Keys Of Time escrita por Giovanna Siqueira


Capítulo 1
As novidades




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Vou te dar um conselho simples: nunca, em qualquer hipótese, saia do seu quarto as quatro da manhã se escutar vozes na cozinha. Porque podem ser:

1) algum ser fantasmagórico querendo te matar

2) algum tipo de animal selvagem atacando sua geladeira

3) seus pais conversando sobre a atual situação financeira da família

Eu tive a infelicidade de cometer o erro de estar lá durante a situação 3. Meus pais, Avery Kirke e Graham Ardleston, se encontravam sentados na mesa da cozinha. Minha mãe tinha um bloquinho de notas à mão e meu pai encarava a janela duramente. Eu tentei abrir mais a porta, mas estava emperrada, tornando tudo mais difícil. Logicamente.

- Avery, não dá mais! A escola da Ellie está acabando com o nosso dinheiro! Além disso temos de pagar os novos remédios da sua mãe, comprar material escolar para esse começo de ano, reformar nossa loja e terminar de pagar o carro! Você ainda acha que é possível, pelo amor de Deus, sustentar aquela casa velha?

- Graham, creio que isso não seja uma escolha nossa! Aquela construção é herança do meu pai, e aguentou 2 guerras seguidas sem nem mesmo uma rachadura! O que será das lembranças se a casa for demolida?

- Não é tempo para sentimentalismo, Avery! A decisão é sua. Ou vendemos a casa, ou vendemos a loja.

- Eu não acredito que você esteja falando isso em sã consciência! O que temos aqui não é uma bicicleta, ou uma cômoda! É um patrimônio histórico! - e nesse momento meu pai finalmente voltou sua atenção à minha mãe.

- Esse é o problema Avery. Você nunca consegue se decidir! Sempre ficamos em um meio termo e, consequentemente, tudo dá errado!

- Então é isso? É isso que você sempre pensa quando deixa absolutamente tudo em minhas mãos?

Naquele segundo, eu desejei não ter escutado nada. Desejei não ter saído escondida do meu quarto, nem ter tentado abrir a porta. Voltei sorrateiramente ao meu quarto e me deitei de novo, procurando dormir e nem começar a pensar no que havia acabado de acontecer. Claro que não deu certo, e só voltei a dormir às seis e meia. No dia seguinte eu teria um encontro com a Becca, minha melhor amiga, e mal tinha dormido. Ótimo. Afinal, olheiras são a última moda.

No dia seguinte, acordei alvoroçada e corri para o banheiro checar minha aparência, que felizmente estava aceitável. Prendi meu cabelo sem nem ver o resultado, coloquei o tênis velho que estava sem lavar e corri para o ponto de ônibus mais próximo. Rebecca estava me esperando na frente da Skeldergate, uma das pontes mais famosas do país. Pelo menos, era isso que meu pai sempre me dizia.

Só então percebi que estava com a blusa do pijama. Mas que maravilha! Estou andando pelas ruas de York com uma camisa de coelhinhos! Fechei o casaco até o ultimo botão e segui em frente.

Chegar por trás uma da outra e dar um susto era uma tradição nossa. Mesmo assim, não estava com paciência para fazer isso e só a chamei, de longe.

- Becky! - gritei, acenando para ela.

- Oi Ellie! Como você está?

Uma das coisas que eu mais adorava em Rebecca eram seus longos cabelos ruivos. De longe você conseguiria ver aquele grande extintor de incêndio humano. Seus olhos eram de um azul tão indescritível que eu nunca perderia tempo tentando explicar. E as sardas? Sim, as sardas. Não muitas, mas o suficiente para tornar seu rosto inocente e adorável. Seu sotaque vinha e voltava, pois ela era alemã. Porém, nada disso se comparava ao seu humor. Engraçada, extrovertida, animada. Tudo que eu queria ser, mas sabia que não seria.

- Bem. - respondi, tentando disfarçar o mau humor.

- Não Ellie. Não está tudo bem. - ela disse, em um tom infantil, dando uma piscadela para mim e balançando o corpo para frente e para trás. - Vamos, quero que você me conte tudo.

Fomos andando pela Terry Ave, de braços dados. Contei à ela tudo que tinha escutado e ela não disse uma palavra sequer até eu terminar.

- O que você acha que vai acontecer? - perguntei, preocupada.

- Ellie, tenho certeza que isso é só um contratempo. Se você está se referindo à algum tipo de separação, seus pais se amam muito para que algo simples como isso os importune. Não precisa ficar aflita. Agora, se o seu problema é mau humor, tenho uma coisa que você com certeza vai gostar.

- Sim? - Becky tinha o dom de me tirar da tristeza.

- Tim Fieldstone disse que você é bonita. - ela disse, com um grande sorriso estampado no rosto.

Minha reação pareceu ter sido exatamente a que ela queria ver. Imediatamente eu soltei de seu braço e comecei a correr gritando, girando, pulando, e trombando com todos os pobres seres humanos que andavam pela calçada naquele momento.

- E tem mais uma coisa, Ellie! - ouvi ela gritando ao longe e percebi que estava muito distante, então voltei correndo.

- Diga, diga, diga, diga! - exclamei, segurando-a pelos braços e chacoalhando-a.

- Ele quer ir com você ao baile de começo das aulas!





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