A Filha Do Mar escrita por Emm J Ás


Capítulo 28
Tudo por Ciúmes


Notas iniciais do capítulo

Ok ok, sem spoiler.

É agora que vocês vão descobrir quem.... EU DISSE SEM SPOILER!
Ok, então leiam!



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Os tripulantes estão mesmo mortos. São criaturas feitas de carne podre e pele solta, que me encaram com dentes tortos e assustadores. Alguns parecem ter sido queimados com ácido, outros têm partes de seus ossos aparecendo, mas não parecem se preocupar com isso. Não sentem dor. São mortos vivos, e eu já estudei sobre essas criaturas antes. São seres das trevas, criados por bruxos negros através do sacrifício de várias almas. Também exige que uma virgem seja morta, para prolongar o feitiço. Mas eu não sei se isso importa, além de me dar vontade de vomitar. Espero que já tenham sacrificado a virgem, eu tenho certeza que a Kalyssa não é uma virgem. E a Emily com certeza já deve ter feito sexo, eu acho. Não quero ser a sacrificada.

— Então minha querida princesa veio até mim? — Sua voz ainda é cerrada e grave como vidro. Dói meus ouvidos. — Se eu soubesse que você viria até minha ilha não teria tanto esforço para encontra-la.

Não consigo falar nada. Nenhuma palavra se forma em minha boca.

Ouço o som de algo cortando o vento a minha esquerda e vejo Emily já com sua espada em punho. Preparada para atacar Valtor.

— Vá embora enquanto ainda tem tempo. — Ela diz com firmeza. Valtor apenas ri, do habitual modo sinistro.

— Então vocês têm uma fadinha na tripulação? É uma ótima aquisição...

Emily põe a mão em minha barriga e me empurra para trás, afastando nós duas do parapeito. Ela ergue a mão esquerda a mesma altura de sua espada. Não sei exatamente o que ela pode fazer, mas tenho vontade de gritar. Onde está o resto da tripulação? Luke, Alex, Drobt! Cadê eles???

— O que pensa que vai fazer? — Ele pergunta.

Valtor olha para o lado esquerdo e assente para um grupo de mortos-vivos que estão com as espadas preparadas. No mesmo instante eles pegam uma tábua de madeira longa e grossa, erguem-na e a jogam em nosso navio, fazendo disto uma ponte. O som da madeira batendo no parapeito me assusta, me faz voltar a mim. Não posso ficar parada aqui como uma retardada, eu sou uma filha do mar.

Pego minha espada negra em minha cintura e me preparo para atacar. Quando eu a peguei? Eu não sei, mas acho bom que ela já esteja aqui. Eu deveria andar o tempo todo com ela, afinal com a vida que tenho, posso quase morrer a qualquer momento. Meus pais deviam estar certos não me deixando sair do castelo. Eu queria conhecer o mundo além das barreiras? Bem, aqui está. Pena que vou morrer antes de conhecer o resto.

Então Emily me assusta. Sinto algo elétrico me puxar para mais perto, como um imã, mas é apenas meu cabelo sendo atraído, assim como é quando ligamos a televisão e ficamos com a cabeça perto dela, só que cem vezes maior. Me afasto dela, encarando-a enquanto seu braço esquerdo brilha com uma luz dourado-azulada, como um relâmpago. E essa luz se desfaz de seu corpo até o navio de Valtor, atingindo em cheio a ele e seus tripulantes. E depois de alguns segundos desse ataque elétrico, Emily para e se afasta. Ela perde o equilíbrio, mas eu a apoio antes que caia.

— O que foi isso? — Pergunto confusa. Não sabia que fadas podiam fazer isso.

Ela só sorri e se levanta, se recuperando bem rápido.

Apenas um dom, cada fada tem um diferente.” Ela responde, mas até em pensamento sua voz parece fraca.

Que bom que você existe.

Sorrio. Ela volta a empunhar a espada.

— Essa não... — Ela murmura.

Sigo seu olhar até Valtor. Ele não foi atingido, ele não parece nem um pouco mais fraco. Ele está com a mão erguida em nossa direção. E uma fumaça meio luz sai de sua mão, atingindo Emily tão rápido como um raio. Fico atônica enquanto vejo seu corpo perder a cor e um fio de sangue descer de sua testa enquanto ela cai no chão. Seguro-a novamente. Graças à Deus está respirando.

Mas quando olho para frente novamente, Valtor já está em nosso navio. E sua tripulação atravessa a ponte improvisada com rapidez.

Estamos perdidos.

