Capítulo VII- Memórias de Lúcia.

“O que eu procurava, Difícil saber, Como não pude ver, Você sempre ao meu lado, Eu andava só ,Mas é bem melhor, Com você sempre ao meu lado...”

A cama estava quente, os pássaros cantavam à luz do dia que chegara. O sol brilhava levemente ,o céu estava num azul vibrante, a brisa de começo de manhã passava pela janela do quarto fazendo os cabelos de Susana que estava sentada na penteadeira dançarem. A imagem estava embaçada aos olhos de Lúcia , mas aos poucos sua visão voltou ao normal.

-Bom dia jovem rainha...- Susana saudava olhando a irmã ainda na cama pelo reflexo do espelho.

-Bom dia Susie.- um sorriso doce apareceu nos olhos de Lúcia que bocejava de leve.- A que horas nos deitamos? E não lembro de mais nada.- sentava-se na cama esperando uma resposta de Susana que apenas penteava os cabelos. O silencio se instalou por um momento no lugar, mas logo foi quebrado pela voz de Susana.

-Lúcia, o que pensava que estava fazendo ontem a noite?

-Como assim?- levantava-se da cama indo até a suíte que havia naquele quarto. Lúcia molhava o rosto enquanto Susana continuava.

-O que estava conversando com aquele pobre cuidador de cavalos?

-Bom... Pedro nos apresentou e...

-Há ,o Pedro! Afinal o que é que ele estava pensando ao te colocar em mãos de um desconhecido?

-Susie ,acho que está exagerando. O Miles é apenas um garoto Narniano, e...

-E o que?

-Eu tenho a impressão que o conheço. O jeito que ele fala comigo é muito familiar...- Lúcia sorria consigo mesma enquanto falava de Miles. –E...os olhos dele...são lindos.- ele olhava ao nada imaginando Miles a sua frente com aqueles olhos azuis, até Susana interromper a sua “fantasia”.

-Não vá me dizer que confia nele apenas pelos olhos dele... Lúcia, você está acreditando que possa conhece-lo?

-Sim. E por que não? Parece tão real.- ela respondia enquanto punha suas vestes.- Afinal, o Pedro não quer o meu mau.

-Mas, a tal da Maggie pode Lúcia, esta garota está pondo ideias demais na cabeça do Pedro.

-Olhe Susie, não me leve a mal, mas eu prefiro acreditar no Pedro, Aslam deu hipóteses, e eu confio nele.- Lúcia dirigia-se a porta do cômodo.- Eu já vou descendo.- saia dali deixando a irmã indignada.

Enquanto descia-se as escadas a jovem Pevensie podia ouvir vozes vindas da biblioteca no final do corredor o que a fez retornar e averiguar o que estava acontecendo. Eram risos e a voz de Pedro foi reconhecida.

-O que estão fazendo?- Lúcia perguntava sorrindo aos dois seres que se sentavam em poltronas com um livro enorme e antigo dividindo o colo dos dois.

-Estávamos rindo...

-Tá Pedro, disso eu sei.- adentrou e foi curiosa em direção a Mag e Pedro. –O que estão fazendo com esse...hum... livro?

-Na verdade não é um livro, mas um álbum de fotografias.- neste instante Maggie respondia virando a imagem que viam para Lúcia, era uma espécie de árvores genealógicas com vários rostos engraçados nela.

-Nossa...- Lúcia sussurrava deslumbrava enquanto admirava a tal figura.

-O que... vai dizer que ficou fascinada com essas caras velhas.- Pedro franzia a parte de cima do nariz com um sorriso escondido nos lábios.

-Você não vê ?- o dedo pálido de Lúcia escorregou pela folha imensa e amarelada do livro, o dedo de Lúcia estava sendo seguido pelos olhos de Mag e Pedro até um rosto que Lúcia e Pedro viram muitas vezes, rosto que queriam poder ver todos os dias, rosto que tinha como antepassado um feiticeiro muito famoso, o qual tivera uma festa em sua homenagem na noite anterior. Era o rosto do Sr. Pevensie.

-Papai.- Pedro verbalizou enquanto seus olhos azuis brilhavam de uma saudade imensa ao ver aquela face.

-E aqui estão vocês.- agora o dedo de Mag que indicava os rostos dos quatro irmãos que estavam cobertos por mofo , quase irreconhecíveis, um dos motivos para estarem “caçoando” daquelas caras “engraçadas”.

Neste momento Lúcia já havia se sentado no braço da poltrona de Pedro, que junto a ele voltavam seus olhos para as figuras da parte de cima da árvore onde estavam os seus antepassados. E outra vez ficaram perplexos. Os olhos de Lúcia se estreitaram para averiguar melhor a imagem e lá estava ele com seu sorriso de sempre, tão dócil, tão puro, tão justo. Estava jovem , mas era possível reconhece-lo.

