Anjos da Noite: O Despertar escrita por Julia


Capítulo 5
Capítulo 3 - Lembranças


Notas iniciais do capítulo

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Numa mansão de aspecto arcaico, Paul entrou por um hall, onde se encontram Azor e outro vampiro loiro, muito bonito, chamado Arthur. Ele era o pai de Paul. Ninguém percebeu a presença de Paul que escuta diante dos dois. Ambos os vampiros, estavam vestidos como nobres cavaleiros, só que Azor tinha cabelos muito compridos amarrados em um rabo de cavalo rente à nuca. Tudo faria sentido se Paul não estivesse ali parado com aqueles trajes modernos demais para a época.

– Pai, eu não posso permitir que você a trate dessa forma.

– Você não tem o que permitir Arthur.

– Não, eu não me calarei! ELA É MINHA ESPOSA, SUA FILHA, MÃE DOS SEUS NETOS E HERDEIROS!

– É uma vagabunda! UMA VAGABUNDA QUE TRAIU UM HERDEIRO DE SANGUE PURO, SEU PRÓPRIO IRMÃO, POR UM HUMANO! COLOCANDO EM RISCO TODA NOSSA EXISTÊNCIA! ISSO É REPUGNANTE!

– Ela se arrependeu meu pai... E está de volta! Por favor, perdoe a Katherine... Eu... Eu ainda assim a amo!

– Você Arthur, sempre foi um completo idiota. Isso tudo aconteceu graças a sua estupidez! Sempre fez tudo o que a sua irmã queria. KATHERINE COSTUMAVA SER UMA BOA MULHER. MAS COM O PASSAR DOS ANOS SE TORNOU UMA CRIATURA IRRECONHECÍVEL. NÃO ACREDITO QUE AQUELA É MINHA FILHA...

De fato, aquilo tudo não era real. Paul sabia disso. Naquela época ele ainda era uma criança. Aquilo seriam apenas suas memórias o torturando mais uma vez. Paul parou em meio a discussão dos dois para prestar bastante atenção na cena. Era um castelo, muito bonito por sinal. Desde os primórdios o Clã dos Volturi era envolto por nobreza e poder. No hall desse castelo não havia móveis. Apenas quadros, estatuetas, e uma enorme fonte no canto do recinto. Atrás de uma das estatuetas havia um menino. Ele era muito jovem, muito pequeno e aparentava ser uma frágil e doce criança por volta dos seus sete ou oito anos. Seus cabelos loiros e seu rosto extremamente pálido faziam um conjunto bonito.

Essa pequena criança era Paul. Que ouvia claramente toda a conversa sobre o destino que sua mãe teria.

Arthur estava com um rosto de dar pena. Estava desesperado, sabia que não poderia ir contra o seu pai. Azor tinha poderes, tinha soberania. Ele era o líder do Clã. Naquela época, o mundo ainda não fazia ideia da existência dos Anjos Caídos. E estes, ainda não podiam sair à luz do dia.

O silêncio pairava no ambiente. Como se ambos estivessem esgotados. Mas Azor olhou para o filho naquele estado, pegou no seu rosto pelo queixo e falou, dessa vez, sem gritar. Sua voz apenas era firme e fria.

– Anjos puros, como nós, não podem se dar ao luxo de conhecer o amor. O amor não existe para os anjos. É um sentimento que o torna um tolo, um fraco. E isso consequentemente o leva a destruição. O amor foi um sentimento criado apenas para os seres humanos. Nós não somos humanos. Somos criaturas que caíram dos céus para a destruição. Tudo o que nos resta sentir é ódio e o desejo por vingança.

Arthur não chorava. Ele não derramava uma lágrima sequer. Anjos não sabiam chorar.

– Por favor, meu pai, apenas me escute...

– NÃO! JAMAIS A PERDOAREI! EU A MATAREI AOS POUCOS, PARA QUE AO MENOS APRENDA, ANTES DE MORRER, QUE NÃO DEVERIA TER DESOBEDECIDO AS ORDENS DO SEU PAI E DO SEU MARIDO. - Azor perdera a paciência de novo. Estava furioso. Seus olhos negros e seu rosto desfigurado denunciavam isso.

