No Other escrita por Pacheca


Capítulo 2
Capítulo 2 - Endtapes


Notas iniciais do capítulo

http://www.youtube.com/watch?v=mpKlLs_Xrcw
Endtapes- The Joy Formidable (sim, é de Crepúsculo, mas eu assumo que adorei todas as trilhas sonoras u.u)
Então, gostando até agora? Ai vai mais um, opinem ^^



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     Meu primeiro horário nas segundas-feiras seria literatura, no prédio 4. Os outros alunos já começavam a irem para os prédios, com suas mochilas apenas em um dos ombros, enquanto eu ainda pensava se ia mesmo. Como se eu tivesse escolha.

     Guardei os papéis que Sra. Yorke me deu no bolso da mochila, me juntando a onda de adolescentes que se dirigiam ao prédio 4. Fui cruzando o estacionamento todo, de novo, seguindo os outros.

     Coloquei os fones de ouvido e liguei o Ipod, sem prestar muita atenção no que estava tocando, só tentando ignorar o resto todo. Mas acho que era Endtapes.

     Por mais que eu tentasse, não conseguia ignorar completamente as BMW’s e Mercedez e eventuais Volvos, mas esses eram mais raros ( e mais baratos também) e não me incomodavam tanto.

     Parei de repente, encarando o único carro que não me incomodava. Aliás, me deixou fascinada. Um ragtop vermelho. Um Chevrolet, mais especificamente, antigo. Eu diria um Impala 1964, se tivesse que chutar um modelo. E chamou minha atenção por ser o carro mais bonito que eu tinha visto, mesmo sendo o mais simples.

     Voltei a caminhar, me afastando do carro e entrando no prédio 4. Assim que pus meus pés lá dentro comecei a procurar meu armário. 417, no primeiro andar, com uma portinha pintada recentemente de azul escuro. Não foi tão difícil encontrá-lo quanto eu imaginei que seria.

     Abri o armário, já pegando os livros dos 3 primeiros horários. Estranhei termos um livro para literatura. Geralmente, as aulas de literatura se restringiam a lermos algum texto clássico e discutirmos sobre o que foi lido.

     Fui para a sala, ainda pensando sobre o livro de literatura. Deixei a folha que os professores tinham que assinar sobre a mesa do professor e fui para o fundo da sala, passando por várias carteiras de braço. Achei que as mesas seriam para duplas, mas de braço eram melhores.

     Pendurei minha mochila no encosto da carteira e tirei As Crônicas de Nárnia, abrindo onde meu marcador de páginas estava. Não fiquei olhando quem sentava ao meu redor, concentrada no livro. Como Lewis conseguia escrever de forma tão mágica?

     Só prestei atenção em um dos alunos, um que sentou ao meu lado. Ele não tinha nada de diferente, a não ser o fato de estar quase caindo em cima de mim.

     Olhei pra cima, enquanto ele apoiava uma mão na parede e voltava a ficar de pé ao meu lado, sem cair em cima de mim. Era um garoto, da minha altura, magro, meio bronzeado. O rosto era fino, com os olhos verdes quase castanhos e marcas fundas, cicatrizes, por todo o lado direito do rosto. Não era bonito nem nada, mas parecia ser simpático.

      – C. S. Lewis?

      – É, As Crônicas de Nárnia. Já leu? – Ele sentou de novo, ao meu lado, antes de responder.

      – Mais ou menos. Li a primeira e comecei a segunda, mas não cheguei a terminar. – Fechei o livro, depois de achar meu marcador e colocá-lo sobre a página. Eu não ficaria surpresa por alguém dizer que gostava de ler, mas gostar de ler Lewis era tipo, encontrar um anjo no Inferno.

      – O Sobrinho do Mago e O Leão, A Feiticeira e o Guarda Roupa. – Me virei pra ele, provavelmente sorrindo feito idiota. – Se você quiser eu posso te emprestar o livro. Eu estou relendo mesmo.

      – Acho que vou querer, mas pode acabar de reler, eu tenho que terminar Percy Jackson antes.

      – Por onde você andou todo esse tempo? – Ele me olhou, com o cenho franzido. – Você tem que ser minha alma gêmea, sério.

      Ele riu e coçou uma das cicatrizes, que passava bem no meio da bochecha. Quis perguntar como ele conseguiu aquilo, mas achei que poderia ser um pouco rude, considerando que eu só o conhecia há poucos minutos.

      – Qual seu nome? – Sai do meu devaneio com a pergunta dele, demorando um pouco a me recuperar e responder.

      – Megan, mas pode me chamar de Megs.

      – Louis. Prazer em conhecê-la, Megs. – Ele estendeu a mão, e eu a apertei sorrindo. – Acho que você é a única novata do ano, por isso vai ser o centro das atenções por uns dias, mas não se preocupe. A maioria da galera é legal.

      Sorri, um pouco apreensiva pra ele. Louis se virou na carteira, ficando de frente para o quadro da sala. Me virei também, assim que o professor pôs sua mochila sobre a mesa.

