A Filha Do Mar escrita por Emm J Ás


Capítulo 4
Andrômeda


Notas iniciais do capítulo

Quem gostar, comente. ♥
Bjsss



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   A luz bate forte em meu rosto, obrigando-me a abrir os olhos. É o sol atravessando as brechas da porta de madeira. Olho em volta ofegante e me movo rápido demais, isso faz minha cabeça latejar. Posso sentir o sangue seco em meu pescoço e em meu vestido branco. Isso tudo aconteceu mesmo? Eu fui sequestrada por um bando de piratas malucos? Eu preciso sair daqui, preciso me acalmar. Tudo bem, tenho certeza de que meus pais vão mandar um grupo de resgate. Esse grupinho de piratas não vão ser páreos para o exército real. Ou vão? Para terem invadido meu quarto eles devem ter matado vários guardas...

  Suspiro e apoio a cabeça na parede de madeira atrás de mim. Meus olhos começam a se encher de lágrimas. Por que isso está acontecendo? Eu não posso chorar, não posso. Preciso ser forte e me soltar, sair desde cubículo escuro em que me prenderam. Agora com a luz do sol eu consigo enxergar o que há a minha volta. As caixas pesadas dos meus lados têm várias frutas e peixes dentro. Atrás de mim e em várias prateleiras vejo vários potes de vidro com comidas em conserva. A única comida que consigo identificar são os pêssegos. Eu estou com tanta fome...

  Apenas isso aqui. Me levanto, desta vez mais devagar e controlando a respiração. Consigo ficar de pé, mesmo com os tornozelos amarrados. Preciso dar um jeito de soltar estas amarras. Presto atenção em tudo a minha volta, até que tenho uma fagulha de esperança. Há um prego na porta, um prego não bem batido e afiado. Se eu conseguir chegar até ele, talvez eu...

  O cômodo balança e eu caio para frente, quase batendo com a cabeça no prego. Tudo continua balançando, levemente. Eu havia me esquecido disso. Estou num navio, em alto mar. Eu nunca tinha navegado antes, meus pais nunca permitiram. Ouvi falar que da primeira vez todos sentem enjoo, mas eu nem fico enjoada. Apenas levanto-me novamente e com cuidado começo a rasgar as cordas em meus pulsos no prego.

  Um minuto, dois minutos, três minutos. Olho para as cordas e nada, estão apenas um pouquinho cerradas. Eu não desisto, continuo tentando cortá-las com mais força e rapidez. Quatro minutos, cinco minutos, seis minutos. As cordas já estão pela metade, falta mais um pouco e arrebentam. Sete minutos, oito minutos... A porta bate em cheio em minhas costas, me jogando para frente. As cordas ainda não arrebentaram.

 — Princesa? — Uma voz rouca me chama.

  Abro os olhos, fingindo que estava dormindo. Um garoto curvado, moreno e com cabelos escuros está em frente á porta. Ele tem uma tatuagem no braço esquerdo que não consigo identificar, uma caveira ou uma frase “Eu amo minha mãe”. Eu recuo apertando minhas costas da parede. Ele estende a mão e arranca o pano que tampava minha boca.

— Quem é você? — Pergunto fingindo medo. Eu sei quem ele é, era um dos piratas que estava no castelo, mas eu só o vi quando aquele maluco desceu pela árvore comigo nas costas.

— Meu nome é Sony. — Ele dá um sorrisinho. — Está na hora de você conhecer a tripulação.

— O que?

  Não dá tempo. Ele segura meu braço com força e me levanta, tirando-me de dentro do armário. Atrás de mim ouço o barulho da porta batendo. É difícil andar aqui, o chão está o tempo todo se movendo. O navio é todo feito de madeira, exceto por alguns poucos detalhes em prateado. Estamos no convés mais baixo, pois quando olho para cima atrás de mim vejo uma espécie de segundo andar, onde há o volante do navio. Atrás do volante há um garoto de cabelos castanhos, o mesmo que lutou com Luke no castelo. Ele sorri a me ver e pula lá de cima, caindo no convés inferior de pé como se fosse a coisa mais normal do mundo pular de um lugar com três metros de altura.