- Lúcia é ele!- Pedro exclamava incrédulo.

-Sim Pedro, é ele.- Lúcia sentia-se confusa e ao mesmo tempo realizada, ela estava frustrada e feliz por ver seu rosto ali.

-Afinal que diabos...- Mag pôs a mão na boca reconhecendo seu erro.- Afinal, quem é ele?- seu dedo indicador quicava sem parar sobre o rosto.

-Então esse é o motivo para acreditar em nós Lú.- o loiro encaixava as peças.- Ele já veio aqui! Ele já viveu o que vivemos, ele já foi um de nós...- Pedro estava eufórico com o álbum em mãos andando sem parar pela biblioteca.

-Ei eu estou aqui! Não finjam que eu não estou. – a garota de cabelos negros levantava-se balançava os braços no alto para chamarem a atenção dos dois.

-Desculpe...- Lúcia respondia educadamente olhando para Mag logo depois olhando para Pedro.- Temos que mostrar isso a Aslam.- Lúcia idealizava.

-Olha, sem querer me meter... mas ele não está.- Mag respondia.

-Como assim ele não está?- a rainha perguntava.

-Os faunos e centauros disseram que Aslam sumiu se dar alguma explicação. Afinal, Aslam sempre fez isso, ele deve estar em algum outro país.- Pedro respondeu tirando a dúvida de sua irmã.

-Então vamos mostrar isso aos outros.- mais uma vez Lúcia falava, agora referia-se a Edmundo, Danielle ,Susana e Caspian.

-Ed saiu cedo , a Dani saiu por aí e Caspian foi a Telmar a pouco.- outra vez Pedro respondia.

-E não disse nada a Susie?

-Não Lú... pra falar a verdade desde ontem depois da dança, ficaram meio distantes um do outro.- Mag respondia calmamente.

-Mas por que? Vocês sabem de algum motivo?- Lúcia questionava meio preocupada.

-Caspian apenas disse que está tudo por um tris, quando perguntei o que ele sentia.- Pedro respondia encarando Lúcia cabisbaixo.

Por um momento a “sala de livros” ficou em silencio, todos sabiam que a relação de Caspian e Susana não estava como antes. Mas dentro de alguns minutos uma voz meio irritada e curiosa perguntou mais uma vez:

-Afinal que diabos é esse homem aqui na fotografia?- Maggie perguntava ignorando a palavra que usava na sua questão. Pedro e Lúcia desmancharam a cara de preocupação e riam de canto, era cômico ver Mag estressada.

-Ele é alguém muito especial em nossas vidas a rainha fechava o livro pondo-o sobre uma mesa que havia no local, ela se dirigia a porta.

-Bom e...- Mag propunha para que continuassem.

-Lúcia aonde vai?- Pedro perguntava a Irmã que já se deslocava para a parte de fora do cômodo.- Não vai mostrar o que encontramos para a Susie?

-Fazer algo que eu estou louca para fazer.- respondeu com um sorriso ansioso – Não , acho que agora não é a hora apropriada.- e saiu dali.

-Hum!Hum!- Mag ainda esperava seu esclarecimento.

-Bom , ele é...

Por volta do meio-dia ,seus olhos finalmente tomaram as formas. Aqueles olhos estavam iguaizinhos , olhos negros sendo cobertos por alguns fios de seu cabelo da mesma cor meio despenteado de um jeito sexy. Ela estendeu o braço para avaliar seu progresso no papel que segurava. Era um pouco difícil trabalhar sem que ele estivesse a sua frente , mas antes assim , ela nunca conseguiria desenhar na sua presença.

Dani estava sentada debaixo de um carvalho que ficava ao lado do castelo, ela estivera ali desde cedo. Ela queria desenhar sem que ninguém a visse com aquilo em mãos. A figura gravada em sua mente a fazia traçar perfeitamente, mesmo com algumas dificuldades os mínimos detalhes naquela folha de papel que agora estava em seu colo. Dani observava com cuidado a imagem ,para que ela saísse completamente perfeita.

Ela desenhava o ser cujo tomou-a nos braços a noite passada para dançarem a mais linda sinfonia tocada pelos faunos a luz da lua. Danielle sabia que Ela e Ed tinham algo, algo forte demais para explicarem, mas ela não podia admitir, ela não queria estar balançada com aquele garoto birrento que lhe fazia ferver os nervos... mas o pior de tudo era que estava.

Uma brisa quente de verão balançava alguns fios de seu cabelo que se prendia em uma trança vindo desde a raiz do mesmo, até que... algo tocou seus ombros, algo quente e frio ao mesmo tempo, algo que fazia sua pele ferver e congelar no mesmo instante. Edmundo a tocava querendo chamar a sua atenção.

-O que faz aqui?! –Danielle berrava tomada pelo susto guardando o retrato que seria a sua guilhotina se Edmundo o visse.

