No Other escrita por Pacheca


Capítulo 1
Capítulo 1 - All Star


Notas iniciais do capítulo

Galera, cada capítulo tem o nome de uma música, que eu acho que combina com o capítulo ^^ Vou colocar o link aqui para vocês ouvirem, mas se não gostarem podem indicar outras músicas :D http://www.youtube.com/watch?v=L_jWHffIx5E All Star do Smash Mouth :P Boa leiura :3



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Desativei o despertador e me levantei, devagar para não fazer barulho e acordar minha mãe ou meu irmão. Olhei ao redor enquanto caminhava até o espelho que ficava atrás da porta. Ainda estava escuro já que era bem cedo. Nem 6 da manhã não eram.

Parei em frente ao espelho de corpo todo, me observando na pouca claridade que começava a surgir pela janela. Encarei minha imagem por um instante. A mesma coisa de todas as outras manhãs : cabelos escuros pouco abaixo dos ombros, alta, a pele branca demais, acima do peso e com os olhos castanhos inchados.

Mas nessa manhã, parecia ainda mais deplorável. Meu rosto estava repleto de marcas de travesseiro, meu cabelo tinha embaraçado de um jeito horrendo, além de uma espinha.

Eu nunca fui o tipo de pessoa que chorava por uma espinha ou que só pensava em aparências. Aliás, todo mundo falava que eu deveria me preocupar, ao menos um pouco, em ser vaidosa. Mas ainda assim, me senti mal com meu reflexo.

Fui até meu banheiro, ainda evitando fazer qualquer barulho, e comecei a desembaraçar meu cabelo. Tomei um banho bem demorado, contando os quadradinhos dos azulejos do banheiro, tentando acalmar meus nervos.

Eu já tinha me acostumado com a casa nova, a vizinhança nova, a cidade nova, o estado novo. Mas como sempre, escola nova seria mais difícil. Sai do banheiro enrolada na toalha, penteando meus cabelos de novo.

Abri meu guarda roupa, pensando no que vestiria. Descobri porque eu sempre puxo uma roupa qualquer e acho bom: porque escolher era difícil. Respirei fundo e peguei uma calça jeans escura e uma blusa qualquer, que alguma tia me deu de natal.

Prendi meu cabelo num rabo de cavalo, coloquei uns brincos de estrelinha que eu quase sempre usava e calcei meus coturnos. Sai do quarto e desci as escadas, indo até a cozinha.

Assim que entrei pela porta Elijah me deu bom dia. Me surpreendi por ele já estar de pé, comendo um pedaço de bolo velho e tomando café.

– Bom dia, Zinha. De pé cedo demais, não? – Zinha é o apelido que ele me deu, uma redução de irmãzinha. Horroroso, e ele sabia que eu odiava.

– Bom dia, Elijah. Você também acordou cedo. – Ele pegou outra fatia de bolo antes de responder.

– É mais pra “eu não dormi”. Mas eu não estou mudando de escola. Nervosa?

– Não está mudando de escola porque não sabe que profissão quer seguir, senão estaria na faculdade. – Ele revirou os olhos. – Mas de qualquer forma, é, estou ansiosa.

Abri um dos armários e peguei um pote com cookies. Enchi uma caneca com leite e me sentei num banco. Olhei o relógio de parede sobre um armário: ainda 6 e meia.

Minha mãe entrou, com seus passos leves mal fazendo barulho, e nos deu um beijo na testa. Enquanto enchia uma xícara de café, ela me perguntou:

– Ansiosa, meu bem? – Concordei com a cabeça, mastigando outro cookie. – Vai dar tudo certo.

– Espero que sim.

– Fala sério, Zinha. Ou as pessoas vão ser simpáticas ou vão ficar na delas. Afinal, você é a mais nova estrela deles, a novata. Aproveita enquanto eles não sabem se devem ou não gostar de você.

– Ele tem razão, meu bem.

Assenti com a cabeça e saí, indo para a sala. Me joguei no sofá e liguei a TV, sem me preocupar com o que estava passando. Assisti um pouco de um desenho qualquer antes de sentir meu celular vibrando. Peguei e olhei o visor. Era uma mensagem, do meu outro irmão, Jack.

Jack era o mais velho de nós três, 6 anos mais velho que eu e 3 a mais que Elijah. Eu só o via uma vez ao ano, porque ele mora em Londres, com outros três amigos. Os quatro tem uma banda, The Secret Weapon, em que ele é baixista. Mas a banda, aparentemente, só tem boas vendas pelo Reino Unido, então eles vivem lá para facilitar os shows.

Oi, pequena. Td bem ai? Quanto vc tá calçando, o msm número de sempre? Bjs. Saudades de vcs. Jack.

Como tudo na vida, ele viver por lá tinha seu lado bom. Eu também sentia sua falta, mas ao menos ele me dava alguma coisa legal quando vinha me ver. Claro, eu preferiria que ele vivesse comigo, principalmente depois que nosso pai saiu de casa.

Jack, oi! Ansiosa pela escola nova, mas sim, td bem. Sim, mesmo número de sempre. Bjs. Saudades tbm!

Li a mensagem uma segunda vez antes de enviá-la. Me levantei do sofá e fui até a cozinha, falando pra minha mãe sobre a mensagem. Ela ficou feliz, mas não falou muito.

