Capítulo XII- Um sonho se torna uma lembrança. Revelações nem sempre libertam.

“Verdadeiramente, Loucamente, Profundamente...Estou dormindo, estou acordado, ou algo assim?”

-Então se divertiu sem mim?- Caspian ouvia sua própria voz com um efeito de eco.

-Claro que não, alias mesmo se eu quisesse tenho irmãos corretos demais para me deixar fazer algo de errado. Especialmente o Ed.- Susie respondeu com um leve sorriso nos lábios, fazendo Caspian sorrir também.

-E algo de errado comigo, faria ?- Caspian agora se via arquear uma das sobrancelhas com um sorriso malicioso nos lábios.

-Depende do erro. O que quer que eu faça ? Pule no rio nua e com você ? – Susie falava ironicamente , não colocando muita fé na proposta feita por Caspian.- Aslam não aprovaria !- brincou mexendo as mãos.

-Susie, eu falo sério. –Caspian a puxou para si segurando o seu rosto, e olhando cada detalhe , desde aos olhos verdes e sardas , até aos lábios rosados e carnudos dela.

Com isso aquela imagem se distorcia em milhões de cores ,girando sem parar ... Minutos depois outra cena se formou.

-Onde estou?- Caspian sussurrava abrindo aos poucos seus olhos.

-Oh! A princesa acordou !- um gigante berrava deixando uma grande quantidade de saliva cair na cabeça de Caspian deixando seus cabelos ensopados com a tal nojeira. Por um momento Caspian sentiu uma forte ânsia de vómito subir pela sua garganta.

-O que querem comigo?! – gritava valente observando aqueles olhos enormes e nojentos.

A ultima fala do navegador se desmanchou em outra porção de cores e soou como eco aos seus ouvidos.

-Caspian , Caspian, Caspian, meu amor... – Caspian agora via Danielle ele ainda se encontrava preso naquela cela imunda.- Em breve estará liberto, mas como o meu rei.

-Jamais serei o seu rei ! Prefiro a morte !

-Você não está sendo sábio coisa linda.

-E eu seria inteligente se aceitasse sua proposta? Não faça-me rir.- com o que Caspian falou Dani o observou por um momento , abriu a boca para dizer algo mas logo depois fechou.- Não vai me responder?- ele provocava.

-Sabe que você ficou até bonitinho de cabelo curto! Eu gosto assim.- falava com um sorriso sínico no rosto entregando um pote de água ao prisioneiro.

O Rosto de Danielle tomou mil formas antes de explodir em mil pedacinhos deixando agora uma luz passar por uma brechinha em meio a escuridão que se formava a sua frente. A luz logo virou um clarão que o fez cego por um momento. Quando a imagem voltou-se a equalizar a neve estava no lugar. Por todo o chão, era possível sentir o vento de inverno esvaindo-se pelo seu rosto. Quando prestou atenção podia ver Jadis e Danielle a sua frente indo em direção a Cair Paravel.

Ele se encontrava sentado, mas de repente começou a cair num espaço infinito, profundo . O ar fazia seus cabelos chacoalharem com a forte ventania que se formava na queda. Seus gritos roucos não conseguiam sair, seu grito era abafado, por mais forte que berrasse nada nem ninguém o escutaria. O que estava acontecendo? Por que Danielle estava ao lado de Jadis? E por que ela caia naquele momento?- era o que ele pensava naquele instante de pânico, até que... seus olhos se abriam.

Sua pele estava suada sobre os lençóis brancos postos à cama , seus olhos abriam-se lentamente até a imagem da janela fechada se equalizar no seu campo de visão. Suas mãos passavam pelos seus cabelos sedosos que caiam aos ombros, o quarto pouco iluminado era onde Caspian se encontrava agora.

Seus pensamentos estavam a mil por hora, o que aquele sonho tinha representado? Qual era o motivo de Jadis estar ali? Se ele sequer lembrara da sua existência... Perguntas feitas pelo mesmo que estava confuso enquanto se levantava e ia em direção ao banheiro que fazia parte de seus aposentos. A água fria era jogada contra o seu rosto que era fisicamente cansado, pois o mesmo não havia dormido direito a noite passada, que ficara lendo papeis e mais papeis a procura de um documento que provaria que Nárnia estava em paz com Telmar. Talvez aquele sonho tenha sido apenas um mero fruto do cansaço da noite anterior. – ele buscava acreditar nisso ,ele queria acreditar nisso.

Seus rosto era enxuto por uma toalha aveludada em tom pastel disponibilizada pelo castelo, até que escutou batidas a sua porta.

-Quem é?- Caspian perguntava vestindo-se ao ser que estava do lado de fora.

