A Filha Do Mar escrita por Emm J Ás


Capítulo 2
Invasão


Notas iniciais do capítulo



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   Kalyssa corre na frente, atravessando a floresta rochosa com uma velocidade que só ela tem. Logo atrás vêm Alexander e Sony, correndo lado a lado. E atrás deles, subindo pelas árvores com grande velocidade, está Drobt. Ele pula em cada galho com tal facilidade que é possível confundi-lo com um macaco, mas não existem macacos nesta região.

  Ao chegar a certo ponto Kalyssa para. Ela tem a pele pálida e cabelos brancos como neve, descendo por seus ombros, mas não muito abaixo deles, num corte desregular. Seus olhos são azuis turquesa e parecem emitir uma luz própria, mas é apenas a luz da lua refletindo neles. Usa uma camiseta branca larga semiaberta na frente, deixando á mostra parte de seu sutiã preto, mas não demais. Também veste uma calça marrom, aparentemente de couro, combinando com suas sapatilhas. Ela sorri e parte de seus caninos afiados ficam à mostra. Ela está bem em frente à saída de emergência do castelo, ou a entrada dos fundos se preferir. Mas está em tal harmonia com as árvores que os dois guardas que estão ali com suas lanças empunhadas não conseguem vê-la, nem ouvir sua respiração baixa.

  Alexander e Sony chegam até Kalyssa.  Sony tem cabelos pretos caídos por cima de seus olhos e pele bronzeada do sol. Usa uma camisa sem mangas deixando seus braços musculosos à mostra e também a tatuagem em forma de caveira no braço esquerdo. Ele é mais baixo que Alexander e Kalyssa, isso porque costuma andar curvado demais. Ele sorri e pega na espada presa à sua cintura.

— Não. — Kalyssa diz baixo. — Vamos seguir o plano.

— E qual é o plano? — Sony diz com sua voz rouca. — Vamos matar os guardas de qualquer jeito.

— É, mas não será você. — Alexander fala para Sony. — Kalyssa...

— Entendi. — Ela diz e sorri para Alexander.

  Ela sai da floresta e quando os guardas a veem imediatamente apontam suas lanças para ela. Ela sorri calmamente, sem ter medo das lâminas. Sony suspira desapontado. Ele queria matar os guardas, Kalyssa sempre fica com toda a diversão.

— Quem é você? — Um dos guardas grita apreensivo.

— Ninguém. — Ela diz. — Só vim fazer uma visita à princesa. — Ela sorri e pisca os olhos sedutoramente.

  Os guardas hesitam, e é nesse momento que ela ataca. Ela vai até o primeiro guarda com rapidez, rouba sua lança e a enfia em seu coração com força, atravessando o colete de ferro. O outro guarda fica em frente à porta, ainda não acreditando na rapidez com a qual ela fez isso. Então chega a vez dele, quando ela puxa a espada antes embainhada na cintura do primeiro guarda e a usa para cortar seu pescoço, deixando o sangue escorrer pela sua armadura.

  Ela deixa o corpo dele cair no chão, visualizando tudo aquilo com um belo sorriso de excitação. Alexander e Sony saem da floresta, já com suas espadas em punho.

— E agora? — Sony pergunta. Ele sabe o que vem agora, e por isso não está animado.

  Drobt cai no chão de pé, tendo saltado de uma árvore com mais de cinco metros de altura bem atrás dos três. Ele tem cabelos escuros assim como os de Sony, mas eles são mais curtos e mais desalinhados, caindo apenas por cima do olho esquerdo. Fora isso ele também é bem mais alto. É possível ver a cor de seus olhos, de um castanho claro como mel. Sua pele também é bronzeada, ainda mais que a de Sony. Drobt não usa camisa, apenas uma calça jeans escura. Ele é tão musculoso quanto Sony ou Alexander, na verdade até mais. Sorri e pega duas adagas antes presas à sua cintura.

— Minha vez. — Ele diz.

  Sony suspira mais uma vez.

— O que nós fazemos Alexander? — Kalyssa pergunta chegando mais perto dele e se apoiando em seus ombros largos.

— Nós vamos por dentro do castelo e abrimos caminho. — Ele diz movendo os ombros. Kalyssa o solta. — Matamos alguns guardas e garantimos uma boa distração. — Ele se volta para Sony. — Está com o mapa?

— Sim. — Ele responde. — Eu faço o que? — Ele diz tirando o mapa todo dobrado da parte de trás de sua calça.

— Primeiro me dá o mapa. — Alexander tira o mapa da mão dele. — E fica aqui esperando até voltarmos.

— Sério? — Ele fica indignado. — Era isso que você planejava quando disse que eu teria uma parte digna de minhas habilidades?

— Exatamente. — Kalyssa corta Alexander antes que ele responda. — Agora vamos logo, estamos ficando sem tempo.

