O problema de pegar carona com um cara que você conhece há 2 minutos e mora há apenas 5 quarteirões da escola é que você não tem tempo pra conversar, mas também ficar calada é estranho.

Assim que Shaun saiu do estacionamento da escola me pediu pra ligar o player. Eu estava me arrependida por aceitar a tal carona, mas liguei o player, pensando que eu poderia mentir, falando que uma das músicas que ele ouvia era legal.

Me surpreendi assim que a música começou. Eu não teria que mentir sobre a música, era foda pra caralho mesmo. A Little Less Conversation, do Elvis. Olhei Shaun, dirigindo. O cara era bonito e fã de Elvis. Se ele falasse que gostava de ler eu o pediria em casamento.

– Então, como você conseguiu o carro? – Tentei começar uma conversa pela primeira vez na vida.

– Era da minha avó, Sally. Ela deixou pra mim de herança. Incrível, não?

– Todo original?

– É, exceto o player. – Ele tamborilava os dedos no volante, seguindo o ritmo da música.

Indiquei minha casa assim que ele virou na rua. A expressão dele não deixava claro se ele gostava ou não da casa branca de dois andares. Observei a casa com ele, tentando ver alguma coisa diferente. Além de Elijah parado na porta, parecendo que ia atirar em Shaun, não tinha nada incomum.

– Muito bom, a não ser pelo garoto exibicionista ali. – Olhei Elijah de novo. Ele estava sem camisa, por isso Shaun o chamara de exibicionista.

– Meu irmão mais velho. Um retardado mental. É só ignorá-lo.

– Ok. Posso fazer isso. Obrigado por elogiar o Impala. – Ele deu um sorriso simpático, estonteante.

– Obrigada pela carona. Te vejo depois. – Peguei minha mochila no banco de trás. Esperei Shaun arrancar antes de me virar para Elijah, o fuzilando com um olhar.

– Quem é o figura? – Ele ignorou totalmente o jeito que eu olhava pra ele.

– Shaun, cara da escola.

– E você estava no carro dele porque...? – Ele gesticulou com a mão que segurava uma garrafa de cerveja.

– Porque a gente estava se pegando. Por isso. – Ele me encarou sério. – Ele me ofereceu uma carona depois que eu fiquei secando o carro dele, ok?

– Se ele chegar a mais de 5 metros de distância perto de você eu vou matá-lo.

– Ah, pelo amor de Deus, Elijah. Você dorme com todo mundo e eu não posso arranjar um namorado?

– Opa, calma ai. Eu gosto de todas elas. São elas que me largam. – Deixei minha descrença bem clara na minha expressão. Ele riu e entrou em casa.

– Você é um idiota. – Ele continuou rindo.

Subi pro meu quarto, ignorando o retardamento mental de Elijah. Deixei a mochila no chão, num canto do quarto e liguei meu notebook. Ao invés de ficar esperando ele iniciar, troquei de roupa, tirei os coturnos e fui até a cozinha, pra pegar um resto de lasanha que minha mãe tinha feito no dia anterior.

Subi de novo e me sentei na cama, puxando o notebook pra mais perto. Enquanto ia comendo, abri a internet e fui direto pro Facebook, rezando para alguém de Minessotta estar online. E, para minha sorte, minha melhor amiga estava. Nathaly.

Ei, Nathaly ^^

Eii! Achei que você tinha morrido, ficou mais de uma semana sem dar notícias, vaca. Como está?

Shiu, fica quieta que você sabe que quando eu não falo com vc eu to sem me computador. Minha mãe sumiu com o carregador e como a bateria do meu é viciada, preciso dele pra ligar #sadbuttrue

Verdade...Mas e ai? Como vai a vida na Califórnia?

Normal, como era ai. A diferença é que eu ainda não sei andar direito pelas ruas e to tirando as coisas da caixa.

Meu Deus, que animação. Mas e namorado? Já arrumou algum?

