No Other escrita por Pacheca


Capítulo 44
Capítulo 44 - Be Still


Notas iniciais do capítulo

Hello, meu povo. Essas férias parece que eu só to funcionando na madrugada ( na vdd isso se chama perder a tarde assistindo programa coreano, mas ok) Um pouco menor que os últimos, mas ainda assim, fofo ♥ Be Still, do The Fray (sdds quando tocou em vampire diaries na época que eu ainda achava bom ;( ) : https://www.youtube.com/watch?v=Vtp-p7qFI2I Boa leitura



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    Acordei, piscando devagar. Minhas pálpebras estavam doloridas e com certeza inchadas. Sentei-me na cama por alguns minutos. E quando ficou provado que aquele vazio não tinha sumido, levantei. Quanto mais parada eu ficava, mais eu pensava naquilo tudo. Desci para a cozinha, com os passos arrastados.

    Passei pela porta aberta de Elijah, mas ele já não estava em casa, mesmo sendo apenas oito da manhã. E minha mãe estava deitada no sofá da sala, com o telefone nas mãos, quase caindo. Peguei-o com cuidado e coloquei na base, deixando que ela descansasse. Traída ou não, ela ainda mantinha contato com meu pai. Eles compartilharam uma vida por anos. Devia doer.

    Enchi um bule com água e coloquei-o para ferver, sentando à bancada, no silêncio. Não existia música naquele minuto que eu conseguiria ouvir. Nem feliz, nem triste. Nenhuma. Suspirei. Será que aquilo um dia passaria?

    A campainha tocou enquanto eu misturava o saquinho do chá na água quente. Minha mãe acordou antes que eu reagisse e abriu a porta. Ouvi a conversa abafada e, poucos segundos depois, Kyu entrou na cozinha. O sorriso morno, daqueles que não esbanjam alegria, e sim compaixão.

    – Hey.

    – Oi, Kyu. Chá?

    – Não, obrigado.

    Coloquei o bule de lado e voltei para a bancada, vendo-o se aproximar e puxar o banco à minha frente. Segurei a caneca enquanto ele apoiava o rosto em uma de suas mãos e perguntava.

   – Como se sente? Ali me contou.

   – Devastada, talvez? Eu nem sei se serve. Nunca me senti tão vazia antes, nem mesmo quando eu não conseguia lembrar quem eu era. Isso é pior.

   – Eu entendo. Digo, eu era garoto quando meu pai partiu. A verdade é que até hoje, às vezes, eu me pego esperando ele passar pela porta do meu quarto com aquele sorriso e um brinquedo escondido pra me presentear.

   – E eu estou aqui, tomando chá e esperando alguém vir me dizer que era mentira, uma dessas pegadinhas bem produzidas. – Tomei meu chá, com medo de começar a chorar de novo. Meus olhos precisavam de descanso.

   Kyu suspirou e trocou de banco, vindo para um ao meu lado. Olhei para ele, percebendo que ele queria dizer algo.

   – No início você quer que o mundo pare, até você se recuperar. Ai você descobre que ninguém vai parar por isso e vai sentir vontade de chorar. Como pode o planeta ignorar a partida de alguém tão importante? É como estar em um navio em alto mar numa tempestade.  

   – Acho que meu navio está sem um mastro.

   – Eu sei. Por mais que doa, e eu sei que dói...precisa continuar firme, garota. Seus irmãos, sua mãe, seus amigos, estamos todos aqui. Uma mão lava a outra.

   – E isso demora a passar?

   – Não passou até hoje, no meu caso.

   – As memórias boas já estão aqui, Kyu. O que me fere mais é saber que mais nenhuma vai surgir.

   – Foi só um mastro que você perdeu. Bom capitão chega à praia só com remo.

   – Ali está brava comigo por sair correndo?

   – Estavam confusos, mas bravos não. Se quiser ligar para ela depois...

   – Obrigada, Kyu. – Sequei uma lágrima que me escapou e tomei mais um gole de chá, não tão quente mais.

   – Sempre que precisar, conte comigo. Preciso ir trabalhar agora, okay?

   – Se cuida. Vou ficar bem.

   – Tchauzinho. – E me deu um beijo corrido no alto da cabeça antes de sair correndo da casa. Suspirei. Ele tinha razão. O mundo não ia parar. Acabei meu chá e fui para meu quarto, pegando o celular e ligando pela discagem rápida.

   “Oi?”

   – Ali, oi. Olha, eu sinto muito por...correr daquele jeito. É só que...

