A Filha Do Mar escrita por Emm J Ás


Capítulo 1
Prefácio


Notas iniciais do capítulo

Só um inicio. Ainda trabalhando no que vai acontecer.



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— Meu rei, não creio que seja uma boa ideia. Arriscar uma tripulação inteira por uma simples garota?

— Você não sabe quem ela é. — O rei responde. — Está na hora de ela voltar para mim.

— Eu não entendo meu senhor. — O conselheiro diz.

— Minha filha Valtor. Ela é minha filha, e está na hora de saber disso.

  Valtor abaixa a cabeça para o rei, reverenciando-o.

— Devo preparar a tripulação?

— Deve. — O rei diz. — E deve lidera-la também. Parabéns Valtor, agora você é um capitão.

  Valtor sorri, satisfeito. Ele mesmo sugeriria isto ao rei, mas com ele mesmo dizendo é ainda melhor. Assim, o seu plano não irá falhar. O conselheiro, o próximo na fila para o trono. O próximo não, ainda tem a garota...

¬¬¬

    Eu não quero, de jeito nenhum, mas ninguém me ouve. Por que ham? Tudo bem, faz sentido, mas por que agora? Eu só tenho dezesseis anos, não posso me casar! Mas ninguém liga para o que eu penso, minha mãe, meu pai, nem mesmo minha irmã! Só porque sou a irmã mais nova? Ela poderia muito bem casar-se com o príncipe de Galatéia. Ela é a herdeira do trono, a irmã mais velha, com toda a responsabilidade, então seria certo ela se casar com ele não?

  Ok. Perfeito. Eles marcaram nosso encontro para hoje mesmo. Todos os reinos estão ansiosos para saber o que acontecerá na primeira vez que os noivos mais badalados de Tyron se encontrarem. Os que vão se casar na próxima semana! Uma semana não é o suficiente para conhecer uma pessoa, muito menos para se apaixonar! Mas eles não ligam para o amor, só ligam para a diplomacia. Galatéia e Alásia têm que se unir, e assim se tornar um reino mais poderoso. Isso é ridículo. Eles poderiam muito bem se unir sem ter nenhum casamento, era o mais justo.

— Elizabeth!

  Paro de remexer na minha comida e olho para cima. Estou sentada na mesa de jantar, no salão, olhando para meus pais, minha irmã e alguns outros convidados, todos a minha frente. Minha mãe acabou de gritar meu nome para me chamar a atenção, tirando-me de meus pensamentos. Claro. Nós nem nos encontramos ainda, mas todos já querem saber se eu gosto do príncipe. Dizem que ele é um grande guerreiro, um caçador renomado, um verdadeiro rei. Não, eu não gosto dele.

— O que foi? — Digo sem lhes dar grande atenção.

— Seja educada e responda a pergunta Elizabeth. — Minha mãe diz.

  Reviro os olhos e mordo uma maçã. Não estou com fome, não quero comer.

— Que pergunta?

— Tudo bem Genevieve. — A mulher a minha frente diz para minha mãe. — Querida... — Ela se vira para mim. — Eu lhe perguntei se não deseja ir para o nosso reino antes do casamento. Podemos lhe mostrar tudo, você vai adorar.

  Eu bufo. Eu tenho certeza de que não vou gostar. A mulher que está a minha frente é a mãe do príncipe, com seus cabelos louros escuros e olhos azuis perfeitos. O homem ao seu lado é seu marido, o Rei de Galatéia, com os mesmos cabelos louros e olhos azuis, como se fossem irmãos. Na verdade eles são primos, mas ninguém liga para isso por aqui. Os dois disseram que seu filho, chamado Lukeon, está a caminho de Alásia neste momento. Eles vieram antes pois queriam conhecer sua nora antes de seu filho, assim poderiam julgá-la. A verdade é que não importa se sou a pior princesa do mundo, eles vão me casar com ele.

— Não, obrigada. — Digo. Eu nem mesmo pretendo me casar, quanto mais ir ao reino deles.

  A mulher sorri amigável, então me olha como se eu não tivesse escolha. Eu vou ao reino deles, querendo ou não.

  Antes que possa dizer mais algo um dos guardas se apresenta no salão. Ele usa a roupa comum dos guardas, a blusa de mangas vermelha com a armadura de prata cobrindo apenas o peito como um colete, cheio de detalhes em dourado e o brasão do reino. Além disso, como sempre, ele tem uma espada grande e afiada em sua bainha. Ele bate continência para nós.

— O Príncipe Lukeon já está presente. Devo convidá-lo para o jantar?

— Não, de modo algum. — A rainha de Galatéia diz. — Tenho certeza de que ele já jantou.

  Ela se levanta da mesa enquanto limpa a boca com um dos guardanapos. Seu marido faz o mesmo logo depois.

— Acho que está na hora dos dois se conhecerem. — Ela diz.