Não ¬¬ Mas não precisa ficar me lembrando que eu sou forever alone.

Amigos então?

Um casal de irmãos. Preciso de alguém pra te substituir ;P

Vsf, eu sei que vc me ama.

Eu tbm sei, huehue

Vou sair agora, dps te chamo. Bjs

Até mais ;*

Nathaly e eu temos pouca coisa em comum. Um pouco do gosto musical, alguns livros e a mania de rir de tudo, principalmente em momentos impróprios. Mas eu sentia falta dela. Passávamos a semana inteira juntas e sempre dávamos um jeito de nos vermos no fim de semana também.

Como não tinha nada para fazer, decidi procurar sobre a escola. Achei um grupo com os alunos e professores. Sai adicionando a maioria: Louis e Lorenna Grint, Shaun Heat, os professores que eu já conhecia. Até Sra. Yorke adicionei.

Alguém bateu na porta. Achei que fosse Elijah, mas ele muito pouco provavelmente bateria na porta antes de entrar. Coloquei o prato sobre o criado mudo e esperei.

A porta abriu devagar e uma cabeça apareceu pela fresta. Jack. Quase não acreditei.

– Oh, Meu Deus. – Pulei da cama e corri para cima dele, pulando no pescoço dele. – O que você está fazendo aqui?

– Trabalhando. Bom ver você também. Como tem passado?

– Importa? É você quem passa a maior parte do ano viajando.

– Se eu perguntei é porque importa, pequena! – Sorri e me desvencilhei dele.

– Bem, mas é meio estranho. E por estranho quero dizer quente. – Ele riu. – Mas e você? Seu cabelo cresceu, ficou legal. E você tatuou o símbolo da banda, muito foda! Eu estou sem saber o que mais dizer...

– Bom, você pode dizer sobre um namorado que você arranjou, Elijah falou dele. – Parei de sorrir no mesmo instante. Jack estava sério também. Eu não acredito que Jack tinha virado um idiota feito Elijah. Puta que pariu.

– Então ele deveria ter explicado que Shaun não é um namorado, ele só me deu uma carona. – Ele continuou sério, mas então começou a segurar o riso. – Filho da puta. – Passei a rir também.

– Sério que você achou que eu sirvo pra ser esse tipo de irmão? Elijah por si só já é um babaca o suficiente. – Continuei rindo e xingando-o. – Desculpa, mas eu tinha que fazer isso. Sua cara foi impagável. – Ele começou a me imitar.

– Nossa, cara, como você é zueiro. E mesmo assim, ele não é meu namorado. Acabei de conhecer o cara.

– Eu sei. Mas toma cuidado, ok? Não quero ser tio antes dos 25.

– Jack, pelo amor de Deus, eu só tenho 15 anos, não é como se eu fosse dormir com ele.

– Sei que você é mais esperta que isso. Mas ainda assim, nunca se sabe. – Revirei os olhos. Ele estava sendo o Elijah de novo, mesmo sem querer.

– Bem, mudando de assunto, e o resto da banda?

– Todos nós vamos ficar aqui até o fim de semana. – Ele nunca ficava mais que uma semana, mas eu nunca reclamava. Melhor que nada. – Pronta para suportar Jared e Ian?

Ian era um cara magrelo, de 1,80m de altura e um cabelo cor de palha que estava sempre bagunçado. Era o mais brincalhão de todos, e sempre ficava enchendo meu saco. Jared, seu irmão, tinha um físico bem parecido, não fosse pelo cabelo preto. Ele também me enchia, mas era quem controlava Ian quando ele estava cruzando a linha nas piadas.

Já Liam era o mais baixo, só tinha 1,75m e era mais musculoso que os outros 3. Os cabelos pretos dele eram curtos e comportados, dando um ar elegante nele. Mas ele era caladão, quieto demais. Só relaxava mesmo com a gente depois de umas 2 ou 3 cervejas.

