A Filha Do Mar escrita por Emm J Ás


Capítulo 18
Lembrança


Notas iniciais do capítulo

Novo cap, criando mais dúvidas nas suas cabecinhas. Muahaha/!



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— Seremos obrigados a seguir a rota das rochas. — Alexander diz.

— Mas o navio não vai conseguir passar por lá, vai ficar todo destruído. — Carlos fala.

Mais destruído né. — Kalyssa acrescenta. Então olha para mim, lembrando-me que fui eu quem destruiu parte do terceiro convés.

— Kalyssa. — Emily olha para ela. — Onde nós encontramos mais água de luz?

Kalyssa revira os olhos.

— Na rota das rochas. — Ela responde.

— Então nós vamos para lá de qualquer modo.

— Foi culpa minha. — Digo. — Eu rodei o leme para o lado errado e agora vamos ter que ir por lá.

— Está certa. — Kalyssa diz. — Se não tivesse feito isso, não teríamos nem sido atacados pelo seu navio, princesinha.

— Não foi culpa dela. — Alex diz. — Vamos ter que passar por lá de qualquer modo, a não ser que você prefira morrer Kalyssa.

Ela fica em silêncio, mantendo a expressão altiva.

— O lugar está infestado de demônios aquáticos. — Luke fala.

Ele acabou de entrar na sala de reuniões. Eu realmente estava estranhando sua ausência, afinal agora ele é como parte da tripulação. Mas parece que ninguém aqui está disposto a aceita-lo. Na verdade, a única que parece feliz com sua presença sou eu. Ele fica do meu lado.

— Qual de vocês soltou o prisioneiro? — Alex pergunta olhando para o resto da tripulação.

Todos balançam a cabeça negando. Então quando chega a mim, eu o encaro. E sorrio. Ele suspira.

Fui eu quem soltou o Luke. Ou eles acharam que eu iria deixa-lo ficar no mesmo quartinho cheio de bebidas e sardinhas em que eu ficara quando me sequestraram? Haha.

— Justamente por causa delas que precisamos ir por lá. — Kalyssa fala.

— Por causa dos demônios? — Pergunto.

Claro, idiota. — Kalyssa responde.

O quê? Quem ela acha que...

— Como assim? — Alexander interrompe meus pensamentos. Mas meus punhos ainda estão cerrados.

— Ninguém nunca tem coragem de lutar com um demônio da água, quanto mais mata-las. — Kalyssa começa. — Então ninguém nunca sabe que quando elas morrem, se tornam água de luz.

— Então eu bebi um demônio morto? — Pela primeira vez Jack se pronuncia.

Emily ri ao lado dele. Os dois estão abraçados e muito próximos, como eu nunca vi desde que cheguei ao navio. Eu já havia entendido que eles se gostavam, mas agora estão juntos? Que fofo. Eles ficam tão bonitinhos juntos.

— Então temos que matar demônios da água? — Carlos fala.

Kalyssa dá de ombros.

— É fácil, não se preocupem com isso. É só atingir o coração com força.

— Tá bom então.

Demônios da água são criaturas feitas de água que vivem no fundo do oceano e se alimentam de almas humanas. Eu nunca vi um, nem mesmo foto, mas já estudei sobre eles. Na maioria das vezes assumem a forma de mulheres, para atrair os homens. Imitando as sereias. Mas elas não têm problema nenhum em se alimentar de uma mulher. Será que uma filha do mar tem um gosto bom? Espero que elas achem que não.

— Então é isso. — Alex pega o pequeno navio de mogno, o Andrômeda em miniatura, e o arrasta até uma área do mapa que está infestada de pedras e picos. Também há algumas luzes azuis desenhadas ali, que imagino que representem os demônios da água. — Vamos chegar lá ainda hoje. Preparem-se, não vai ser fácil.

— De quanta água de luz vamos precisar? — Sony pergunta, já tirando sua espada e lustrando-a.

— Duas ampolas é o suficiente, mas nunca é demais. — Kalyssa responde.

— Quantas vamos precisar matar? — Luke pergunta. Só agora percebo que ele segura minha cintura, me deixando perto de si, assim como Jack faz com Emily. Fico corada, mas não me afasto.

— Cinco devem ser o suficiente.

Todos arregalam os olhos. Kalyssa revira os olhos.

