A Herdeira de Ravenclaw escrita por Bruna Gioia


Capítulo 25
A Rainha dos diminutivos




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Depois de responder a uma série de perguntas que eu mesma considero desnecessárias, o Sr. Harrison anunciou que ia dormir.

Ah, e antes que você vá perguntar: Não, não aconteceu absolutamente nada essa noite, e eu não faço a mínima ideia do porque de eu ter sonhado com aquela cena maluca.

Esperava, no mínimo, um clarão enorme, e que, eu não sei... Todos explodissem em um milhão de pedacinhos. Mas não foi isso o que aconteceu, e eu não sei mais o que fazer.

Nesse momento, eu estou deitada, em minha cama. Adivinhe? Muito agitada para dormir. Muito agitada para pensar em qualquer coisa mais tranquila.

Já eram 00:00.

De repente um pensamento maluco me ocorreu.

Mas, será que ele está acordado?

Levantei-me, cautelosa, da cama, e abri a porta, que fez um pequeno chiado.

O corredor estava vazio. E escuro. Sorte que o quarto do Isaac era na porta ao lado.

Eu podia ouvir os roncos do Sr.Harrison, mesmo com a porta fechada e o quarto estando do outro lado do corredor.

A porta do quarto ao lado estava encostada, de modo que eu abri, devagarzinho.

Examinei o cômodo. Não havia ninguém. Onde o Isaac estava então? Olhei para os lados, mas não havia nada.

De repente, senti uma cutucada em minhas costas. Pulei assustada. Virando para trás, descobri quem era. Isaac.

–Desculpa... –Ele disse, rindo. –Desculpa mesmo. Não esperava que você pulasse de susto.

Imagina. Quase me matou.

–Muito engraçado. Onde você estava?

–Sentado na escada. Eu...

–Não consegue dormir? –Completei.

–Exatamente.

Ele andou até o fim do corredor, na ponta dos pés. Segui-o, apreensiva.

–Por que você não consegue dormir? –Falei.

–Eu não sei... Muitos pensamentos na minha cabeça.

Concordei. Pelo menos eu não era a única.

Isaac se sentou na escada, e eu descansei ao lado dele.

–Sua casa é muito bonita, mesmo de noite. –Falei.

–Eu acho meio assustadora á essa hora. Ainda mais quando todos estão dormindo...

–Você fica sempre aqui quando não consegue dormir?

–Sim. Me ajuda a clarear a cabeça. –Respondeu.

–Mas como se sentar na escada pode...

“Creck”.

Isaac arregalou os olhos.

–Você ouviu...

“Creck”

De novo. Parecia o ruído das tábuas rangendo lá embaixo, sobre os pés de alguém.

Olhei para o Isaac. Ele fitava o chão lá embaixo, como se esperasse que a “assombração” aparecesse do nada.

–Por Merlin... Isso não pode ser bom. –Murmurou.

–Acha melhor nós entrarmos nos quartos, ou descermos? –Perguntei.

–Está de brincadeira? Ally. E se...

–Não é ela. –Menti. –Não poder ser. O que ela vai vir fazer aqui?

Que pergunta óbvia, Alicia. Agora você provou o quanto é inteligente.

–Alicia. O sonho...

–Eu sei. Mas...

“Creck”

O barulho ficou mais alto, e parecia estar mais perto.

Olhei para o Isaac, que ainda estava sentado.

–Você vem?

Ele concordou com a cabeça, tirando a varinha do bolso.

Começamos a descer as escadas devagar. Elas rangiam sobre nossos pés, mas isso não parecia incomodar o ser que estava lá embaixo. Estava frio naquela noite. Isaac tremia, e eu também. Porém, o colar da águia estava quente, e palpitava estranhamente, na frequência do meu próprio coração.

Chegando no primeiro andar, nós paramos.

Isaac se virou, encostando suas costas nas minhas, numa posição de defesa. Ele levantou a varinha, e eu fiz o mesmo.

–Acha melhor nos separarmos? –Perguntou, num sussurro quase inaudível.

–De jeito nenhum. E se for uma armadilha?

–Não temos como saber. –Respondeu.

Desfazendo nossa posição, voltamos a andar lado a lado, bem devagar, vasculhando a casa.

“Creck”

O barulho vinha da cozinha. Isaac olhou para mim.

–Vamos lá.

Chegando na cozinha, aparentemente vazia, Nós paramos de novo. Isaac andou até a mesa, depois, foi para a janela.

–Não tem nada nem ninguém aqui. –Falou.

Ele voltou para a mesa, onde se sentou.

–Mas o que era aquele barulho então?

–Será que nós só ouvimos coisas? –Disse ele.

