Capítulo XXIX- “A profecia se cumpriu ,mas nada no mundo é de graça, ainda querem sua alma”

“Pior que a dor de não ter vencido, é a vergonha de não ter lutado.”

Os olhos estavam esbugalhados pra fora das caixas, seus dentes enormes eram amarelados e mau cheirosos, os bigodes que lembravam o de dragões nasciam debaixo de suas narinas infladas. Suas glândulas eram enormes, seu corpo escuro e escamoso era horrivelmente nojento. Aquele monstro suspenso sobre eles era a morte presente.

Era estranho ter , sentir, aquela mesma sensação que sentiram na viagem do Peregrino da Alvorada. Sentir que podiam morrer mais rápido do que parecia, era agonizante. Tudo parecia que estava em câmera lenta. O monstro os observava sanguinário ainda sem ataca-los, os reis retribuíam o olhar, só que com medo enquanto os Narnianos que estavam no convés tentavam entrar em massa na parte debaixo da arca para que não fossem abocanhados como o centauro.

Naquele momento de silencio e troca de olhares o Justo pensava em como a vida é tão frágil, o quanto ela pode ser tirada num piscar de olhos. Pensava no fracasso já visível , pensava em tudo o que fizeram para proteger seu povo, e agora só restava a lamentação , a lamentação de ter feito tudo em vão.

A angustia tomava conta de suas gargantas , formando um nó insuportável pois pensar que tantas vidas seriam perdidas por conta de uma imprudência de um dos reis. Caspian. Que fora enganado e dado a vida a um cavalheiro do apocalipse que nessa situação era Stefan, seu herdeiro.

Então tudo acelerou novamente ,o monstro marinho dera uma investida onde Edmundo e Danielle estavam, fazendo ambos cambalearem para a borda na arca quase caindo no mar, enquanto os demais reis eram jogados com brutalidade em uma das paredes da arca, sem falar no enorme buraco no convés deixando à mostra a instalação dos narnianos com os mesmos abaixados protegendo as cabeças ou até mesmo correndo de um lado pro outro.

–Atacar!- uma centauro arqueiro com base de outros sete atrás de si saltou para o convés fazendo flechas choverem em direção ao monstro que simplesmente engoliu todas sem a menor dificuldade. O monstro grunhiu fazendo os oito serem lançados ao mar e assim desaparecerem.

–Não!- Edmundo gritou saindo de seu choque silencioso correndo em direção aonde eles foram lançados ,vasculhando as aguas com seus olhos negros ele era puxado por Danielle que tinha um grito de terror escapando de sua garganta enquanto via o monstro vir em sua direção.

–Edmundo!- Pedro o chamou nervoso chamando felizmente sua atenção a tempo de desviar-se de mais uma investida daquele demônio marinho.

Ed corria pelo convés tentando alcançar os outros do outro lado, mas a cada tentativa de um passo jatos de água que esmagaria um humano só com sua pressão eram soltos pela narinas infladas do ser negro que surgira na água. O céu nublado ainda fazia parte daquele cenário mortífero. E como companhia uma fina chuva começava a cair sobre eles.

–Miles ...-Ed sussurrou para si mesmo.- Miles!- suplicou enquanto puxava Danielle consigo tentando se manter em pé por causa do balanço insano da arca, o ruivo imediatamente levantou seus olhos azuis tempestuosos para Edmundo e pareceu não ouvi-lo, ou até mesmo ignora-lo.

Miles apenas ajoelhou-se ,fechou os olhos e continuou ali imóvel.

–Droga!- Pedro disse desesperado quando olhou pro lado e viu Maggie fazer o mesmo. Seus longos cabelos negros chicoteavam com o vento enquanto na mesma posição de Miles ela parecia meditar, ou até mesmo esperar o seu fim. E os reis pensavam na segunda hipótese.

–O que estão fazendo?!- Caspian berrou sacando sua espada e investindo no monstro que agora atacava em sua direção.

–Parece que se entregaram!- Dani tentava não chorar enquanto a chuva batia agora fortemente em seu rosto, grudando seu cabelo loiro em sua testa. Quando seus lábios se fecharam os trovoes estrondosos retornavam com relâmpagos como nos últimos dias que estavam ali.