— Pessoal! — O capitão grita.

  Então vários garotos aparecem. Sony me empurra mais para frente, onde posso ver mais um convés, abaixo deste. Três andares? Que tipo de navio é este? Lá em baixo há vários piratas, todos trabalhando. Um menino de cabelos negros que carrega um barril o solta no chão e se apoia nele, olhando para mim. Há apenas uma menina no navio, com cabelos loiros e olhos bicolores, um roxo e outro azul. Com seu vestido azul coberto por um corpete marrom assim como sua calça de couro e a sapatilha preta que a acompanha. Ela, que antes parecia observar o mar, se vira e olha para mim. Ela sorri.

  Um dos garotos, com cabelos ruivos e uma bandana vermelha na cabeça olha para mim e então cochicha algo no ouvido de outro pirata, o com cabelos escuros e sem camisa. O maluco que me jogou pela janela do quarto. No total não devem ter mais do que sete piratas lá em baixo, olhando para mim, alguns sorrindo, outros de braços cruzados e outros cochichando nos ouvidos.

— Conheçam Elizabeth, a princesa de Alásia! — O capitão grita.

  Todos lá em baixo levantam os braços e gritam, até a menina. O sol é forte e aquece demais o barco, mas eles parecem estar acostumados com o calor. Por isso a maioria deles não usa camisa ou usa apenas um colete e uma calça. Então atrás de mim aparece uma garota, a com cabelos brancos e olhos de tigre. Ela sorri para mim com dentes afiados.

— Bem vinda ao Andrômeda. — A garota diz. Sua voz é suave, mas assustadora.

— Quem são vocês? — Pergunto e solto meu braço de Sony, que ri da minha reação.

— Somos piratas. — O capitão se põe entre mim e a garota de neve. — E você é o nosso ouro.

— Vão pedir recompensa? — Me afasto um pouco dele. Começo a mexer os pulsos, tentando soltar a corda. Ela ainda está bem presa.

— Não precisamos. — O garoto responde. — O Rei do Mar está dando uma boa grana para aqueles que levarem a princesa Elizabeth até ele. — Ele sorri.

— Rei do Mar?

— É. — Sony diz ao meu lado. — O pirata mais conhecido de todos os tempos, nunca falhou em nenhum roubo. Controla os mares, você sabe não é? Muito poderoso.

— Vamos entregar você para ele e ficar com a recompensa. — A garota sorri.

— Mas o que ele quer comigo?

  Me afasto mais até bater no parapeito entre o segundo convés e o terceiro. Se for mais para trás eu caio. Puxo mais a corda e sinto-a ceder, falta pouco para arrebentar.

— Não sabemos. — O capitão responde. — Mas o que nos importa é o dinheiro.

— E se eu disser que meu reino pode pagar bem mais que o Rei do Mar? — Consigo a atenção deles.

  O capitão se aproxima de mim, me olhando com os olhos verdes como folhas que acabaram de nascer. Isso me lembra da floresta ao lado de meu castelo. Olho em volta e não vejo nada além de mar. Fico enjoada.

— Continue falando. — O garoto diz.

  Olho para a roupa dele. Abaixo do colete vermelho aberto há uma espada, presa á sua cintura. Se eu me soltar e pegá-la talvez consiga me defender e ir a um bote salva-vidas, sei lá. Só sei que preciso fugir daqui.

— Meu reino é muito rico. — Digo puxando as cordas. — Eu preciso me casar semana que vem, ou ele entrará em guerra com outro reino muito poderoso. Eles vão pagar muito caro para evitar essa guerra.