¬¬¬

Emily e Jack já saíram da sala de reunião faz alguns minutos, mas Alex e Kalyssa mal perceberam. Os dois brigaram, mas não foram ouvidos por ninguém, provavelmente Emily usava de suas habilidades psíquicas. Enquanto isso Kalyssa está com os braços envolta do pescoço de Alex. Ela não é baixa, mas ainda assim não é tão alta quanto Alex. Mas para ela tudo bem, desde que alcance seus lábios já está bom. Ela lhe dá um selinho.

— Que tal continuarmos o que começamos? — Ela diz em seu ouvido.

Alex segura seus braços e a afasta dele, mas tentando ser gentil com ela, o que normalmente ele não costuma fazer.

— Não começamos nada. — Ele diz.

— Então vamos começar. — Ela ri, e suas presas ainda não diminuíram depois da reunião.

Aliás, desde pouco antes da reunião começar Kalyssa já vinha tendo um pressentimento ruim. Ela sempre teve essa habilidade, de reconhecer o perigo, de saber quando se deve fugir e quando se deve lutar. Agora ela sente que deve fugir. E por isso, por estar tensa, que suas presas ainda não se retraíram e seus olhos ainda contêm a fenda alongada de olhos felinos. Até os pelos em sua nuca estão eriçados, mas por estar com os cabelos soltos fica difícil perceber isso. Ela está querendo que isso acabe logo.

— Kalyssa, você se lembra porquê nós terminamos. — Ele a fita nos olhos.

Ela sempre adorou os olhos verdes dele. Sempre pensou que foi um grande desperdício ele ter nascido como um humano, ele devia ser um felino. Um tigre assim como ela, ou talvez um jaguar. Qualquer felino cairia muito bem nele. E ela iria adorar ainda mais.

— Refresque minha memória. — Ela dá um sorrisinho cínico.

— O que você fez não tem perdão Kalyssa.

— Mas foi há tanto tempo. — Ela se solta dele e faz beicinho, com cara de coitadinha. — Não tem como esquecer disso?

— Você colocou toda a tripulação em risco Kalyssa. Você traiu todos nós.

— Isso é mentira! — Ela interrompe elevando o tom de voz, mas depois volta a se acalmar. — Eu fiz aquilo por nós dois. Pra gente poder ficar mais juntos...

— Prejudicando toda a tripulação? — Ele a encara rigidamente. — O que você fez foi egoísmo, foi traição. Eu só deixei você aqui...

— Obrigada por não ter contado a ninguém. — Ela se aproxima e o abraça, depois beija seu pescoço. — Você é o melhor.

— Kalyssa, desista. — Ele a segura pelos braços e a põe de frente para seu rosto, para que ela o olhe. — A gente nunca vai ficar de novo, entendeu?

Ela se irrita. Mas na verdade está com vontade de chorar. Mas não pode fazer isso, ela não vai deixar que ele a faça chorar. Se ele não a quer, não sabe o que está perdendo. Ela se solta dele com força, quase chegando a arranhá-lo com suas garras. Mas o encara, seus olhos ainda mais furiosos.

— Então o que foi aquilo lá no seu quarto? — Ela pergunta firme, impedindo sua voz de tremular.

— Perda de controle. — Ele diz sem dar muita atenção á ela. — Nada importante.

— Então é isso, você me usa e depois me joga fora?

— Nós não fizemos nada Kalyssa, esquece isso.

Ela pisca para impedir que lágrimas se formem.

— Ótimo. — Praticamente grita.

E sai dali antes que ele a veja começar a chorar.

Alexander suspira por um momento e pensa se fez a coisa certa. A verdade é que ele nem mesmo sabe se o que fez foi certo, se deveria mesmo não ter contado ao resto da tripulação que a culpa daquilo tudo foi da Kalyssa. E ele sabe que ainda gosta dela, mas não pode esquecer o que ela já fez. Mesmo que seja muito gostosa.

Então ele sai da sala de reuniões e fecha a porta. Não há mais ninguém lá dentro. Alex ouve um barulho alto, de algo caindo ou algum tipo de trovão. Veio de cima. Ele tenta identificar o som, mas não é nada conhecido. Então corre até as escadas e sobe ao primeiro convés.

Emily está caída no chão. Homens com carne à mostra e sangue escorrendo por suas roupas rasgadas seguram Elizabeth pelos dois braços, enquanto ela luta inutilmente para se soltar. O capitão, o que atacou o Andrômeda quando tinham acabado de sequestrar a princesa. Valtor. Alex conhece muito bem esse nome, seu pai também conhecia.

De um lado estão Vinny e Drobt, também presos pelos mortos-vivos, mas sem se mexer. Ou estão mortos, ou desmaiados. Alexander pega imediatamente sua espada, é quando Valtor o vê.

E quando está prestes a ataca-lo, a garota com cabelos brancos e olhos turquesa aparece à sua frente. Kalyssa não está sorrindo, mas também não está presa.

