Capítulo XXIV- Traitor.The Heir of Caspian. (Parte 2)

“Acorde-me por dentro, chame meu nome e salve-me da escuridão, obrigue meu sangue a fluir, antes que eu me desfaça ,salve-me do nada que eu me tornei.” – Bring Me To Life (Evanescence).

Edmundo em concordância com os reis e guerreiros de Nárnia decidiram dar ao menos dois dias para que Caspian tirasse seus pés das terras Narnianas. Coisa que não aconteceu. Logo que o povo foi comunicado pela suposta traição de Caspian X O Navegador , exigiram que ele não fosse mandado embora pois assim ficaria livre para fazer o que quisesse, livre por injustiça já que o mesmo que era responsável por grandes obras malignas naquele reino.

Mandaram-no para o calabouço onde ficaria preso até os seus últimos dias caso Susana e Lúcia não voltassem ao normal, e se o caso fosse resolvido o condenariam à morte assim que as rainha se estabilizassem novamente.

Lúcia, Edmundo e Pedro por serem os principais reis de Cair Paravel e de todo o povo Narniano estavam com um certo pesar, eles tinham que ser justos, isso sem sombras de dúvida, mas em seus interiores lhes doíam aquela realidade, lhes doía acreditar que um amigo e grande homem que Caspian fora todos esses anos havia desaparecido o transformando num homem movido pela luxuria e não pelo tão sagrado amor.

Em certas partes estavam enganados e se deixaram levar pelo momento, já que nem sequer deram a chance de Caspian explicar-se e por mais que ele fizesse, não acreditariam , pois ninguém em sã consciência iria crer que uma mulher mais frágil que um homem do porte do rei o faria ter uma relação sexual contra a sua vontade. No mínimo acreditariam que ela o seduziu, mas nem isso amenizaria pois ele seria errado de ambas as formas , já que deixou-se levar de forma leviana pela filha de Miraz possuída . Filha que até este exato momento não sabiam ser um dos pecados capitais. A Luxúria.

Só estavam cientes de que “Katherine” era a causadora de tudo o que acontecia de ruim nas terras do majestoso Leão. E pensavam também que a mesma não agia sozinha. Havia alguém por trás daquilo tudo, alguém que de certa forma invejava Jadis , invejava no sentido de fazer a mesma coisa que a Feiticeira Branca. Tomar Nárnia. Só que o inimigo agora era mais perigoso do que imaginavam.

E nesses dois dias, muitas coisas aconteceram...

Lúcia urrava de raiva enquanto era segurada por mais de vinte faunos e dois centauros que com dificuldade a prendiam numa das selas do calabouço, para ser mais exata em frente à que Caspian era mantido em cárcere. O mesmo estava horrorizado pelo o que via na sala em frente.

Os olhos verdes de Lúcia tomaram um azul sombrio, como o de um psicopata. Seus pelos eram mais grossos, seu físico se tornou mais musculoso e um rugido enfurecido como o de um urso ameaçado escapava de sua boca que agora continha presas enormes. Depois de tanto lutarem conseguiram acorrenta-la e trancarem a porta de sua prisão. Uma porta que assim como a de Caspian continham três barras de ferro formando uma pequena janela onde podia se ver quem estava dentro e quem estava fora. Lúcia ficara tão violenta que foram obrigados a prende-la.

A verdadeira transição havia começado. Minutos antes de ser presa ela tentara matar Miles com garras enormes que surgiram num piscar de olhos em suas patas. Se Pedro não chegasse a tempo o ruivo não estaria mais ali. O olhar frio, os urros assustadores eram os verdadeiros sintomas da fera que ela havia se tornado. Seu consciente não existia mais , havia se tornado um completo animal onde a sede era assassina por sangue e carne humana. Caspian lhe dera uma ultima olhada pelas grades de sua porta, antes de cair de joelhos, em prantos , pedindo aos céus que aquilo nunca tivesse acontecido.

–Miles tenha calma.- Danielle trazia um copo com água enquanto Mag e Edmundo encarregavam-se de fazer o curativo em seu braço esquerdo onde as garras de Lúcia conseguiram lhe machucar. Estavam todos em seu quarto.

–Como eu vou me acalmar se a Lúcia tornou-se um fera, ela não está bem, eu preciso ajuda-la.- ele respondeu com lágrimas nos olhos não sabendo se era de tristeza ou pela dor que sentia. Por um instante o ruivo tentou levantar-se mas foi impedido por Pedro que o olhava com dó , com dó de Lúcia, com desespero, com um misto de confusões e angustias em seu peito.

–Ela vai te matar. Miles, sinto muito, mas aquilo não é a Lúcia.- Maggie parou o que fazia e por um instante afagava o dorso de suas mãos para que ele ficasse calmo.

