A Herdeira de Ravenclaw escrita por Bruna Gioia


Capítulo 23
Um lar temporário




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/415956/chapter/23

-Acorde logo! Se eu não vier, provavelmente você vai dormir eternamente! –Exclamou minha mãe, sacudindo-me.

Joguei o travesseiro em seu rosto.

-Ah, é assim? –Perguntou ela.

E jogou de volta o travesseiro, me acertando no pescoço.

-Por que me acordou tão cedo? São oito horas da manhã, ainda. –Falei.

-Porque nós vamos ao Beco Diagonal, preciso comprar umas coisas novas.

-E se eu não quiser ir? –Retruquei.

Ela não esperava essa resposta.

-Bem, o que você pretende fazer em casa?

-Bem, papai vai ficar aqui? –Perguntei.

-Acho que sim, por quê? –Disse ela.

-Por nada. Já tenho um motivo para ficar em casa.

-Sua irmã vai. –Tentou me convencer.

-Legal. –Respondi.

Ela suspirou e saiu do quarto.

-Faça o que quiser. –Murmurou no corredor, com a voz abafada.

Ela tinha ficado chateada. Era sempre assim, dizia para eu fazer o que eu quisesse, mas, no final, sempre ficava de mal comigo ou tentava me convencer.

...

Depois de eu tomar café e tudo o mais que eu tinha direito, me sentei no sofá, junto com Lizy e meu pai.

-Você vai com a gente? –Perguntou Elizabeth.

-É... Não. Vou ficar aqui. –Respondi.

-Não era para você a pergunta. Era para o papai, mas tudo bem. –Naquele momento, ele a olhou com um ar de advertência, mas eu já estava acostumada com aqueles atos. –Enfim, você vai ou não?

-Também vou ficar. Vou passar um tempo com a minha bonequinha. –Disse ele.

Lizy fez cara de muxoxo, e foi falar com a mamãe.

Depois que ela se afastou, virei-me para meu pai.

-Pai, se você não quiser... Não precisa ficar. É sério. Se for só para me fazer companhia...

-É claro que eu vou ficar! Há quanto tempo que nós não podemos ficar a sós, sem sua mãe para nos perturbar? –Falou ele.

Isso me fez rir. Ele sempre sabia o que falar.

Alguns segundos depois, minha mãe e Lizy voltaram.

-Já que você não vai, arrume alguma coisa para fazer. –Falou mamãe, enquanto colocava o casaco. –Alguma coisa para estudar? E as notas dos seus exames?

-Ah, é. As notas. Recebi ontem à noite. –Respondi.

-E por que você não me mostrou? –Disse ela. –Ah, deixa para lá. Depois eu vejo.

-Tchau, pai. –Murmurou Elizabeth.

E, depois de se despedirem do meu pai e de mim, minha irmã e minha mãe atravessaram a porta, deixando meu pai e eu sozinhos.

Depois de um silêncio desconfortável e completamente incomum, meu pai começou a falar.

-Então... Ally... Sobre todo esse negócio de Herdeira de Ravenclaw, e Mi... –Ele hesitou. –Mirella Barner... O que você está achando disso tudo?

Sinceramente, eu já esperava uma pergunta desse tipo, mas não desse jeito.

-É... Não sei explicar bem, sabe? É tão, tão, tão estranho. A única coisa que me atormenta é: Por que eu? Por que justamente eu? Tenho certeza que não tem nada a ver com beleza, ou coisa do tipo, mas... Até agora, ninguém conseguiu me dizer direito o por quê de ser eu, nem mesmo Dumbledore...

Ofeguei. Tinha falado muito rápido, praticamente cuspindo as palavras que eu queria dizer há muito tempo, só não tinha uma pessoa a quem contar.

Meu pai suspirou. Jamie Scott era um homem cansado, mas, na maioria das vezes, sorridente. Me espantava o quanto ele era parecido comigo. O mesmo cabelo escuro e liso, e os mesmos olhos azuis, com uma pontinha de verde dentro, sempre calorosos e felizes...

-Alicia. –Ele me olhou nos olhos. -Eu não sei. Não faço a mínima ideia. Quem sabe, seus pensamentos não sejam diferentes dos das outras garotas? Não foi Dumbledore que disse que a verdadeira Herdeira, não deve ter interesse no objeto que carrega?