— Ora, vamos lá. Aposto que vamos deixar aquela espécie em extinção. — Ela tenta incentivar.

— Eu me garanto. — Carlos diz. Ele está ao lado dela.

— Eu também. — Sony crava sua espada na mesa, rasgando um pedaço do mapa sem querer. Alexander o olha, condenando-o. — Desculpa. — Ele tira a espada dali e ri.

— Quem não estiver afim de lutar, pode se esconder. — Alex fala. — Fiquem em seus quartos. Eu, vou lutar.

E ele sai da sala. E começa o burburinho. São tantas conversas paralelas que não consigo me concentrar em nenhuma delas. Todo mundo vai saindo da sala de reuniões aos poucos.

— Quebre a perna, querida. — Kalyssa fala ao passar por mim. Mas tenho certeza que nesse contexto, não significa uma coisa boa. Balança os cabelos brancos e rebola até a porta.

— Que tripulação amigável. — Luke comenta e sorri.

— É. — Rio, nem sei por que.

E nós dois somos os últimos a sair dali.

¬¬¬

— Agora é sua vez. — Ele fala.

— Minha vez de que?

— De responder perguntas. — E me mostra um sorriso no canto da boca. — Primeira:

— Calma. — Falo. — Eu também tenho mais perguntas a fazer.

Luke está ao meu lado no terceiro convés. Passamos por Sony, Tom e Drobt, os três lutando entre si com suas espadas, treinando para a luta que haverá em breve. Eu estou com a Darklight em minha cintura, embora ainda esteja meio assustada com ela. De qualquer modo, ela é a espada que escolhi para lutar, e mesmo que tenha me deixado meio drogada, acho que deve ter sido só uma vez né? Quer dizer, o vendedor na loja disse que a espada era amaldiçoada. Será...?

— Façamos um tratado. — Luke se pronuncia. — Você me responde minhas perguntas primeiro, e depois eu te respondo o que falta.

Sorrio.

— Combinado. — E nós apertamos as mãos.

Andamos e paramos no parapeito. Meu olhar se fixa nas ondas escuras que batem violentamente no navio. O navio é tão grande que mal se move, mas ainda assim elas parecem ser de matar. Engraçado, quando quase caí do navio eu fiquei morta de medo do mar. Agora sinto como se fosse minha casa. E quando mais nos aproximamos de La Isla, mais medo e hesitação eu tenho. Será que fiz a escolha certa? Melhor me distrair.

— Pode começar. — Olho para ele.

— Então... — Ele apoia o braço e se vira para mim. Ele é mais alto que eu e preciso inclinar a cabeça para olhá-lo. Parece ter mais ou menos a mesma altura que Alex. Não que eu esteja medindo. — Que tal começar pelo motivo de ainda estarmos aqui? O que você descobriu?

— Descobri?

— Quando ataquei o Andrômeda, você disse ter descoberto uma coisa sobre você. Quer saber mais sobre isso. Eu só quero saber o que é. — Ele sorri. Haha, acha que é só me dar esse sorrisinho de príncipe e vou responder todas as suas perguntas?

— Descobri que não sou filha dos meus pais. — Tento sorrir como se fosse um fato irrelevante, ou no mínimo sem grande importância. Mas acho que não dá certo porque eu quase consigo ver seu queixo cair. Abaixo a cabeça.— E também não sou humana como pensava. Sou de uma espécie há muito extinta, mas que por algum motivo eu existo. — Levanto meu olhar a ele. — Estou procurando meu verdadeiro pai.

— E quem é ele? — Ele parece agir com bastante sensatez.

Respiro fundo.

— O Rei do Mar. — Respondo.

Um segundo. Três segundos. Dez segundos de silencio. Então Luke balança a cabeça, como se se afastasse de um pensamento ruim, e bagunça os cabelos com a mão direita. A imagem é engraçada e fofa, mas nessa situação eu não consigo sorrir.

— Você é filha do maior pirata de todos os tempos?

Assinto.

— Uau... E eu achei que você era complicada. — Ele debocha.

Abro a boca para insultá-lo, mas no último momento prefiro dar-lhe um tapa no braço. Ele se afasta rindo, depois volta e me abraça. Eu não sabia que era tão pequena, mas é como se eu estivesse abraçando um travesseiro do tamanho de um colchão. Tá bom, eu estou exagerando, mas ele é bem maior que eu. E nós dois rimos. E eu sinto ele beijar o topo da minha cabeça.