   “Megs, eu sei. A gente está aqui pro que precisar. Sabe disso, sim?”

   – Sei. Obrigada.

   Ela reforçou a ideia e aceitou desligar depois que garanti que não precisava da companhia dela agora. Aquilo era o tipo de coisa pra ser sofrida sozinha.

   Da mesma que fui tomar o chá para me distrair, peguei meu computador e liguei, enquanto abria as portas do meu guarda roupa. Dia de organização, esplêndido. Fiquei feliz por não ter arrumado aquilo antes, teria bastante tempo ocupada. Só precisaria de algo para me motivar. Música.

   Sentei na cama, procurando uma playlist, quando o Skype chamou. Duran. Travei por um momento. O que eu menos precisava naquele minuto era uma briga, mas não acho que ele me ligaria só praquilo. Aceitei, ansiosa.

   – Megs. Oh, meu Deus.

   – Duran, oi.

   – Ali me contou, ela mandou um texto gigante. Eu liguei porque...Bom, porque não sabia o que mais fazer.

   – Eu também não sei o que fazer, está tudo certo. – Dei de ombros.

   – Huh, eu queria tanto estar ai. Eu nem acreditei quando eu li a mensagem de Ali, porque eu queria tanto estar junto de você agora. Te dar todos os abraços do planeta.

   – E eu ia amar. – Tentei segurar o choro, mas obviamente eu falhei. – Eu sinto tanto sua falta, Du.

   – Não chora, Megs. Eu também sinto. E eu sinto tanta falta sua que eu fico aqui, agindo feito um babaca. Tudo que eu te disse...

   – Duran.

   – Oi?

   – Eu preferiria te escutar dizendo aquilo mil vezes, desde que estivesse aqui.

   – Lembra quando você me forçou a ouvir The Fray com você nos almoços?

   – Lembro.

   – Pode fingir que sei cantar e imaginar que estou ai, dizendo aquilo tudo pra você?

   Sequei o rosto, ou pelo menos tentei, enquanto concordava. Alguém falou com ele do outro lado da tela e esperou resposta. Ele olhou sentido para mim. Sorri de leve e falei com ele.

   – Eu vou ficar bem. Obrigada por ligar.

   – Quando precisar, linda.

   Desliguei e logo em seguida desliguei a internet no computador. Era só eu, presa no meu mundo, nada de gente querendo falar comigo. Dei o play na tal playlist e fui tirar as caixas do alto do guarda roupa. Uma delas quase caiu em mim, quando a música que Duran citara começou a tocar.

   – Be still and know that I’m with you. – Eu fui cantando e retirando as coisas esquecidas dentro da caixa. Meu coração pesou, de novo. Fotos de família, todos nós juntos e sorridentes, meu pai, desenhos que ele fazia para mim quando eu era criança. Todo tipo de memória deles. Cartinhas que minha lindinha me enviava nos aniversários, todas escritas pela mãe, claro.

   Claro que aquilo tudo foi demais para meu coração recém partido. Abracei o máximo de coisas que consegui carregar nos braços contra meu peito, chorando e balançando pra frente e pra trás, enquanto a música ainda enchia o quarto.

   – If terror falls upon your bed and sleep no longer comes... – Eu chorava tanto que minha voz sumiu, era quase tão esganiçado quanto uma chaleira fervendo. Fiquei chorando, tentando não soluçar, com medo de que minha mãe fosse vir me ver, mas ela não veio e eu também não fiquei em silêncio.

   Outra música inteira tocou antes que eu conseguisse me controlar e soltar tudo que eu ainda segurava, agora com manchinhas de lágrimas. Guardei tudo de novo e coloquei a caixa em seu lugar de novo. Voltei a tentar me ocupar, ouvindo Bon Iver.

   Tudo mudou. Troquei o lado das coisas, a ordem, tudo que poderia ser mudado. Tentei deixar os presentes de Jack mais juntos, as roupas novas mais fáceis de alcançar, joguei algumas coisinhas fora. Minha mãe veio me ver quando eu tinha acabado e começava a organizar novamente minha estante de livros.

   – Ei, mãe.

   – O funeral vai ser depois de amanhã. A polícia vai acabar de fazer todos os procedimentos e vão liberar os...corpos.

   – Manhã?

   – Tarde. Na hora em que seu pai assistia seus jogos aos fins de semana.

   – Quatro.

   – Sim. O que está fazendo?

   – Quanto mais parada eu fico, mais me dói. Decidi me distrair, preciso disso. Já a senhora anda precisando dormir.

