A Filha Do Mar escrita por Emm J Ás


Capítulo 27
Reunião


Notas iniciais do capítulo

Vamos lá?
~~~



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Depois do sonho eu não consigo mais pensar em nada. Sempre que tudo fica em silêncio eu me lembro do rosto em pânico na garota, jorrando sangue. E toda vez me lembro disso meus olhos começam a se encher de lágrimas. Só acaba quando me distraio novamente.

Luke me levou até a sala de jantar, que foi onde eu tomei café. Ele já havia tomado seu café da manhã, por isso o gosto de café em sua boca. Eu rio. Nunca imaginei que fosse mesmo ficar com o príncipe de Idiotéia. Não era assim que eu me referia à ele? Quando eu encontrar Miranda novamente ela terá uma grande surpresa. Acho que seus olhos vão ficar arregalados por algumas semanas depois que eu for espontaneamente para o altar.

Rio de novo. Nem acredito que vou me casar.

Depois do café eu e Luke fomos até o terceiro convés. Ele me perguntou o que eu fiquei fazendo durante a noite e eu lhe contei que tentei controlar melhor meus poderes. E que tive êxito. O único problema são as dores musculares que tenho a cada movimento que faço. Agradeci à ele por ter me deixado um pouco sozinha, eu precisava pensar. Acho que a chuva também ajudou.

Eu coloquei outra roupa que estava no guarda roupa. Uma blusa vermelha escura e um colete marrom por cima. Eu me lembro quando vi essa roupa aqui e pensei pela primeira vez no quão sexys as roupas das piratas são. A verdade é que agora não me incomoda mais. E apesar de Luke ter assoviado para mim quando me viu assim, eu sei que não estou tão bonita. Me olhei no espelho e não vi nada demais. O decote é grande, mas não adianta nada se você não tem seios para mostrar. Os meus ao menos são pequenos demais para o meu gosto. Mas eu ri quando ele me elogiou, e a verdade é que é muito bom ter alguém para levantar minha autoestima.

No terceiro convés foi quando ouvimos Emily. Ela falou para todos ali juntos.

Reunião gente, agora. Preciso falar com vocês.”

Depois nós fomos para a sala de reuniões. E a única pessoa que ficou faltando foi Alex. E eu também notei a falta de Kalyssa. E eu não fiquei com ciúme. Não tenho motivos para ficar, estou com o Luke agora. Não estou com ciúmes. Também não fiquei com ciúmes quando os dois entraram juntos pela porta da sala, e quando eu vi Kalyssa amarrando sua blusa tão sutilmente quanto uma bomba atômica.

Não estou com ciúmes.

— O que foi Emily? — Alex pergunta já indo para o seu lugar.

Os dois ficam em silêncio por uns quatro segundos. É sério, eu contei.

— Eu queria contar que estamos mais perto do que eu esperava. — Alex disse. Pensei que Emily fosse falar. — Parece que prosseguimos mais rápido do que eu esperava, e de acordo com os meus cálculos, faltam menos de seis horas para chegarmos em La Isla de la Muerte.

Será que isso teve algo a ver comigo? Eu e Luke trocamos um olhar de confidência. Sim, fui eu. Então eu consegui acelerar a viagem. Sorrio um pouco orgulhosa, mas tentando disfarçar. Luke também sorri.

— Já? — Vinny parece mais reclamar do que comemorar.

Todos os outros também começam a falar. Reclamando que está muito perto.

— Do que estão falando? — Kalyssa se pronuncia, falando tão alto que todos calam a boca. — Não querem o dinheiro? Está na hora de entregar a princesinha. Deviam estar felizes.

— É sobre isso que eu queria falar. — Emily diz, interrompendo qualquer um que planejasse dizer algo. — Vamos mesmo entrega-la?

— Mas é claro que sim! — Kalyssa logo diz. — Não está pensando em ficar com ela não é?

O burburinho começa de novo.

— Gente! Acalmem-se. — Emily bate na mesa com o punho, chamando a atenção de todos. — Olhem só para ela, ela esteve conosco todo esse tempo. Ela lutou com a gente! Vão mesmo fazer isso?

— É o pai dela. E a nossa recompensa. — Kalyssa revira os olhos. — E o tempo que ficamos planejando isso?

— Vocês viram o ataque que sofremos daquele capitão. Ele tentou mata-la. Eles vão mata-la. — Emily se refere ao aspirante de Jack Sparrow.

Dessa vez todos ficam em silêncio.

