A Herdeira de Ravenclaw escrita por Bruna Gioia


Capítulo 26
A fuga inesperada




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Sabe quando você deseja muito uma coisa, mas muito mesmo, e ela acaba acontecendo no melhor momento?

Eu não sabia dizer do que a águia me ajudaria, mas sabia que ela ajudaria de alguma maneira.

E, de repente, ela simplesmente saiu do meu colar. Só isso. E voou pelo mínimo cômodo, até voltar e ficar em frente a mim, com as asas bem levantadas.

Era um animal tão majestoso, tão bonito, que eu só pude ficar com a boca escancarada e os olhos arregalados. Mas isso durou por pouco tempo.

A águia foi encolhendo, e encolhendo... Até virar um objeto pequeno, de aparência familiar. Era... Uma chave.

Mas... É claro.

Aproximei a chave da fechadura do cômodo... E ela abriu.

Logo depois de eu escancarar a porta, a chave se transformou em um pingente de águia, que magicamente voltou para o meu pescoço, quentinho como sempre.

Olhei para trás. Isaac continuava desmaiado, com um filete de sangue escorrendo pela testa brilhante. Eu não podia deixa-lo. Mas era necessário. Aproximei-me de novo da entrada, dessa vez botando a cabeça para fora.

Silêncio. Escuridão.

O que eu deveria fazer agora? Será que a assassina montou uma armadilha? Andei alguns passos para a direita, no intuito de subir as escadas.

Nem me dei o trabalho de caminhar devagar, e saí correndo para o andar de cima. Tropecei no quinto degrau da escada, mas logo me recuperei.

Chegando no andar de cima, olhei para os dois lados. O esquerdo estava vazio, mas quando olhei o direito...

Um papel.

Descansava no chão, um envelope cor de creme, lacrado, em cima do tapete que cobria o corredor. Com a varinha levantada, caminhei até lá, no meio da escuridão.

Completamente relutante, abri o envelope.

“Olá, queridinha. Vejo que foi esperta o bastante para abrir a porta e chegar ao andar de cima. Se quer saber... Sim, eu voltarei. E espero que você esteja preparada.”

Droga.

Joguei aquele pedaço de papel inútil no chão, e olhei para o corredor a frente.

Que mulher estúpida! Por que ela não podia me deixar em paz, simplesmente? Por que ela...

Opa. Espere aí.

Está faltando alguma coisa, ou melhor, alguém.

O Sr. E a Sra. Harrison! Onde será que eles estão?!

Corri pelo corredor, abrindo portas de quartos, do banheiro e do quarto do casal. Mas não havia nada.

Comecei a ficar desesperada. Descendo as escadas bem rápido, cheguei ao andar de baixo, ofegante e com o rosto manchado de lágrimas. Vasculhei o armário de baixo da escada de novo, mas só havia o Isaac. (Na mesma posição)

Até que pensei por um instante.

Entrei na cozinha correndo, já na expectativa. Olhei para os lados, em baixo da mesa, na janela... Nada. Não havia absolutamente nada. Será que ela havia levado os pais do Isaac?

Não, isso era impossível. Impossível. Ela não pode ter feito isso. Eu nunca iria me perdoar.

Tive de respirar fundo para conter o pânico. Eu estava sozinha. De novo e de novo. E não há nada que eu possa fazer, a não ser agir. O pânico não é amigo. Ele só vai te complicar e fazer você ficar... Bom... Em pânico, não é?

Pense. Pense. Pense... Em que lugar ainda não procurou? Não havia porão... Nem mesmo sótão naquela casa. Ela era mais... Moderna. O que as casas modernas têm?

É claro.

Subi de novo as escadas, dessa vez não tropeçando (ainda bem). Corri para o quarto do Sr. E da Sra. Harrison, com somente um pensamento na cabeça.

Atravessei o grande quarto e caminhei até uma porta, que era fechada por um espelho.

O closet. Hesitante, abri a porta.

E o que eu assustadoramente esperava, apareceu em minha frente. Eram eles. Eram os pais do Isaac. Olhando-me com olhos arregalados e medo estampado no rosto. Estavam amarrados e com um Feitiço para não falarem.

Eu realmente não fazia ideia de como Mirella Barner conseguiu amarrar dois bruxos extremamente experientes em magia.

E foi bem nesse momento, entre o pânico e a agonia, que eu percebi com o que estava lidando. Não era apenas uma bruxa que teria de ser derrotada por uma garota de doze anos inexperiente e tola. Era com um monstro que eu teria que lidar. Um monstro. Não aqueles de sete cabeças e que cospem fogo. E não, não eram professores com broncas prontas para serem dadas. Era o medo. Incandescente e incontrolável.

