P.o.v Ally

Não, aquilo não era nada de mais! Eu gostava daquele aplicativo! Me fazia esquecer um pouquinho da vida. Achava divertido, o que tem de mais?

- Sério mesmo Ally? - Ele me devolve o celular e eu me afasto do retardado, segurando o celular contra o peito.

- O que é que tem? Eu gosto!

- Aplicativo de karaokê? Isso é patético!

- Patético é a tua cara! Vai dizer que não gosta de cantar? - Desafiei-o. Ele ficou calado por uns segundos. - Viu?

- Não tem nada haver. Eu gosto de cantar, é lógico, mas com karaokê? Eu prefiro o instrumento em si. - Eu dou de ombros e continuo a mexer em meu celular. - É sério que você ficou o tempo todo usando essa merda?

- Não. Eu tava conversando com a Trish, mas ele teve que arrumar suas coisas para ir para o México! - Rio um pouco, lembrando da relutância com a mãe, por causa desta viagem. - Daí, eu resolvi atualizar minhas músicas, para me divertir depois! - Enfatizei o 'divertir', para ele entender o porque que eu gostava de karaokê.

- Eu não sabia que você cantava. - Austin tinha mudado sua posição, e agora estava de frente para mim, com as pernas cruzadas e brincando com os fiapos do cobertor.

- E eu não canto.

- Ah, sério? - Disse num tom debochado.

- Austin, eu realmente amo música e tal, mas eu não canto. Gosto, claro, mas minha voz é péssima. Canto, geralmente no chuveiro, onde ninguém possa me ouvir, só por prazer.

- Então, eu posso ouvir? Vai que a sua voz não é tão ruim quanto pensa? - Encontro seus olhos e o vejo implorando por aquilo.

- E é você quem vai avaliar? - Solto uma risada debochada. O garoto olha para os lados e depois volta a olhar para mim.

- Ta vendo mais alguém aqui? - Reviro os olhos para ele.

- Esquece. Eu não vou fazer isso.

- Vai Ally, por favor! - Ele junta as mãos e faz uma vozinha estranha.

- Por que quer que eu faça isso?

- Eu tenho esperança de que você está errada quanto a qualificação de sua voz. - Diz simplesmente. Um silêncio tomou conta do momento, e eu me vi sorrindo para ele, pela escolha de suas palavras. Suspiro e me deixo levar. Entrego o celular para ele.

- Escolhe uma música. - Ele sorri para mim e pega o celular animado. Eu levanto e caminho até minha penteadeira, pegando uma escova de cabelo com cabo roxo e voltando para cama.

- Que tal... Something That We’re Not, da Demi Lovato? - Olha pra mim e eu lhe dou um aceno confirmando. - Sabe a letra? - Confirmo novamente.

Ele coloca a música para tocar e eu deixo o ar escapar de meus pulmões.

- Relaxa, eu não vou rir de sua cara! - Acho que ele tentou me confortar com aquilo, mas só conseguiu meu olhar mortal.

"I shoulda known when I got you alone

That you were way too into me to know

This isn't love boy, this aint even close

But you always think we're something that we're not

And now you call me every single night

I only answer cause I'm too polite

We happened once, or maybe it was twice

Yeah you always make it hard for me to stop

But you always think we're something that we're not, hey"

Comecei a cantar de olhos fechados, mas aos poucos fui tomando confiança e abri meus olhos, pronta para ver um loiro sorrindo para mim, e se não me engano, vi um brilho misterioso em seus olhos.

"You wanna be more than just friends

I can't go through this again

Stop trying get inside my head

Don't wanna do more than hook up

It's getting stupid, cause I shoulda known but I forgot

That you think we're something that we're not, hey"

"I hear you're telling every one you know

That I'm the one like you can't let me go

And you just keep on blowing up my phone

Cause you never seem to knowing you should stop

Don't introduce me to any of your friends

Delete my number, don't call me again

We had some fun, but now it's gonna end

But you always make it hard for me to stop

Now you always think we're something that we're not, hey"

Levantei da cama e segui andando pelo quarto, dançando meio desajeitada, segurando a escova a poucos centímetros da boca. Eu tava gostando daquilo, aquela era realmente a primeira vez que eu cantava na frente de alguém. E a sensação não poderia ser melhor.

"You wanna be more than just friends

I can't go through this again

Stop trying get inside my head

Don't wanna do more than hook up

It's getting stupid, cause I shoulda known but I forgot

That you think we're something that we're not, hey"

"Something that we're not, hey

You think we're something that we're not

Yeah, you think we're something that we're not"

Cheguei mais perto do Austin. Ele carregava o celular em uma das mãos, e seus olhos não conseguiam desgrudar dos meus. Sorri com a sua reação e aproximei-me de seu rosto, roçando meus lábios em sua orelha.

"Not gonna happen, dude"

Sussurrei em seu ouvido, e não pude deixar de rir, ao ver que ele estremeceu com o ato. Afastei-me apenas um pouco, continuando a cantar a música.

