Sentei na cama, no meu quarto temporário. Ele era... estranho? Não sei explicar. Enfim, o quarto tinha uma aparência antiga, com pôsteres de times de quadribol nas paredes, com a tinta desgastada.

No fundo do quarto, havia uma cama com uma cabeceira de madeira velha. Aliás, o quarto parecia ser todo velho, mas... Era bem aconchegante, tirando o fato de que os jogadores nos pôsteres pareciam me encarar enquanto eu andava. Isaac olhou ao redor, envergonhado, e se aproximou.

–Bom, não é muito bonito mas...

–Isaac, é ótimo. Muito legal, sério. Só o fato de você me acolher na sua casa já é muita coisa. -Completei.

Ele concordou.

–Fique a vontade, eu estou no quarto ao lado. E... quando terminar de guardar suas coisas, e etc... Será que você pode ir lá no meu quarto? Eu precisava da sua ajuda para.... Bem, arrumar todas as minhas coisas.

–Tudo bem, eu vou. -Respondi.

–Ah, caso você esteja curiosa... Esse quarto era do meu irmão, Jake. Por isso é cheio de pôsteres e outras coisas...

Isaac tinha irmão? O que aconteceu com ele?

–Bom, antes que você vá perguntar, ele se casou e agora mora na França.

Ele sorriu e se virou, saindo do quarto e encostando a porta.

Troquei de roupa, para uma coisa mais confortável e coloquei a gaiola de Ezylpro (com ele dentro) em cima da cômoda. A coruja de penas vermelhas piou, meio desapontada.

–Mil desculpas, mas... Não sei se posso soltá-lo. Espere até o jantar, tudo bem? Fique calmo. -Falei para ele.

Piou de volta, ainda meio triste.

Guardei todas as minhas coisas, bem arrumadas e me encaminhei para o quarto do Isaac. Assim que entrei lá, fiquei meio em choque.

–O que...

–Por favor, sei que é difícil mas... tente não reparar e... me ajude. -Disse Isaac.

Levantei as sobrancelha, espantada. O quarto estava com roupas... Espalhadas por todo o cômodo. Havia uma armário do lado de uma cama, e sua escrivaninha ficava perto da janela, como a minha.

Foi então que eu reparei. As paredes. Eram cheias de... fotografias, fotos de todos os tipos, algumas de paisagens bonitas e ensolaradas, outras com pessoas de diferentes nacionalidades, e até bicicletas. (Acredite se quiser.) As imagens se mexiam, é claro. Não havia pôsteres, e a parede ao meu lado era toda verde. (Bom, a parte que não era coberta de fotos)

–Você... gosta de fotografias, Isaac?

Ele olhou para as roupas no chão, encabulado.

–É só um hobbie, só um gosto. -Respondeu.

–Haha, sei. –Falei.

–Mas, é sério!

–Está bem, eu só acho que, quem tem um monte de fotos de paisagens e coisas do tipo não considera isso só um hobbie bobo. –Retruquei.

–Não é só “um hobbie bobo”.

–Viu só? –Disse.

–Ah, não vou discutir. Sempre ganho. –Falou.

–Você é muito irônico, e sua ironia me incomoda. Você não ganha de mim.

–O.k. Já disse que não vou discutir. –Explicou.

–Ótimo.

E começamos a arrumar as coisas em completo silêncio. O quarto do Isaac era iluminado e arejado, com uma vista bonita da rua e com uma faixa de luz solar entrando pelo quarto, como se quisesse me dar às boas vindas.

Depois de guardarmos tudo que era para ser guardado, e mais algumas coisas que deveriam ser jogadas no lixo, nos sentamos no chão.

–Muito, mas muito obrigada, Ally. –Disse ele.

–De nada. Seu quarto estava mesmo precisando de uma arrumada.

Ele concordou com a cabeça.

Isaac olhava para o chão, como se... Como se estivesse me escondendo alguma coisa.

–Isaac Harrison. O que houve? –Perguntei.

–Er... nada. Mesmo. –Disfarçou.

–O.k, não tenho cinco anos, me fale logo.

–Mas não houve nada!

–Haha. Diga. –Retruquei.

Ele me encarou, com vergonha.

–Olha, é o seguinte. Sei que Dumbledore e todos os outros dizem que está tudo bem e que nada vai acontecer... Mas... Ally. Uma hora você vai ter que enfrentar aquela maluca da Barner.

Ri.

–Eu sei disso. Ah... Isaac. Tenho que te contar uma coisinha...

Contei rapidamente a história sobre a possessão de Ária.

–Mas, como? Agora essa psicopata vai invadir o corpo dos nossos amigos? –Falou ele, surpreso.

–Por Merlin! –Falei, me levantando do chão.

Como eu não tinha pensado nisso antes?