E era de mais para mim ver os pais de um grande amigo, amarrados e com medo, sendo que esse próprio amigo estava desmaiado por minha culpa, uma segunda vez.

E foi isso o que me tirou do suposto “transe”, pós- pânico. Vai saber.

Rapidamente, tirei as amarras de seus corpos e desfiz o Feitiço da Boca Presa. Eles ofegaram, e depois, olharam para mim.

–Muito obrigada, Ally. Você está bem? Como está o Isaac? –Perguntou a Sra. Harrison.

–Sim, estou bem. Mas... Isaac está inconsciente.

–Ele desmaiou?

–Sim. –Respondi.

–E a psicopata? Ela fugiu? –Disse o pai do Isaac.

–Acredito que sim. Mas... –Hesitei -Ela deixou um bilhete, dizendo que ia voltar.

–Voltar... Para cá? Para a nossa casa? –Indagou ele.

Engoli em seco.

–Acho que ela deve atacar... Hogwarts.

Ele concordou com a cabeça.

–Vou fazer uma inspeção pela casa, para saber se há alguma coisa ainda.

–E eu vou cuidar do Isaac. –Murmurou a Sra. Harrison.

Só pude segui-la pela casa, até o armário embaixo da escada.

Chegando no cômodo, vi um brilho nos olhos daquela mulher. Um brilho de tristeza.

Sabia que ela queria ficar sozinha com seu filho, e eu precisava dar esse espaço a eles. Ia saindo devagar do quarto, mas uma voz me impediu.

–Alicia. Será que você poderia mandar uma coruja para Dumbledore? Ele precisa saber o que está acontecendo. –Ela fez uma pausa –Ruby está no quarto do Isaac.

Concordei com a cabeça.

Virei de costas e saí do quartinho, atravessando toda a casa para chegar no quarto do Isaac.

Entrando lá, procurei por uma gaiola cor de bronze, mas a ave não estava lá dentro. Estava empoleirada no parapeito da janela, com um olhar zombeteiro, como se pressentisse o perigo que estava por vir.

–Oi. Eu realmente vou precisar da sua ajuda para uma coisa. –Falei para Ruby.

Ela concordou com a pequena cabeça de penas castanhas.

Olhei para os lados, suspirei, peguei um pedaço de pergaminho da escrivaninha do Isaac, e comecei a escrever:

“Professor Dumbledore.

O que nós mais temíamos aconteceu. Mirella Barner invadiu a casa do Sr. E da Sra. Harrison. Ela acabou de fugir, mas o Isaac está desmaiado, e ela deixou um bilhete dizendo que voltaria.

Encontrei os pais do Isaac amarrados dentro do closet.

Eu estou bem, e eles também. Isaac foi torturado com uma das Maldições Imperdoáveis. (Cruciatus) Ele não dá sinal de vida, e estou preocupada.

Se puder responder a carta o mais rápido possível, Eu, Alicia, agradeço.

Atenciosamente, Alicia Scott.”

Era uma carta muito formal, em minha opinião. Não me critique, não gosto de coisas tão formais assim.

Selei a carta e caminhei até Ruby.

–Entregue isso a Alvo Dumbledore, em Hogwarts. Não falhe, por favor. –Murmurei.

Ela piou de volta, indignada.

–Você me entendeu. Obrigada.

Ela balançou a cabeça e voou para o céu.

...

Eu estava sentada em frente a mesa da cozinha, com um Isaac deitado sobre ela.

Seus pais estavam na sala, tentando arrumar algumas coisas destruídas pelo “Furacão Barner”.

Dumbledore aparatou logo depois, no meio da cozinha, me sobressaltando. (é claro)

–Boa noite. Recebi sua carta Alicia, e tenho que dizer que não são boas as notícias. –Disse ele, calmamente.

–Já imaginava. –Respondi.

O Sra. Harrison entrou no cômodo, nervosa.

–Boa noite, Professor Dumbledore. –Falou ela.

–Recebi a carta da Srta. Scott, e sinto dizer que temia isso. Bom, Mirella Barner é uma pessoa perversa, como vocês bem sabem, e capaz de tudo. Tenho que dizer que tiveram sorte, pois ela poderia fazer coisas piores.

Eu estava tão cansada... E agora isso? Sorte? Sorte termos sido invadidos? Sorte o Isaac estar desmaiado? Eu tinha uma imensa vontade de dizer isso, mas, em vez disso, me dirigi até a sala, que estava com a janela aberta.

