A Herdeira de Ravenclaw escrita por Bruna Gioia
-Acorde logo! Se eu não vier, provavelmente você vai dormir eternamente! –Exclamou minha mãe, sacudindo-me.
Joguei o travesseiro em seu rosto.
-Ah, é assim? –Perguntou ela.
E jogou de volta o travesseiro, me acertando no pescoço.
-Por que me acordou tão cedo? São oito horas da manhã, ainda. –Falei.
-Porque nós vamos ao Beco Diagonal, preciso comprar umas coisas novas.
-E se eu não quiser ir? –Retruquei.
Ela não esperava essa resposta.
-Bem, o que você pretende fazer em casa?
-Bem, papai vai ficar aqui? –Perguntei.
-Acho que sim, por quê? –Disse ela.
-Por nada. Já tenho um motivo para ficar em casa.
-Sua irmã vai. –Tentou me convencer.
-Legal. –Respondi.
Ela suspirou e saiu do quarto.
-Faça o que quiser. –Murmurou no corredor, com a voz abafada.
Ela tinha ficado chateada. Era sempre assim, dizia para eu fazer o que eu quisesse, mas, no final, sempre ficava de mal comigo ou tentava me convencer.
...
Depois de eu tomar café e tudo o mais que eu tinha direito, me sentei no sofá, junto com Lizy e meu pai.
-Você vai com a gente? –Perguntou Elizabeth.
-É... Não. Vou ficar aqui. –Respondi.
-Não era para você a pergunta. Era para o papai, mas tudo bem. –Naquele momento, ele a olhou com um ar de advertência, mas eu já estava acostumada com aqueles atos. –Enfim, você vai ou não?
-Também vou ficar. Vou passar um tempo com a minha bonequinha. –Disse ele.
Lizy fez cara de muxoxo, e foi falar com a mamãe.
Depois que ela se afastou, virei-me para meu pai.
-Pai, se você não quiser... Não precisa ficar. É sério. Se for só para me fazer companhia...
-É claro que eu vou ficar! Há quanto tempo que nós não podemos ficar a sós, sem sua mãe para nos perturbar? –Falou ele.
Isso me fez rir. Ele sempre sabia o que falar.
Alguns segundos depois, minha mãe e Lizy voltaram.
-Já que você não vai, arrume alguma coisa para fazer. –Falou mamãe, enquanto colocava o casaco. –Alguma coisa para estudar? E as notas dos seus exames?
-Ah, é. As notas. Recebi ontem à noite. –Respondi.
-E por que você não me mostrou? –Disse ela. –Ah, deixa para lá. Depois eu vejo.
-Tchau, pai. –Murmurou Elizabeth.
E, depois de se despedirem do meu pai e de mim, minha irmã e minha mãe atravessaram a porta, deixando meu pai e eu sozinhos.
Depois de um silêncio desconfortável e completamente incomum, meu pai começou a falar.
-Então... Ally... Sobre todo esse negócio de Herdeira de Ravenclaw, e Mi... –Ele hesitou. –Mirella Barner... O que você está achando disso tudo?
Sinceramente, eu já esperava uma pergunta desse tipo, mas não desse jeito.
-É... Não sei explicar bem, sabe? É tão, tão, tão estranho. A única coisa que me atormenta é: Por que eu? Por que justamente eu? Tenho certeza que não tem nada a ver com beleza, ou coisa do tipo, mas... Até agora, ninguém conseguiu me dizer direito o por quê de ser eu, nem mesmo Dumbledore...
Ofeguei. Tinha falado muito rápido, praticamente cuspindo as palavras que eu queria dizer há muito tempo, só não tinha uma pessoa a quem contar.
Meu pai suspirou. Jamie Scott era um homem cansado, mas, na maioria das vezes, sorridente. Me espantava o quanto ele era parecido comigo. O mesmo cabelo escuro e liso, e os mesmos olhos azuis, com uma pontinha de verde dentro, sempre calorosos e felizes...
-Alicia. –Ele me olhou nos olhos. -Eu não sei. Não faço a mínima ideia. Quem sabe, seus pensamentos não sejam diferentes dos das outras garotas? Não foi Dumbledore que disse que a verdadeira Herdeira, não deve ter interesse no objeto que carrega?
Concordei com a cabeça.