Olhei para os cabelos loiros do Isaac. Ele retrucou o olhar, atônito.

–Você se lembra daquela parte da profecia? Que eu seria traída por quem em chamo de amigo? E... se for a Ária? Por Merlin!

–Nossa. Não tinha pensado nisso. Mas, é bem possível. Porém, por que ela escolheu a Ária? –Perguntou Isaac.

–Deve ter um motivo. –Falei.

Comecei a caminhar pelo quarto, franzindo a testa e andando de um lado para o outro. Estalei os dedos.

–É claro! Ela tem inveja. Porque... Não... é a apanhadora. Mas, ela me disse que estava tudo bem...

–As pessoas podem mentir , Alicia. Aceite isso. –Completou ele.

–Não, não pode ser. Deve ter outro motivo...

–É, quem sabe. –Falou.

Encaramos a janela, completamente presos aos nossos pensamentos.

–Bem, acho que vou ao banheiro. Já volto. –Quebrei o silêncio. Me dirigi a porta.

–Ally.

Isaac também se levantou, segurando o meu braço.

–O que foi? –Perguntei.

–Você... Tem medo... Dela? -Concluiu.

Hã? Como assim?

–Acho... que...

Não, Alicia. Você não tem medo. E não vai ter.

–Acho que não. Eu deveria?

–Não, mas... sei lá. Acho que a maioria das pessoas teria medo de um indivíduo que quer te matar sem um motivo muito... Agradável. –Falou.

Que estranho.

–E... Você tem medo de que ela possa te matar? Tipo... Eu não sei... Vencer você?

–Tenho. Tenho muito medo disso. Mas... tenho medo de que vocês morram por minha causa. São muitas pessoas envolvidas, Isaac.

–É verdade. –Respondeu, somente. É verdade. Tudo verdade.

–É. Mas... Por que você está me perguntando isso? –Pronunciei as palavras que estavam loucas para sair da minha boca.

–Não é nada de mais. Mas... Eu não sei. Só... Não quero te perder.

Sorri. Bom saber, Coisa Loira.

E saí do quarto.

...

Já era noite. O vento soprava calmamente, acariciando as folhas das árvores na rua. O tempo era frio e bem agradável, mas as coisas na sala eram meio inquietantes.

Isaac e eu jogávamos xadrez de bruxo.

–Mãe. Era para ele chegar de tarde. Olhe que horas são! Onde papai está? –Isaac quebrou o silêncio.

–Como eu vou saber, filho. Estou me perguntando a mesma coisa. –Retrucou sua mãe.

Tudo estava quieto.

Até que escuto o barulho familiar de uma fechadura se abrindo... Um homem de cabelos quase brancos de tão loiros, e olhos muito verdes apareceu na porta. Ele tinha bigode, e um sorriso no rosto.

–Querido! Ainda bem que você chegou. Adivinha quem está aqui? –Falou a Sra. Harrison.

–Ah, olá querida. –Disse, dando um beijo na mãe do Isaac. (Isaac fez careta de nojo)

–Muito prazer, Alicia. Ele estendeu a mão, apertei-a.

–Igualmente.

–Sou Joseph, pai do Isaac. Espero que você realmente se sinta em casa. –Disse.

–Pode deixar.

Ele se sentou no sofá.

–Me desculpem ter chegado tão tarde. É que eu estava abarrotado de tarefas, e Greg não ajudava...

–Vou trazer uma cerveja amanteigada para nós. Tudo bem? –Falou a Sra. Harrison.

Todos concordaram.

–Vou ligar a lareira, está frio. –Disse Isaac.

Logo, sua mãe trouxe quatro canecas fumegantes com o melhor líquido do mundo. Nós sentamos, e começamos a conversar, sobre o trabalho do Sr. Harrison (ele trabalha no Ministério da Magia, no setor de Mistérios) Eu, particularmente achava super interessante, tirando o fato que ele não contava quase nada sobre como era lá, por que o Setor de Mistérios é muito confidencial, e...

Opa. Opa.

Cerveja amanteigada, poltronas confortáveis, lareira.

Já vi essa cena em algum lugar.

Um homem, uma mulher, um garoto e uma garota. Ah, por Merlin.

Meu sonho... É igual. Até os lugares em que nós estamos sentados... Mas, e agora? Eu não posso ter sonhado com uma cena sem nenhum motivo. Eu sou a Herdeira.

Alguma coisa vai acontecer.

Mas nós só continuamos conversando.

–Bem, -Começou o Sr. Harrison -Alicia...

–Pode me chamar só de Ally. É melhor. Todos me chamam assim. –Completei.

Ele suspirou.

–Bem, Ally. Conte-me mais sobre você. Como você se sente estando... Digamos... Nessa posição?

Lá vamos nós.

A pergunta que não queria calar.

Boa sorte, Ally.