–Vais continuar aí atrás? – Tínhamos começado a nossa famosa tour há algum tempo. Combinámos ver primeiro as salas, em segundo a sala da diretora e o grémio, de seguida o ginásio e por fim a biblioteca. Estes eram os principais lugares a visitar os restantes ficariam para outro dia quando fosse preciso.

–O que sugeres?

–Isto! – Disse agarrando-me no pulso e trazendo-me para o seu lado, próxima o suficiente para os nossos braços roçarem um no outro.

Permaneci numa atitude indiferente, entediada desejando internamente para que a tour não se alongasse muito. O loiro pareceu surpreso.

–O que foi? Estavas à espera do quê? Que eu corasse? Ou seria que eu “derretesse” com o teu toque?

–Talvez.

–Pois bem vamos já esclarecer uma coisinha: Eu não sou como essas raparigas que andam por aí a cochichar com as amiguinhas à espera que alguém as note ou venha falar com elas. Eu não preciso de atenção, muito menos da tua ou da de qualquer rapaz. Eu fico na minha e tu na tua! Estamos entendidos?

–Está bem, mas podemos ao menos ser bons amigos?

–Eh, quem sabe? Por enquanto conhecidos.

–Conhecidos? Só? – Perguntou primeiro indignado e depois desiludido.

–Sim.

–Por enquanto. – Sussurrou, no entanto eu pude ouvir só que decidi não comentar.

Após Nathaniel explicar-me a distribuição das salas e mostrar-me algumas, começamos a caminhar rumo aos laboratórios. Contudo fomos interrompidos a meio da escadaria por um grito histérico:

–NATHANIELLLL! – Alguém gritava do topo das escadas.

–Ambre? Que se passa? – Ele respondeu, talvez envergonhado pelo escândalo.

–Eu estava à tua procura, quer dizer, eu não, Melody está.

–Pois, mas eu estou ocupado agora. É assim tão importante?

–Claro que é importante, é sempre! – Exclamou claramente exagerando. -E quem é esta? – Interrogou olhando para mim com uma cara feia.

–É uma am…

–Conhecida. – Cortei. -Não te preocupes, não vou roubar o Nathaniel de ti, por mim tu e essa Melody podem ficar com ele todinho. – Disse num tom desinteressado.

–Uh! Que seja. – Declarou começando a descer as escadas. Quando passou por mim deu-me um forte encontrão, que não foi visto por Nathaniel por este estar de costas, fazendo-me desequilibrar. Na tentativa de retomar o equilíbrio pus o pé em falso, senti o chão a fugir-me e o meu corpo a tombar para trás. Fechei os olhos com força esperando a queda, que não iria ser nada bonita, porém esta não veio. Senti o meu corpo a embater com outro e de seguida ambos contra o chão. Soltei um gemido de dor seguido por um mais baixo proveniente do “corpo”, que eu ainda desconhecia, todavia parecia demasiado musculoso para uma rapariga.

–Importas-te de sair de cima de mim? – Perguntou uma voz masculina irritada.

E foi só nesse momento que eu percebi estar em cima de um rapaz. Levantei-me rapidamente obedecendo ao seu pedido. Entretanto Nathaniel tinha descido as escadas provavelmente devido ao estrondo, este aparentava uma expressão preocupada que foi logo substituída por uma de raiva quando o rapaz atrás de mim se levantou. Segui o olhar furioso do loiro e deparei-me com uma figura com um ar enfurecido, mas igualmente despreocupado. O rapaz tinha cabelos vermelhos possivelmente pintados e olhos cinzentos, vestia uma roupa tipicamente rockeira.

–Não vais pedir desculpa? – Questionou-me ignorando Nathaniel.

–Eu podia se tivesse caído acidentalmente, mas como não foi o caso não, não vou pedir desculpa, satisfeito? – Disse pronta para perder a pouca paciência que ainda me restava. Normalmente eu tenho muita paciência, mas este dia tinha sido demais para mim e eu só queria que ele acabasse o mais rapidamente possível.

–Não me interessa se foi acidental ou não. E lá por seres uma novata não significa nada. O mínimo que podias fazer por mim era pedires desculpa, mas como não queres podemos tratar disso de outra forma, acho que mereço uma recompensa por ter-te salvo a vida, não? – Afirmou com um sorriso malicioso.

Além de estúpido é convencido e pensa que todas lhe caem aos pés, era só o que me faltava, pensei.

–Não obrigada, eu não sou nem nunca serei como essas que andam aí a implorar pela tua atenção, além disso não estou a dever-te nada. Até nunca mais. – Finalizei a nossa conversa, retomando a subida na esperança de finalmente conhecer os laboratórios. Nathaniel seguiu-me sem comentar nada.

Visitámos os laboratórios, eu simplesmente adorei aquele lugar, experiências e esses tipos de projetos eram comigo. Havia tanta coisa que nunca tinha visto que ficámos mais tempo do que esperávamos naquela zona. Vi amostras de diferentes rochas pouco comuns, materiais de laboratório que nunca tive oportunidade de utilizar, alguns insetos embalsamados, isso e muito mais!

De seguida, passámos pelo gabinete da diretora, esta deu-me as boas-vindas, avisou-me de algumas regras em especial o código de vestuário: as raparigas não devem utilizar roupa demasiado decotada que possam causar constrangimentos aos restantes alunos e professores. Eu simplesmente olhei-a com cara de parva, como se alguma vez eu fosse utilizar tops com decote até ao umbigo, só mesmo para comparar verifiquei pela primeira vez o que vestia: uma t-shirt cinzenta sem decote tamanho M (eu visto S ou seja aquela estava um pouco grande. Lembro-me que comprei-a porque gostei mesmo muito dela só que já não havia o meu tamanho) dos “The Beatles”, uns jeans não muito apertados e uns ténis simples.