– Vou trabalhar. Se cuidem vocês dois. Boas aulas, meu bem. Elijah, não faça nada idiota. – Ele concordou sem sequer olhar pra ela. Sorri pra ela enquanto ela saia da cozinha e ia para a garagem.

– Que coisa idiota você faria, Elijah?

– Trazer alguém pra cá. – Gastei um tempo pra entender em que sentido ele tinha falado.

– Argh, idiota. – Ele riu, mas não respondeu. Subi as escadas, de dois em dois degraus, e fui pro meu quarto. Já estava na hora de ir pra escola. Respirei fundo, peguei minha mochila com estampa de camuflagem, taquei uns lápis e canetas que encontrei no armário e um caderno. Além das Crônicas de Nárnia.

Sai de casa sem me despedir de Elijah e fui para a escola. Como eu morava há apenas 5 quarteirões de distância da escola, fui a pé. Aquela caminhadinha já me fez querer voltar para Minessotta. O sol da Califórnia era quente demais.

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Assim que eu parei em frente ao colégio senti como se minha mochila pesasse uns 5 quilos a mais e uma vontade irrefreável de dar meia volta e ir pra casa.

Respirei fundo, olhando os 5 prédios, com 4 andares cada, o estacionamento enorme, e um letreiro bem ao lado da entrada, que dizia:

Nightfalia High School,

Home of the Foxes (since 1969)

Respirei fundo mais uma vez, voltando a olhar o estacionamento, cheio de carros caros e luxuosos, Mercedez e BMW’s lotavam as vagas. Eu com certeza não me encaixaria naquele lugar, mas me forcei a caminhar para dentro do estacionamento.

Senti alguns olhares sobre mim, mas nada alarmante. Talvez quisessem saber se eu era a novata ou só alguém de quem não se lembravam. Fui atravessando o pátio cheio de carros, tentando encontrar a secretaria.

Por mais que eu tentasse, não conseguia achar a secretaria. Talvez estivesse em um dos 5 prédios, e não separada, como eu achava. Parei uma menina baixinha, com uma carinha de chinesa e pedi direções.

– Com licença. – Ela se virou pra mim, querendo saber se era ela mesmo quem eu chamara. – Você pode me explicar aonde é a secretaria?

– O prédio menor, ao lado do prédio 1. – Ela disse, apontando para um prédio de três andares, com uma aparência mal cuidada. Agradeci com um sorriso e um aceno de cabeça, que ela retribuiu, de forma fofa.

Passei a caminhar na direção do prédio que a chinesinha tinha me indicado, passando por mais carros luxuosos. Entrei na secretaria sem me preocupar se estava ou não sendo observada.

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A sala era bem monótona, quase deprimente. Uma planta num canto, um ventilador de teto barulhento, um balcão de pedra quase vazio, não fosse por uma plaquinha com o nome da secretária, Sra. Yorke.

Apertei a alça da mochila e me aproximei do balcão. Uma senhora de aparência muito frágil, pequena e magra, com os cabelos curtos grisalhos bem ralos, digitava num computador quase tão velho quanto ela.

Ela gastou alguns segundos antes de perceber que eu estava ali. Ela me encarou por um instante antes de parar de digitar e esperar eu dizer porquê estava ali.

– Bom dia. Eu sou nova aqui e me disseram que eu deveria passar aqui antes de ir para as aulas. – Ela se levantou, ajeitando os óculos no rosto.

– Seu nome, querida?

– Megan Stone. – Ela puxou uma gaveta num dos armários cinzas atrás dela, deixando várias pastas com nomes a mostra. Depois de passar várias delas, uma a uma, ela puxou uma com meu nome.

– Sua ficha está completa. Pode conferir os dados pessoais? – Ela me entregou uma folha, com meu e-mail, telefone, endereço, data de nascimento, etc. Conferi dado por dado, o mais rápido que pude. – Assinaturas e documentos, todos entregues corretamente. Muito bem.

Ela se sentou e voltou a mexer no computador. Fiquei tamborilando os dedos sobre o balcão enquanto ela não dizia nada. Depois do que me pareceram horas ela me entregou um folha com um quadro e os nomes dos professores, uma folha menor com meu horário e um papelzinho com uma combinação numérica.

– Você tem que pedir todos os professores para assinarem essa folha na sua primeira aula, até o fim de semana. Esse é seu horário, com o respectivo professor, a sala e em qual prédio. E essa é a combinação do seu armário, o de número 417, no prédio 4. – Olhei a combinação: 14- 26- 32. Acho que me lembraria facilmente.

– Obrigada, Sra. Yorke.

– Bem vinda, querida. Até mais. – Ela sorriu antes de se virar para guardar minha pasta.

Deixei a secretaria, me sentindo ainda mais ansiosa. Seria um longo dia. Mas eu faria como meu irmão disse. Ficaria tranquila, apenas sendo quem sou, deixando os outros decidirem se gostavam ou não de mim.

Afinal, eu seria a estrela da semana. E talvez toda estrela se sentisse ansiosa antes de um show ou apresentação.


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Notas finais do capítulo

Me digam o que acharam, vou acabar de digitar mais uns capítulos aqui e já posto ^^ Bjs