Keys Of Time escrita por Giovanna Siqueira


Capítulo 2
Vestidos




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Voltar para casa totalmente atordoada pela felicidade é um dos meus pontos altos. Corri para o ônibus, quase esquecendo de pagar o motorista (que não me pareceu muito feliz com a minha falta de atenção). Quando cheguei em casa, me joguei na cama e senti todo o peso do mundo sendo tirado de meus ombros. Esqueci cada resquício de preocupação que eu havia sentido nas últimas horas e relaxei. E foi aí que lembrei que não se vai a um baile de All Star e camiseta dos Imagine Dragons. Mas minha família não estava com condições de me pagar, nem mesmo alugar um vestido de luxo.

A primeira coisa que lembrei nesse momento foi: BECKY. Peguei meu celular e assim que estava discando seu número, minha mãe passou correndo agitadíssima pelo corredor.

– GRAHAM! Pelo amor de deus, Graham, vamos logo. Deixe Eleanor pra lá, precisamos correr!

Deixe a Eleanor para lá? Foi isso mesmo que eu escutei?

– Mãe? O que está acontecendo? – perguntei, tentando perseguir esse pequeno furacão ambulante que era minha mãe.

– Eleanor, fique aqui em casa, ou na casa da Rebeca, ou em qualquer lugar, mas eu e seu pai precisamos correr para o hospital!

O hospital. Essa palavra me deu calafrios. Vovó estava no hospital. Será que...não. Não poderia ser. Ashley Kirke, minha avó por parte de mãe, estava passando por momentos difíceis. Seu dia era preenchido por ataques de bronquite e asma, e a todo momento os médicos a colocavam na UTI. Ashley desenvolveu todos os seus problemas respiratórios logo após a morte de meu avô, em 1998.

– Mãe, aconteceu alguma coisa com a vovó? – nesse momento eu senti a preocupação me invadir. E era a porcaria da preocupação que me atormentava noite e dia, dia e noite. Para mim, era quase um espectro que sempre se sentava ao meu lado durante a noite e me observava até eu adormecer. Todo momento da minha vida teve sua participação, fosse uma prova ou até mesmo um passeio escolar. Tudo me parecia motivo para criar hipóteses, e elas pareciam nunca estar boas. Esse é o problema de desenvolver hiperatividade. Você pensa demais.

– Ellie, agora não é momento para conversa. Estamos indo para o hospital – ela disse, se encaminhando para o corredor e pegando as chaves que estavam em cima da geladeira.

– Sim, mãe. Essa parte eu entendi – disse, tentando persegui-la, com dificuldade. – Agora me explique o que aconteceu!

– Sua avó, Ellie – ela disse, em voz quase baixa e totalmente entristecida. – Ela não está melhorando. Teve uma crise de asma agora de manhã, e foi encaminhada à UTI mais uma vez, mas não está dando certo. Quero dizer, todos aqueles remédios e... ah, bem, deixe Ellie. Fique aqui, que eu seu pai vamos fazer uma visitinha, está bem? – ela disse, com ternura. Saindo de casa, ela virou pra mim e por um instante que fosse, tive a impressão de ver uma lágrima caindo de seu rosto. – Vai ficar tudo bem.

Assim que a porta se fechou, sentei no sofá, exausta. Precisava de um tempo para mim, e o baile estava ali para isso. Eu tinha que planejar tudo, desde a maquiagem até o cabelo, mas tinha certeza que não conseguiria fazer isso sozinha. Lembrei de novo de Becky, e corri para o quarto pegar o celular. Apertei o botão para ligar, e ela me atendeu.

Alô? Com quem estou falando?

– Oi Becky, é a Eleanor aqui. Então, eu precisava pedir sua ajuda para arranjar o que vestir na festa, porque não tenho a menor ideia. Meus pais não – não podem pagar um vestido para mim? Péssima ideia. – não puderam conversar comigo hoje, então creio que não podem me ajudar a tempo. Pensei que você saberia o que eu tenho de fazer.

Claro! Temos de ir às compras! Tem um brechó do outro lado da ponte, vamos lá! Ouvi falar que tem coisas lindíssimas e por um preço mais agradável ainda! Te encontro lá em meia hora, pode ser? – ela parecia animada. Não pude negar que Rebecca sempre sabia o que fazer.

– Sim. Até mais – me despedi, e novamente o silêncio passou a reinar pela casa. Eu ainda tinha um cartão de crédito que minha mãe havia me dado de presente há alguns anos atrás, mas não sabia quanto tinha nele. Bem, as economias para o celular novo podiam ajudar.

Meia hora mais tarde, eu já estava esperando ela na frente da feira, onde o brechó se localizava. Em dois minutos, eu já tinha encontrado o palito de fósforo correndo pela rua.

– Espero que aquela loja ainda esteja aberta. Sabe como é, muito velha – ela disse, mostrando a língua no final da frase.

– Roupas velhas? Ah, pelo amor de deus, Rebecca, eu achei que tinha sido específica quando te disse que precisava de um vestido para a festa de início das aulas, não para uma confraternização no asilo!

Rebecca riu.

– Não, bobinha. A loja é velha – ela disse, com uma pontada de desdém – e não as roupas.

Logicamente, ela estava certa. Logo que entramos na loja, os pilares ao estilo grego apareceram e se iluminaram, exibindo uma enorme fonte de água com o que me parecia ser a deusa Afrodite no centro, acariciando uma pomba. Milhares de vestidos maravilhosos, com pedras e cristais resplandecentes estavam pendurados em cabides luxuosos. Mesas com joias brilhantes espalhavam-se por toda a entrada.

– Becky? Acho que estamos no lugar errado. Eu não posso pagar por esses vestidos – me dirigi ao cabide mais próximo e li o preço em voz alta – mil e quinhentas libras! O que é que estava passando pela sua cabeça quando... – parei de falar. Um grande mural se estendia pelo teto da loja, com as seguintes inscrições: “Narnia, Narnia Vigilate! Amor! Putant! Loqui! Arbores ambulantes! Quod animalia loqui! Ut Divinum sit aquae!”.

No exato momento que terminei de ler o que estava ali escrito, uma mulher de olhos claros chegou na sala.

– Nárnia, Nárnia, desperte! Ame! Pense! Fale! Que as árvores caminhem! Que os animais falem! Que as águas sejam divinas! - ela respirou fundo, e olhou para nós. – Olá, queridas? Como posso ajudar? Meu nome é Lúcia.


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