–Não! Não vamos desistir!- Edmundo gritou e a raiva queimava em seus olhos enquanto sacava sua espada e golpeava o ar ,pois o monstro se desviava com rapidez , quase parecendo sorrir quando fazia isso.

–Mas não temos escolhas! Estamos sozinhos Ed , sozinhos! –Pedro berrou para o irmão com a voz tremula pelo frio que fazia e também pela tristeza que era maior do que parecia ser.- Olhe pra eles!- apontou para seu povo abaixo do convés sendo molhados pela chuva intensa que caia, ajoelhados rezando, suplicando para que tudo aquilo acabasse.- Eles oram por uma saída Ed, saída que nunca será mostrada.- Pedro disse e o monstro grunhiu pois foi atingido por Caspian que se encontrava no teto da arca. Em instantes o monstro retornou ao mar mergulhando profundamente em águas escuras.

Caspian arfava cansado , ele vasculhava furtivamente o mar abaixo de si. Mas nada. Até mesmo o mar parecia mais calmo, apesar da tempestade que havia se formado sobre eles.

Silencio, foi o que pairava ali, exceto pela chuva que caia e trovoes que ecoavam aos quatro cantos.

–Vencemos?- Dani perguntou levantando-se de onde havia sido jogada por conta do balanço da arca.- Vencemos?- na segunda pergunta um sorriso se formou em seus lábios.

–Eu...eu...eu não sei.- Pedro disse baixo, mas num tom em que todos pudesse ouvi-lo. Ele estava incrédulo, e até mesmo sem graça pois foi o mesmo que acabara de dizer que estavam sozinhos, perdidos, que as pessoas incluindo Mag e Miles oravam em vão.

–Acho que sim!- Caspian disse vitorioso pulando sem dificuldade novamente para o convés.

Em alguns passos Edmundo, Caspian, Danielle e Pedro juntaram-se no meios do convés, ao lado do buraco feito pelo demônio marinho. E em sincronia olharam para baixo, para o povo que ainda orava, não comemoravam, apenas mexiam ainda seus lábios em suplicas de olhos fechados. Foi então que olharam para Mag e Miles que faziam o mesmo. Algo estava errado.

(coloque Whisper -Evanescence)

–Não entendo.- Dani disse num fio de voz quase fazendo a água da chuva ficar mais alta que sua pronuncia.- A profecia dizia que o guerreiro celeste ceifaria o monstro com a espada do Justo. – todos que estavam junto a ela encararam-na.- E foi Caspian que ceifou o monstro.- completou e quando seus lábios se fecharam Miles e Mag abriram os olhos. Azuis e verdes fluorescentes emanavam das orbes dos dois.

Ambos levantaram-se e o povo também abriram os olhos observando os dois.

–Afinal, o que está acontecendo?- Edmundo perguntou com todos os seus membros tensionados. Sua resposta foi o monstro saindo outra vez das águas só que agora com duas cabeças.

–Mas...- Caspian começou mas não terminou a frase ficando intacto onde estava com a chuva caindo em seu rosto com relâmpagos iluminando o mesmo.

–Maggie...-Pedro e Dani a chamaram em uníssimo e ela se virou por dois segundos encarando os dois e ligeiramente voltando olhar o monstro que se contorcia e parecia ficar cada vez maior a cada trovão soado.

Então algo esperado aconteceu Miles abriu suas asas com aquele mesmo brilho iridescente como da primeira vez que surgiram, e algo inesperado fizeram todos arregalarem os olhos por mais que os mesmos fossem atingidos por fortes rajadas de águas vindas do céu. Algo atrás de Mag se desenrolou, irregular e ao mesmo tempo deslumbrante, negras com brilhos dourados já estavam as asas de Maggie.

Os reis e rainhas terão momentos difíceis, mas nada estará perdido, quando menos esperarem virá um guerreiro celeste para lutar contra o mal. Esse será o seu anjo da guarda, com olhos azuis como o mar, cabelos como o fogo do sol , e pele pálida como a neve. Mas acima de tudo terás um coração nobre.

Pode parecer confuso, mas nenhum deles de fato entendeu a profecia. Miles e Mag faziam parte da mesma profecia. Quando citado que um guerreiro celeste virá para lutar contra o mal refere-se a Maggie, pois a mesma faz parte da profecia Eclipse que é mais complexa do que parece.