Paul, ali em pé, era um mero expectador bem como o pequeno que escutava tudo atrás da estatueta. Nada havia mudado. Nada podia ser feito.

– Por favor!! Não!!

– Eu espero que ao menos ensine Paul, Laura, Saito e Ivan a ter disciplina Arthur. Não quero me decepcionar com minha própria família novamente.

– PAI, POR FAVOR, NÃO A MACHUQUE!

– PARE DE SER ESTÚPIDO RAPAZ. NÃO CRIEI MEU ÚNICO FILHO HOMEM PARA SE AJOELHAR DIANTE DE UMA MULHER.

– Ela.... ELA ESTÁ GRÁVIDA.

– De você?

– Não sei ao certo...

– Grávida do homem com quem dormiu! Céus... Eu a matarei antes mesmo de ter esse mestiço. Tenho vergonha de admitir que Katherine seja sangue do meu sangue. - Azor dizia enojado. - Vamos Paul, saia detrás da estatua. Venha comigo. Lhe ensinarei a ser um homem a partir de agora. Seu pai não o criará mais, apenas os outros. Você passará a morar comigo.

O pequeno garotinho saiu atrás da estátua e caminhou até seu avô. Seu rosto era frio, mas por dentro ele sentia a mesma dor que o seu pai estava sentindo. Desde criança, Paul jamais demonstrava seus sentimentos. E a partir daquele dia, as coisas só iriam piorar.

Azor segurou a pequena mão do garotinho, olhou para ele que, também olhou de volta, e sorriu.

– Eu levarei essa criança para me assistir matando Katherine.

– O QUÊ? VOCÊ ESTÁ LOUCO? ELE É SÓ UMA CRIANÇA!

– Não. Ele não é só uma criança. Ele é um Volturi. O seu filho primogênito, pretendente natural de Laura. Um dia, se eu vier a morrer, ele me antecederá. Ao contrário de você, que é um completo imbecil.

Arthur encarava Azor sem acreditar no que estava ouvindo. Não bastava assassinar sua esposa, ele teria que traumatizar seu filho querido?

– Vamos Paul. Você terá uma grande lição hoje. - Azor leva a criança para outro cômodo do castelo.

Paul que estava ali em pé sentia a mesma angústia que sentira naquela época. De repente, tudo mudou.

Havia um grito ensurdecedor... O grito ficava mais alto à medida que Paul caminhava. Paul estava em um corredor escuro e sujo, como uma espécie de calabouço. No fim do corredor havia uma porta que parecia estar fechada. Ele foi até lá e percebeu que ela não estava.

Então ele a forçou um pouco e entrou.

Havia uma mulher incrivelmente bonita. De cabelos loiros, quase brancos de tão claros e olhos brilhantes como a lua. Estava morta. Havia sangue por toda a parte.

Era Katherine, a mãe de Paul.

Arthur a tinha nos braços e gritava inconsolavelmente pela sua terrível morte.

De repente, Paul fora assustado. Arthur pudera enxergá-lo?

– Está vendo? Está vendo o que você fez? Você a matou! Eu jamais o perdoarei Paul... Jamais! - Arthur encarava Paul com uma expressão de ódio. - Você é um verdadeiro demônio, idêntico ao seu avô! Você não tem nada de mim, nem de sua mãe. Você realmente nasceu pra suceder aquele monstro em forma de anjo!! SUMA DAQUI!!!!

– Quando Paul estava prestes a correr para fora, assustado com tudo aquilo, a imagem de uma criança saiu exatamente dali, de onde ele estava e correra primeiro. Era como se a sua imagem tivesse se dividido em duas. Era ele, pequeno. Aquele mesmo garotinho da cena anterior, mas dessa vez, coberto de sangue.