–Eu não posso deixa-la sozinha.- o ruivo de intensos olhos azuis sussurrou enquanto abaixava a cabeça e uma lágrima escorria por sua face.

–Majestade! Majestades!- uma das criadas do castelo subia as escadas até onde seus reis estavam. Ela ofegava pela pressa que viera e trazia os olhos já marejados enquanto parava quase sufocada na porta do cômodo em que todos encontravam-se.

–O que aconteceu?- Edmundo instantaneamente pôs-se de pé e a fitou preocupado.

–A Rainha Su...- antes que a mesma continuasse a falar Pedro e Edmundo saíram em disparada ao salão principal.

– Vá tomar uma água e descanse.- Danielle instruiu a criada que saiu dali assim que foi dito. Assim Dani e Mag terminaram de enfaixar o braço do garoto e então saíram os três daquele cômodo às pressas, como os dois irmãos saíram minutos antes.

Ed e Pedro estavam paralisados em frente ao corpo de Susana que ainda adormecia. Imobilizados pelo medo do que viria a seguir ambos abraçaram-se assim caindo em prantos. Edmundo não mais contia suas lágrimas, a cada soluço que dava queria morrer subitamente e fim. Pedro o abraçava forte conforme seu irmão parecia cair a qualquer momento. Já não aguentavam mais.

Apressados logo em seguida Dani, Mag e Miles ficaram preocupados quando viram os dois irmãos daquele estado, não sabendo o quão horrorizante a cena eles viram.

–O que está acontecendo? – Maggie perguntou confusa e temerosa pela resposta que seria dada, seus olhos marejados eram a prova disso.

Edmundo simplesmente fitou os três que acabaram de chegar e que ainda não tinham se aproximado do corpo o bastante para ver o que estava acontecendo com Susana. Então o justo com passos dificultados pela sua força de até mesmo manter-se em pé está indo embora aos poucos, ele puxou com delicadeza Danielle e a pôs ao lado da cama que Susana deitava.

Assim a Herdeira de Jadis levou subitamente a mão à sua boca ao ver a realidade que se aproximava. Um lágrima involuntária saia de seus olhos quando Miles e Mag puseram-se de seu lado estando no mesmo estado que ela.

Ali encararam uma Susana com os lábios antes rosados agora roxos, ao redor dos olhos grandes e fundas olheiras e sua pele branca num tom azulado, e com certeza a pele mais gélida que o normal. Ela ainda respirava, mas a força da vida a deixava aos poucos. E se não corressem contra o tempo ela iria para todo o sempre.

***

–Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!- “Katherine” gritava enquanto estava sentada de pernas abertas com o seu vestido coberto de sangue , sentada num chão mucoso e fedorento , no submundo. Alguém a observava sorridente bem à sua frente.- Está nascendoooo!- “ Kat” dizia com dificuldade e apesar da dor que sentia sorria ao direcionar seu olhar à sua barriga enorme e redonda que remexia de um lado ao outro.

–Perfeito.- o ser que a observava abria mais o sorriso.- Mais força!- ordenou e o sorriso sumiu rapidamente.

–Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! – “Katherine” contorcia-se no chão onde cravava com força as suas unhas , buscando de algum modo amenizar a dor. –Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! Majestade! Eu não aguento mais!- disse entredentes sentindo algo saindo de si.

–Aguente só mais alguns segundos.- falou calmamente aproximando-se da “garota”.

–Mas eu- eu vou morreeeeeeeeeeer!- gritou mais uma vez entredentes prolongando a frase com um dor fina que sentia. O Pecado da Luxuria estava desesperado, pois ali percebia o plano de seu mestre. Ele entendeu tarde demais que só seria um procriador e que quando aquele bebê saísse de vez de si sua alma seria mandada de volta de onde veio. Onde há choro e ranger de dentes.- Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!- mais um grito foi dado e um choro de bebe foi ouvido. Um ultimo suspiro e o pecado da luxuria se foi.

Em poucos minutos a Feiticeira Verde pôs o bebe em seus braços e com um sorriso nos lábios o ninou e o fez cessar seu choro. Ele não era um bebe qualquer era um anticristo que veio para destruir toda a Nárnia , em poucos dias ele nasceu, e em poucos dias estaria como se tivesse dezessete anos de idade, forte o suficiente para entrar numa guerra que renasceria novamente.

O corpo de Katherine estava ao chão, coberto pelo sangue causado pelo nascimento do menino que fora carregado dos braços da feiticeira que não se encontrava mais ali. Ela respirava com dificuldade, estava assustada por tudo o que aconteceu. Sim, ela podia ver, ela estava presa em algum lugar dentro de si mesma, aprisionada por aquele espírito maligno que possuía seu corpo. Ela estava cansada, mas mesmo assim sentia-se suja por tudo o que vira aquele ser fazer com seu corpo, até mesmo a forma suja como seu corpo se relacionou com o de Caspian.