-Sou eu.- a voz foi logo reconhecida por ele que abriu a porta para que o ser pudesse entrar.

-O que faz aqui tão cedo? Algum problema com a Susie?- Caspian perguntava a Edmundo que estava de pé próximo a porta.

-Não... eu quero conversar.

-Sobre...- Caspian o estimulava a falar enquanto punha suas botas.

-A Katherine.

-A Katherine?- Caspian dizia virando-se imediatamente.- O que houve com ela? O povo não a aceitou? – ele perguntava curioso.

-Não, não é nada disso. Digamos... que eu esteja interessado nela.- com a fala de Ed Caspian soltava um risinho caçoador pela situação.

-Você! [...] interessado em alguém?!- ele continuava a sorrir descrente.- Nossa Ed, essa foi a sua melhor piada.- continuava limpando uma lágrima imaginária no canto dos olhos logo depois abrindo as janelas deixando os raios de sol entrarem. Apesar de ser uma tarefa dos criados, os reis gostavam de fazer tal ato.

Segundos se passavam e Caspian percebera que o garoto de cabelos negros ainda não tinha respondido. Seu olhar era fixo no mesmo o que o fez virar-se imediatamente e encará-lo de volta.

-Eu estou falando sério.- Edmundo acabava de confirmar o que Caspian tinha em mente. Seu semblante mudava completamente.- O que foi?- Ed perguntava percebendo mudança de humor do mesmo.

-Nada...- mentia incomodado.- E por que esse interesse? Quero dizer...só por curiosidade.

-Bom...-sentava-se na poltrona que havia no canto da parede ao lado da cama desforrada do Navegador.- Andei conversando com ela e... ela é bem diferente de outras meninas que já conheci. –Caspian era atento a todas as palavras pronunciadas pelo Pevensie.

-Como você define diferente?- o rei perguntava a Ed enquanto olhava ao nada. Ele não queria olhar nos olhos de Edmundo, pois sabia que iriam discutir. Era estranho sentir isso, mas ele percebia que seu afeto por Kat estava saindo da área fraterna. Ver Edmundo falar daquele jeito dela o despertava certo incomodo.

-Ontem mesmo eu falava com ela sobre o fato trazido pelo Pedro e que hoje a Susana, a Lúcia, a Maggie e o tal do Miles dizem ser verdade.- explicava.- E ela me fez poder mudar um pouco meus pensamentos.

-Então agora você acredita?-questionava lembrando do sonho que teve.

-Não! É...quero dizer, eu não sei ao certo. Mas o que eu tento dizer é que ela conseguiu abalar as minhas ideias sobre o assunto. E não eu não estou acreditando de fato, mas podemos dizer eu agora eu considere essa ideia do Pedro.- Ed falava recebendo até aquele instante apenas a escuta de Caspian.

-Somente por isso?

-E tem a beleza ...seus olhos mel vibram de forma intensa, seu jeito é delicado...- Edmundo exaltava Kat quando era interrompido por Caspian.

-Pensei que você gostasse da Dani.

-Claro que não!- Edmundo ficara irritado .- Ela é enjoada, birrenta, metida e teimosa!- exclamava enquanto sua resposta aliviava de certa forma a Caspian, pois o jeito que Ed ficava quando falava de Dani só podia dizer uma coisa.

-Nossa Edmundo... ela é muito diferente de você!- Caspian respondia irônico enquanto abotoava as vestes.

-Há, há... poupe-me de sua confirmações sem anexos Caspian.- Edmundo sorria meio irritado ,meio brincalhão enquanto o olhava arqueando uma de suas sobrancelhas.

-Eu só acho que você não está devidamente interessado na Katherine, isso é apenas uma ilusão. Acho que isso possa apenas ser um afeto fraterno.

-Acho que não. Acho que é bem algo a mais do que isso. – Ed respondia fitando o nada com um sorriso fazendo Caspian o observar em silencio por segundos.- Então... como estão você e a Susana?- continuava a perguntar voltando a realidade.

Caspian estava sem fala, ele não sabia o que responder ao cunhado. Como ele diria a Edmundo que também sentia algo por Kat, e que possivelmente o seu compromisso com Susie estaria por um triz?

-Bom... estamos ...- pensou duas vezes no que dizer, até que decidiu falar a verdade.- Estamos mal Ed, eu não sei mais o que fazer.

- Por que? – Edmundo perguntava curioso e meio decepcionado.

-Não sabemos. E eu não quero magoa-la.

-Está pensando em terminar tudo com ela?- Ed perguntava lendo os seus pensamentos.

-Eu não sei.- ele suspirava sentando-se na cama passando as mãos pelos seus cabelos.

Edmundo o encarou por alguns segundos antes de perguntar...