Sentei no parapeito, observando o céu estrelado. A noite estava tão linda... Para acontecimentos tão terríveis.

O tempo era fresco e agradável, nem frio nem calor. Um morcego passou voando a alguns metros de distância, e pousou na árvore mais próxima, que tinha frutinhas vermelhas e pequenas.

Pensei o que Victoria e Charlie estariam fazendo agora. Com certeza deveriam estar com a consciência tranquila, sabendo que nem eles, nem eu, estávamos em perigo. Aproveitando essa noite tão bonita...

...

Eles conversaram durante duas horas. O que me pareceu um tempo muito maior, tanto pela ansiedade quanto pelo cansaço.

O Sr. Harrison veio me chamar quando o Isaac acordou.

–Venha, ele está lá no armário embaixo da escada.

Caminhei até lá, e entrando, encontrei um Isaac com um sorriso torto no rosto.

–Você está legal? –Perguntei.

–Não vou dizer “melhor impossível” porque isso seria mentir. –Eu ri- Mas, na verdade, eu não estou mal. Só com dor de cabeça. E você? O que aconteceu depois de eu apagar?

–Ela te arrastou até aqui, e nos trancou. Então, eu usei minha águia, ou melhor, o Diadema, para me ajudar. Antes que você vá me perguntar, o pingente se transformou na chave para abrir a porta.

–Nossa. Achava que seria uma coisa mais relacionada a usar a mente. –Falou ele, impressionado.

–Eu também achava. Foi bem inesperado, porque a águia começou a brilhar e saiu do meu pescoço.

Ele levantou as sobrancelhas. -Entendo. Eu acho. Mas... –Olhou para os lados –E... Ela? Fugiu?

–Sim, mas disse que ia voltar.

Ele suspirou, já esperando a minha resposta.

–E isso é bom? –Perguntou.

–Então... Bom, nunca será. Mas, uma hora eu terei que enfrentá-la não é? Não dá para adiar durante muito tempo.

De repente, eu ouvi passos atrás de mim, e, instintivamente, virei de costas. Percebi que era Dumbledore, e relaxei os ombros.

–Como você está, Isaac? –Perguntou ele.

–Bem, eu acho. Só com um pouco de dor de cabeça.

–Entendo, faz parte. Nem todos conseguem aguentar a dor que você aguentou, ainda mais para a sua idade. Você é muito corajoso. E forte. –Concluiu.

Não quero ser chata, nem nada parecido. Mas acho que o Isaac pode ter se sentido tudo, menos forte.

–Bom, agora tenho que ir. –Disse o professor. –Tenho coisas a fazer em Hogwarts, que não podem ser adiadas.

–Tudo bem, até logo, Professor. –Respondeu Isaac. Dumbledore fez um sinal para que eu o seguisse.

Olhei de relance para Isaac, que concordou com a cabeça, em um gesto de encorajamento.

Começamos a caminhar até o jardim. Estava um dia lindo, e o Sol batia forte na minha nuca, já era quase meio dia, e eu não tinha dormido nada.

–Alicia. Foi bom você ter me chamado. Já devo ter dito que Mirella é uma pessoa muito perigosa. Não se pode brincar com ela. A prova disso foi o que ela fez com seu amigo. –Falou ele.

Eu sei disso. Eu sei.

E, como se ele pudesse ler meus pensamentos, disse:

–Lamento se estou te aborrecendo com frases desnecessárias. Mas, espero que tenha noção do que está lidando.

–Eu sei com que estou lidando. Só estou cansada por não ter dormido. –Menti.

O diretor me olhou preocupado.

–É só isso mesmo? Só isso que tem para me dizer? –Perguntou.

–Na verdade... Não, Professor. Quer dizer... Eu tenho noção do que estou lidando, só queria que ela não me subestimasse por conta da minha idade ou do que eu sou. E, por que ela me chama de “Herdeira Falsa”? Por que ela se autodenomina a Herdeira? Isso não faz sentido. –Murmurei.

Ele encarou o chão.

Tem coisa aí, pensei. -Alicia, ás vezes as pessoas desejam enganar as outras. Deixar informações e dúvidas em nossas cabeças, que antes não existiam. Mirella é uma dessas pessoas. Mas, antes tem uma coisa que preciso te contar, antes de chegar logo ao ponto. –Falou.

Por Merlin, pensei.


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Notas finais do capítulo

Desculpe se eu demorei muito pra postar. é que a inspiração não chegava e eu tava muito ocupada resolvendo uns negócios da vida sabe...
Enfim, espero que gostem. Comentem, review e blablabla