Luke empunha sua espada com rapidez e se põe a frente de Elizabeth, para protegê-la. Ela recua, com medo. Não é de seu feitio sentir medo, mas nessa situação qualquer um sentiria. Através da porta agora em pedaços ela vê seus guardas, altamente treinados, caídos no chão, ensanguentados. Ela chega perto demais da janela.

— O que vocês querem? — Luke pergunta com a espada apontada para os dois.

  Alexander também está com a espada empunhada para Luke. Kalyssa está escorada na parede, apreciando os dois. Num momento ela olha para Elizabeth e sorri maliciosamente. Suas pupilas se alongam, como as de um tigre.

— Quem é você? — Alexander pergunta. — Eu não sabia que a princesa era dessas. — Ele ri. — Com um garoto em seu quarto no meio da noite... — Ele olha para Elizabeth. — Seus pais sabem disso gatinha?

— A gente não estava fazendo nada! — Elizabeth grita. Alexander ri, sem acreditar.

  Alexander aproveita o momento de distração de Luke e o ataca, mas ele se defende antes com sua espada. As espadas se chocam e soltam faíscas fracas na escuridão. Elizabeth fecha os olhos. Tudo que ela ouve é o bater das espadas, e então sente uma presença atrás de si.

— Olá princesa. — Drobt diz bem atrás de Elizabeth, em cima da janela.

  Ela não tem tempo de reagir. Ele a segura e a puxa para trás, levando-a pela janela.

— Luke! — Ela grita e ele olha para trás. Mas ele não pode ajuda-la, ele foi atingido pela espada de Alexander, mesmo que tenha sido apenas um arranhão ele cai no chão.

  Drobt segura Elizabeth nas costas enquanto ela grita e esperneia batendo em suas costas, mas não adianta. Ele desce pelo tronco da árvore escorregando com ela e chega ao chão dez vezes mais rápido do que subiu.

  Alexander ouve os vários passos se aproximando pelo corredor. Kalyssa se vira e vê vários guardas chegando com suas espadas, dezenas deles.

— Hora de ir. — Kalyssa diz e pula rapidamente pela janela, escorregando como Drobt.

— Adeus! — Alexander diz debochado para Luke.

  Então ele pula pela janela e escorrega pela árvore assim como Kalyssa e Drobt. Quando chega lá em baixo, encontra Elizabeth com os pulsos amarrados e a boca tampada, tentando gritar, mas já sem forças. Kalyssa sorri satisfeita, mas Alexander não.

— Afrouxem mais as cordas. — Ele diz a Sony e Drobt. — Ela não vai fugir tão cedo.

  Kalyssa olha para o topo da torre, onde os guardas tentam descer pela árvore do mesmo modo que eles. Fracassados. Ela se transforma, passando a ser um grande tigre albino com olhos cor de turquesa. Com suas garras imensamente afiadas ela quebra o tronco da árvore, num único golpe. O tronco cai para o lado, levando consigo alguns guardas coitados. Eles morrem é claro. Ela volta à forma humana e sorri para todos.

— Trabalho profissional. — Ela pisca para Alexander.

  Então Drobt pega Elizabeth nas costas novamente e ela continua a gritar. Está sendo sequestrada. Isso não pode estar acontecendo, o que vai haver? Eles vão pedir recompensa? Ela tenta gritar, mas sua boca dói por baixo do pano apertado. Pelo menos eles afrouxaram seus pulsos, que estão ardendo após serem amarrados.

  Drobt, Sony, Kalyssa e Alexander saem de perto do castelo antes que os guardas os alcancem. Eles chegam ao navio e jogam Elizabeth dentro do armário de suprimentos. Depois o navio sai da costa, levando consigo a princesa de Alásia. Eles içam as velas brancas, e a maior revela uma imagem própria dos piratas. Uma caveira negra atravessada por duas espadas.

¬¬¬

   Estou ofegante. Meu coração está tão acelerado que posso ouvi-lo perfeitamente em meus ouvidos. Meu corpo está suado e minha camisola branca está rasgada e suja com terra. Ainda não entendo muito bem o que aconteceu. Um grupo de piratas me sequestrou, uma semana antes do meu casamento. Faz sentido. Os reinos vão fazer de tudo para que a guerra não se reinicie, vão pagar caro por mim. Mas por que eu? Eles não poderiam ter sequestrado o Luke? Seria mais difícil. Luke sabe usar uma espada, eu não. Eles não esperavam encontra-lo ali. E ele se machucou... Tentando me salvar.

  Não consigo ver nada aqui. Eles me jogaram neste armário pequeno tão rápido que tudo que vi foi um navio desfocado. Tudo que vejo são alguns feixes de luz que atravessam as brechas da madeira da porta. Ouço barulho de vidros batendo e há caixas pesadas a minha esquerda e direita. Também ouço vozes, mas minha cabeça está doendo e não consigo distinguir as palavras.

— Me tirem daqui! — Tento gritar, mas minha voz sai rouca e sem som através do pano.

   Eu tento me levantar, mas minhas pernas dobram e caem. Minha cabeça bate na parede atrás de mim. Estou com tanto sono... Sinto algo quente descer desde o topo de minha cabeça até meu pescoço, e então pelo meu ombro, molhando minha camisola. É sangue.  Desmaio antes que possa pensar em mais alguma coisa.