E quando é falado Esse será o seu anjo da guarda com olhos azuis como o mar, cabelos como o fogo do sol e pele pálida como a neve refere-se obviamente a Miles, “esse será seu anjo da guarda” não refere-se a frase anterior ,mas sim como demonstração do próximo a ser citado.

Mag é a guerreira, Miles é o anjo da guarda dos reis.

Foi então que entenderam quando a espada azul apareceu na mão de Miles e o mesmo a entregou a Mag que tinha os olhos verdes tempestuosos olhando pro monstro à sua frente. Um tempo atrás Mag teve uma premunição onde dizia : Não é preciso mais adormecer para sonhar com um anjo descendo do céu, temos todos que perceber que ele é mais que um amigo fiel. É aquele que traz a alegria de Deus e entrega direto aos nossos corações, e conosco ele irá rir ou chorar, lado a lado vamos caminhar. Uma espada como a do Justo ele segurará e ela o monstro ceifará.

Mas uma vez: quem ceifará o monstro é a espada e não Miles. As profecias são mais complexas do que imaginamos, tem um significado muito diferente do que nós que as vemos interpretamos.

Miles estava ali para lutar. Proteger os reis, da a vida por eles a qualquer custo, como um fiel anjo da guarda faria, enquanto Mag e sua espada ceifaria o monstro. Ela era o guerreiro celeste da profecia.

O demônio marinho mais uma vez grunhiu e se pôs a atacar e em frações de segundos Miles e Mag estava voando . Miles com suas próprias mãos lançava uma espécie de luz azul como seus olhos que quando atingindo as duas cabeças do monstro o fazia grunhir de dor. Em poucos minutos ele estava cego atingindo a arca a fazendo em pedaços aos poucos. O que deixava os tripulantes em pânico.

Mag estava parada no ar com seus olhos intensos como esmeraldas olhando fixamente para o monstro que se debatia às cegas. Foi então que ele sentiu sua presença celeste. E pôs-se a atacar em sua direção e sem dificuldades ela cravou a espada de luz azul com a do justo em seu coração. A profecia se cumpriu.

–Por Aslam! Por Nárnia!- Pedro gritou vendo diante de seus olhos aquela criatura horrendo se desfazer em micros pedaços de luz verde como seus olhos. Enquanto isso Miles e Mag ainda pairavam no ar lançando olhares tempestuosos para o povo abaixo deles.

–Por Aslam! Por Nárnia!- os Narnianos finalmente se pronunciaram em coro não comemorando de fato, mas mostrando que estavam unidos, que suas preces foram ouvidas ,mostrando a valentia quando batiam no próprio peito.

Pedro e Caspian se abraçaram enquanto Ed e Dani faziam o mesmo. Quando o fizeram olhavam sérios pro céu onde Miles e Mag ainda se encontravam. Mas ambos olhavam agora fixamente pro horizonte nublado enquanto a chuva agora caia fina sobre eles.

–Acabou Ed, não vão mais levar minha alma.- Dani cortava o olhar fixo nos anjos abraçando o garoto de olhos negros que sorria mas ainda assim estava tenso pelo comportamento dos dois lá em cima .

–O que há?!- Caspian perguntou em tom exclamativo ao mesmo tempo. Ele ergueu uma sobrancelha quando Mag que ainda segurava sua espada e Miles que tinha um brilho azul em suas mãos viraram para eles sincronizadamente.

–Ainda não acabou. Eles virão atrás de você Danielle. Hoje.- Mag disse com sua voz um pouco rouca porem firme. Todos a olhavam atenciosos, até mesmo o povo que agora tinha subido ao convés.

–Mas derrotamos o monstro, a profecia se cumpriu.- Pedro disse meio nervoso.

–Isso, a Dani tem que está salva.- Ed completou ansioso.

–Todos querem uma fatia da sua gloria, sua mãe apostou sua vida, sua graça, sua culpa ,sua calma ...sua alma. – a garota de olhos verdes tempestuosos disse um trovão rasgou o céu seguido de um relâmpago.- Eles virão atrás de você Danielle, eu posso ver.- Mag completou e a herdeira da Feiticeira Branca estremeceu.

–A profecia se cumpriu ,mas nada no mundo é de graça, ainda querem sua alma.- Miles disse e algo verde vinha do horizonte qual olharam minutos antes. Eles estavam vindo. Mais cedo do que esperavam.