  O capitão olha para os outros. Eles sorriem uns para os outros, como se compartilhassem de uma ideia única. Puxo os pulsos com força e a corda se arrebenta. Antes que percebam eu puxo a espada da bainha do capitão e aponto para ele. Ele se afasta um pouco, depois ri de mim.

— Largue logo isso princesinha, pode se machucar. — Ele diz debochado.

— Prefiro arriscar. — Digo.

  A garota ri.

— Vamos lá menina, você sabe que não vai fugir. Não tem jeito.

— Vocês vão me levar de volta para casa, agora. — Eu exijo.

— Desista. — Sony diz. — Com essa atitude você não volta para casa nunca.

  Eu olho para ele, e esse é o meu erro. O capitão arranca a espada da minha mão e me puxa, prendendo minha cintura de costas para si e apertando a espada contra meu pescoço. Eu mal consigo respirar sem sentir meu pescoço arder.

— Eu disse que ia se machucar. — Ele diz em meu ouvido.

— Me solte agora. — Digo, mas ele apenas ri. — Você é um idiota.

— Ótimo. — Ele ri. — Mas meu nome é Alexander. Pode me chamar de Alex, princesinha.

— Pode me chamar de Liz, idiota.

  E ele me solta, me empurrando para frente. Eu preciso me segurar de última hora no parapeito do barco, senão cairia lá em baixo, em cima dos barris no terceiro convés. Viro-me para ele e o vejo apenas sorrindo e guardando a espada.

— Que pena. — A garota diz. — Eu queria vê-la sendo degolada.

— Sabe que não podemos Kalyssa. — Sony diz. — O que fazemos com ela? — Ele se vira para Alexander.

— Prenda-a de volta no armário de suprimentos, até chegarmos em La Isla de La Muerte.

— Não! — Grito. — Não me coloquem lá de novo.

— Está achando que vai continuar com todo o conforto que tinha princesinha? — Alex diz. — Aqui não é um hotel cinco estrelas. — Ele se vira para os outros. — Armário.

— Deixe-a Alex. — Uma garota diz.

  É outra, a com cabelos loiros e olhos bicolores. De perto ela é ainda mais linda e anda com tanta leveza que parece pular sobre o ar. Ela chega perto de mim, passando por Kalyssa e Sony. Alexander não se afasta, continua perto de mim, por precaução.

— Ela pode ficar num dos dormitórios. — Ela diz. — E precisa se limpar. Não podemos trata-la como um cachorro, não é?

— Claro que podemos. — Kalyssa se intromete.

— Não. — Alex diz. — Emily está certa. Parabéns princesa, você agora está sobre a responsabilidade de Emily. — Ele se vira para ela. — Faça o que quiser com ela.

— Por mim tudo bem. — Emily diz e sorri gentilmente.

— Droga, não podia ter dito isso para mim? — Sony resmunga enquanto sai do convés junto com Kalyssa.

— O que você quer fazer com ela? — Ouço Kalyssa perguntar a ele, já mais longe.

— Você sabe. — Ele responde.

  Alexander olha para mim. Ele é bem mais alto que eu e preciso inclinar a cabeça para olha-lo nos olhos, mas não me importo. Eu o encaro como ele faz comigo. Cerro os olhos, com raiva.

— Deixe-a presa Emily. — Ele diz. — Não a quero arrumando problemas de novo.

  Emily assente, fazendo seus cabelos loiros voarem com o vento. Quando Alexander vai embora ela olha para mim e sorri de um jeito agradável.

— Não se preocupe com ele, só está nos protegendo.

  Protegendo? Emily me tira do convés junto com ela. Pelo menos ela é uma boa pessoa.

¬¬¬

— Icem as velas! Puxem a âncora! — Ele grita.

  O navio sai do porto, com uma tripulação de mais de vinte soltados. E como capitão, o garoto com cabelos louro-escuros e olhos azuis mar. Luke, determinado a salvar Elizabeth daqueles piratas.


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Notas finais do capítulo

Muahahahahahaha! *cof*cof* Hahahahahaha!
kkk