Guerra Z. - História Interativa. escrita por Guilherme Lopes


Capítulo 12
Ep 11 - Charlie - Tudo em pó.


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o capítulo pessoal. Obrigado pelos reviews no capítulo anterior e aos novos leitores conquistados.

Vou responder os reviews do capítulo anterior e agradeço a todos por tudo que fora conquistado até aqui.

Até mais e boa leitura.



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Charlie.

Meus olhos estão pesados, ouvi tiros, gritos, choro... Sei que tudo pode ter ido por água abaixo, sei que este talvez seja meu ultimo suspiro... A ultima vez que realmente sentirei meus pulmões fulminarem e meu sangue bombear agitando o coração. Mas e quanto a Mary? O que será dela sem mim? Ultimamente ando tão perdido e aquela garotinha me despertou algo, talvez seja sua astucia seu entusiasmo, seu coração jovem. Ela me lembra de alguém... Lembra-me quem eu costumava ser quando jovem, uma pessoa feliz e sem medo da vida e seus obstáculos. Aquele era eu, aos vinte e três anos, passeando com os amigos, namorada por aquele parque esverdeado em meados dos anos noventa... Então tudo mudou, pois toda vez que eu me olhava no espelho era como se visse outra pessoa. Mary me fez recuperar aquela identidade perdida. Eu sei que ela está em apuros, consigo sentir isso...

-A putinha tentou atirar em mim! Viram isso? Há! – Somente escuto as vozes do lado de fora da caminhonete. Me arrasto com força e ainda sentindo dores no corpo todo. Consigo deixar o veiculo e vejo por baixo de uma brecha da porta o corpo de Connor, Damon e Will.

No chão também está Mary chorando sobe os pés de um homem alto de cabelos louros compridos e lhe apontando uma arma.

-Tá querendo me matar vadia? Toma isso!

-Não! – eu grito estendendo a mão e então ele puxa o gatilho apontando para a cabeça de Mary. Neste exato momento meus olhos se enchem de lágrima instantaneamente...

Estava sem balas. O homem soa o dedo no gatilho novamente e nada. Mary chora mais ainda e ele me encara sorrindo.

-Tem um viado que sobreviveu rapazes. Este é dos grandes! – ele grita e os outros homens gritam junto. Andrew está encostada em uma caixa chorando e olhando para baixo.

-Eu vou te matar. – digo com a voz firme e o homem se aproxima de braços abertos.

-Vai é? Você vai é acabar como seus amigos idiotas ali. – ele aponta para os corpos. Engulo o seco e tento me levantar.

-Muller! Monstros, muitos! – ele olha para seus companheiros que se adentram do veiculo que possuem. O homem louro sorri se afastando.

-Boa sorte. – Mary está estirada no chão, ele pisa em seu pulso quando corre e entra no carro. Eles passam bem em nossa frente atirando para cima e rindo.

Uma horda se aproxima vindo dos dois lados da rua. Com a força que reuni retiro Katie de dentro do veiculo. Vou até Mary e checo sua pulsação, está viva!

-Me ajude. – digo para Andrew, ela se levanta limpando as lágrimas e sorrindo vendo a irmã viva.

-Katie! Minha querida! – Katie também chora junto à irmã. Pego Mary no colo, seu rosto está machucado e a mão sangrando.

Coloco em minhas costas uma das bolsas com armas. Andrew pega a que possui as munições. Os zumbis estão muito próximos. Procuro por um local de fuga e em um beco a nossa frente está um homem alto, cabelo militar grisalho, veste um, sobretudo de couro, mochila nas costas e uma pistola em mãos.

-Aqui! – pego Alessa que está desacordada e a carrego no ombro. Sigo até o homem junto a Andrew. Ele pega a pistola e atira contra alguns zumbis que se aproximam. – continuem! Atravessem o beco! – ele atira e atinge certeiramente um infetado. Depois derruba outro com um disparo na perna e começa a correr conosco.

-Ajude. – digo ofegante e cansado. Ele pega Alessa no colo e sorri quase que emocionado.

Percorremos por boa parte da cidade desviando dos infectados até chegarmos a uma biblioteca de esquina.

Tranco a porta e coloco uma cadeira encostada na tranca. Depois empurro uma estante e a deixo encostada a mesma. É muito escuro aqui dentro, as janelas estão fechadas e o local está intacto. O homem coloca Alessa deitada na mesa da bibliotecária. Andrew senta junto à irmã abraçadas. Vou até Mary que está deitada perto de Alessa.

-Ela precisa de medicamentos. – diz o homem misterioso colocando a mochila na mesa e abrindo.

-Quem é você?

-Nikolai Romanov.

-Charlie.

-Eu conheço aqueles homens, eles são psicopatas.

-Quem são? Onde ficam?

-Eles pertencem a aquele homem, Muller. Se denominam “Danton Gang”. – ele retira da mochila um kit de primeiros socorros e coloca ao lado de Mary.