    Reviro os olhos. Está na hora dos dois se conhecerem. Não estou nada animada com isso. Limpo as mãos e a boca também com um guardanapo. Levanto-me da mesa sem dizer uma palavra e saio.

¬¬¬

— Princesa, eu sei que deve ser ruim, mas você precisa fazer isso pelo bem do reino. — Miranda diz enquanto puxa cada fio do meu corpete.

  Está me deixando sem ar, mas tenho que pôr o maldito corpete, ou não estarei vestida adequadamente. Miranda puxa mais forte e dá um nó. Eu solto o ar que por tanto tempo prendi e tento respirar. É difícil, mas não impossível.

— Deve ser ruim? É horrível Miranda. Eu não quero me casar.

  Miranda dá um sorriso simples, sem dentes e meio triste. Ela é minha dama de companhia desde que tenho sete anos de idade. Deveria ser minha amiga, mas nossa relação sempre foi muito restrita. Ela tem cabelos longos e ruivos, sempre postos numa trança longa. Seus olhos são verdes claros e ela tem sardas nas bochechas. É uma garota muito mais bonita do que eu, mas uma simples plebeia. Eu daria de tudo para trocar de vida com ela. Ela seria uma princesa bem melhor, por incrível que pareça ela é fascinada por essa vida.

  Ela abre meu guarda-roupa e de dentro dele tira um vestido, o vestido que as tecedeiras passaram semanas para fazer apenas para essa ocasião. Apenas para eu me encontrar com o príncipe. Um vestido rodado, rosa com glitter e babados nas mangas. Um vestido nada a ver comigo.

— E agora chegou a hora. — Digo. — Meu fim está próximo, prefiro me suicidar a usar esse vestido. O que acha?

  Miranda ri, desta vez mais alegremente.

— Não diga isto princesa, este vestido é tão lindo... — Ela passa a mão sobre a saia do vestido.

— Não, ele não é. E mais, eu já pedi para não me chamar de princesa.

— Eu preciso. —Ela olha para mim. — É assim que se deve tratar uma princesa.

  Balanço a cabeça em negação. Eu sei que ela está certa, ela tem que me chamar assim, ou pode até ser presa. Eu odeio viver nesse regime horrível, quando o mundo vai evoluir?

  Coloco o vestido e faço uma careta a me ver no espelho. Miranda me faz sentar numa cadeira e começa a escovar meu cabelo. Eu tenho cabelos castanhos escuros e longos até a minha cintura, são ondulados e muito difíceis de pentear. Eu gosto de deixa-los soltos e cheios, me dá uma aparência selvagem, mas sempre reclamam e me fazem arrumá-lo. Ela prende meu cabelo para cima e coloca um broche dourado com pedras azuis, relíquia de família. Minha mãe me deu este broche quando eu fiz quinze anos, era da minha avó e da avó dela. É legal ter algo que já foi de tantos ancestrais seus, mas meio estranho também. Quando Miranda termina eu fico parecendo uma verdadeira princesa. Eu reclamo e ela deixa eu colocar algumas mechas soltas em meu rosto. Sorrio.

— Está perfeita. — Ela diz.

  Me olho no espelho. Estou perfeita mesmo.

— Mas como esse corpete aperta! — Digo e puxo um pouco ele, tentando respirar. Miranda segura meus braços, impedindo-me de estragar seu trabalho.

— Aguenta ok? — Ela diz sorrindo. — São só alguns minutos.

  Respiro fundo enquanto posso, então solto o corpete e ele volta a me apertar.

— Ok. — Digo confirmando.

  Miranda sorri. Nós duas saímos do quarto, ela me acompanhando até o jardim, onde encontrarei o príncipe de Idiotéia. Passamos por todos os corredores do imenso castelo, feito de tijolos de pedra cinza e adornado com cortinas e bandeiras vermelhas com detalhes dourados. A cada três metros há um castiçal, com camas douradas bruxuleantes. Esse castelo é assustador á noite, mas eu vivo nele desde que nasci, já me acostumei.

  Quando chegamos á porta de saída para o jardim Miranda segura minha mão forte e a solta.

— Já me vou. Aproveite. — Ela diz e sorri. Eu sorrio também, fingindo animação.

— Tudo bem. Tchau Miranda.

— Tchau princesa. — E ela vai embora, dançando pelos corredores como se fosse uma fada.

  Respiro bem fundo antes de abrir a porta para o jardim. Eu não vou abri-la, vou mandar os guardas abrirem-na. Há pelo menos dois guardas em cada porta, e as portas são grandes e pesadas, então não haveria mesmo a possibilidade de eu abrir uma delas. Balanço a cabeça confirmando para os guardas. Eles seguram nas fechaduras da grande porta dourada e prateada.

  Fecho os olhos enquanto a luz da lua ilumina meu rosto. Estou determinada a fazê-lo me rejeitar. Eu não vou me casar com esse garoto de jeito nenhum, não é uma opção.

