Acordei no dia seguinte com o dormitório vazio. O dia, porém, não poderia estar mais bonito. As montanhas pareciam sorrir para mim em meio ao céu azul.

Peguei minha roupa, minha toalha, e fui tomar banho.

Quando terminei, peguei a mochila, a minha varinha (bordo e núcleo de dragão!) e desci até o Salão Principal, para tomar café.

Victoria e Charlie conversavam em frente à mesa da Sonserina.

Quando caminhei até o final da mesa, Amber me encarou, nervosa. Não retribui o olhar, porque sabia que não valia a pena.

–Bom-dia. -Falei para Charlie e Victoria.

–Bom-dia. -Eles responderam.

–Alguém viu o Isaac? Ele não está aqui. -Falei.

–Achei que ele estivesse com você, como sempre. -Disse Victoria.

Um sorriso malicioso surgiu nos lábios dela. Muito engraçado, pensei.

–Está bem, chega de falar no Sr.Corvinálio. -Começou Charlie.- Vamos falar no assunto do momento: Os testes para quadribol. Estão animadas?

–Com certeza. Vai ser depois da aula, certo? -Perguntei.

–Sim, sim, sim. Ah! É melhor vocês pedirem os autógrafos logo, porque quando eu virar goleiro da Grifinória, vai me faltar tempo para as fãs... -Disse Charlie.

Eu ri.

–Victoria, vamos? Aula com o Snape agora. Não quero me atrasar.

–Tudo bem, vamos lá. -Ela respondeu.

Descemos as escadas até as masmorras. Havia alguns alunos na sala, mas nada de Snape. Ou Isaac.

Nos sentamos, e os alunos foram chegando, e chegando, avistei Rosie, Clarie e Verônica, que acenaram com a cabeça.

Logo, a porta se abriu com estrépito, e Snape entrou.

–Abram seus livros na página 203. Hoje, aprenderemos os princípios do Antídoto para venenos comuns. -Ele falou.

–E nada do Isaac. Aonde será que ele se meteu? -Perguntou Victoria, baixinho.

–Não faço a mínima ideia. Ele não me falou nada que ia chegar atrasado. -Respondi.

–O Antídoto para venenos comuns é eficaz contra vários venenos, e pode ser usado como emergência. Para prepará-lo, basta: Bezoar, chifre de unicórnio e...

Isaac? Cadê você? Quer levar uma detenção?

–Vocês têm uma hora para preparar a Poção. Começando... Agora. -Snape anunciou.

Mas, quando os alunos iam pegar seus ingredientes, a porta se abriu pela segunda vez, com um barulho ensurdecedor.

Uma Isaac todo atrapalhado e com olheiras entrou na sala escura. Ele balbuciou um "Bom-dia professor, com licença." E se sentou ao meu lado. Incrivelmente, Snape não brigou com ele nem lhe deu uma detenção, mas fez cara feia.

–Aonde você estava? -Perguntei.

–Resolvendo alguns problemas. -Ele respondeu.

Fiquei confusa. Problemas? Que problemas?

Tentei terminar a Poção. Péssima ideia. Meu Antídoto para venenos comuns tinha cheiro de suco de abóbora estragado. Snape passou pelo meu caldeirão com uma cara de nojo. Arqueei as sobrancelhas para ele, que não deu a mínima.

Assim que o sinal tocou, subimos as escadas para o Salão Principal. Onde Charlie propôs que almoçássemos nos jardins.

Pegamos nossas bandejas e saímos do grande castelo. Pessoas falavam animadamente, outras estudavam, algumas simplesmente brincavam de correr atrás das outras. Sem problemas, sem preocupações...

Nos sentamos embaixo de uma das muitas árvores. Comi meu sanduíche em silêncio, enquanto Isaac, Charlie e Victoria não poderiam conversar mais sobre quadribol.

–Mas a Campbell é horrível! Nunca consegue agarrar um pomo se quer. Ela é só mais uma garota que se acha a estrela. -Victoria resmungou.

–E o Walker? Aquele goleiro da Grifinória? Um lixo. Acha que é bom, mas na verdade, é só bonitão. -Começou Charlie. -Quando eu ficar famoso sendo goleiro, vocês vão querer autógrafos, certo? Então, é melhor pegarem os papéis e a caneta logo!

Todos riram.

–E você, Ally? Acha que vai se sair bem no teste? -Isaac perguntou.

–Acho... Acho que sim. Vocês vão assistir, não é? -Perguntei.

–Com certeza. Não perderíamos o seu brilho por nada nesse mundo. -Respondeu Charlie.

Eu ri. Como ele era bobo.

–Bom, gente, mas, agora, falando sobre a Sala Submersa: Podemos procurar hoje? No mesmo horário? -Eu perguntei.