-Mas, eu não devo ser a única. Deve haver outras meninas e...
-Ally. Não há. Você é a única. E isso é ótimo. Pelo menos, quer dizer que eu e sua mãe fizemos um bom trabalho. –Falou ele.
-É verdade.
-Mas, conte-me mais sobre esse Isaac. O seu amiguinho, ou devo dizer... Namorado?
-Ele não é meu namorado, pai! –Retruquei, mas, sinto que não foi muito convincente, pois havia um sorriso esboçado em meu rosto. –É, digamos, meu companheiro para façanhas inéditas.
Ele riu.
-Façanhas encrenqueiras, né? Porque, cá entre nós... O que você aprontou em seu primeiro ano, foi o que eu consegui fazer em todos os meus anos em Hogwarts.
-Eu sou uma aluna especial. –Falei.
-É mesmo Alicia.
-Bem, e o quadribol? –Perguntou. –Quanto orgulho da minha apanhadora! Soube que você ganhou todos os jogos.
-Pois é! No último, eu despenquei de uma altura bem considerável, mas, fora isso, é muito legal. –Disse.
-Sabe, eu e sua mãe não imaginávamos que você seria... Da Corvinal. Pensávamos na Grifinória, pois você é muito corajosa e nobre, do seu jeito, é claro. –Eu ri. –Mas, eu queria pedir desculpas, por não ter te apoiado e não ter perguntado se você estava nervosa ou não. Por que, eu particularmente fiquei, e muito.
Suspirei.
-Pai, está tudo bem. Todo mundo fica. Você a mamãe me ajudaram muito mas... Com todas essas coisas acontecendo... Bem, a culpa não é de vocês. –Conclui.
Ele apenas balançou a cabeça, incrédulo.
...
O resto da tarde foi bem legal, eu e meu pai jogamos Xadrez de Bruxo e Snap Explosivo, com direito a apostas de Feijões de Todos os Sabores como prêmio.
Barulho na porta.
Mamãe e Lizy haviam chegado.
-Sua vez. –Disse papai.
Me obriguei a levantar e fui até a porta.
-Voltamos! –Exclamou minha mãe.
Minha irmã apenas entrou e subiu as escadas.
-O que vocês compraram? –Perguntei.
-Nada de especial... E nada para você. Apenas coisas para casa. –Respondeu mamãe.
Concordei, chateada.
-Bom, vou ficar no meu quarto. –E subi as escadas para meu cômodo particular.
Fechei a porta e liguei a luz da luminária, para ler “Hogwarts, uma História”. Para falar a verdade, acho que é um livro que todos que já estudaram, ou estão estudando em Hogwarts, deviam ler. Fala sobre coisas inimagináveis, e que você nunca descobriria se não lesse. Vale apena, acredite. Não é apenas um livro. Apesar de nenhum livro ser apenas um livro. Enfim, você entendeu.
Continuei a ler por um bom tempo, até chegar a hora de dormir. Escovei meus dentes no banheiro, e voltei para o quarto.
Adormeci quase instantaneamente, dessa vez, sem pesadelos.
...
Os dias que se passaram na minha casa foram divertidos, porém, chuvosos. Depois de uma semana em casa, tinha chegado a hora de partir para outro lugar, a casa do Isaac.
Estava um dia lindo e ensolarado, os pássaros cantavam alegres na rua. Era domingo.
Minha mãe me acordou como sempre, só que dessa vez, me chacoalhando ainda mais.
-Vamos logo, você tem meia-hora para se arrumar. Vamos.
Me levantei com muita relutância, tomei café e me vesti.
-Pronta? –Perguntou mamãe.
Concordei.
Meu pai estava muito triste, considerando que eu só tinha passado uma semana com ele, em praticamente um ano.
-Espero que você goste de lá, mande um beijo para o pai do Isaac, ele é muito legal. –Começou ele. –E... Ally, lembre-se do que nós conversamos, o.k? Está tudo bem. Tudo tem um propósito, e você vai encontrar o seu.
Abracei meu pai. Ele sorriu, encabulado.
-Eu te amo. –Falei.
-Eu também te amo, bonequinha.
Minha mãe abriu a porta. Estava na hora. Mas, não antes de uma coisa.
Elizabeth estava sentada, no computador. Caminhei até ela, me aproximei, e sussurrei em seu ouvido:
-Cuide bem deles. Não deixem que se preocupem.
