Keys Of Time escrita por Giovanna Siqueira


Capítulo 3
Bilhetes, livros e borboletas


Notas iniciais do capítulo

Um pouco longo, mas compensa a espera de mais de dois meses dos meus 2 ou 3 leitores. Nada que afete vocês, meus amores ;)



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Pelos longos segundos em que eu encarei a senhora, percebi seus olhos azuis, rugas que pareciam ter se originado a partir de inúmeros sorrisos, cabelos escuros e curtos e um rosto doce. Mas pelo jeito, não é muito educado olhar para alguém por três minutos e não dizer nenhuma palavra.

– Els. – Becky disse de canto de boca, me dando uma cotovelada. – Você está sendo esquisita de novo.

Então me dei conta de que estava parada, de boca aberta, segurando um vestido amarelo de um jeito que poderia me levar para a prisão por maus-tratos. Lógico, Eleanor, uma vez estúpida, sempre estúpida.

– Erm...oi, eu sou a El...

– Eleanor Jean Kirke. – A senhora me interrompeu, sorrindo.

Avalie a situação. Você chega em uma loja caríssima, acha um dos melhores vestidos que já viu na vida, vê um rosto conhecido que sabe o seu nome e ainda esperam que você saiba o que fazer? Olhei para Becky com cara de espanto e ela imediatamente retribuiu o olhar.

– Sempre achei que seu nome do meio era Jane. – Rebecca disse e franziu a testa. Que ótimo que ela teve essa reação, contribuiu muito para o fato de que parecíamos fugitivas de um manicômio.

Lúcia riu mais uma vez, com aquele sorriso encantador que humilhava minha tentativa de parecer um ser humano desenvolvido ao sorrir.

– Não tem problema, não precisa se assustar. Conheço sua família, Eleanor. Já fomos muito próximos. Agora, me parece que vocês tem um desafio aqui, não? – ela desviou o olhar brevemente para o meu vestido, que obviamente era a escolha errada. – Aqui, deixem-me ajudar.

Ela desceu os degraus que nos separavam e caminhou até o estande mais próximo, que era a seção de vestidos curtos. Ela pegou um azul-marinho com detalhes que, juro, me pareciam feitos de cristal, e entregou a Becky.

– Experimente este, querida. Depois venha nos mostrar.

Assim que Rebecca saiu, Lúcia me pegou pelo braço e me levou por uma porta que dava para mais uma sala enorme com mais vestidos lindos. Enquanto caminhávamos, ela começou a falar.

– Escute, Eleanor, como ela está?

– Desculpe, quem? – eu disse, confusa.

– A casa, oras. – ela respondeu, como se fosse algo muito evidente.

– Casa?

– A velha casa Kirke, meu bem.

– Ah sim, aquela casa de campo que fica bem longe daqui? Estamos pensando em vender, na verdade.

Eu não devia ter dito aquilo. Ela soltou meu braço e olhou para mim surpresa.

– Vender? – assim que disse isso, começou a tremer.

– N-não, espere. Não tenho, é...certeza disso. Mas...é...não sei. O que quero dizer é que não sabemos como as coisas ficarão. Estamos com problemas financeiros, sabe?

Ela se acalmou um pouco e continuou caminhando, o que claramente me obrigava a ir atrás dela.

– Bem, isso são assuntos da sua família. Entretanto, preciso te entregar um envelope. Ele deve ser guardado com cuidado e peço para que você o abra somente quando for a hora certa.

– Mas quando será a hora certa? – perguntei, com curiosidade.

– Você saberá.

Ela tirou de dentro do bolso de seu casaco um envelope amarelado, com um “para Eleanor Kirke” escrito em uma caligrafia caprichada. Logo no canto direito havia um carimbo em vermelho de um leão, que me parecia um brasão de alguma família.

Nesse momento, Rebecca entrou pela sala, com o vestido no corpo. A cor azul realçava sua pele muito clara e seus cabelos ruivos, assim como os detalhes de cristal combinavam com o brilho de seus olhos azuis-céu. Ela estava deslumbrante.

– Como estou? – ela disse, rodopiando.

– Linda. – “e com certeza muito mais bonita do que eu vou ficar”, pensei.

– E o seu vestido?

– Ainda não sei qual será. – porém, assim que me virei, Lúcia segurava um vestido azul turquesa sem mangas e com um laço na altura da cintura. Era lindo, com a saia rodada e ia ficando de um tom mais claro conforme ia descendo. Fui para o vestiário experimentar e saí exatamente para esbarrar com ninguém mais, ninguém menos que Tom Fieldstone, o garoto pelo qual eu era apaixonada há 3 anos e que, curiosamente, me chamou para ser seu par no baile. Ele me olhou de cima a baixo e senti meu rosto corar enquanto fazia de tudo para esconder minhas pernas.

– Vestido bonito, Kirke. – ele disse, com aquele sorriso estonteante que, por um segundo, travou todo o meu corpo. Ele me olhava com aqueles olhos azuis lindos e com aqueles cílios gigantes que...meu deus, eu estava perdendo o foco.

– Erm...obrigada. – eu tentei formular um sorriso decente, já que não era muito da minha especialidade (e nem do meu costume) sorrir com os dentes. Foram 15 anos de prática para eu parecer uma hiena quando tento demonstrar minha felicidade.

Ele sorriu de volta. E eu fiquei muito irritada, porque aquele sorriso fazia eu querer me atirar da ponte e voltar só pra beijar ele. Opa. Esse pensamento está indo muito longe.

– Espero que você vá com ele na festa. Você fica linda com ele. – Obrigada, amigão. Suas tentativas de me destroçar por dentro obtiveram sucesso!