–Vocês não são tão maluquinhos o suficiente. –Uma voz estranhamente familiar ecoou pelo cômodo.

Virei para trás.

Como eu sou burra.

Era ela. E tinha nos atraído para uma armadilha mortal.

Seus cabelos loiros estavam soltos e espessos, caindo sobre seus ombros, como um manto embaraçado. Seus olhos cinzas estavam cobertos por olheiras, e com um aspecto ansioso, e principalmente, vidrado. Ela usava um vestido longo, todo preto. Ou melhor, um trapo todo preto.

–É realmente um prazer conhecê-la pessoalmente, Alicia. –Falou Mirella Barner.

Pena que eu não posso dizer o mesmo, pensei.

Olhou para o Isaac.

–Bonitinho você... –Depois, perguntou, ainda encarando-o: -É seu namoradinho?

Sacudi a cabeça.

–Pois é o que parece...

Ela me encarou.

–Bem, imagino que esteja se perguntando o por que, de eu estar invadindo a casa do seu... Amiguinho loiro.

Dei de ombros.

–Uau. Sabia que esse é um hábito muito feio? Não esperava isso de você, Alicia Scott. Todos te consideram muito inteligente... E... Bem, não é á toa que nossa Rowena a escolheu como “Herdeira falsa”.

O quê? Herdeira falsa?

–O que você quer dizer com “Herdeira falsa”? –Perguntei, finalmente.

–Ah,sim. Esse método sempre funciona. Não importa a pessoa. A língua não consegue ser segurada, e a curiosidade se solta. Bem, você não deve saber, nosso querido Alvo Dumbledore adora guardar seus planos para si mesmo. Isso me incomoda. Então, ele escondeu que você na verdade não é a Herdeira verdadeira. Até por que, Rowena Ravenclaw é esperta o suficiente para saber que não se deve escolher uma garota ingênua e medrosa como Herdeira legítima...

–Não... Sou ... Ingênua. –Falei.

Imagino que minhas últimas palavras não tiveram nenhum efeito, considerando que eu tremia.

Isaac permaneceu calado, e eu me perguntei o que ele estaria tramando.

–Muito convincente. –Concordou a assassina.

Pense... Alicia. Não importa se ela é mais velha ou mais experiente. (Espere, experiente em que? Por Merlin, eu estou maluca.) Você pode ser mais sábia.

–Bom, chega de conversinhas. Quero o Diadema. Onde está? –Perguntou.

Dei de ombros de novo.

De repente, ela explodiu, levantando a voz e olhando para cima:

–Pare com isso! Por favor, Rowena Ravenclaw, por que escolheu essa garotinha idiota?

Dei de ombros.

Ela sacou a varinha, com uma expressão de fúria no rosto.

–Vamos, acabou a brincadeira.

Então, num jeito de heroísmo idiota, Isaac levantou um objeto pesado, que eu não soube identificar qual, e bateu na cabeça de Mirella Barner.

Ela cambaleou para trás, mas logo se recuperou.

–Menininho chato. –Falou, olhando para ele. –É mesmo uma pena.

E, com um aceno repentino de varinha, sua voz ecoou pela sala:

–Cruccio!

–Não! –Gritei.

Uma das maldições proibidas. Aquela vadia.

Mas Isaac já se contorcia de dor no chão frio da sala.

–Cruccio! –Falou de novo.

–Pare! Sua...

Ela olhou para mim.

– Sua o quê?

Olhei para ela nos olhos, mas não respondi.

–Me dê logo o Diadema. Ele não pertence a você. –Falou ela.

–Pertence sim! Ravenclaw me escolheu. Não a você. E você sabe disso. Acha que sou idiota? Não vai conseguir me enganar. –Retruquei.

–Será que eu terei de prosseguir com umas dorzinhas em seu amiguinho?

–Não...

Tentei impedir que a varinha fosse levantada, mas apenas serviu para eu levar uma bofetada, caindo para o lado.

–Cruccio!

Agora, a testa do Isaac brilhava de suor, e seu rosto estava franzido em uma careta de dor profunda.

–Ally. Não entregue o... Diadema. –Falou ele, num sussurro.

–Mas...

–Não... Entregue. –Disse de novo.

Concordei com a cabeça.

–Seu amigo loiro vai morrer assim. Sabia que existe um feitiço muito pior que esse? Chama–se... Avada Kedavra. –Ela saboreou aquelas palavras. -Pois é... Bem pior. Não vai desejar que eu lance esse feiticinho no seu amigo.

E agora?

Eu não entendia aquela mulher. Não entendi o por que dela estar fazendo isso, não entendia por que ela se autodenominava a “Herdeira Legítima” e nem por que dava ênfase nas palavras pronunciando-as no diminutivo.