-Se preocupar com o que? –Perguntou.
-Apenas faça o que eu te peço.
E fechei a porta atrás de mim.
Estava um calor insuportável, meio atípico para essa época do ano.
Entrei no carro, junto com a minha mãe. Ela dirigiu até o centro de Londres, e, virando em uma ruazinha bem humorada, com árvores cheias de flores e pedestres caminhando livremente.
Minha mãe parou o carro em frente a uma casa amarelo-claro, com ladrilhos coloridos na calçada. Havia uma grade branca na frente, e ela era bem bonita, mas de um jeito diferente.
Para falar a verdade, eu não poderia imaginar um local diferente para ser a casa de uma pessoa como Isaac.
Depois de alguns segundos, ainda encarando a casinha, abri a porta do carro.
-Preparada? –Perguntou mamãe.
-Acho que sim.
Olhamos para a casinha, até minha mãe tocar a campainha. Havia um pequeno jardim à frente. Era muito bonito, com flores de diferentes cores. Enxerguei alguns gnomos, mas isso é só um detalhe.
Uma mulher magra e loira atendeu, como a mulher do sonho. Aliás, era a mulher do sonho. Ela tinha um sorriso esboçado no rosto cansado, e os cabelos eram lisos, porém, não bagunçados, como os do Isaac, mas, logo quando a vi, soube quem ela era.
-Sra. Harrison! É um prazer revê-la. –Disse mamãe.
-Igualmente. Ah, olá Alicia! Prazer em conhecê-la. Sou Leah, mãe do Isaac. –Respondeu a mulher, estendendo-me a mão.
-Prazer em conhecê-la. –Falei. –Você tem uma casa muito bonita.
Ela sorriu.
-Obrigada. Mas vamos, está calor, entrem.
Ela abriu a porta, e, primeiro eu entrei, depois, minha mãe.
A primeira coisa que eu vi foi Isaac, sentado em uma cadeira, com uma expressão ansiosa. Ele abriu um sorriso muito grande quando me viu, e eu só pude sorrir de volta.
-Ally. Ainda bem que você chegou. Eu não estava muito a fim de arrumar o meu quarto. –Ele disse, baixinho.
Eu ri.
-É claro.
Minha mãe e a Sra. Harrison conversaram durante alguns minutos, até minha mãe anunciar que precisava partir. Ela se aproximou e me deu um beijo na testa.
-Cuide-se. E, acima de tudo, não se esqueça que seu pai e eu te amamos. E muito. Cuidado com tudo, não perca o juízo e não confie em quem você não achar...
-Confiável? –Completei.
Ela sorriu.
-Exatamente. Te vejo em breve.
Ela não disse quando eu a veria, e eu realmente não sabia.
Depois que a porta se fechou atrás de mim, Isaac se virou.
-Bem, você vai me ajudar a arrumar meu quarto?
-Isaac! Ela é nossa hóspede, não vai te ajudar em nada. Arrume seu quarto sozinho! –Retrucou sua mãe.
-Sra. Harrison, por mim tudo bem. Gosto de ajudar a arrumar as coisas. –Disse. –Se, é claro, você não se importar...
-Não, é claro que não. Ajude-o se quiser. Só cuidado com o cheiro e possíveis coisas que podem explodir. –Falou.
Isaac subiu as escadas correndo.
-Apresente o quarto a ela, filho! –Falou sua mãe, lá embaixo.
-Tá! –Respondeu Isaac.
Ele me encaminhou até uma porta, que era do lado de outra, em que havia sido escrito “Quarto do Isaac”. O próprio abriu a porta lisa do quarto ao lado, entrando.
-Venha. –Falou.
Venha. Venha. Não tenha medo.
Atravessei o espaço entre o corredor e o cômodo, entrando no quarto.
-É aqui que você vai dormir. –Disse ele. –Gostou?
-Não poderia ser melhor. –Respondi.
Ele sorriu.
E a única coisa que eu pude fazer foi sorrir de volta.
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Gente, a fanfic tá acabando... :C Porém, eu acho que vou fazer um epílogo, já que alguns estão me pedindo.
*Agradecimentos a J.K Rowling, por me ajudar (mesmo sem ela saber) com as instruções e o modo de escrever a fic.*