— Foi ela que causou tudo isso. — Kalyssa diz. — Por causa dela sofremos todos aqueles ataques. Por causa dela o Law morreu!

Na última frase sua voz treme. Por um segundo eu imagino que ela vá chorar. Lembrar que fui a causa de tudo de ruim até agora também não me deixa feliz. E a saudade de Law...

— Não foi culpa dela! — Emily tenta me defender. — Ela é parte da tripulação agora!

— Não. — Alex diz, todos se calam. — Ela não é parte da tripulação.

Por mais que não deva, isso fere meu coração. As pessoas estão certas quando dizem que palavras ferem. E dói muito. Eu já me considerava da família, mas ele está certo. Eu não sou da tripulação.

— Se eles vão mata-la, então eu não vou permitir que a entreguem. — Luke fala.

Olho para ele. Sua expressão é séria, como a de um general. Eu havia esquecido que ele é general das tropas de Galatéia. Não parece o Luke que eu conheço.

— Temos que entrega-la, precisamos do dinheiro. — Kalyssa diz.

— Não vamos fazer isso. Ela é amiga da gente. — Emily fala argumentando.

— Alex? — Kalyssa fala.

Todos dirigem seus olhares à Alexander. Ele é o capitão, ele deve decidir. Não é justo. Eu não passei esse tempo todo aqui para no fim não conhecer meu pai. Além do mais, eu fui culpada por tudo sim. Eu mereço não ser parte do Andrômeda. Eu já tenho minha família, minha mãe, minha irmã, meu pai. Eu vou voltar para casa. E tudo isso será só uma lembrança. Cada um seguirá seu caminho.

— Uma votação. — Alex diz. — Vamos votar.

— Ótimo. — Emily diz satisfeita. Vejo um sorriso em seu rosto. — Quem vota a contra entregar a Elizabeth? — Ela já está com a mão levantada.

Todos estão de cabeça baixa. Ao meu lado vejo Luke levantando o braço.

— Gente? — Emily chama.

— Eu voto nulo. — Sony diz.

E depois dele, Drobt, Carlos, Tom, todos dizem votar nulo. Eles não querem ser os responsáveis pela decisão.

— E quem vota a favor de entrega-la? — Kalyssa diz com um sorriso nos lábios e com o braço de pé.

Alex também levanta o braço. Empate. Eu levanto o braço, eu quero ser entregue.

— Liz! — Emily reclama.

— Seu voto não conta. — Alex diz. — Não pode decidir isso.

— Claro que posso, é o meu futuro que está em jogo. — Digo.

Três a dois.

— Eu voto contra. — Vinny diz. — É o que o Law faria.

Ele não devia ter comentado isso. Meus olhos ficam úmidos, mas eu tento esquecer disso focando-me em outro assunto. Agora com o voto de Vinny, estamos empatados. Um minuto de silêncio.

— Então é isso? Ela fica. — Emily diz.

— Foi empate. — Kalyssa praticamente rosna. Por algum motivo seus olhos cor de turquesa estão ainda mais vivos, mais ferozes.

— Então precisamos desempatar. — Alex diz, mas não parece nada feliz. Aliás, ninguém parece satisfeito.

— Eu desempato. — Jack fala, bem ao lado de Emily. Depois suspira.

Ela o olha com um sorriso. Seja lá o que for que ele vá dizer, eu sei que está contando primeiro a ela em pensamento. E depois de alguns segundos o sorriso dela desaparece.

— Eu voto a favor. — Ele diz, depois para de olhar para Emily e olha para mim. — Ela vai para La Isla.

— E nós pegamos a recompensa. Finalmente um pensamento sensato. — Kalyssa revira os olhos felinos.

— Então está decidido. — Alex diz.

E todos suspiram em uníssono.

— Como você pôde fazer isso? — Ouço a voz baixa de Emily se dirigindo à Jack, mas ela expressa mais mágoa do que raiva.

Não ouço o que ele responde. Acabei sendo levada pela onda de pessoas que saía da sala, inclusive Luke puxando meu braço com força. Passo pela porta e olho para trás uma última vez. Emily e Jack estão brigando. Alex e Kalyssa estão conversando. Mas meu campo de visão se enegrece à tempo de eu ver Kalyssa se jogando nos braços de Alex.

Mas eu não tenho porque me preocupar com isso. Eu não tenho nenhum problema com isso.

E eu já não sei mais o que fazer.

¬¬¬

— O que você pensa que está fazendo?