As lembranças ficam confusas, até que Paul se encontra numa sala escura, cheia de sangue e máquinas de tortura. Lá tem uma mulher grávida agonizando. Era um anjo impuro, corrompido pelo pecado de ter sido um ser humano. Ela está dando a luz a uma criança mestiça. Paul está indo em sua direção com um revólver com balas de madeira. Ele quer matá-la antes de dar a luz a um monstro. Isso mesmo. Crianças que advinham da união de um ser humano com vampiro, seja este sangue puro ou não, nascem sedentas por sangue. São incontroláveis anjos assassinos que se crescerem, matam por qualquer motivo tolo. Mestiços DEVEM morrer. Nem sequer podem nascer, para que seja evitado um desastre maior.

Vampiros mestiços são como monstros irracionais que só pensam em saciar sua sede. Como zumbis sem vida e vazios por dentro. Seres abomináveis que, sem exceção, eram aniquilados pelos Volturi.

Ao se aproximar mais, quando estava pronto para matar o anjo que dava a luz, este diz agonizando:

– NÃO!!!!!! POR FAVOR!!! NÃO MATE ESSA CRIANÇA!!!! ESPERE! PODE FAZER O QUE QUISER COMIGO DEPOIS, MAS DEIXE-A VIVER!!

– Isso que está saindo de você não é uma criança, mulher ingênua. Aposto que o homem que te causou tudo isso não te informou. Seres humanos não podem procriar com vampiros. E seu amante, idiota, achou que acabaria com sua dor e sofrimento se te transformasse. Mas o seu destino continua sendo a morte.

– NÃO!!!

– Cale-se e entenda antes que eu perca a paciência. ISTO NÃO É UMA CRIANÇA, É UM MONSTRO! Vampiros não podem gerar filhos com humanos.

– Eu não sou mais humana!

– Não adianta, seu filho foi gerado enquanto ainda era uma humana.

Terminando de falar isso, Paul se preparou mais uma vez para matar a vampira. Desta vez ele não estava só assistindo a cena, fazia parte dela. Seus atos não podiam ser controlados.

– POR FAVOR... NÃOOO!! DEIXE-ME VÊ-LO AO MENOS UMA VEZ...

– Eu pretendia lhe fazer um favor. Você, em seu estado, jamais suportará ver o rosto dessa aberração. Mestiços são monstros! Não são humanos, nem vampiros. São apenas monstros.

– NÃO!!! NÃO TENHO UM MONSTRO DENTRO DE MIM... É SÓ UM BEBÊ, POR FAVOR, TENHA PIEDADE!!

– Bebê... Certo. Mas assim que você o ver, se sobreviver, vai me implorar pra matá-lo.

Paul impaciente e irônico olhava para cima dando um sorriso torto que tranformava seu rosto num rosto angelical demais para aquela situação.

Paul se afastou um pouco e sentou desconfortavelmente em uma cadeira próxima a mulher que estava sofrendo. Então começou a fumar e tirou sua atenção dela, olhando a paisagem janela a fora.

Algumas vezes, voltava a observar a vampira em trabalho de parto. Era muito bonita para quem já foi apenas um ser humano. Seus cabelos eram dourados como o sol, sua pele clara demais e seu olhar vermelho penetrante. Um vampiro fraco e sem amor próprio se apaixonaria por ela facilmente.

Mesmo num estado tão desprezível, ela ainda era bela. Paul achou engraçado que, por mais que estivesse sofrendo, ela não pediu sua ajuda momento algum.

Passaram-se algumas horas e, Paul ficou tão perdido em meio aos seus pensamentos que, quando se deu conta, não ouvia mais gritos de dor. Nem choro de criança monstro.

Ao virar-se para ela, estava imóvel e com a cabeça baixa escondendo seu belíssimo rosto. Ela estava morta. O que era de se esperar. Mestiços, ao nascer, já eram assassinos. Matavam a própria genitora, pois rompiam seu ventre de dentro para fora. Paul sabia que ela não sobreviveria para ver a criança.

Mas fez o seu desejo mesmo assim.

Paul se aproximava com o revólver para matar aquela criatura medonha o quanto antes.