— Vai voltar para Alásia depois? — Ele pergunta ainda comigo em seus braços.

Eu o solto. Fito seus olhos por um momento, medindo minha resposta. Acho que eu nem tinha pensado ainda no que ocorreria depois, sabe, depois que conhecesse meu pai.

— Sim. — Respondo como um reflexo. — Não posso deixar meus pais, sou uma princesa. E ainda tem a minha irmã, eu não posso abandonar meu reino e todos por causa de uma coisa tão egoí...

Ele me cala. Apenas põe a mão sobre minha boca, um dedo é o suficiente para que eu pare de falar.

— Você está ouvindo o que está falando? — Ele me pergunta, então tira a mão de mim. Desvio o olhar. — Parece uma resposta ensaiada.

— Acho que fiz a escolha errada. — Falo para mim mesma, mas acho que é alto demais.

— Você tem que fazer o que você quer. — Ele põe a mão no meu queixo e levanta meu rosto até eu olhá-lo. —O que você sentir que é certo. Não se sinta pressionada por ninguém.

— Mas eu tenho deveres e afazeres. — Suspiro. — Eu também tenho que me casar com você. E se eu não voltar? Como posso evitar a guerra?

— Shh... — Ele levanta os cantos da boca. Um sorriso. — Você vai lá, vai encontrar seu pai e descobrir como tudo isso aconteceu. Depois você pode voltar para a sua família.

— E se eles não me quiserem mais?

— Vão querer. Eles te amam.

— Mas e...

— Shh. — A distancia entre nós fica cada vez menor. — Sem “mas e”, nenhum “e se”. Você é forte, eu sempre soube disso.

Ele sorri, como se compartilhasse uma piada particular consigo mesmo. Por um momento sinto como se o conhecesse a mais de três dias.

— Soube? — A pergunta devia ser outra.

Ele põe a mão nos meus cabelos e beija minha testa.

— Você não se lembra não é?

— Lembrar de quê? — Me afasto para olhá-lo.

— Éramos amigos quando crianças. Brincávamos, corríamos. Acho que foi ali que nossos pais fizeram o tratado. — Ele sorri como se tivesse boas lembranças.

— Eu não me lembro disso. — Vasculho cada canto de minha mente, mas não encontro absolutamente nada. Então tenho um flash rápido. Um castelo de mármore branco, com detalhes azuis e cortinas de veludo. — Eu já estive em Galatéia?

— Foi quando nos conhecemos. Nos vimos pela primeira vez. — Ele olha para mim. Sua expressão parece preocupada. — Não se lembra.

Balança a cabeça.

— Éramos novos, mas eu me lembro mais ou menos. — Ele começa. — Você chegou num navio... Você ficou no castelo um tempo, depois seus pais chegaram e te levaram...

— Quem tinha me levado lá?

— Eu não lembro. — Franze o cenho. — Um homem alto, elegante. Parecia um rei, ou príncipe. Não sei, acho que ele e meu pai discutiram...

— Depois o navio de Alásia chegou... Meus pais... — Começo a me lembrar. Um navio grande com velas vermelhas e uma grande fênix dourada na frente. Símbolo de Alásia.

— E aí meus pais me mandaram entrar no quarto. Eu fiquei lá e você lá fora.

— E depois disso eu fui levada. Eu estava chorando...

— Vi pela fechadura, o homem foi preso. O homem que te levou...

— E não me lembro de mais nada.

Só de um broche. Uma caveira prateada, grande e brilhante, cravadas com rubis nos olhos. O broche que estava no meu vestido quando fui levada. Meus pais o arrancaram e jogaram no mar. E desde então eu nunca mais fui à Galatéia.

¬¬¬

Alex também está no terceiro convés. Ele está escorado no outro lado do navio, e não consegue evitar de encarar Elizabeth a cada dois minutos.

— Ouviu?

Ele desvia o olha para o mar e o encara.

— Alex!— Kalyssa segura o ombro dele e o balança.

— Aí, o que foi?— Ele reclama se soltando dela.

— Nossa, que mal humor...— Ela resmunga e apoia os braços no parapeito, bem ao lado de Alex. Olha também para o mar, onde cardumes nadam rapidamente por debaixo do navio.

— O que é?— Alexander pergunta, sem olhá-la.