-Eu sei usar isso. Tive aulas na escola... – diz Andrew limpando o rosto suado e manchado. Fico ao lado de Mary vendo todo o processo.

Ela desinfeta a mão da garota, depois pede minha ajuda. Seguro Mary com força enquanto ela faz a sutura. Então limpa a mão e enfaixa, o processo demorou trinta minutos. Ela começa a limpar o rosto jovem da mesma com um pano molhado com o resto de agua que tenho.

-Ela vai ficar bem? – indago preocupado.

-Claro... Só precisa de repouso, está assustada e com febre.

-Obrigado. – Andrew volta à irmã para trata-la. Sinto muita dor no corpo.

-É sua filha?

-Não, uma amiga. – noto que ele não para de olhar sorrindo para Alessa. – Porque está olhando tanto para a garotinha?

-Ei! Não é o que está pensando! Eu estava a procurando por um mês e nunca imaginei que a encontraria assim. Pensei que tinha morrido.

-Você estava procurando ela?

-Sim, foi um longo caminho, muito cansativo, pensei até em desistir. – o encaro desconfiado. Ele nota. – Não estou mentindo. O nome dela é Alessa Esswein.

-Hum...

-Tenho que leva-la de volta a mãe.

-Você não fará isso? – Nikolai cruza os braços me encarando friamente.

-E quem me impede?

-Eu.

-Ei! Não briguem, acabamos de passar por uma matança, não quero que outra aconteça aqui... – diz Andrew. Encaro Nikolai de volta, ele se senta do outro lado do pátio perto de uma estante cheia de livros.

Lembro-me do rádio comunicador, pego minha mochila encima da bolsa com armas. O rádio está intacto, ligo-o.

-Alguém? – indago. Escuto um chiado baixo e a voz de Dim.

-Quem é? Connor?

-Não, é o Charlie... – escuto o chiado novamente. Todos estão me olhando.

-O que aconteceu? Já é noite e não voltaram.

-Um imprevisto, fomos atacados por uma gangue de homens armados. Eles destruíram o carro, mataram Will e Connor. Atiraram em Mary e depois fugiram por causa dos infectados. – escuto várias vozes e xingamentos. Eles conversam entre si.

-Quem fez isso? Porra! – agora é a voz de Sven, ele está muito alterado. – Diga! Quem fez isso? Vou matar agora mesmo!

-Acalme-se! Merda! – ele fica quieto bufando de raiva. – foi um psicopata e sua gangue. Ele se chama Muller, estava bem armado e tinha muitos homens.

-Não importa a quantidade, vou ter a cabeça de cada um pendurada em meu quarto!

-Não perca a cabeça.

-Onde estão? Estão bem? – agora quem fala é Helena.

-Estamos seguros em uma biblioteca a leste.

-Dim me disse que é difícil saírem agora para busca-los... Conseguem aguentar até amanhã cedo?

-Claro.

-E Mary? Como ela está?

-Ferida, levou um tiro na mão e tem vários machucados.

-Céus! Temos de ir lá agora, Mary está ferida, ela foi baleada! – as vozes aumentam e cesso tudo chamando atenção pelo rádio. Eles se silenciam e Helena volta a falar. – Por favor, aguentem. Tenho que desligar, vamos tomar providencias e tudo mais... Cuidado Charlie...

-Pode deixar. – desligo o rádio e coloco de volta na mochila. Nikolai está fumando um cigarro e com um livro em mãos.

-Pensei que estavam sós.

-Não.

-São muitos? – o encaro novamente me sentindo incomodado.

-Sim.

-É seguro?

-Sim.

-E se... – ele fecha o livro e retira o cigarro da boca.

-E se o que?

-E se vocês buscassem os sobreviventes de meu acampamento e os levarem até onde estão? São pessoas boas, lá não é seguro.

-Não.

-Não? Simplesmente não?

-Não sou eu quem toma as decisões, terá de falar com os outros.

-Então você é um peixe menor?

-O que está insinuando?

-Que você não faz diferença lá dentro, é só o cara que limpa o ralo sujo dos outros. Estou pedindo por uma chance e você simplesmente passa a bola para seus “amigos”.

-Eu não gosto de falar, não gosto de pessoas que enchem minha cabeça.

-Sabe do que eu não gosto? De ser ignorado. Disse que temos pessoas que precisam de ajuda, eles vão morrer ou se perder como esta garotinha.

-Não somos monstros se está pensando isso. Onde vivemos também tem crianças e jovens. Lutamos por eles, pelo que resta. Sei que aqueles portões não vão aguentar muito, mas vou ficar até o final para “limpar” aquele “ralo”. Se quiser uma chance com seu povo converse conosco, vamos fazer uma reunião e você vai se apresentar. É bom convence-los melhor do que está tentando fazer aqui. – Nikolai fica quieto fumando. Andrew já dormiu com a irmã.