*Clique aqui para ouvir a música*

As lembranças voltam a ficar confusas. Paul se encontra agora na mansão do avô, Azor. Era uma sala gigantesca, cheia de móveis com detalhes dourados, pinturas em estilo Pré-Raphaelita e havia também um piano em cauda da cor branca. Numa pequena vitrola, podia-se ouvir uma triste música clássica.

Azor tinha um gosto bem peculiar. Sua forma de falar e agir, bem como a sua mansão, era mais ou menos como se estivesse parado no tempo. Não condizia nenhum pouco com aquela época tão avançada. Para um avô, Azor aparentava ser incrivelmente jovem e muito bonito.

Paul está na sala, sentado no sofá, observando a chama da lareira queimando a lenha. Azor, que está em outro sofá, pega um charuto que um de seus servos traz em uma bandeja. O servo acende o charuto em sua boca e ele caminha em direção ao neto. Ao se aproximar, põe suavemente a mão em seu ombro esquerdo. Paul, que estava distráido, se assustou levemente e encarou o avô.

– Paul, você sabia que aquele miserável do William, do Clã Vianatto, gerou com uma humana um monstro? Eu não faço ideia de onde ele e a mulher estão.

– Ok. Os acho logo, sem problema. - Paul já sabia o que o avô queria dele, então ele só queria encurtar aquela conversa o quanto antes.

– Assim espero. Já se passaram seis meses e meus capachos estúpidos não os encontram! Minha última esperança é você.

– Certo velho. - Paul se levantou e começou a caminhar em direção a saída. O que era raro. Normalmente ele simplesmente desaparecia.

– Pare de me chamar assim, afinal, pareço mais conservado do que você ultimamente.

– Ok. - Paul falou num tom de deboche.

– Precisa matar o monstrinho Paul. - Azor aumentava um pouco o tom da voz, tendo em vista que Paul já se via do outro lado da sala, quase próximo ao hall de entrada da mansão. - Você, mais do que ninguém, sabe no que o nascimento de um mestiço resulta. - Azor provocou o neto.

Paul parou, mas não voltou seus olhos para Azor. Apenas permaneceu de costas. Ele sabia bem aonde o avô dele queria chegar.

– Por favor, me poupe disso. O passado é apenas passado. - Paul disse irritado. Apenas seu rosto virou de lado. Seu corpo continuava de costas em direção a saída daquela enorme sala. Grande o suficiente para sua voz ecoar.

– E você terá que encarar isso tudo de novo. - Azor falava em tom de riso. Ele adorava provocar o neto.

– Não, não vou. Pouco me importa toda essa merda. Nem sei quem é a infeliz que vai parir o monstro. - Paul cuspiu as palavras. Depois continuou a andar em direção a saída.

– Não importa. Procure em todos os cantos de Bridgeport! Meus informantes disseram que eles não conseguiram sair da cidade ainda.

– Beleza.

– Ela é uma mulher loira. Aparentemente bonita. Seu nome é...

Paul sumiu, deixando Azor falar sozinho.

Paul acorda e já é de manhã. Ele ainda está no seu quarto, sentado na poltrona. Tudo realmente era apenas um sonho?

De repente, ele solta um grito.

– MERDA! CADÊ ALICE?

Ele levanta e em segundos estava na sala.

– ALICE... ALICE? ALICE!

De repente, Paul é interrompido com um barulho e risadinhas.

– Baaaaah uuububu, hahahaha.

Ao se virar ele a viu. A menininha estava sentadinha no chão, perto de um sofá bem aconchegante que ali havia. Seu pequeno sorriso quase banguelo era encantador. Seus olhinhos brilhantes demonstravam doçura e inocência. Ela parecia uma boneca.

– Ah. Aí está você monstrinho. - Paul sorria aliviado. - Vem, eu tenho um pouco de leite guardado na geladeira. Está na hora do seu café da manhã.

Paul segurou a pequena e frágil menininha e caminhou com ela em seus braços até a cozinha.


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Notas finais do capítulo

Será que essa menininha chamada Alice a quem Paul apelidou carinhosamente de "monstrinho" tem alguma coisa a ver com o suposto assassinato que ele deveria ter cometido a mando do seu avô?

Não perca os próximos Capítulos se quiser saber! :P



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