Lágrimas escorriam pelo seus olhos entreabertos, até uma imagem de uma senhora, a mesma que dera a Pedro um relógio no trem sorria pra ela naquele momento.

–Quem é você?- perguntou num sussurro.

–Sou alguém que lhe levara de volta a Cair Paravel. Você terá pouco tempo, diga o necessário, conte a trama, antes que seja tarde demais, peça a Pedro pra destruir o tempo.- a senhora respondeu sorrindo.

–Eu direi.- respondeu com dificuldade engolindo em seco, e o suor tomava conta de sua pele.- Como se chama?- perguntou pensando ter visto por um momento uma criança no lugar daquela anciã.

–Lilly.- a idosa respondeu e tocou sua mão. Tudo tornou-se uma imensidão de branco.

***

–Como ela veio parar aqui?!

–Ela está ferida!

–O que será que aconteceu?

Katherine podia ouvir murmúrios ao seu redor, murmúrios de vozes que já escutara outras vezes.

–Está acordando.- Edmundo falou enquanto Katherine abria os olhos lentamente enquanto permanecia jogada ao chão, naquele estado deplorável depois do parto. Todos os observaram pasmos de olhos arregalados.

–Onde está a senhora que me trouxe aqui?- foi a primeira coisa que a filha de Miraz perguntou com um pouco de dificuldade, já que lembrou brevemente do que ela lhe disse.

–Não há velhinha nenhuma, você apareceu aqui no salão do nada. Agora você será presa.- Pedro falou esclarecendo como a garota chegara ali.

–Não! Por favor!- Katherine pediu fraca tentando se levantar.

–Você faz tudo o que fez e ainda pede para que a poupemos? –Danielle perguntava indignada enquanto todos a fitavam.

–Pro calabouço, com seu amor.- Edmundo verbalizou com sarcasmo enquanto preparava-se para chamar os guardas.

–Não!- agora Maggie quem o impediu.- Eu vi Ed, ela tem um recado importante.- continuou e olhou com intensidade a garota que sangrava no chão gélido daquele grande salão.- Agora é ela, não está mais possuída.

–Não pode ser...- Pedro hesitou mas Mag tocou seu ombro e lhe lançou um olhar que dizia que todos deviam escutar.

–Comece.- Edmundo com o nariz empinado a olhou de cima severo.

–Vou ser breve.- respirou fundo e tossiu por alguns segundos.- Não fui eu quem fez tudo isso, foi o pecado da Luxuria que me possuiu e usou Caspian para que ele o ajudasse a dar a Luz a um bebe. Sim, ele nasceu, ele é um anticristo que veio para derramar o mal sobre Nárnia.

–Santo Deus.- Pedro sussurrou enquanto Maggie apertava com força uma de suas mãos.

–E não é só isso.- Olhou para Danielle que imediatamente segurou a mão de Edmundo.- Quem está fazendo isso quer a sua alma.- a loira estremeceu enquanto Edmundo arregalava os olhos.

–Por que a minha? Está mentindo!- Dani a acusou nervosa.

–Porque Jadis deu vendeu a sua alma. Se ela conseguisse tomar Nárnia e a dividisse com ela , sua alma seria poupada. Mas se falhasse...- a tosse impediu que completasse sua frase , mas isso não interferiu em nada , todos já haviam entendido. O medo tenebroso lhes voltava a boca do estomago de cada um.

–Me mandaram dizer a você Pedro...- respirou fundo com dificuldade.

–O que ?- o mesmo perguntou já tendo o horror em seus olhos.

–Que você destrua o tempo. Só assim derrotará todo o mal.- Katherine respondeu tossindo , seus olhos lacrimejavam e a dor fina lhe voltara.

–Vá buscar alguém para trata-la.- Edmundo disse a Miles ,mas antes que o mesmo saísse a procura de cuidados para a garota a mesma o interrompeu.

–Não! Não resta mais nada a ser feito. Onde está Caspian?

–Está preso.- Edmundo esclareceu sentindo uma ponta de vergonha pela injustiça que cometeram.

–Solte-o é meu ultimo pedido.- Katherine falou vendo tudo mais escuro.

–Espere!- Dani disse entre lágrimas abaixando-se até a garota.- Sinto muito.- referiu-se o que sabia que aconteceria a seguir.- Quem quer minha alma?- sussurrou com um aperto no peito , mas o bastante alto para todos escutarem.

– A Feiticeira Verde- Katherine deu um ultimo suspiro e a força da vida a deixou. Ela se foi.