— Kaly...? — Ele fica confuso.

Então sente duas mãos molengas e geladas segurarem seus pulsos e puxarem para trás com uma força que ele achava que só vampiros e lobisomens tinham. Ele olha para trás e vê o morto-vivo que o segura, com um olho solto e pendendo sobre seu rosto queimado. Depois olha novamente para Kalyssa. Ela se afasta e vai para o lado de Valtor, espontaneamente.

— Você o chamou aqui? — Alex pergunta enquanto é puxado para trás pelo morto-vivo.

Ele vê vários outros zumbis subindo as escadas do alçapão e chegado ao terceiro convés com o resto da tripulação. Todos desmaiados e aparentemente mortos. Ele também percebe que os zumbis estão apertando os braços, não só de Vinny e de Drobt, mas também de Luke, de Carlos e de todos que acabaram de chegar inconscientes. Seus dedos estão enfiados dentro da pele dos tripulantes, e em volta da ferida há uma massa acinzentada. Talvez por isso estejam desmaiados.

Alex olha para Kalyssa, que não diz uma palavra. Ela não sorri, ela não chora, ela não faz nada além de ficar ali. Então ele sente algo perfurando sua pele e começa a sentir azia, começa a ficar tonto e sua visão aos poucos embaça. Mas ele ouve Valtor dizer algo, algo que ele não consegue identificar pois só ouve zumbidos em suas orelhas. Então o morto-vivo que o segura para de pressionar seu braço e tira seu dedo esquelético de sua carne. Aos poucos sua visão volta e sua audição melhora, mas ele ainda se sente enjoado.

Quando já enxerga melhor vê Valtor à sua frente.

— O filho de Edward. — Ele ouve a voz de Valtor. — Pensei que seu pai não o queria como um pirata.

Alex o olha, mas não pronuncia nenhuma palavra. Ele volta seu olhar acusador para Kalyssa, que abaixa a cabeça enquanto examina um saco de couro, com certeza cheio de ouro.

— Meu pai não manda em mim. — Alex diz voltando a olhar Valtor.

— Mas é claro que não... — Um sorriso assustador se forma em seus lábios. — Mortos não mandam em ninguém. Digo...

Valtor olha para seus tripulantes. Todos os mortos.

— A não ser que sejam enfeitiçados. — Ele completa.

— Meu pai está morto? — Alex fica surpreso. Não, ele não sabia disso.

— Eu mesmo o matei. — Valtor se vangloria. — Foi difícil, mas nem tanto. Seu pai foi um ótimo capitão, mas fora da vida de pirata ele não era ninguém.

E tudo que Alex sente é raiva, rancor, mágoa. Ele saiu de casa sem nem se despedir dos pais, nem mesmo um adeus. E agora nunca mais verá seu pai de novo. E é tudo culpa de Valtor. O tempo todo, foi sempre culpa dele. Desde o início de sua vida até agora.

— O que, você, quer? — Alex pergunta pausadamente enquanto calcula quanto tempo levaria para ele se soltar do zumbi e atacar Valtor com sua espada, que ainda não foi tirada de sua bainha.

— Apenas a princesa. — Ele olha para Elizabeth, que já não se debate mais e parece ofegante, como se sua energia fosse aos poucos drenada. — E é claro — Ele olha em volta, para o Andrômeda. — Este belo navio. Seu pai tinha um ótimo gosto.

— Não vai levar meu navio. — Alex diz.

Então tudo bem ele me levar? Elizabeth não consegue pensar direito. O zumbi atrás dela parece um escudo, separando-a do mar e pela primeira vez isso a deixa fraca. Em seu castelo ela não tinha esses problemas, mas agora que se conectou com o oceano não pode mais se separar dele. E o morto-vivo parece separar cada vez mais sua alma de seu corpo. Isso dói e cansa. Ela não consegue proferir nenhuma palavra.

Ao seu lado está Kalyssa, passando nervosamente o saco de coura de uma mão à outra. Ela poderia pensar tudo de ruim de Kalyssa, mas nunca imaginaria que ela faria uma coisa dessas. Que trairia a tripulação inteira por um pouco de dinheiro, pior, que a mataria. Ela sabia desde o início que Kalyssa não a suportava, mas isso? Isso foi passar dos limites. Se ela fosse capaz, já teria xingado Kalyssa completamente.

— Então já sabe quem me deu sua localização? — Elizabeth ouve Valtor falar.

¬¬¬

— A traidora ali. — Alex responde.

Ele olha diretamente para Kalyssa. Eu ainda não sei o que fazer. Minha espada caiu quando fui atacada e está do outro lado do convés, posso vê-la separada de mim. Emily está desmaiada no chão. Me sinto fraca e com as mãos presas eu não tenho como controlar o mar. Não sei o que fazer.