— Eu perguntei o que você planeja.— Kalyssa repete.

— Planejo? Para que?— Ele a olha.

— Não é para o que, é com o que. Quero saber como nós vamos usar o dinheiro, da recompensa, lembra? Alex, Alex.

Alex se perde em pensamentos novamente.

— Ahm, o que?— Ele volta a olhar para ela.

— O que está havendo com você? Está no mundo da lua.— Agora é ela quem fita o mar.

Kalyssa anda se sentindo muito rejeitada ultimamente. Depois da noite que passou no quarto de Alex, ele nem mesmo olha mais para ela. Não aconteceu nada que ela planejava, mas mesmo assim. Ele a trata com insignificância. Isso a deixa com raiva, mas no caso dele, só a deixa triste.

— Estou pensando, só isso.— Ele responde depois de alguns segundos.

Não deixa de ser verdade. Alexander tem pensado muito. Ele não sabe o que vai fazer. Seguindo pela rota das Rochas vai demorar muito mais para chegar até a La Isla de La Muerte. Ele sinceramente não sabe se está satisfeito com isso, ou com raiva. Só sabe que está chegando cada vez mais perto de entregar Liz aos piratas do Rei do Mar.

— Mas e aí? A grana, dimdim, money honney, o que vamos fazer?— Kalyssa tenta prosseguir mudando o rumo de seus próprios pensamentos.— Dividimos igualmente? Todo mundo trabalhou pra sequestrar a vadia. E suportar ela, só por isso merecemos mais o dobro...

— O que você disse?— Alex olha para ela. Mas sua expressão demonstra irritação.

— Disse que devíamos dividir a recompensa igualmente.

— Não, depois disso.

— Disse que merecemos o dobro da recompensa.— Ela suspira e revira os olhos.— Está tudo bem?

— Antes.— Ele se vira completamente para ela, não somente o rosto.

— Ah...— Kalyssa entende. Ela dá um sorrisinho malicioso.— Ah...— Então ela percebe o porquê da raiva repentina de Alex.— Eu a chamei de vadia. V-a-d-i-a.

Kalyssa continua rindo, mesmo que por dentro esconda um ciúme mortal. Ela estica o braço para tocar Alex, mas ele segura seu pulso com força e a encara nos olhos. Seu sorriso desaparece.

— Nunca mais refira-se a ela assim, ouviu?— Sua voz não é só grave, é rígida e imperativa.

Kalyssa não responde, ela não acena, não assente, não solta um suspiro. Ela apenas cerra os dentes e os punhos.

— Ouviu?— Alexander repete.

— Sim.— Kalyssa fala, mas mais se parece com um rosnado.

— Ótimo.— Ele solta seu braço.

Depois disso Alex se afasta. Deixando apenas Kalyssa remoendo seu ódio. Ele vai conversar com Law, que está apoiado perto dos barris, conversando com Vinny e Tom.

— E aí pessoal.— Ele fala.

Ele e Law trocam um cumprimento. Uma batida seguida de um soco. Ele faz o mesmo com Tom e Vinny.

— Tá preparado cara?— Tom se pronuncia.— Soube que esses demônios da água não são moles não...

— Soube que são gostosas.— Vinny acrescenta.

— São difíceis de matar, isso sim.— Law completa.

— Fala sério pessoal, pra nós vai ser moleza.— Alex diz e ri.

— Mas e aí, o que foi aquilo com a Kaly?— Vinny pergunta.

Um segundo encarando Vinny.

— É cara, todo mundo viu. Você deu uma sacudida nela.— Law fala.

— Serve pra ela deixar de se sentir a dona de todo mundo.— Tom diz se apoiando num barril.

— Ela só me irritou muito. Nada demais.

— Ela deve ter dito algo bem sério.— Law fala enquanto levanta a calça, que está larga.— Eu nunca vi você fazer aquilo com ela. Machucou.

— Doeu.— Vinny ri.

— Que nada, vocês sabem o quão resistente ela é.— Alexander fala.— Acho que nem sentiu.

— Não tô falando disso.— Law diz.— Machucou mesmo foi o orgulho dela.

Todos riem.

— Aposto que nem arranhou, com um ego grande daqueles.— Diz Tom.

— De qualquer modo, ela não me importuna mais.

— Nunca mais.

— Não mesmo.




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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?