Concordei com a cabeça.

-Mas, eu não devo ser a única. Deve haver outras meninas e...

-Ally. Não há. Você é a única. E isso é ótimo. Pelo menos, quer dizer que eu e sua mãe fizemos um bom trabalho. –Falou ele.

-É verdade.

-Mas, conte-me mais sobre esse Isaac. O seu amiguinho, ou devo dizer... Namorado?

-Ele não é meu namorado, pai! –Retruquei, mas, sinto que não foi muito convincente, pois havia um sorriso esboçado em meu rosto. –É, digamos, meu companheiro para façanhas inéditas.

Ele riu.

-Façanhas encrenqueiras, né? Porque, cá entre nós... O que você aprontou em seu primeiro ano, foi o que eu consegui fazer em todos os meus anos em Hogwarts.

-Eu sou uma aluna especial. –Falei.

-É mesmo Alicia.

-Bem, e o quadribol? –Perguntou. –Quanto orgulho da minha apanhadora! Soube que você ganhou todos os jogos.

-Pois é! No último, eu despenquei de uma altura bem considerável, mas, fora isso, é muito legal. –Disse.

-Sabe, eu e sua mãe não imaginávamos que você seria... Da Corvinal. Pensávamos na Grifinória, pois você é muito corajosa e nobre, do seu jeito, é claro. –Eu ri. –Mas, eu queria pedir desculpas, por não ter te apoiado e não ter perguntado se você estava nervosa ou não. Por que, eu particularmente fiquei, e muito.

Suspirei.

-Pai, está tudo bem. Todo mundo fica. Você a mamãe me ajudaram muito mas... Com todas essas coisas acontecendo... Bem, a culpa não é de vocês. –Conclui.

Ele apenas balançou a cabeça, incrédulo.

...

O resto da tarde foi bem legal, eu e meu pai jogamos Xadrez de Bruxo e Snap Explosivo, com direito a apostas de Feijões de Todos os Sabores como prêmio.

Barulho na porta.

Mamãe e Lizy haviam chegado.

-Sua vez. –Disse papai.

Me obriguei a levantar e fui até a porta.

-Voltamos! –Exclamou minha mãe.

Minha irmã apenas entrou e subiu as escadas.

-O que vocês compraram? –Perguntei.

-Nada de especial... E nada para você. Apenas coisas para casa. –Respondeu mamãe.

Concordei, chateada.

-Bom, vou ficar no meu quarto. –E subi as escadas para meu cômodo particular.

Fechei a porta e liguei a luz da luminária, para ler “Hogwarts, uma História”. Para falar a verdade, acho que é um livro que todos que já estudaram, ou estão estudando em Hogwarts, deviam ler. Fala sobre coisas inimagináveis, e que você nunca descobriria se não lesse. Vale apena, acredite. Não é apenas um livro. Apesar de nenhum livro ser apenas um livro. Enfim, você entendeu.

Continuei a ler por um bom tempo, até chegar a hora de dormir. Escovei meus dentes no banheiro, e voltei para o quarto.

Adormeci quase instantaneamente, dessa vez, sem pesadelos.

...

Os dias que se passaram na minha casa foram divertidos, porém, chuvosos. Depois de uma semana em casa, tinha chegado a hora de partir para outro lugar, a casa do Isaac.

Estava um dia lindo e ensolarado, os pássaros cantavam alegres na rua. Era domingo.

Minha mãe me acordou como sempre, só que dessa vez, me chacoalhando ainda mais.

-Vamos logo, você tem meia-hora para se arrumar. Vamos.

Me levantei com muita relutância, tomei café e me vesti.

-Pronta? –Perguntou mamãe.

Concordei.

Meu pai estava muito triste, considerando que eu só tinha passado uma semana com ele, em praticamente um ano.

-Espero que você goste de lá, mande um beijo para o pai do Isaac, ele é muito legal. –Começou ele. –E... Ally, lembre-se do que nós conversamos, o.k? Está tudo bem. Tudo tem um propósito, e você vai encontrar o seu.

Abracei meu pai. Ele sorriu, encabulado.

-Eu te amo. –Falei.

-Eu também te amo, bonequinha.

Minha mãe abriu a porta. Estava na hora. Mas, não antes de uma coisa.