   – Sim, tem razão, estou exausta. Bom, vou te deixar sozinha.

   Sorri para ela enquanto ela deixava o quarto e se dirigia ao seu. Suspirei, organizando os livros por gênero e ordem alfabética.

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   Vi todo mundo me estudar, chocado com minha presença em sala de aula. Seria difícil, mas eu não podia simplesmente deixar minha solidão se alimentar em casa. Tinha um bilhetinho na minha mesa, que eu li depois de me sentar.

   “Tentei te ligar várias vezes, entendo ter sido ignorado. Sinto muito, Megs. Acho que já sabe bem quem sou eu.”

   Peguei meu celular e olhei a lista das chamadas perdidas. Desconhecido, várias vezes. Então minha suspeita estava certa? Fazia tanto tempo que eu não pensava naquilo que nem me choquei.

   Apesar de ligações anônimas não serem exatamente a cara de Shaun.

   Ali parecia ainda mais surpresa que o resto da turma ao me ver. E logo que se recuperou, veio se sentar no seu lugar perto de mim. Sorri para ela, guardando o celular e o cartão na mochila.

   – Eu não achei que...

   – Eu vinha? Cá estou. Ficar em casa seria cometer alguma loucura, prefiro evitar.

   – Ah, entendo. Pode me dar uma folha, preciso fazer meu dever de redação.

   – Qual era o tema? Também não fiz.

   – Hum, o momento mais triste da sua vida.

   – Ah, é mesmo. Aqui.

   Aquele dever nunca veio em tão boa hora. Eu era boa naquilo, expressar meus sentimentos pelas palavras. Ou pelo menos chegar perto. Algumas coisas não podem ser descritas por palavras. Ainda assim, ajudava a aliviar. E aquele texto estava sendo como tirar todo um peso dos ombros.

   No almoço, quem ainda não tinha me visto quase teve um infarto. Louis, claro, pulou no meu pescoço e ficou lá, esfregando minhas costas para me confortar. Aceitei o abraço, sorrindo. Ele se distanciou quando eu estava prestes a dizer algo.

   – Nós estaremos lá amanhã.

   – Obrigada, pessoas.

   Apesar de eu notar que todo mundo estava tenso perto de mim, como se qualquer coisa fosse me fazer desmoronar, eu consegui ficar bem. Acho que posso culpar meus amigos por isso. Eles estavam realmente dando seu melhor para me manter focada em outros assuntos, coisas mais banais que tudo aquilo.

   – Gente, ao mesmo tempo que eu já não aguentava mais esse ano, como que já está acabando? Minha nossa. – Leo falava, com medo de comer seu sanduíche e ter que falar logo em seguida.

   – E por falar nisso, estão planejando minha festa de aniversário? É semana que vem.

   – Nossa, é mesmo. Calma amiga, vai dar tudo certo.

   O dia correu bem, e melhorou levemente quando abri a porta de casa e dei de cara com minha banda favorita na minha sala. Jack me olhou, esticando um braço para me abraçar. Aninhei-me perto dele, sorrindo.

   – Saudades suas.

   – Nós também já estávamos sentindo falta sua.

   – Você emagreceu.

   – Eu tenho uma irmã que costuma me dar trabalho, então não tenho a melhor das dietas. Como você está?

   – Melhor que ontem.

   – Bom, talvez nossa notícia de distraia um pouco da sua. – Jared murmurou, olhando pra mim. Esperei, enquanto Jack deixava ele ser o portador da boa nova. – Voltamos de vez, garota.

   – Não brinca. Isso é ótimo. Mamãe deve estar explodindo.

   – É, viemos em boa hora. Digo, a boa notícia. A hora não podia ser pior.

   – Ela estava precisando de um descanso. Bom, vocês também, ao que parece. Podem ir dormir, a gente conversa depois.

   – Maravilha. Vem, gente.

   – Eu posso dormir na sua cama, linda? – Tinha que ser Ian. Sorri, concordando. Achei que seria brincadeira, mas ele realmente subiu as escadas e foi pro meu quarto. Achei que Jack ia atrás dele, mas depois de um segundo meu irmão foi pro quarto dele.

   Por mais que tudo aquilo ainda estivesse pesando dentro de mim, ter conseguido sorrir de verdade por alguns instantes foi ótimo. Fui para a cozinha comer e, depois, dormi no sofá da sala, com um fone de ouvido.


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Notas finais do capítulo

Até mais vê-los, meus lindos ♥



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