  Ela segura o braço de Alexander e o puxa para dentro do castelo logo depois de abrir a porta. Sony olha para a lua cheia grande e brilhante no céu. Uma lua apenas. O céu é muito mais bonito quando as duas estão nele. Sony senta num tronco desapontado e começa a lustrar sua espada com sua bandana negra.

  Drobt ri dele, mas não fala nada. Ele pula na torre, se prendendo a ela com suas duas adagas de prata. Então começa a escalar, não com muita rapidez, mas com muita força e habilidade. Em pouco tempo ele já chega a um terço da torre. Ele olha para cima e suspira cansado.

— Droga de trabalho. — Ele resmunga e continua escalando.

¬¬¬

   Deitada no meu quarto, sem conseguir dormir, apenas com uma camisola branca até metade de minhas coxas. É assim que estou. Em cima da cama, olhando para a única parte do meu quarto que não está coberta por cortinas roxas, o teto. Todas as outras paredes eu cobri, tentando ao máximo esconder os tijolos de rocha que me fazem sentir numa prisão. Há dois guardas do outro lado da porta, como sempre, mas não é para impedir alguém de entrar e sim para me impedir de sair. Desnecessário em minha opinião. Se eu precisasse fugir, eu fugiria de qualquer modo. Encontraria um jeito, mesmo com um milhão de guardas para me impedir a mando de meu pai.

  Giro na cama, agora ficando de bruços e apoiando meu queixo em cima de meus braços cruzados. Já passou da hora de dormir, todos no castelo com certeza já estão descansando, mas eu estou com um grave problema. Por algum motivo, que eu não sei qual nem quero saber, pois se soubesse mataria o culpado, eu não consigo parar de pensar em Lukeon. Pode me chamar de Luke, ele disse. Pois muito bem, Luke. O beijo que esse príncipe almofadinha e metido me deu não sai da minha cabeça de jeito nenhum. Assim vou acabar precisando ir a uma bruxa e pedir um feitiço de amnésia. Giro de novo, agora abraçando meu travesseiro de penas de ganso.

  Maldade matar pobres gansos apenas para fazer um travesseiro, mas eu não pedi isso. Eu não pedi nada disso, nem esse castelo nem toda essa riqueza. Eu nunca pedi para ser princesa, eu nunca quis, eu apenas nasci aqui. Eu nunca pedi para estar presa a um idiota e ser obrigada a me casar com ele. Dezesseis anos, é tudo que tenho a dizer, só tenho dezesseis anos. Não quero me casar, é muito cedo.

  Toc, toc, toc. Alguém está batendo à porta. Saio da cama e estico minha camisola, fazendo-a tampar mais das minhas pernas, mas ela sobe novamente deixando minhas coxas à mostra. Ok, não deve ser nada. Provavelmente são apenas os guardas querendo me comunicar algo.

  Ponho as mãos na fechadura. A porta do meu quarto não é tão grande quanto as outras do castelo, é normal, então eu tenho força o suficiente para abri-la.  Mas aí eu penso: Meus guardas batendo à minha porta no meio da noite? Isso nunca aconteceu antes. Batem na porta novamente, três vezes como da primeira. Não abro a porta.

— Quem é? — Pergunto de dentro do quarto.

  Ninguém responde. Eu quase desconfio que algo ruim esteja acontecendo, mas aí ele responde. A mesma voz grave e melodiosa que ouvi hoje mesmo, naquele jardim. Meu sangue começa a ferver antes mesmo que eu brigue com ele.

— Sou eu. Luke. — Ele diz com a voz baixa. — Me deixe entrar, preciso falar com você.

  Tudo bem, eu não vou conversar com ele. Se eu conversar com ele sei que vou golpeá-lo num lugar pior do que no rosto, principalmente se ele abusar de mim de novo. Abusar. É uma palavra tão estranha de falar, mas está certa. O que ele fez foi um abuso. Eu não permiti nada.

  Abro a porta para olha-lo bem. Estou com raiva e ele percebe. Agora não usa mais a sua fantasia de príncipe (Nem eu a de princesa), mas apenas uma blusa azul escura tão fina que seus músculos são evidentes. Não suspiro. Não são os primeiros músculos que vejo. Ele também usa uma calça jeans escura e meio rasgada, que não sei dizer se é por estilo ou por relaxamento.

— O que quer? — Não me importo em esconder minha insatisfação com sua visita.

— Que você me deixe entrar. — Ele pede.

— Não vou fazer o que você quer.

— Então eu quero que você não me deixe entrar.

— Tá bom. — Digo e sorrio para ele. Depois empurro a porta, mas ele a segura antes que se feche. Ele está rindo.

— Vai fazer o que eu quero agora? — Ele ainda ri. Eu sorrio também, involuntariamente. Fecho a cara quando percebo que sorri.

— Se o que você quer for o mesmo que eu quero, então sim. — Respondo, ainda fazendo força para fechar a porta. Ele a segura sem esforço.

— E se eu disser que também não quero me casar com você?