Valtor olha para Kalyssa. Ele anda em nossa direção e o zumbi que segura Alex faz o mesmo, trazendo-o consigo.

— Já explicou à eles porque fez isso? — Valtor fala com Kalyssa.

Ela balança a cabeça, tirando o cabelo branco da frente de seu rosto. Mas ela responde olhando para Alex.

— Aqui tem três safiras. — Ela joga as pequenas joias na palma de sua mão direita. Não são maiores que o meu dedão. — É muito mais do que receberíamos de recompensa.

— E como você fez? — Valtor fala. Alex não diz nada, apenas olha para Kalyssa como se fosse assassiná-la.

Kalyssa suspira, provavelmente por estar tento que explicar seu plano maligno à nós dois. Luke está do outro lado do convés, um zumbi também o segura. Me preocupa ver todos assim, parecem estar mortos. É... Agoniante. Kalyssa pega algo no bolso de sua calça. Um pequeno pedaço de vidro... Não, é um espelho. Um espelho quebrado do tamanho de sua mão. Ela mostra para Alex. Valtor pega também um espelho em sua mão, um retirado da parte interna de sua jaqueta marrom musgo. São dois cacos de vidro, dois espelhos completamente diferentes. Mas são espelhos.

— Espelhos mágicos. — Kalyssa responde. — Foi como nós nos comunicamos.

Ela guarda o espelho novamente.

— Foi sua companheira que me contatou através do espelho. — Valtor diz com um sorriso. — Não sei como ela sabia que eu tinha um, mas foi de bom uso.

— Por que você fez isso? — Alex pergunta. Sua voz é grave e assustadora, como era no meu primeiro dia no Andrômeda. Como quando ele se controlava para não me matar sempre que eu falava algo.

— A gente precisava do dinheiro... — Ela diz.

— Mentira.

— Eu... — Kalyssa hesita. Quase vejo lágrimas em seus olhos. Quase.

Então ela cerra os dentes. Ela perde a calma.

— Você está afim dessa princesinha?! — Ela aponta para mim quase me batendo.

Fico de olhos arregalados. Não era a resposta que eu esperava, não era isso que Kalyssa devia dizer. Então tudo isso, todo esse tempo foi por... Ciúme? Ela com ciúme de mim?

— Não seja ridícula Kalyssa. — Alex fala rigidamente. — Foi por isso?

— Eu não aguentava mais essa garotinha mimada andando por aí! — Ela se descontrola. — Todos fazendo tudo por ela, você fazendo tudo por ela. Eu não aguentava mais!

— Kalyssa...

— Essa vadia se joga em cima de você e você nem vê! Ela matou o Law Alex! O Law! E mesmo assim você ainda considerou não entrega-la em La Isla!

— Como você...? — Ele diz.

Então o Alex não queria me entregar? Ele... Ele pensou em não me entregar.

— Então esse é o núcleo de tudo? — Valtor diz. Seu riso gutural supera qualquer outro som. — Amor. É sempre o motivo.

Meus dentes cerram.

— Então você fez tudo isso por causa disso?! — Agora eu perco o controle. — Sua vadia! Você vai matar todo mundo por causa de um ciúme sem sentido!

Kalyssa me dá um tapa. Um tapa tão forte que sinto minha pele ceder. Ela usou as garras com certeza, porque meu rosto arde em quatro linhas finas que escorrem sangue quente. Ela quase desloca minha mandíbula e por um momento minha visão fica embaralhada. Quando vejo novamente, Alex está lutando para se soltar do zumbi, olhando para Kalyssa como um touro vê uma manta vermelha. E ela está bem na minha frente, ofegante e com lágrimas caindo de seus olhos.

Valtor está rindo.

— Nossa... — Ele diz. — O que acha de os deixarmos conversar um pouco a sós? — Ele se vira para os mortos-vivos.

Nenhum deles esboça reação, mas Valtor parece aceitar alguma sugestão. Ele aponta para cima, para o primeiro convés.

— Leve-os para a sala de controle. — Ele diz. — Aquela ali, onde o Edward sempre estava.

Ele olha para Alex e pisca enquanto os zumbis começam a nos arrastar para cima. Quando o morto-vivo se move eu consigo ver o mar, consigo ver a água se movendo. Minha conexão retorna, mas ainda estou fraca. Eles nos jogam dentro da sala e nos trancam na sala grande com uma escrivaninha, uma cadeira e uma rede pendurada no fundo. O quarto de Alex.






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Notas finais do capítulo

Pra ser sincera eu fiquei com pena da Kalyssa.
Fazer o que, eu adoro essa tigresa albina! Uma das minhas melhores criações, ^ ^
Tchau gente, quero reviews!