      Era um cara gordinho, mas não muito alto ou baixo, com um nariz redondinho segurando os óculos e uma barba por fazer. Parecia aqueles caras que não largavam o vídeo game nem um segundo da vida.

      Ele ficou olhando o papel sobre sua mesa por um tempo antes de me encontrar com um único olhar pela sala e assinar em um quadrinho no meio da folha. Achei que ele fosse me fazer levantar e me apresentar e tudo mais, mas ele não disse nada.

      – Bom dia! Como vão vocês? – Alguns murmuraram respostas, mas a maioria ficou calada. – Todos se lembram de mim, certo? Frank, o professor de literatura de vocês.

      Ele fazia de tudo para não atrair atenção para mim, para não me citar. Poucas pessoas, geralmente as que se sentavam perto de mim, perceberam que ele estava falando daquele jeito por mim, mas não diziam nada.

      – Muito bem, vamos começar logo, já que eu não quero ouvir nenhuma história idiota de férias. Página 49. – Acho que devo ter feito uma cara muito engraçada, porque Louis começou a rir em silêncio, só mexendo os ombros.

      Como ele não disse nada, voltei a olhar Frank, que começava a falar sobre a história da literatura. Prestando mais atenção na aula, percebi que Frank tinha um jeito sarcástico de agir, meio rude. Ou seja, era bem divertido.

      A aula acabou bem rápido. Assim que o sinal tocou, peguei meu horário na mochila e fui até a mesa do professor, pegar minha folha de volta. Ele foi bem simpático, me dando boas vindas e me desejando boa sorte.

      Sai, acompanhando Louis pelo corredor. Já estava com meu material, mas não queria ficar sozinha, então fui com ele até seu armário. O dele era 413, perto do meu.

      – Há muito tempo ninguém fazia uma expressão tão engraçada com o jeito de Frank. Seu medo foi muito engraçado. – Ele ainda estava rindo de mim.

      – Imagino... – concordei com a cabeça, mas sem muita convicção.

      – Relaxa, minha cara deve ter sido mais ou menos a mesma no meu primeiro ano aqui. Mas depois de 5 anos estudando aqui, eu já me acostumei.

      – Qual seu próximo horário? – Olhei o meu. Matemática. Se fosse tão legal quanto a de Minessotta eu ficaria satisfeita.

      – Deixa eu ver... – Ele olhou um papel parecido com o meu. A expressão dele de sofrimento foi engraçada. – História, argh.

      – Não gosta?

      – Da matéria? Não, tenho horror à história. Deixe os mortos, mortos. Em paz. – Ri do jeito dele. – Mas e você? Tem o que agora?

      – Matemática.

      – Melhor do que eu. A sala 307 é no 2º andar. Boa sorte. – O primeiro sinal tocou e ele foi embora, por um corredor. Subi as escadas para a próxima aula.

      Era uma sala igual à de literatura, porém esta tinha um tablado na frente, próximo ao quadro. Deixei a folha na mesa do professor e fui para o fundo de novo, sentando na frente de uma menina.

      Peguei meu livro de novo, abrindo na mesma página na qual tinha parado para conversar com Louis. Eu não ia conseguir ler muito, mas um pouco já era suficiente.

      Quando se trata de livros, meu único problema é não conseguir parar de ler. Eu me distraia tanto lendo, que mal percebia o tempo ao meu redor. Nem as pessoas.

      Senti algo no meu ombro e me virei para ver o que era. Era a cabeça do meu professor, sorrindo pra mim. Comecei a ficar vermelha no mesmo instante, enquanto todos me observavam.

      – Se você se concentrar tanto nas minhas aulas quanto se concentrou nesse livro, vou ficar imensamente feliz. Também fico feliz que goste de ler, mas não durante a aula, ok?

      – Desculpa, não vi o senhor chegando. Não vai se repetir. – Ele sorriu, tentando me deixar confortável, enquanto me devolvia a folha, mas não consegui voltar à  minha cor normal.

      Ele voltou para a frente da sala, continuando a aula como se nada tivesse acontecido. Me afundei um pouco na carteira, sentindo minhas bochechas queimarem. Uma menina lá na frente se virou sorrindo pra mim. Era a chinesinha que me ajudou no estacionamento. Sorri de volta.

      O professor, Roger, começou a explicar uma matéria sobre conjuntos numéricos e eu passei a voltar a minha cor original. A menina atrás de mim se inclinou na carteira e começou a conversar comigo.

      – Você é Megan, certo? A novata? – Assenti, sem me virar na carteira. – Posso te chamar de Megs? É mais fofo. – Dei de ombros. – Eu sou Lorenna, ou simplesmente Lólli.

      – Lólli?

      – É. Está gostando da escola?

      – É legal. Eu não gosto, propriamente dito, de escolas, mas posso tolerá-la. – Ela deu uma risada pelo nariz.

      – Já fez amigos?

      – Devo te considerar uma? – Ela concordou com um resmungo. – Então dois.

      – Eu e quem mais?

