Fiquei aliviada por Davi não ter aparecido de novo durante a semana. Bruno estava sempre tenso, assim como os outros. Me senti uma criança de oito anos já que nenhum deles me deixavam ficar um segundo sozinha, especialmente o Guilherme. Aquela amizade que ele mostrou ter comigo a uns meses atrás tinha voltado mais forte ainda.

Já Bruno se mostrava distante ao mesmo tempo em que não saia do meu lado, ele não me beijava mais do jeito que normalmente fazia e eu não conseguia olhar na cara dele. Ele ficou assim depois que eu me recusei de faltar nessa ultima semana e viajar, ele queria me afastar daqui o mais rápido o possível. Tivemos uma briga e nenhum dos dois tínhamos se desculpado por algumas coisas que dissemos um ao outro. Mas quem tinha errado mesmo fui eu.

Depois de alguns minutos brigando, eu ainda tentava manter minha voz calma. Bruno achava que eu estava sendo idiota por não sair dali e insistir em ir à faculdade, um lugar onde Davi freqüentava, mas eu sabia que ele não seria idiota de fazer nada contra mim ali.

– Eu não vou suportar se alguma coisa acontecer com você, Cat – disse ele em uma inútil tentativa de manter a voz calma – eu quero que você viaje comigo.

– E se eu não for você vai me bater? – disse sem pensar. Vi que aquilo abalou Bruno e me arrependi de verdade, mas não pude desfazer o que disse.

– Melhor eu ir embora, a gente se fala – ele simplesmente se virou e foi embora.

Queria pedir desculpas, mas sempre fui orgulhosa de mais e ao mesmo tempo sabia que tinha errado.

Passaram três dias do desde que brigamos, já estávamos na quinta-feira. Eu me recusava a pedir desculpas, as vezes mais pela vergonha do que pelo orgulho. Mas isso sabia que se eu estendesse isso por muito tempo as coisas piorariam.

Mas não imaginava que seria hoje.

Acordei cedo e fiz como de costume, tomei banho, me arrumei, tomei café da manha e sai para a faculdade, Clara e Elena foram comigo no carro. Chegamos rápido e estacionamos na mesma região de sempre. O único que não tinha chegado ainda era o Bruno. Carlos e Rafa estavam sentados esperando por nós e disseram que Guilherme e Victor estavam em algum lugar se pegando. Fiquei de vela por alguns minutos e então vi Bruno chegando. Abri um pequeno sorriso para ele e ele abriu um para mim, mas pude ver que era um sorriso amarelo e tive a certeza quando ele desviou o caminho e foi para outro lugar. Não fui atrás porque sabia qual era o motivo. Vai ver aquilo já tinha ido longe de mais.

O sinal tocou e eu fui para a aula, consegui me concentrar nas duas primeiras, mas a terceira me deixou meio nervosa. O intervalo chegou depois do que pareceu horas, procurei por Bruno e o encontrei sentado sozinho em um banco, mexendo no celular, então me aproximei. Não fui rápida o suficiente para chegar nele antes de uma ruiva e então só assisti eles conversando e Bruno sorrindo para ela. Será que ele me trairia na faculdade? Não sabia se ele tinha me visto ou não, mas eles conversavam muito entusiasmados. Ela estava com as pernas cruzadas e os cotovelos apoiados, mostrando mais do que deveria do decote. Tive que segurar a vontade de ir até lá e bater neles, não sabia em qual primeiro, comecei a senti meus olhos e minha garganta arderem. E então me assustei quando ele apontou para mim e sorriu do jeito que normalmente fazia. A menina fez uma expressão de desapontamento, deu um sorriso forçado e saiu, enquanto eu caminhava até ele sentindo minhas bochechas queimarem. Sabia que a vergonha que eu sentia era por pensar que ele me trairia e lembrar do que disse para ele, então a vontade de chorar apareceu e quando cheguei perto de Bruno as lagrimas saíram. Ele me abraçou, apoiando minha cabeça em seu peito.

– Me desculpa – tentei dizer claramente, mas a voz falhou – eu não devia ter dito aquilo, nunca passou pela minha cabeça que você seria capaz de fazer qualquer mal para mim.

– Não vou mentir e dizer que não liguei pro que disse, mas eu percebi que você não disse por mal – então ele abriu um sorriso carinhoso.

– Eu te amo – disse o abraçando de novo.

– Sabe o que eu amo? Sabe que vamos passar uma semana longe de tudo isso.

– Por que só uma semana? Temos um mês inteiro para viajar.

– Serio? – concordei com a cabeça – então vamos sem fazer planos para voltar.

– Ótimo, mas agora tenho que voltar para aula.

Bruno me puxou pela cintura e deu um beijo que me tirou o fôlego e então se afastou de mim e moveu os lábios, dizendo que me amava sem soltar nenhum som.

Sexta-feira chegou e ninguém foi na faculdade, nem Rafael que era o mais estudioso de todos nós. Tirei o dia para arrumar as malas, como não sabia quanto tempo ficaria tinha que ir prevenida. Coloquei pijamas de calça, sabendo que em Campos do Jordão as noites eram frias, e lembrando do dia que usei a blusa do Batman dele, escolhi o pijama de regata branca e uma calça azul com vários símbolos do Superman. Coloquei varias roupas, três biquínis, roupas para sair, de ficar em casa, roupas mais confortáveis também e algumas lingeries mais sexy. Fiz uma mochila, para as maquiagens, jóias e cremes, e uma segunda, para sapatos. Eu sabia que era exagero, mas corro risco de passar o mês lá. Fui para a cozinha e fiz meu bolo preferido, de café.