– Sim, vou dar um jeito. – Jack riu e me acompanhou até a sala de estar.

– Megs! – Ian me apertou, quase me sufocando. Depois relaxou um pouco o abraço e bagunçou meu cabelo. – Você cresceu, não?

– Só dois centímetros. Nem faz diferença perto de você. – Ele riu.

– Desde que você não complique minha vida ficando maior que eu, vai ficar tudo de boa. – Olhei pra ele, sem entender direito o que ele tinha dito, mas não recebi uma explicação.

Jack saiu da casa, me deixando com os três. Jared me deu um abraço mais tranquilo, e mais rápido. Mas também bagunçou meu cabelo. Liam me deu um abraço tão rápido que eu mal senti seus braços.

– Ei, gatinha, senta aqui. – Ian abriu um espaço entre ele e Jared no sofá e ficou esperando. Me sentei e ele passou o braço pelos meus ombros, com aquela cara retardada dele.

– Cadê o Jack, Jared? – Tentei tirar o braço de Ian, mas ele não deixou, então desisti.

– Nossas coisas ainda estão no carro. Ele foi buscar, principalmente seus presentes.

– Pode me agradecer por um deles. – Ian sorria daquele jeito tonto dele. Sorri também.

Jack entrou na sala, quase queimando Ian com o olhar, mas sem dizer nada. Por alguma razão, Jack sempre agia daquele jeito quando Ian estava perto de mim. Será que era assim quando estavam longe também?

– Bom, pequena, os coturnos são mais legais, mas acho que vai gostar. Os outros dois, tenho certeza de que você vai amar. – Ele sorriu, me entregando uma caixa de sapatos.

– Três esse ano, hein? Sou foda! – Abri a caixa, pegando o all star vermelho. – Ai que daora! Muito lindo, cara. O que eu posso amar mais que isso?

– Abre. O da caixinha rosa é do Ian, o da roxa é meu. – Peguei as duas caixinhas e abri a rosa antes. Dentro tinha um colar de contas do Acampamento Meio- Sangue, perfeito!

Todo mundo sempre soube da minha paixão por livros. Eu nunca gostava muito das adaptações ou filmes em geral. Não por falta de paciência, mas filmes me prendem demais em cenas, e eu gosto de imaginar, do meu jeito, como só consigo nos livros. E Percy Jackson era muito maravilhoso!

– Ai, cara, que maravilha! – Deitei a cabeça no ombro de Ian em agradecimento.

– Te disse que você ia gostar. Abre o próximo. – Peguei a caixinha roxa no meu colo e a abri. Era outro colar, mas dessa vez era uma simples corrente com uma réplica do Anel de O Senhor Dos Anéis. O troço que eu não dei com o colar de contas eu dei naquele instante.

– Caralho, caralho, caralho. Ai que lindo! Own, obrigada! – Agarrei o pescoço de Jack, com um berro abafado.

– Que bom que gostou. – Coloquei a corrente de uma vez, sorrindo. – Comprei os tênis pra mãe parar de pegar no seu pé com aquele história de “Você insiste em usar esses troços de combate.”

– Tomara que funcione. Valeu, de novo.

– De nada. Nós vamos jantar fora hoje, ok? Aproveita e estreia os tênis.

– Liga pra mãe, então. Só não comenta nada da tatuagem. Ela vai querer tirar isso na faca.

– Infelizmente, para ela, eu sou maior de idade e posso fazer o que quiser, com responsa, claro! – Ri, concordando. Peguei meus tênis e o colar de contas e subi pro meu quarto.

Coloquei tudo em cima da cama e abri o guarda roupa. Minha mãe iria chiar se eu não me arrumasse, então eu teria que escolher, com cuidado, uma boa roupa.

Acabei decidindo tomar banho antes. Sai enrolada na toalha, desembaraçando os cabelos. Só quando Jared passou no corredor e parou em frente a minha porta eu lembrei que estava de toalha e bati a porta na cara dele.