"You wanna be more than just friends

I can't go through this again

Stop trying get inside my head

Don't wanna do more than hook up

It's getting stupid, cause I shoulda known but I forgot

That you think we're something that we're not, hey"

"Something that we're not, hey

You think we're something that we're not

Sometthing that we're not

Stop playing

You think we're something that we're not"

É, eu sabia que estava provocando ele. Mas a cada segundo, eu me interessava mais por suas reações ao que eu faço. Ele parecia hipnotizado, ou algo assim. E isso me fez acreditar, pelo menos um pouco, que eu sabia cantar muito bem, modéstia parte. O garoto agora sentara á beira da cama e observava com atenção cada movimento meu. Aproximei-me novamente e toquei em seu queixo, repetindo o último verso.

"You think we're something that we're not"

P.o.v Austin

Não era possível que aquela voz vinha da boca daquela garota. Eu estava mais que impressionado, não conseguia tirar os olhos dela. Seus movimentos, sua voz deliciosa de se ouvir, seus olhos que se fechavam por segundos quando chegava o refrão. Tudo nela me impressionava. E quando ela sussurrou a frase em meu ouvido, eu me perdi. A garota me atraía mais que qualquer outra nesse mundo, e...

- E aí? Como eu fui? - A morena estava parada a minha frente com um sorriso de canto.

- Acho que você já sabe a resposta. - Minha voz saiu falhada, eu tentava me recuperar aos poucos.

- Essa é a primeira vez que eu canto na frente de alguém, então eu realmente quero ouvir em palavras, como foi o meu desempenho? Me diz! - Seus olhos brilhavam e ela contorcia os dedos em nervosismo. Sorri com aquilo.

- Tá bem. Numa escala de 0 a 10, você foi... ér... Muito bem.

- Austin!!

- 10, ok? Você canta muito bem! Me impressionou. Não pensei que poderia ter uma voz tão bonita... - Ela sorriu largamente, e... Ei, Ally Dawson corou? - É impressão minha, ou suas bochechas estão um pouco vermelhinhas de mais? - Toquei em sua face e ela se afastou.

- Impressão sua meu bem. Anda, hora de dormir! - Ri de sua reação disfarçada.

- Seria um problema se eu mandasse a gravação para algumas pessoas que eu conheço? Alguns talentos tem que ser reconhecidos.

- O que? Que gravação?

- Vai dizer que não sabia que o aplicativo grava as músicas que canta? Ah, e você compete online neste negócio? - Visualizo um pouco mais o celular em minhas mãos.

- O que? Essa merda grava? - Seu desespero me assustou e eu só consegui acenar com a cabeça. - Moon, não se atreva a mexer mais um dedinho neste celular! - Ela se aproximou de mim em passos lentos e eu - que já estava em pé - fui em direção á minha cama.

- Ah, é só apertar um botãozinho aqui. Deixar eu ver... Compartilhar! - Brinquei com ela, ainda me esquivando.

- Sério Austin! Não faz isso! - Dei um sorriso para ela e toquei na tela. Lógico que não compartilhei nada, mas... Cara, é força do hábito! Só deu tempo de eu sentir-me caindo na cama e ter um peso em cima de mim. - DEVOLVE!

- Caralho, tá doendo! - Ela me enchia de tapas no peito e tentava pegar seu celular de minhas mãos. - Toma logo! - Entreguei o celular para ela, que o agarrou e deu um último tapa em meu peito. Ally tentou equilibrar-se em cima de mim e olhou para a tela do celular. Sorri quando ela percebeu que eu não tinha compartilhado nada, que nem o aplicativo estava mais aberto.

- Você é muito idiota, sabia? - Apontou o indicador para meu nariz. Com cuidado, estendi meus braços e agarrei sua cintura levemente, deixando-a presa contra mim. Ela não pareceu se incomodar, e isso foi o que mais me deixou feliz.

- Acho que sim. Você me diz isso todo dia. - Ela me mostrou a língua e eu repeti o gesto.

- Gostou mesmo? - Sussurrou.

- Do que?

- Do que eu cantei, imbecil. Tipo, eu nunca tinha cantado mesmo na frente de ninguém, e nenhuma pessoa, além da Trish, sabe que eu gosto mesmo de música. E assim, até agora eu tento descobrir de onde eu tirei tanta coragem para cantar logo em sua frente!

- Vou ser sincero com você - disse e ela me olhou curiosa - Eu amei o que você fez. Foi simplesmente incrível, ainda mais por me surpreender do jeito que fez. Eu nunca imaginaria que você cantava bem assim, e que possuía a mesma paixão que eu pela música. Eu fico pensando, tipo, eu sempre quis conhecer mais de você, mas a minha ignorância e o egoísmo não deixava. Ás vezes eu imaginava como você poderia mesmo ser. E agora eu vejo que estou cada vez mais interessado e gostando cada vez mais do que estou conhecendo. - Ela sorri e abre a boca pra falar alguma coisa, mas nada sai. Apenas:

- Imbecil. - Continuando com aquele sorriso meigo no rosto.

Eu quero. E como eu quero me aproximar mais e encostar em seus lábios, só que eu não posso. Eu realmente não quero estragar essa nova amizade. Então só fico encarando seus olhos e viajo neles. Como não ficar hipnotizado com esses olhos enormes e castanhos? São castanhos avelã. Uma cor linda. São olhos lindos...

Mas de repente algo me tira de meus devaneios. Nós dois olhamos para a porta do quarto que foi aberta. E bem, de lá apareceu o Sr. Dawson. Com seu pijama listrado azul e branco e com a boca aberta em um *o* certinho.

- O que está acontecendo aqui? - É, acho que agora fudeu.