De noite, Bruno apareceu lá e me deu uma bronca pelo exagero de bagagem. Ajudei ele a descer com as malas e depois subi com uma mochila dele, já que ele passaria a noite ali para viajarmos de manha enquanto ele estacionava em uma das vagas para visitante.

Meia hora depois estávamos comendo pizza. Como sempre, Elena achou um motivo para sair do apartamento, então estávamos apenas eu, Bruno, Clara e Carlos. Clara perguntava da nossa viajem e me implorou para que voltássemos logo e Bruno respondeu que ficaríamos 20 dias. Foi um tanto precisa a resposta dele, mas talvez ele precisasse estar de volta por algum motivo, talvez o pai. Carlos disse que eles viajariam para Minas Gerais, ele queria apresentar a namorada para os pais. Eu fiquei feliz por eles. Nós terminamos de jantar, eu recolhi a louça e coloquei o bolo em cima da mesa. Peguei o sorvete de flocos e servi todo mundo.

Quando fomos escolher um filme no Netflix vi que tinha chegado Frozen: Uma Aventura Congelante. Pedi para que assistíssemos esse, mas Clara tinha que ser a chata e estragar tudo.

– Você viu esse filme quatro vezes no cinema, parece uma criança!

– Você foi as quatro comigo e não reclamou uma vez, não vem falar que não gostou.

Bruno deu risada e fez algumas piadinhas sobre a minha suposta infantilidade. Isso me deixava brava, afinal o que tem de errado de ser apaixonada pela Disney? Nunca vi mal nenhum.

Escolhemos assistir Sobrenatural: Capitulo 2, era um filme de terror muito bom, algo difícil de se ver hoje em dia, mas não dava tanto medo assim. Depois disso fomos dormir.

Após fechar a porta do quarto, Bruno me puxou pela cintura e me ergueu enquanto me beijava. Quando ele me colocou no chão deitou na cama e me puxou para cima dele. Depois de alguns beijos ele me afastou.

– Tenho uma surpresa para você.

– O que é?

– A gente não vai mais para Campos do Jordão amanha.

– Como não? – me levantei e fiquei parada olhando para ele – eu queria muito viajar com você e você estava falando dessa viajem no jantar. Minhas malas estão até no seu carro.

– Não fica brava comigo.

– É claro que eu to brava – disse abrindo minha gaveta e tirando uma camisola rosa de seda – como você quer que eu não fique brava.

– Pega minha mochila, por favor?

Peguei a mochila e joguei com toda raiva nele.

– Esse é o motivo de não irmos mais para Campos – disse me entregando um envelope.

Peguei da mão dele e abri o envelope. Congelei quando vi duas passagens para Miami.

– Como assim? – disse com duvida.

– Nessas férias você vai para a Disney – disse Bruno se levantando e vindo até mim.

– Você vai para a Disney comigo? Sério? – disse sem creditar. Bruno, na Disney? É meio bizarro imaginar ele naquele lugar.

– Tem algum problema? Eu sempre quis entrar no castelo da Cinderela – disse rindo – vou ser sincero, não era a minha primeira escolha de viajem, mas queria fazer alguma coisa por você, liguei para o seu pai para ver se seus documentos estavam em dia e comprei as passagens. Você jura que acreditou que eu te levaria para uma misera casa da família no interior? Eu sou melhor que isso.

– Que humilde!

Só então me toquei que era serio então subi em cima dele e dei um longo beijo.

– Meu Deus, não sei se você vai aguentar essa menina na Disney – disse Clara no café da manha, depois de eu ter contado sobre a viajem.

– Para, eu tenho 18 anos. Não vou fazer ele passar vergonha.

– Até vocês chegarem lá, depois você vai virar uma criança de cinco anos.

– Eu não ligo, sou bom cuidando de crianças – disse Bruno rindo e me deixando nervosa.

– Dá para parar, conheço um monte de gente que é mais velha do que eu e é louca para conhecer a Disney.

– Você já foi para a Disney – disse Clara sem emoção nenhuma.

– Eu tinha três anos, faz tempo.

Tive que pegar minhas malas e fazer algumas alterações. Sorte a minha que era verão por lá. Tirei algumas coisas, coloquei as maquiagens e jóias em uma necesserie e dei um jeito de caber na mochila de sapatos.

Me proibi de pensar em Davi, durante toda a viajem. Eu estaria longe e ele não teria como fazer mal a mim. Clara e Elena não estariam no apartamento e não corriam perigo. Nosso pequeno saco de pulgas, Leon, seria levado amanha para a casa do meu pai e viajaria com ele. Davi não teria como fazer mal a ninguém que eu amo e nem a mim.

Quando deram sete horas, Clara e Carlos nos levaram para o aeroporto, por insistência deles, para não deixar o carro no estacionamento. Chegamos um pouco depois das oito e meia e fizemos o check in, tomamos Starbucks e esperamos dar dez horas para poder entrar no embarque. Nos despedimos de Clara e Carlos e desaparecemos da vista deles.