Elizabeth estava sentada, no computador. Caminhei até ela, me aproximei, e sussurrei em seu ouvido:

-Cuide bem deles. Não deixem que se preocupem.

-Se preocupar com o que? –Perguntou.

-Apenas faça o que eu te peço.

E fechei a porta atrás de mim.

Estava um calor insuportável, meio atípico para essa época do ano.

Entrei no carro, junto com a minha mãe. Ela dirigiu até o centro de Londres, e, virando em uma ruazinha bem humorada, com árvores cheias de flores e pedestres caminhando livremente.

Minha mãe parou o carro em frente a uma casa amarelo-claro, com ladrilhos coloridos na calçada. Havia uma grade branca na frente, e ela era bem bonita, mas de um jeito diferente.

Para falar a verdade, eu não poderia imaginar um local diferente para ser a casa de uma pessoa como Isaac.

Depois de alguns segundos, ainda encarando a casinha, abri a porta do carro.

-Preparada? –Perguntou mamãe.

-Acho que sim.

Olhamos para a casinha, até minha mãe tocar a campainha. Havia um pequeno jardim à frente. Era muito bonito, com flores de diferentes cores. Enxerguei alguns gnomos, mas isso é só um detalhe.

Uma mulher magra e loira atendeu, como a mulher do sonho. Aliás, era a mulher do sonho. Ela tinha um sorriso esboçado no rosto cansado, e os cabelos eram lisos, porém, não bagunçados, como os do Isaac, mas, logo quando a vi, soube quem ela era.

-Sra. Harrison! É um prazer revê-la. –Disse mamãe.

-Igualmente. Ah, olá Alicia! Prazer em conhecê-la. Sou Leah, mãe do Isaac. –Respondeu a mulher, estendendo-me a mão.

-Prazer em conhecê-la. –Falei. –Você tem uma casa muito bonita.

Ela sorriu.

-Obrigada. Mas vamos, está calor, entrem.

Ela abriu a porta, e, primeiro eu entrei, depois, minha mãe.

A primeira coisa que eu vi foi Isaac, sentado em uma cadeira, com uma expressão ansiosa. Ele abriu um sorriso muito grande quando me viu, e eu só pude sorrir de volta.

-Ally. Ainda bem que você chegou. Eu não estava muito a fim de arrumar o meu quarto. –Ele disse, baixinho.

Eu ri.

-É claro.

Minha mãe e a Sra. Harrison conversaram durante alguns minutos, até minha mãe anunciar que precisava partir. Ela se aproximou e me deu um beijo na testa.

-Cuide-se. E, acima de tudo, não se esqueça que seu pai e eu te amamos. E muito. Cuidado com tudo, não perca o juízo e não confie em quem você não achar...

-Confiável? –Completei.

Ela sorriu.

-Exatamente. Te vejo em breve.

Ela não disse quando eu a veria, e eu realmente não sabia.

Depois que a porta se fechou atrás de mim, Isaac se virou.

-Bem, você vai me ajudar a arrumar meu quarto?

-Isaac! Ela é nossa hóspede, não vai te ajudar em nada. Arrume seu quarto sozinho! –Retrucou sua mãe.

-Sra. Harrison, por mim tudo bem. Gosto de ajudar a arrumar as coisas. –Disse. –Se, é claro, você não se importar...

-Não, é claro que não. Ajude-o se quiser. Só cuidado com o cheiro e possíveis coisas que podem explodir. –Falou.

Isaac subiu as escadas correndo.

-Apresente o quarto a ela, filho! –Falou sua mãe, lá embaixo.

-Tá! –Respondeu Isaac.

Ele me encaminhou até uma porta, que era do lado de outra, em que havia sido escrito “Quarto do Isaac”. O próprio abriu a porta lisa do quarto ao lado, entrando.

-Venha. –Falou.

Venha. Venha. Não tenha medo.

Atravessei o espaço entre o corredor e o cômodo, entrando no quarto.

-É aqui que você vai dormir. –Disse ele. –Gostou?

-Não poderia ser melhor. –Respondi.

Ele sorriu.

E a única coisa que eu pude fazer foi sorrir de volta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gente, a fanfic tá acabando... :C Porém, eu acho que vou fazer um epílogo, já que alguns estão me pedindo.

*Agradecimentos a J.K Rowling, por me ajudar (mesmo sem ela saber) com as instruções e o modo de escrever a fic.*