  Paro de empurrar a porta. O que ele me disse me surpreendeu. Fico um segundo sem responder (O que é o meu recorde) e depois falo, com a voz um pouco mais baixa.

— Então nós não casamos. — Respondo. Ele sorri e olha para baixo.

— Me deixe entrar, por favor.

  Eu suspiro. Ok então, acho que está tudo bem. Olho para o corredor, mas não há mais guardas em frente à minha porta. Vejo apenas dois no fundo do corredor, virados para cá, mas muito longe para reconhecê-los. Abro a porta um pouco mais e ele passa por mim, depois eu a fecho. Quando me viro para ele vejo que está sentado na minha cama, me olhando. Minhas bochechas coram. Eu sei que essa camisola deixa meus seios muito á mostra, mesmo que sejam pequenos, aliás, eu me esqueci desse detalhe quando o deixei entrar.

— Meu rosto é aqui em cima. — Eu aponto para mim.

  Ele desvia o olhar imediatamente, talvez envergonhado. Abraço meu próprio corpo e vou até ele, mas não me sento ao seu lado. Fico de pé a sua frente, com os braços cruzados e impaciente.

— Desculpe. — Ele diz.

— Só fale logo o que tem que falar. — Eu o apresso. — Você não quer casar comigo, estamos resolvidos então?

— Não é tão simples. — Ele diz. — A gente precisa se casar. Eu preciso me casar. É minha responsabilidade unir os reinos, sou o herdeiro do trono.

  Eu paro por um momento. Ele precisa se casar. Estive tanto tempo com raiva de minhas responsabilidades que esqueci que ele também tem as dele. É muita pressão sobre nós dois. Aproximo-me e sento ao seu lado, mas não muito perto.

— Mas por que eu? — Eu pergunto olhando-o.

— É que... — Ele ainda olha para o chão. — Precisa ser com Alásia. Galatéia e Alásia têm que se unir, ou a guerra de milhões de anos atrás vai continuar.

— Guerra? — Eu nunca soube de nenhuma guerra. Desde que nasci tudo sempre esteve em paz.

— Você não se lembra. — Ele olha para mim. — Você era muito nova ainda. Tudo só acabou quando nossos pais fizeram o acordo. Você foi prometida á mim.

   Eu não sabia que havia uma guerra. Quer dizer que os reinos passaram estes últimos dezesseis anos em paz apenas por causa do acordo? Isso não é justo. Mais uma vez, não é justo.

— Então se não nos casarmos a guerra volta. — Falo baixo, para mim mesma.

— Por isso eu te beijei. Quando você me rejeitou eu meio que fiquei em pânico. Tudo isso nas minhas costas, não dá.

— Não é justo com a gente. — Olho para meus pés descalços. — Não podemos acabar com a nossa vida apenas por isso.

— É tão ruim assim? — Só ouço sua voz. — Se casar comigo?

  Olho para ele. Seus olhos azuis me atingem como uma faca. No fundo ele é um garoto legal, talvez um dia eu até goste dele, mas agora não. Não com tanta pressão. Eu balanço a cabeça, negando sua pergunta.

— Então você achou que me beijando eu cairia por você? — Ele sorri depois que falo.

  Ele passa a mão na cabeça, despenteando os cabelos louro-escuros. Talvez um sinal de nervosismo.

— Sim. Sabe, eu nunca ganhei um tapa depois de beijar uma garota.

  Sorrio debochada. Ele move a mandíbula, querendo mostrar que o tapa realmente doeu.

— Eu sou diferente querido, vai se acostumando. — Viro a cabeça para o lado sorrindo. Ele sorri.

— Muito bem, então...

  Um estrondo alto interrompe sua frase. Um tremor faz com que várias coisas caiam de minha cômoda. Algo bateu na torre. Levanto-me correndo e meio desesperada, vou até a única janela do meu quarto e a abro.

— Ai meu Deus...

  Há um tronco de árvore, grande e grosso escorado na minha torre, pouco abaixo de minha janela. O que é isso? Como isso caiu ali? Luke também se levanta e vem olhar, então ouvimos o barulho de madeira quebrando. Olho para trás. Alguém arrombou a porta.

  Um garoto e uma garota.

¬¬¬

   Ele tem ombros largos e sua pele é clara. Seus cabelos castanhos escuros caem por cima do rosto em mechas finas e descompromissadas, dando-o uma aparência descolada. Seus braços musculosos estão á mostra e seu peito nu, exceto por um colete vermelho de algodão. Em seu punho direito há uma espada com serras escorrendo sangue e sujando o chão do quarto. Seus olhos são verdes-selva, mas é difícil vê-los apenas com a luz da lua. É que quando entraram as tochas presas ao topo do teto se apagaram. Elizabeth sabe exatamente quem são eles, o garoto e a menina de cabelos brancos. Não quem são, mas o que são.

   Piratas.


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Notas finais do capítulo

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