      – Louis, da turma de literatura. – Ela deu uma risada abafada.

      – Meu irmão falou com uma garota? Isso é novidade. – Me virei para ela, percebendo no mesmo instante as semelhanças. Os olhos verdes quase castanhos e a pele bronzeada, com cicatrizes por todo o lado direito, descendo até o pescoço.

      – Não sabia que ele tinha irmã. E sim, ele me perguntou sobre o livro que eu estava lendo.

      – Tinha que ser. Bem, sim, é meu irmão. Mas ao menos é gente boa.

      Me virei de novo quando ela se sentou na carteira e Roger se voltou para a turma. Ele pediu licença e saiu, mas ela não falou mais nada. Passei o resto da aula prestando atenção.

      No fim da aula, Lorenna saiu correndo para a aula de literatura e eu fui para a quadra de educação física, nos fundos do prédio.

      O vestiário era repleto de armários, divididos na mesma forma que no corredor. No 417 tinha vários uniformes, de vários tamanhos. Peguei o grande e prendi meu cabelo de novo.

      A essa altura do dia, as pessoas ao meu redor já cochichavam sobre mim e ficavam me encarando. Mas o pior foi o grupinho de garotas. Aquele, das populares. A líder delas, uma loira do cabelo escorrido e dos olhos azuis parecendo pedras de gelo, me encarava com um ar de superioridade que me dava vontade de tacar um dos coturnos na cara dela.

      Tentei não dar importância e fui para a aula. O que eu menos precisava era ouvi-las conversando sobre mim ou sobre os garotos do time de basquete.

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      Louis e Lólli me pagaram um sanduíche da cantina na hora do almoço, como boas vindas. Passei o tempo todo, alternando entre morder o sanduíche e explicar porque tinha me mudado para a Califórnia, o emprego novo da minha mãe, o divórcio, meus irmãos, etc. Não acredito que Lólli deu qualquer sinal de interesse por Elijah.          

      O sinal tocou e eu fui assistir as próximas aulas: história e biologia. Kennedy era legal, mas eu tinha que concordar com Louis que a matéria era um saco. Zoey, a professora de biologia, tinha um puto jeito de hippie, falando tão devagar e tanto que dava sono. Eu amo biologia, mas tive que me forçar a ficar acordada.

      O sinal que indicava o fim do dia tocou. Eu mal esperei a professora se despedir antes de me levantar e disparar pelo corredor, guardar os livros no armário e sair. Bem, não corri para não levar advertência, mas caminhei rápido.

      Coloquei os fones de ouvido de novo e comecei a atravessar o estacionamento, para ir para casa. E lá estava ele, o ragtop vermelho. Hesitei por um instante, mas por fim me aproximei dele.

      O melhor chute da minha vida, um Impala 64. Me parecia ser todo original, bem cuidado. Invejável. Dei uma volta pelo carro, observando os detalhes.

      – Posso ajudar? – Me virei assim que ouvi a voz. Do dono do carro, imagino.

      Era um garoto, pouco mais alto que eu e tão branco quanto eu, o cabelo preto curto e olhos violetas.

      – Eu só...só estava... – Os olhos dele me desnorteavam. Aliás, ele me desnorteava. Ele era muito lindo. Mas os olhos ainda se destacavam, com aquele tom violeta intenso. 

      – Você consegue responder? Sem gaguejar? – Baixei o rosto, corando. Respirei fundo, antes de tentar responder de uma vez só.                 

     – Desculpa. É só que seus olhos me deixaram um pouco distraída... – Na mesma hora que falei me deu vontade de pedir um dos alunos para me atropelar. Calei a boca e corei mais ainda. Que idiota eu sou!

     – Nunca viu uma mutação genética? – Ele me encarava sorrindo, como se estivesse zombando de mim.

     – Essa...Essa não. Mas é bem legal.

     – Olhos violetas. – Ele indicou os próprios olhos. – Só isso.

     – Pois é, já vi. E o carro também, parabéns, muito foda. Tchau. – Me virei e quase corri, mas ele me parou, segurando minha mochila.

     – Qual seu nome? Já te vi antes?

     – Creio que não, eu sou nova aqui. Megan, mas pode me chamar de Megs.

     – Então, Megs, quer uma carona?

     – Olha, eu não sei seu nome, mas não precisa. Eu moro há 5 quarteirões, daqui a pouco chego lá.

     – O nome é Shaun, prazer. E, se você ficou rondando o carro, por que não aproveita a oferta e dá uma volta?

     – Só não quero incomodar.

     – Fui eu quem ofereceu, não foi? – Assenti. – Vamos. – Ele puxou minha mochila e a jogou no banco de trás. Ele colocou a mão na maçaneta da porta, mas não a abriu, estava esperando eu entrar. – Eu não vou te sequestrar.

     Concordei e me sentei no banco. Ele se sentou também, rindo e ligou o carro. 


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Notas finais do capítulo

O que acharam das personagens? Shaun, Lorenna, Louis...
Deixem reviews, opinem ^^
Bjs



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