  Então eu passo pela porta e abro os olhos. Estou no jardim, onde cada árvore e arbusto parece se mover sorrindo para mim. As roseiras florescem suas rosas e as orquídeas viram para mim, como se suspirassem a me ver. Eu sempre amei vir ao jardim, ele é vivo e se comporta sempre tão bem quando eu chego. Está vazio, não há ninguém. Eu esperava encontrar um príncipe.

— Olá.

  Viro para trás tomando um susto. É um garoto, de cabelos louro-escuros e olhos azuis. Ele usa uma camisa azul com detalhes prateados, no tema do brasão de Galatéia. Uma capa azul em seus ombros, a prova de que é um príncipe. Ele é bonito afinal, como imaginei que seria, mas não me derreto por qualquer rosto bonito. Ele sorri para mim, com dentes brancos e um olhar encantador.

  Não o respondo. Apenas o olho de cima a baixo avaliando-o. Bonito com certeza. Faço uma expressão de decepção, como se não fosse o que eu esperava. A expressão dele também muda, sumindo o sorriso de antes.

— Que bom conhecer minha noiva. — Ele diz e se aproxima.

  Dou um passo para trás.

— Não sou sua noiva.

— É a princesa Elizabeth de Alásia não? — Ele nem mesmo sabe quem sou eu. Suas sobrancelhas estão levantadas, confuso.

— Sim. — Respondo. — Mas se acha que vou me casar com você está muito enganado.

  Cruzo os braços e me viro para o jardim. Começo a andar por ele, ignorando o garoto e apreciando a luz da lua. As flores se abaixaram ao ver minha reação. Tristes??? Mas elas sabem que não quero me casar!

— Espera aí. — Ele diz me seguindo.

  Ele segura meu braço e me puxa para trás obrigando-me a olhá-lo. Olho em seus olhos, com raiva.

— Com você ousa... — Começo, mas ele me interrompe.

  Ele me beija. Seus lábios tocam os meus com tanta força que sinto todo meu corpo estremecer. Sinto vontade de derreter, mas permaneço rígida. Ele passa a mão em meu cabelo, desfazendo o penteado que Miranda demorou tanto para fazer. Isso me faz suspirar e eu fico arrepiada. Estou com as mãos em seu peito tentando empurrá-lo, mas não sou forte o bastante, não agora, não tenho forças. Tento me concentrar no simples fato de que eu nem mesmo o conheço, mas é muito difícil. Cada segundo que ele me segura em seus braços é um segundo mais perto da minha perdição. Quando ele me solta, olhando em meus olhos com esses olhos azuis tão penetrantes, eu acabo me perdendo por alguns segundos e esquecendo que não permiti esse beijo.

— Elizabeth. — Ele diz.

  Antes que ele possa dizer mais alguma coisa eu levanto minha mão direita e lhe dou um tapa no rosto. Usei toda a força que tenho e logo depois me afastei. Ele vira o rosto e põe a mão bem onde eu o estapeei, na marca vermelha que ficou ali, para ele se lembrar de mim.

— Quem você pensa que é para me beijar sem minha permissão?!

— Sou seu noivo. — Ele diz balançando a mandíbula, como se eu a tivesse distendido.

— Eu nem mesmo sei o seu nome! Acabamos de nos conhecer.

— Claro que sabe meu nome. — Ela diz. — É Lukeon, mas me chame de Luke.

  Ele dá um sorriso torto encantador.

— Prazer. Eu sou Elizabeth, mas pode me chamar de “a garota que vai quebrar a sua cara se você me beijar de novo”. — Sorrio. Ele ri.

— Tá bom. Mas no nosso casamento vamos ter que nos beijar.

— Não vai haver casamento. — Digo e passo por ele lhe empurrando para o lado.

  Não quero ouvir mais nem uma palavra dele. Não quero olhá-lo de novo nunca mais. Como ele se atreve?! Idiota, idiota, idiota. E o pior de tudo é que não consigo parar de pensar neste beijo.

— Te vejo amanhã amor. — Ele diz enquanto passo pela porta, entrando novamente no castelo.

  Não o respondo. Tudo que quero é dormir em paz, sem nenhum príncipe idiota me perturbando. Ele cometeu um grande erro. A cada minuto que passa a minha raiva dele aumenta.

¬¬¬

  O navio para bem atrás da cidade. Eles matam os guardas antes que possam soar o alarme.

  Alexander, Kalyssa, Drobt e Sony descem no navio. O resto da tripulação fica o guardando e segurando a rampa. Alexander, o capitão, olha para o castelo a menos de dois quilômetros dele. No alto do castelo um quarto ainda está com a luz acesa. O quarto da princesa. Está na hora de realizar o plano.

  Alexander e os outros correm pela floresta em direção ao castelo. Não há nada que possa impedi-los.


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Notas finais do capítulo

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