Encosto na cadeira cansado e vendo Mary. Retiro meu casaco e a cubro ajeitando seus cabelos. Volto a me aconchegar na cadeira e olhando para o teto faço vários desenhos imaginários ali mesmo.

Uma casinha com vista ao mar, ovelhas, porcos, vacas e cavalos circulando. Um coqueiro com a sombra cobrindo o homem ao lado da filha e esposa. Observando o mar, aproveitando aquele clima agradável. Isso é felicidade, paz... Tudo que eu sempre quis, sonhei...

Dia 11 de Janeiro.

Sven, Thomas, Brad, Viktor, Lucy vieram nos buscar com van. Todos estavam visivelmente emocionados e acolheram Nikolai e as outras sem hesitar. Então voltamos para casa.

Depois de dar um discurso no pátio para todos. Eles se mostraram espantados com tamanha crueldade e então o medo voltou a circular em seus corpos e alma. “Será que foram embora? Será que vão voltar?”. Fui até meu apartamento e lá Mary foi tratada em sua cama por Haruka que já foi veterinária e sabe um pouco de medicina. Eu fiquei sentado no sofá tentando tirar tudo da cabeça.

Angelo chega e já se dirigi até Mary, ele acaricia sua mão intacta e se emociona.

-Este é meu melhor presente eu acredito. – ele diz sorrindo. – que bom que não está morta.

Neste meio tempo Sven e os outros foram até nosso carro destruído buscar as armas, munições, mantimentos e corpos...

Andrew narrando.

-Este é seu apartamento. – diz Mark, o homem que nos guiou. Ele é bonito, alto e elegante. Ao dizer isto o homem coloca a caixa que carrega no chão. – e aqui tem comida, agua e algumas roupas que Helena separou. Se não servir você pode tentar com Haruka, sabe... Camisas... – ele olha para meus peitos se referindo a eles. Sorrio.

-Obrigada... Mas até quando ficaremos aqui? Digo... Neste apartamento...

-Ele é seu e de sua irmã. Cuidem bem... Podem tomar banho, mas a agua é gelada então... Ah! E economizem, usem pouca agua, pouca energia e comam o que for necessário somente. Tudo está em falta.

-Compreendo... Muito obrigada novamente, não sei como agradecer tanta hospitalidade....

-Não precisa, vocês já passaram por muita coisa, agora terão o descanso que merecem. – ele retira do bolso uma chave e me entrega. – esta é a única, sem copias nem nada. Só você tem. Bom descanso Andrew e Katie.

-Até mais. – ele se vai.

Ando pelo apartamento acariciando as paredes e moveis. Estão limpas e intactas. Vou até o quarto e Katie está deitada na cama adormecida. Volto a sala e coloco a caixa encima da mesa.

Enlatados, cereais, agua, refrigerante, cerveja, doces, comida instantânea e algumas peças de roupas. As pego e sigo até o pequeno banheiro onde tomo um banho gelado porém muito gostoso. Passo a mão por meu corpo sentindo algumas das cicatrizes que ganhei quando fiquei sobe posse de Muller... Foram dois dias terríveis... Estupro, tortura.... Meus olhos se enchem de lágrimas de ódio, mas as seguro.

Depois da ducha fui até a cozinha e preparei a comida no fogão, faz tanto tempo que não usava...

Comi salsichas, bacon com ovos, carne enlatada e muita agua. Estava tudo delicioso! Deixei a parte de Katie dentro do fogão e sentei no sofá com os olhos pesados.

Vejo minha família, meu cachorro, meus amigos... E uma casa construída de pedras, com chão de madeira, paredes e peitoril de janelas... Mesas e cadeiras cobertas todas de poeira, esse é um lugar em que não me sinto só, este é um lugar onde me sinto em casa... Lá fora no jardim é onde plantamos as sementes, há uma árvore tão velha como eu, ramos foram costurados pela cor do verde... E agora é hora de partir e deixar tudo em pó...


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Notas finais do capítulo

Acontecimentos paralelos:

—No dia 11 Angelo fez aniversário completou dezesseis anos. Ele foi recebido com um bolo feito por Mikayla e Haruka. A festa ocorreu em seu apartamento mesmo todos preocupados e amedrontados.
—Dia 10. Thomas passou o dia preocupado com o amigo.
—Mark ficou no pátio conversando com Brad e Tiberius. Depois foi para seu quarto ler o livro que ganhou de Helena sobe psicologia.
—Helena passou o dia com Lucy treinando a pontaria com flechas de madeira e pedras.
—Sven ficou com Dim esperando por noticias no terraço.
—Emma explorou os condominios, depois foi ao terraço de um dos prédios e ficou lá pensando em sua vida.


Vejo vocês no próximo capítulo sexta. Valeu e até.