Graças a deus, Becky e sua espontaneidade me salvaram de um constrangimento extremo, porque ela gritou meu nome e veio correndo para dizer como eu estava linda e ficava bonita parecendo uma menina. Tom só ria, e eu me senti obrigada a rir também, se não a situação ficaria ainda mais desconfortável.

– Então, Rebecca, já arranjou um par? – ele se dirigiu a ela.

– Ainda não, não consegui achar ninguém que se encaixe nos meus padrões. – ela disse, com sinceridade.

– Becky, um exemplo dos seus padrões é Logan Lerman. – eu disse, sendo irônica.

Todos nós rimos, até que Tom disse:

– Sabe aquele meu amigo ali, o Jake? Ele me pediu para convidar você para ele, que está com vergonha. – ele apontou para o amigo, que estava tentando disfarçar que estava ali, olhando para os vestidos de noiva. Jake era muito bonito também, com olhos verdes e cabelo escuro.

– Sério? Ele é bem bonitinho, acho que vai ser meu par. Vou pra cafeteria com ele daqui a pouco! Até mais, Ellie – ela deu uma piscadela e foi saltitando pagar o vestido e logo saiu da loja com o garoto.

Olhei para Tom e disse:

– Vou pagar o vestido, então...até mais. – já ia me despedir, quando ele segurou meu braço. Eu quase caí no chão.

– Eu te espero. Quero ir com você no...bem, onde quer que você vá quando sair daqui. – ele deu um sorrisinho só com o canto da boca. Desviei o olhar para não corar, e fui direto pagar o vestido. Só então percebi que eu nem havia perguntado o preço.

– Com licença, quanto é que este custa? – perguntei para Lúcia.

– Ah, meu bem, não precisa se preocupar com isso! É um presente. – ela me disse, sorrindo com ternura.

– P-presente? – perguntei, chocada. Não é possível. Nunca conseguiria um vestido daqueles por menos de 500 euros, quanto mais de graça.

– Sim, um presente, Eleanor. Agora vá logo, antes que eu mude de ideia. – ela disse, e sorriu logo em seguida, me entregando uma sacola para colocar o vestido.

Fui para o trocador, passando por Tom, e logo já estava de volta, com minha roupa de antes e bem mais confortável. Peguei a sacola e me virei para ele.

– Então...o que acha de irmos até a biblioteca? – troquei o peso do corpo de um pé para o outro, nervosamente.

– Claro – saímos da loja, acenei para Lúcia e nos dirigimos para a biblioteca que ficava ali perto. – Ei, Kirke. Já mencionei que tenho um fraco por pessoas que gostam de livros?

– Acho que não, Fieldstone. – respondi, ironicamente. Eu sabia que ele odiava ser chamado pelo sobrenome, assim como eu. Nada mais justo.

Ele fez uma careta para mim.

– Estou mencionando agora, então. Tenho um fraco por pessoas, ou melhor, garotas, que gostam de livros. – ele deu uma risada.

– Engraçado. Tenho um fraco por pessoas que gostam de garotas que gostam de livros.

Nós dois começamos a rir, até que percebemos que estávamos na frente da biblioteca. Ok, hora de fazer silêncio. Entramos juntos, e o cavalheirismo de Tom não deixou passar a chance de abrir a porta de vidro do lugar para mim.

– Quais são seus tipos favoritos de livros? Romance? – ele perguntou para mim, passando a mão pelas lombadas dos livros.

– Eu, Eleanor Kirke, e romance? Você nunca encontrará esses dois elementos na mesma frase! – respondi, e começamos a rir. A risada dele me fazia pensar em um sol poente, em meio aos campos floridos ingleses. Era como a brisa fresca em um dia de verão, ou um chocolate quente no inverno gelado. Vê-lo feliz era como ganhar uma medalha por uma atividade pela qual você praticou a sua vida inteira.

– Então vamos para o fundo. É lá onde fica a seção de livros de aventura. – ele disse, me pegando pela mão. Eu não sei se reagi mal ou não, mas congelei por dentro. Se não fosse o calor da sua mão, provavelmente eu teria ficado ali, parada. Chegamos a ultima parte, onde ficavam livros de terror e batalhas navais.

Eu encostei na estante, olhando para ele. Opa. Alerta máximo. Distância pequena. Distância pequena demais! Ele parou na minha frente e me encarou. Ainda estávamos de mãos dadas. Eu até lembraria ele disso, se não estivesse gostando.

– Você tem arco-íris dentro dos olhos, Ellie. – Tom disse, com uma voz tão suave quanto cetim.

– Você tem o céu nos seus. – disse, tão nervosamente que minha voz tremia.

Ele chegou mais perto. Eu poderia contar quantos cílios ele tinha. Mais perto. Olha só, exatamente quarenta e três sardas. De repente, ele encostou os lábios nos meus. Era como se eu estivesse criando um monte de borboletas na barriga há meses, e elas finalmente saíram dos casulos. Foi algo rápido, mas forte. Pude sentir cada músculo da mão de Tom contraindo de nervosismo, mesmo ele já tendo beijado algumas meninas antes. Isso era diferente. Quando ele finalmente se afastou, ele viu a expressão de choque no meu rosto. Ele fez uma careta.

– Me desculpe. Eu não devia ter feito isso. – ele começou a andar para fora da seção, mas eu agarrei seu braço com toda a força que eu pude, o que talvez não tenha sido a coisa certa, já que eu era jogadora de vôlei e não tinha muito controle de força nas mãos. Ele rapidamente se virou, e eu o abracei. Ele retribuiu o abraço. A voz dele estava embargada quando ele disse: “Eleanor Kirke, eu acabei de colocar seu nome e romance na mesma frase.”


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