Despedimo-nos da diretora e encaminhamo-nos para o grémio. Nathaniel, pelo caminho, explicou-me que essa sala era para o uso dos representantes de cada turma e que estes seriam eleitos na semana seguinte. Depois de uma espreitadela rápida à sala, já que esta não era muto importante, apenas faltava visitar o ginásio e a biblioteca. A visita ao ginásio também foi rápida, pois eu pedi ao loiro para deixar China ou outra pessoa me explicar melhor como aquilo funcionava já que só tínhamos quinze minutos para a aula começar e eu queria muito visitar a biblioteca.

Caminhámos em silêncio, até o loiro começar:

–Então estás a gostar da escola?

–Sim. – Respondi simplesmente.

–E porque queres visitar tanto a biblioteca?

–Primeiro porque aquele lugar agrada-me, costuma ser um dos meus preferidos. Segundo porque quero acabar rapidamente esta tour e nunca mais te ver.

–Hahaha! És tão sincera que chega a doer. Sou assim tão má companhia?

–Verdades são para ser ditas. Ehh mais ou menos.

–Tenho de concordar! Como assim mais ou menos?

–Sei lá, talvez, não tenho uma opinião concreta.

–Hmm…Está bem então. Posso perguntar-te mais uma coisa?

–Diz.

–Como era a tua vida antes de começares a viajar?

–Boa, acho. Provavelmente a melhor altura da minha vida, mas eu não costumo comentar sobre isso

–Porquê?

–Quem sabe…

–Hm…Olha, chegamos. – Parámos à frente de uma grande porta com um placar em cima a dizer: “Biblioteca”.

–Então adeus!

–Já queres livrar-te de mim?

–Tal… – Antes que eu pudesse terminar, uma voz chamou (novamente) Nathaniel. Ao menos esta é mais discreta, pensei.

–Melody? – Indagou o loiro. Ah então esta é a tal Melody, é menos eufórica do que eu pensava.

–Nathaniel estive à tua procura.

–Sim eu sei, mas estava ocupado, desculpa.

–E esta é? – Perguntou num tom claramente ciumento antes que eu tivesse oportunidade de entrar na biblioteca sem ser notada.

–Hmm…Aya, prazer. Agora adeus, vou indo!

–Espera! Que estavas a fazer com o Nathaniel? – Perguntou aproximando-se de mim, deixando um pouco afastado Nathaniel.

Suspirei profundamente antes de continuar:

–Olha, vou repetir o que disse a uma tal Ambre, okay? Não precisas de te preocupar porque eu não vou roubar o Nathaniel a ninguém, por mim, tu ou sei lá quem podem ficar com ele todinho, estamos entendidas?

–Assim espero que seja. E para que saibas Ambre não é uma qualquer é a irmã do Nath. – Declarou Melody num sussurro para o loiro não ouvir.

–E isso faz alguma diferença? Agora se não te importas, bye bye.

–Tu é que sabes. Adeus! – Respondeu-me Melody, com um sorriso extremamente exagerado enquanto ia ao encontro do loiro.

Entrei na biblioteca (finalmente) sem me despedir de Nathaniel. Explorei-a rapidamente, pois apenas tinha dez minutos. Para minha surpresa encontrei China na seção de literatura clássica, esta quando me viu fechou rapidamente o livro e guardou-o na sua mochila, estranhei, mas acabei por não ligar.

–Oi. – Disse receosa.

–Olá! – Respondeu-me com um sorriso.

–Não sabia que gostavas de ler. – Comentei.

–Ah sim eu adoro, tu também?

–Sim, claro! Não vivo sem livros ou música.

–Ah. E estás a gostar da escola? – Perguntou, provavelmente porque não havia mais nenhum assunto.

–Sim é gira. – Preferi ocultar a parte de que Nathaniel esteve a mostrar-ma para evitar assim mais mal-entendidos. -Posso pedir-te um favor?

–Sim diz.

–Quando tivermos educação física poderia mostrar-me o pavilhão todo e explicar-me como as coisas funcionam mais ou menos? Não precisas se não quiseres!

–Claro, não há problema nenhum, afinal somos amigas, não é?

–Amigas. – Repeti.

–N-Não somos? D-Desculpa se entendi mal, mas…

–Não é isso. – Interrompi. -É que eu nunca tive amigas de verdade. – Disse reforçando as últimas palavras.

–Ah. Entendo, eu também nunca tive muitas. Eu costumo segui a política de: “São poucos, mas bons.”

–Pois, mas no meu caso se calhar nem existem esses poucos. – Afirmei ligeiramente melancólica.

–Olha vais ver que isso vai mudar. Só hoje já fizeste três amigos!

–Três?

–Sim. Eu, o Lys e o Nath.

–Tu eu aceito, o Lysandre provavelmente sim, mas agora o Nathaniel não sei. – Respondi-lhe com uma careta que a fez soltar um pequena risada.

–Oh vá lá. Ele não é assim tão má pessoa, ele costuma ser gentil.

Eu ia retorquir, mas fui impedida pelo toque. China e eu demos por encerrada a nossa conversa e saímos da biblioteca em direção à sala.