Ele está com raiva, preocupado, e muito, muito lindo com essa cara. Mas eu não gosto da sua atitude. Por isso me solto dele com força e sinceramente, estou com raiva. E eu sei que quando fico com raiva, não tenho o mesmo efeito que ele.

— O que você pensa que está fazendo?! — Reclamo.

O vento forte começa a empurrar meus cabelos para cima do meu rosto e isso me incomoda. Pego o elástico que deixo no bolso de minha calça e prendo meu cabelo num rabo de cavalo alto, mas algumas mechas ainda ficam soltas.

— Você não pode ir para aquela ilha. Não sabe como é perigoso. — Ele está controlando o tom de voz.

— Sei sim. E ela é do meu pai, eu não vou me machucar. — Cruzo os braços.

— Pare com isso! O cara é o maior pirata de todos os tempos, você acha que ele vai se importar com você?!

Me afasto. Estou com tanta raiva que nem mesmo tenho palavras para dizer alguma coisa. Mas depois de alguns segundos de silêncio, minha raiva cresce o suficiente para que eu exploda com ele.

— E você acha que eu ligo para o que você pensa?!

Quem ele acha que é? Você toma as decisões. Aquela vozinha diz em minha cabeça.

— Você é só um principezinho, eu decido isso! — Mal ouço minha próprias palavras.

Luke segura meus braços. Pelo visto eu estava gesticulando demais e quase o atingi. Mas me segurar só me deixa mais enraivecida, e lá fora o mar se agita muito.

— Você não vai. — Ele diz sua palavra final.

— E quem é você para achar que manda em mim? — Respiro fundo tentando me acalmar, mas o mar se agita tanto que o navio quase vira.

Nós nos desequilibramos mas nos seguramos no parapeito. Estamos no terceiro convés, ele me trouxe aqui sem dizer uma palavra. Está vazio, e o céu acima de nós está com tantas nuvens negras que me pergunto se além de filha do mar também sou filha da tempestade. Claro que o mar influencia muito no clima, mas não creio que seja por minha culpa.

— Sou seu noivo. — Ele diz, já está calmo. — E também seu namorado.

Cerro os dentes. Você vai aceitar isso? Vai aceitar que mais uma vez os homens pensem que estão no comando? Não. Então ele acha que me manda só porque estou comprometida com ele? Puxo meus braços com força e ele me solta.

— Errado. — Digo. Fico na ponta dos pés para ficar quase da mesma altura que ele. — Você era meu namorado.

E depois disso saio dali, sem ouvir nenhuma palavra sequer. Não sei se foi porque saí muito rápido ou se ele ficou atônico, mas tudo que ouço é a chuva começando a cair e o mar agitado. Chega de tempestades, estou cansada disso. E estou pensando se não fui muito dura com ele...

Você fez o que precisava. Com ele atrás de você, só te atrasaria.

Talvez. Mas antes que eu possa chegar até o alçapão que leva para o fundo do navio, um solavanco me faz cai para frente. Olho para trás, mas não vejo nada, então vejo Emily correndo e subindo as escadas.

O que aconteceu?

¬¬¬

Emily sobe as escadas correndo, ela passa por mim sem nem dizer uma palavra. Então ela para no parapeito e parece fitar alguma coisa no oceano. Vou até ela, esquecendo que Luke ainda está no convés e esperando que ele vá embora sem falar comigo.

— O que houve? — Pergunto preocupada e olhando para o mesmo lugar que ela, mas não vejo nada.

— Eu... Não sei. — Ela diz e suspira. Então olha para mim. — Eu achei ter...

— Ter o que?

— Ter ouvido outra mente. Como se o Valtor estivesse aqui. — Seus olhos parecem preocupados.

— Valtor? — Há um ponto de interrogação em cima da minha cabeça. Quem é esse cara?

— O conselheiro do Rei do Mar, o capitão metido a Jack Sparrow. — Ela ri.

Rio também.

— Você sabia que eu o chamava assim?

— Sua mente não é muito sutil. — Ela ri. — Mas sei lá... A mente dele é difícil de ler. Eu achei tê-lo sentido...

— Não deve ter sido nada. — Tento acalmá-la. — Só um pressentimento, afinal estamos chegando perto de La Isla.

Olho para frente. É verdade, uma ilha negra com um vulcão enorme começa a se erguer no horizonte. Com certeza é La Isla de La Muerte, afinal, é a única massa de terra próxima de nossa localização, ao menos de acordo com o mapa na sala de reuniões.