-Bom, eu estava andando a cavalo.- indicava o animal amarrado a outra árvore.- Agora é sua vez de responder.

-Bom eu... olha não é da sua conta.- a garota dizia irritada já de pé ,indicando que já sairia do local.

-O que é isso aí?- Edmundo tentava puxar os papeis que estavam nos braços de Dani, braços que pareciam estar formando uma forte corrente.

-Eu já disse que não diz respeito a você.- seus passos longos eram dados para bem longe dali, deixando Edmundo confuso e irritado. Ela não havia feito absolutamente nada com aquela garota e ela o tratava assim, apesar da sua irritação a sua atração era maior. Assim com Danielle , Edmundo estava balançado.

-Não achas que é um trabalho muito braçal para a Senhorita?- Miles perguntava formalmente à Lúcia que ao seu lado trazia grandes quilos de feno nos braços.

-Por favor, não seja tão formal assim... afinal eu não sou nenhuma dondoca.- Lúcia sorria e encantava cada vez mais o ruivinho que lhe olhava como um bobo.

-A rainha não está achando tudo isso nojento?

-Claro que não, é até divertido.- Lúcia respondia arrancando um sorriso do ruivinho. -Sério é legal.- sorria de leve.- Miles , posso te fazer uma pergunta?

-Claro que sim.

-Você já se apaixonou alguma vez ?- com a pergunta Miles a olhou imediatamente.

-Sim. Apenas uma vez.- respondia olhando fixamente para Lúcia que colocava uma ultima vez fenos nos vasilhames onde os cavalos comiam.- Por que está me perguntando isso?

-Porque eu estou vendo todos gostarem um dos outros, o Ed e a Dani se gostam, o Pedro gostava da Dani e agora da Mag , ele tem problemas eu sei- Miles riu.- e a Susie e o Caspian se gostam. Eles apaixonam-se tão fácil. É meio difícil ser a única que nunca sentiu isso.

-E você sabe como é se sentir apaixonada ?

-Pra falar a verdade não. Não basta só gostarmos da pessoa?

Vozes tomavam conta da cabeça de Lúcia, ela olhava para Miles que jogava os fenos no chão já dentro dos estábulos, ele não abria a boca e não dizia uma só palavra. Então o suor já era visível em sua pele, uma tontura tomou conta de seu ser e se apoiar em uma das paredes do local foi a solução para não ir ao chão.

-A rainha está bem ? Ah meu Deus, eu sabia que não era uma boa ideia.- Miles falava atordoado enquanto ajudava Lúcia a sentar-se no chão.- Socorro!- Miles berrava mas aos poucos ao ouvido de Lúcia a voz dele era abafada por outras vozes agora retornando mais forte a sua cabeça.

-Eu não só me apaixonei, eu ainda estou apaixonado.- ele colocara o ultimo alimento para o cavalo parando em frente a Lúcia .-Por uma garota inteligente ,gentil ,sincera e linda.

-Então quem é?- Lúcia perguntava entusiasmada , ele ainda não tinha percebido de quem Miles falava, sim , ela percebeu um clima quando se viram pela primeira vez , mas os tempos foram passando e ela só via uma amizade entre os dois.

-Não está óbvio?- ela ficou em silencio, seus olhos arregalaram-se , sim naquele momento ele finalmente percebeu, ouve um degelo em sua barriga, e suas mãos ficaram frias, sua respiração foi pausando aos poucos, enquanto Miles sorria em sua frente seus olhos ficaram mais azuis dando um belo contraste com seus lindos cabelos ruivos que desciam pela sua testa formando ondas. Suas mãos se levantaram e tocaram a pele gélida de Lúcia que prestava atenção em cada toque para guarda-los. Passos mais a frente foram dados por ele, fazendo a garota prever o que aconteceria a seguir.

-Miles eu nunca fiz isso.- falava revelando que era seu primeiro beijo.

-Não há problemas Lúcia.- seu olhos emanavam um brilho que deixavam o azul mais penetrante.

-Eu posso não ser boa nisso, você é o pri...- disse sendo interrompida.

- Eu quero ser o primeiro... Quero ser o primeiro a te levar todo o caminho como esse.- Miles dizia por fim colando seus lábios com os dela.

Ela se lembrava, daquela tarde nos estábulos, dos lábios de Miles nos seus, o seu abraço, as suas palavras, o sacrifício, o amor. E de repente ela o olhava nos olhos, mais azuis impossíveis ,vasculhavam o seu rosto a procura de compreender o que estava acontecendo.

-Você está bem?- a voz suave de Miles mais uma vez perguntava, aflito.

-Eu lembrei Miles...

-Do que Lúcia?

-Disso.- e ela então colou seus lábios nos dele recordando de tudo o que viveram. As memórias de Lúcia retornaram.