Me vesti , depois de muita dificuldade para encontrar uma boa roupa. Era um vestido que minha mãe tinha me dado com um cinto vermelho, pra combinar com o all star.

Prendi meu cabelo numa trança e me maquiei, por mais que eu não fosse muito de me maquiar. Coloquei a corrente de novo e desci, brincando com a réplica do Anel.

– Caramba, você tá muita gata! – Ian inclinou a cabeça sorrindo pra mim, enquanto Jack se segurava pra não atirar o controle remoto na cara dele. Mas dessa vez Ian percebeu a reação de Jack. – Véi, reconheça que sua irmã é muito gata. Por mim viraria exceção à regra. – Jack estava quase roxo de tão nervoso.

– Que regra? – Franzi o cenho.

Antes que Ian me respondesse, Jared se levantou do sofá e deu um peteleco na orelha do irmão, com uma cara séria.

– Num fode pro teu lado não, Ian. Num fode, que quando a bagaça explodir eu vou deixar o Jack fuder contigo. – Ian ficou sério, esfregando a orelha. Eu sei bem como aquilo doía.

– Disse o que ficou secando a mina só de toalha quando ela não tava vendo, né? – Jack respirou fundo, sem saber pra quem olhar: Ian ou Jared.

– Do que vocês estão falando? – De novo eu fiquei sem resposta, pois minha mãe entrou e Elijah desceu as escadas num trote. Ela parou, olhando todos nós na sala.

– Oh...meu...Deus, Jack! – Ela deu um abraço nele, sorrindo. – Meninos, como vão?

– Sra. Stone. – Os três ficaram quietos depois.

– Mãe, nós vamos jantar fora, ok? – Ela concordou, sorridente.

– Elijah, vá pentear esse cabelo feito um ser humano decente. E Megan, meu bem, você está linda. – Ian esticou a mão e falou.

– Viu? Até a mãe dela acha.

– Ian, cala a boca! – Jared falou com o maxilar meio travado.

– E que merda é essa no braço de vocês? Até você Liam? – Eu sabia que ela reagiria daquele jeito.

– É da banda, mãe. A gente nunca vai se arrepender. E minha irmã fez um desenho muito bom. – Ela desviou o olhar da tatuagem de coruja e se virou pra mim.

– Eu nunca disse nada sobre tatuagem, só fiz o desenho. – Eu não era a melhor desenhista do mundo, mas conseguia fazer uma coisinha ou outra, de vez em quando.

– Muito bem, agora é tarde. Vamos logo, então.

– Aonde vai nos levar?

– Relaxa, pequena. Lembra que eu te falei que ia conseguir o melhor carro de todos? – Sorri, concordando. – Dá só uma olhada. – Olhei para onde ele indicava e vi uma Dodge Journey prata. Foda pra cacete.

– Caralho, Jack! – Elijah disse exatamente o que eu ia falar, sendo xingado no meu lugar.

– Olha a boca! – Minha mãe achava que palavrões só deixavam tudo mais feio e impróprio. A não ser que fosse ela quem dissesse.

Entramos no carro, eu e Ian no fundo, Liam, Jared e Elijah no meio e minha mãe e Jack na frente.

A noite passou bem rápido. Comemos conversando sobre a banda, meu irmão falando de uma gravadora americana que os queria. Parecia um bom sinal.

Foi uma noite agradável, mas tivemos que ir embora mais cedo, por causa das minhas aulas. Foi melhor, eu estava meio sonolenta. Ian e Jared caminharam ao meu lado até o carro, discutindo alguma coisa. O burburinho da conversa deles me deixou ainda mais sonolenta.

Me sentei com Ian no fundo e coloquei os fones, colocando Elvis pra tocar. Encostei minha cabeça no ombro de Ian e só ouvi a primeira frase de “A Little Less Conversation” antes de dormir.