-Isso tem a ver com a Katherine?- estava temeroso.

-Não, quero dizer eu não sei...- Caspian respondia com sua voz suave exalando desespero.- Não estávamos bem já há algum tempo, a Kat chegou e tudo pareceu piorar.- Caspian não queria olhar Edmundo que a essa altura estaria o olhando com decepção. E estava.

-Como pode fazer isso com a Susie ?!- a voz de Ed se alterava por todo o cômodo.

-Eu não queria!- Caspian respondia nervoso.- Se você acha que é fácil manter uma relação todo o tempo me desculpe destruir seus contos de fadas mas não é!

-Ah agora você quer que eu aceite que você traia a Susie e eu não diga nada?!

-Eu nunca traí a Susana.- Caspian tentava se conter.

-Então você quer que eu acredite que você foi para Telmar sem ser a procura da Kat?- Ed também abaixava seu tom de voz. O que surpreendeu Caspian. –Sabe o que eu acho disso tudo? Acho que todos vocês são uns mentirosos.

-Não nos confunda com você .

-Eu nunca menti pra ninguém .Não agora.

-Mas mente pra si mesmo. Não consegue abrir os olhos e enxergar o que está a sua frente. Eu fui sincero, eu fui sincero Ed! Se você acha que eu não conversei com Susana está totalmente enganado.

-O que você está querendo dizer?

-Quero dizer que você deve parar de ser menos infantil e encarar a verdade.

-O que está acontecendo aqui?- Pedro adentrava o local.- Ouvi vozes alteradas de lá do quarto.

-Pedro eu lembrei.- a voz de Caspian foi a primeira a quebrar o silencio implantado ali.

-Não tente desconversar Caspian.- Edmundo provocava.

-Eu já disse tudo o que tinha pra dizer para você Pevensie.- foi tudo o que Caspian respondeu antes de dirigir-se a Pedro.- Eu lembrei de tudo.

-Como lembrou?- Pedro questionava esquecendo que Ed continuava ali.

-Um sonho...

-Isso é maravilhoso!- o loiro sorria por todos estarem lembrando aos poucos.

-E eu lembrei da Dani, do que ela realmente é.- aquelas palavras fizeram o birrento prestar atenção a cada palavra dita.- Eu lembrei que ela é a Herdeira da Feiticeira Branca.

O coração de Edmundo parou por dois segundos, o choque foi tremendo.

-Como?- Edmundo perguntava incrédulo ao escutar tal afirmação vinda de Caspian.

-É isso mesmo que você ouviu Ed, a Dani é sim filha de Jadis.- Pedro respondia.

-Não! Não pode ser! Isso é loucura! Só foi um sonho Caspian!- o garoto de olhos e cabelos negros tentava convence-lo e convencer a si mesmo.

-Ed...- Pedro começara a dizer mas não pode continuar a frase ,pois Edmundo saia dali de forma brusca. –Ed!- Pedro gritava mais uma vez mas inútil.

-O que houve com ele?- Lúcia perguntava enquanto todos saiam de seu quartos ao ver a movimentação.

-Caspian recordou...- Pedro começara a dizer.

-E o que isso tem haver com Edmundo deste jeito?- Susana agora era quem questionava.

-Eu contei quem realmente é ... Você!- Caspian apontava para a loira que arregalava os olhos com confusão.

-Ah não! Você não poderia fazer isso!- Mag dizia o repreendendo.

-Por que?- todos perguntavam curiosos.

-Por que forçar uma recordação, pode perde-la para sempre.- aquela frase fez aos que tinham consciência do que acontecia congelarem por um momento.

-O que está acontecendo? Dá pra alguém me explicar?- Danielle perguntava irritada.

-Desculpe. Mas não podemos por em risco a sua memória.- Pedro respondeu fixando um silencio alastrador.

Quem o visse não entenderia o que ele estava sentindo. Nem ele ao certo sabia o que estava sentindo. Ed não sabia como aquela revelação podia mexer tanto assim com ele , não decifrava o que significava o misto de confusão que sentia naquele momento. A raiva que sentia de Caspian minutos antes havia cessado. Seu coração estava a mil por hora. Por que era tão difícil saber que Danielle era a filha de Jadis se ao menos nem gostar dela ele gostava? Por que a imagem dela na sua cabeça estava frequente? Por que sua vontade de gritar era insaciável? Por que somente ele não lembrava de nada ? Por que parecia tudo tão familiar e tão irreconhecível ao mesmo tempo?

Sair cavalgando era a melhor opção naquele momento, as memórias de Edmundo estavam em jogo. O seu amor por Dani poderá nunca ter existido. Está tudo mais cuidadoso, por meras desatenções se perde um passado e consequentemente um futuro.