–Pode ser... Mas...Você acha mesmo que nós vamos achar alguma coisa? -Victoria indagou.

–Não. Mas não custa tentar. -Respondi.

...

As aulas depois do almoço pareciam se passar muito devagar, mas , uma hora teria que chegar os testes de quadribol.

O capitão do time da Corvinal era o Benjamin Lewis. Era um cara magro, de cabelos castanhos encaracolados e muito bagunçados. Ele era muito ágil, e até um pouco atraente. É um dos artilheiros da Corvinal.

–Bom, boa-noite a todos. Sou Benjamin, capitão do time, e antes de começar os testes, gostaria que vocês escrevam na lista de presença, por favor. -Ele falou.

Havia uma pequena multidão na arquibancada. Victoria, Charlie e Isaac estavam entre essas pessoas. Charlie tinha uma placa escrito " Scott para apanhadora!" Eu ri.

Ária apareceu do meu lado, do nada.

–Nervosa? -Ela me perguntou.

–Mais ou menos, e você?

–Muito nervosa. E se eu cair da vassoura? -Ela falou, alarmada.

Não era ordem alfabética, era ordem da fila, então, eu seria a sétima pessoa a fazer o teste para apanhadora.

Primeiro foi um garoto robusto, que não conseguiu capturar o pomo, e se desequilibrava muitas vezes da vassoura, por ser muito pesado.

Depois foi a vez de uma garota loira de pele bronzeada. Ela foi bem até a metade do teste, mas quando quase tocou no pomo, se desequilibrou e teve que fazer uma curva, que eu achei, particularmente, feia.

E assim foram os testes. Tirando o número cinco, um garoto magricela, de cabelos ruivos. E um outro, o número seis, ninguém tinha ido muito bem.

Até que Benjamin chamou meu nome. Ele libertou o pomo, que saiu voando, em direção ao céu. Observei ele, até o capitão autorizar que eu partisse.

Senti que o meu estômago estava fora do corpo.

Subi em direção ao céu azul, montada em uma CleanSweep 6 que pertencia à Hogwarts.

Procurei por um ponto dourado com asas, mas nada. Nem sinal do pomo. Sentia os olhares de várias pessoas sobre mim, e fiquei com uma imensa vergonha. Você não tem tempo para isso, Ally. Ache o pomo, prove que você consegue, pensei.

Procurei durante alguns minutos, fazendo curvas que eu não achei muito bonitas... Até que...

Eu o vi. Um ponto com asas sobrevoava uma das balizas. Voei até lá, o mais rápido possível. Mas, quando ia encostar os dedos nele, o pomo desceu.

Fez uma curva muito rápida por baixo de mim, e voou em direção ao chão. Já sabia o que aquela bola alada idiota iria fazer.

Mergulhei a toda velocidade, em direção ao chão. Sentia os olhares alarmados, e os suspiros de "Ela não vai conseguir." "Vai se estatelar no chão".

Mas eu não tinha ouvidos para isso.

Continuei voando, em direção ao chão, até que, ele fez a curva e eu estiquei o braço direito para pegá-lo.

Senti meus dedos agarrarem uma coisa redonda, na hora em que fiz a curva, a centímetros de bater no chão.

Ouvi aplausos, vindos das arquibancadas e até do próprio capitão do time. Me senti realmente feliz. Eu tinha conseguido. Tinha capturado o pomo.

Parei ao lado dos outros concorrentes.

–Uau! Parabéns, Alicia! Você foi muito bem! -Falou honestamente Ária.

–Obrigada... -Eu respondi, sorrindo.

Foi a vez dela. Ária estava realmente nervosa. Ela não conseguiu capturar o pomo, e quase se estatelou no chão.

–Fui horrível! Horrível! -Ela exclamou.

–Não foi não... Fique calma. -Eu disse.

Ela estava quase se debulhando em lágrimas.

Ária era uma das últimas. Atrás dela, só havia uma garota muito magra e desajeitada do terceiro ano, e um outro garoto robusto de pele meio morena, do quinto ano. Nenhum dos dois foram muito bem.

Sobraram eu, O número cinco e o número seis.

–Bom, -Começou Benjamin. -a escolha foi bem difícil, tenho que admitir, mas... Quem eu escolhi para ser apanhador do time da Corvinal é...

–Alicia Scott! -Ele exclamou.

Pelas. Barbas. De. Merlin.

Eu já não sentia minhas pernas, tamanha era a felicidade. Abri um sorriso maior do que eu podia abrir, e acenei para as pessoas na arquibancada. Eu era a apanhadora.

Eu era a menina do pomo.

E não poderia me sentir mais feliz.