Ele te amava, Eli. E ele sabia que era recíproco.

— Sabia ou só esperava que fosse?

— Eu o botei para fora de casa, Elijah. E tudo bem, a gente convivia depois, mas esse tipo de coisa não se apaga. Só se tampa com uma peneira.

— Eu não entendo até hoje porque eu tenho toda essa raiva. Quer dizer, olha pra gente. Jack já era grande o suficiente pra entender que essas coisas acontecem, e você simplesmente sabia que estava sendo difícil. Eu fui o infeliz que quis deixar tudo difícil. Eu culpei nosso pai por algo que, veja só, eu mesmo poderia fazer a qualquer hora.

— Nunca é tarde para pedir desculpas, sim? Você mesmo falou, olha pra gente. Sobrevivemos uma vez, vamos fazer de novo. Mas você conta pra Jack.

Ele riu. E eu acabei dando o que parecia ser uma risada junto. Acho que têm razão quando dizem que existem males que vêm para bem. Tivêmos que perder meu pai, mas ver meu irmão se desculpando, e tentando tirar todo aquele ódio de dentro dele...talvez aquilo fosse pagar aquela dor toda. Deixei que ele fosse chorar as próprias pitangas e fiquei com as minhas.

Minha mãe deixou um lanche no quarto e saiu, carregando o telefone para todo lado. Pelo que ouvi, ela quis assumir o enterro. De acordo ela, os filhos deviam ver o pai uma última vez. E os pais deveriam se despedir sem maiores dores de cabeça.

Me forcei a comer o bendito pão com queijo, para logo em seguida me deitar e ficar olhando a lua pela janela, até estar cansada demais para chorar e dormir.

 


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Notas finais do capítulo

Gente, se tiver alguma diferença na fonte do último parágrafo, meu editor decidiu bugar (não me perguntem, tbm não entendo) Enfim, obrigada pela atenção e até mais vê-los ♥ Sorry pelos feels rs



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