Eu só sabia de uma coisa: Eu precisava de uma solução. Precisava de uma luz no fim do túnel. Não poderia simplesmente deixar o Isaac morrer, mas de maneira nenhuma eu poderia entregar o Diadema para aquela psicopata.

Então, o que me resta?

A pior e ao mesmo tempo, a melhor estratégia.

As palavras.

–Por que você quer o Diadema? –Perguntei, muito hesitante.

–Por que a pergunta? –Retrucou.

–Por que não responder?

–Por que responder? –Falou.

Chega de por quês, pensei.

–Você deve ter um motivo. –Afirmei, afinal.

–É claro que tenho. Ou você acha que uma pessoa de minha inteligência ou da minha sabedoria simplesmente conseguiria o famoso Diadema de Ravenclaw e não teria planos para ele?

–Pretende dominar o mundo? –Arrisquei.

–O mundo bruxo. Os trouxas me dão nojo.

Pisquei, meio atônita.

Vamos... Mais perguntas. Você tem que bolar um plano... E rápido.

Mas eu não conseguia pensar em nada.

–Bom, chega de conversar sobre meus próprios planos. Isso só interessa a mim mesma. Vamos, entregue o Diadema.

–Eu... Não sei onde está. –Menti.

Ela levantou as sobrancelhas.

–Argh! Seus hábitos me irritam. E você mente muito mal. Vamos, minha paciência se esgota rapidamente.

Apenas encarei o chão. Não sabia mais o que fazer.

Mirella Barner, cheia de fúria, levantou um dos braços, e derrubou o vaso de hibiscos ao lado.

Ele caiu com estrépito no chão.

Levantei minha varinha.

–Reparo. –Murmurei.

O vaso voltou a seu lugar, completamente intacto.

A psicopata revirou os olhos, incrédula.

De repente, passos ecoaram no corredor, no andar de cima.

–Isaac? Ally? Vocês estão aí? –Perguntou a Sra. Harrison.

Ah, não.

Senti uma mão cobrindo minha boca, depois de me arrastar para o armário embaixo da escada.

–Fique quietinha. –Murmurou a mulher em meu ouvido.

Passos. Pés. Pessoas.

Ecoando acima de nós.

Depois de arrastar também um Isaac quase desmaiado, Mirella Barner saiu do mínimo cômodo, fechando a porta, e a trancando sem dizer nada.

Virei para trás. Isaac estava muito pálido, porém, coberto de puro suor e desespero.

Agachei-me ao lado dele.

Isaac olhou para o alto, e piscou.

–Eu estou bem... Você precisa proteger o Diadema. –Sussurrou ele.

Ah, como ele era Super-protetor. Em todos os sentidos.

Mas eu não tinha tempo para aquela dramatização.

–Não, não! Dane-se o Diadema, seu retardado! Seus pais! Você! Eu! Isaac, vocês não podem morrer por minha causa. E não vão. –Respondi.

Ele balançou a cabeça.

–Alicia, você tem que...

Isaac fechou os olhos, lentamente. Senti que ele estava desmaiando.

–Isaac, por favor! Isaac! Por favor! Não quero ficar sozinha nessa!

Mas os seus olhos já estavam fechados.

E mais uma vez eu estava com sozinha, e com um garoto inconsciente.

Levantei-me com a melhor coragem possível. Tentei abrir a porta:

–Alohomora.

Nada. Certamente aquela psicopata deve ter utilizado um feitiço mais elaborado.

Comecei a andar como pude pelo cômodo, tentando conter o desespero.

Descobri a partir desse dia, que o pior sentimento do mundo não é a tristeza, nem a solidão, apesar deles também serem ruins. O pior sentimento do mundo é o pânico. Com ele, vem o desespero, a adrenalina, a falta de pensamentos e todos os outros sentimentos ruins. Mas, acima de tudo, chegam as lágrimas. E elas só esperam o pior momento, o momento em que você pensa que tudo vai dar errado, e que, nesse caso, eu iria morrer.

Eu sabia que não ia adiantar nada esperar por ajuda de outras pessoas, muito menos do Isaac, que estava desmaiado.

Comecei a chorar de desespero. Eu odeio chorar, e quando digo que odeio, é porque odeio mesmo. Não é porque me sinto fraca ou indefesa, como uma criança sem pais. É porque eu sinto que todos os meus recursos de “salvação” acabaram, e só me resta ver o pânico escorrer pelos olhos.

E foi aí que a águia em meu pescoço começou a brilhar.


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Notas finais do capítulo

~Capítulo postadoooo~
Mirella Barner é um pessoa contagiante, né? amo ela



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