— Não sei não Liz. Eu não costumo ter pressentimentos, não sem nenhum motivo.

Ficamos alguns segundos em silêncio. Aos poucos começo a sentir a tensão em Emily se dissipar, ela parece ficar mais calma.

— Você está com raiva de mim? — Pergunto

Ela não queria que eu fosse à La Isla, e ela se preocupa comigo. Isso era tudo que eu sempre queria, nunca tive uma amizade assim. Por mais que eu e Miranda sejamos próximas, depois de todos esses anos, não ficamos tão amigas quanto eu e Emily em alguns dias. Mas isso é culpa do castelo, do meu posto. Aqui eu não preciso ser princesa, e isso me deixa mais livre. Fica mais fácil.

Eu acho que ela poderia ficar com raiva de mim, afinal eu a contrariei e decidi por mim mesma que iria sem leva-la em consideração. A verdade é que eu mesma estou com raiva de mim.

— Não. — Ela diz. E ri. E eu sei que ela ouviu o que eu pensei. Mas agora nem me importo tanto. — Eu nunca ficaria com raiva de você.

Sorrio.

— Que bom. Achei que ia ficar magoada por eu ter escolhido ir até La Isla ao invés de ficar com vocês no Andrômeda.

— Mas eu fiquei.

Fico calada.

— Só que... — Ela continua. — Eu já superei isso. Sabe como?

— Como? — Pergunto tentando sorrir.

— Indo com você.

Fico calada. De novo.

V-vo-você vai comigo? Como alguém consegue gaguejar em pensamento? Só eu mesma.

Claro princesa. Você não vai se livrar de mim tão cedo.” E em minha mente o riso dela é ainda mais alegre e alto, contagiante.

Mas e o pessoal? E o navio, o Jack?

Ela abaixa a cabeça.

Teve um problema com o Jack?

A gente brigou.”

— Mas vai ficar tudo bem. — Ela continua com a voz baixa.

— Vocês vão voltar. Casais apaixonados sempre voltam. — Digo e a abraço.

Ela ri. É mais baixa que eu, mas isso é engraçado. Eu achei alguém mais baixa que eu em algum lugar do mundo, é quase um milagre.

Eu não sei se é assim.” Sua voz em minha cabeça parece magoada. “Disse coisas de que me arrependo.”

— Eu falei. Casais apaixonados sempre voltam.

Ela sorri sem mostrar os dentes. Parece que os casais estão se separando. Primeiro eu e o Luke, depois a Emily e o Jack. Quem falta?

— Que bom que eu conheço você. — Ela diz. — É bom ter uma amiga.

Que bom saber que ela também pensa assim.

Olhamos para frente, bem para a ilha que fica cada vez maior, se aproximando. Alex disse menos de seis horas, eu digo uma três. Isso se eu não acelerar o navio. E eu vou acelerar o navio, como fiz na última noite.

Então quando vou dizer mais alguma coisa, sinto algo gelado pressionar meu pescoço. Algo gelado e fino, que quase me corta. Eu me assusto e me afasto, mas não há nada ali.

Essa não...”

Então eles aparecem. O navio literalmente se materializa na nossa frente. E não é o mesmo navio de antes, o que eu afundei da primeira vez que usei meus poderes. Ele é maior, mais escuro, mais assustador. Se antes eu o chamava de navio fantasma, então agora nem sei de que chamar.

E o pior são os tripulantes dele. São os mesmos homens de antes. Os mesmos piratas mal encarados. Todos os piratas. Até os que matamos. Não, todos estão mortos. E na minha frente, com a espada brilhante e longa manchada com sangue na ponta, está Valtor. Jack Sparrow. Seja lá quem for, o mesmo capitão de antes. O que tentou me matar. Com a espada apontada para mim e um sorriso assustador no rosto.

Ponho a mão em meu pescoço e sinto meus dedos molharem. Sangue. Minha visão começa a ficar turva. Por que? Já vi tanto sangue, já vi tantas mortes. Mas agora que vejo o meu sangue, eu fico enjoada. O sangue na ponta da espada de Valtor é meu. Foi a espada dele que pressionou meu pescoço. Ele poderia ter me matado ali, mas preferiu zoar com a minha cara. Fico mais enjoada.

Emily estava certa. E ele estava aqui o tempo todo.




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Notas finais do capítulo

Qual é a moral da história?
NUNCA DUVIDE DOS PRESSENTIMENTOS DE UMA FADA!
KKK, esquece.


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