— E-eu não acredito — fala de forma abafada, por conta das mãos tampando a boca —, eu gosto da Lia...!

Depois de ter ficado tão frustrada, Lia passou o resto da noite deitada em sua cama. Acabou, novamente, acordando cedo, por ter dormido por tantas horas.
— Me sinto tão cansada... — Senta na cama. — Nem parece que dormi tanto... — Se espreguiça.
Olha para o relógio, resolve levantar e ir caminhando lentamente para a escola.
Se arruma o mais rápido possível, para não encontrar com sua prima.
Para na cozinha para pegar algo para comer, porém é surpreendida por Amara entrando na cozinha com cara antipática.
— Acordada a esta hora? Vê se não vai acabar com o queijo hein! — Avisa de forma grossa.
“Engole esse queijo.”
Lia fecha a porta da geladeira com força, e sai irritada.
Caminha pela rua um pouco zonza.
— Estou com fome... Ontem eu nem jantei... — Comenta para si mesma.
“Ontem teve a peça... Ri-chan me beijou... Eu briguei com o Ri-chan... Ele quase me beijou de novo, mas... Ficou todo cheio de amores pelo Lain-sama... Com que cara que vou encontrá-lo hoje? Temos que limpar os banheiros...”
O dia está cheio de nuvens e bem frio, porém Lia saiu tão distraída que se esqueceu de pegar uma blusa de frio.
Bate um vento forte, que faz a saia de Lia quase levantar.
— Kyaaaa! — Corre segurar a saia corada. — Ainda bem que nesse horário não tem quase ninguém nessa rua... — Olha para os lados, apreensiva.
Começa a ventar novamente. Ela treme de frio.
Continua caminhando vagarosamente, tremendo.
Nota que está de frente para o Parque Midori.
— Essa área é tão mais fria... Por que eu tive que esquecer minha blusa...? Droga... — Resmunga.
Ela da uma parada forçada, para soltar um grande espirro.
— ATCHIM!
Assusta-se ao notar uma blusa sendo colocada em torno do seu ombro.
Um doce cheiro de maçã verde exalando tão próximo dela.
— Ãh?
Olha para o lado.
— Você vai ficar resfriada se der bobeira sem roupa nesse vento. — Rikku a olha.
“R-Ri-chan!”
— N-não precisa se preocupar comigo... — Fala emburrada e começa a andar.
“Eu não queria me encontrar com ele...”
— Se não quer que eu me preocupe com você... — Anda ao lado dela olhando para frente. — Para de me preocupar então.
Lia nota que ele está com o rosto vermelho.
“Ri-chan está estranho... Será que é por causa de ontem? Já tivemos vários momentos e ele nunca ficou com essa cara...”
— E-e você... Não vai ficar com frio só com essa blusa? — Pergunta o olhando com as bochechas rosadas.
— Não se preocupe. — Responde. — Essa também tem mangas compridas, então não tem problema.
— Hum... O-obrigada... —Agradece gaguejado.
— Você não precisa me agradecer...
Eles continuam caminhando em total silêncio.
“Ele está estranho... Deve ser porque se arrependeu por ontem... Afinal, o Lain-sama viu a gente próximo... Tenho certeza que ele está com medo do que o Lain-sama possa pensar... Humn... Idiota...”
Continuam andando, porém Lia se sente estranha. Esse silêncio é estranho.
“Eu não gosto dessa situação... Estamos num clima tão estranho... Será que estou sendo um incomodo?”
— H-hoje será ruim de limpar os banheiros. — Tenta puxar assunto.
— Hum... — Ele responde ainda olhando para frente.
— D-digo... Está frio e tal... — Lia o olha de relance, se sente tão deprimida.
— Sim...
“É o que imaginei... Devo estar incomodando... Ele não deve ter imaginado que me encontraria saindo mais cedo... Talvez ele vá para a escola nesse horário, justamente para não me encontrar... E mesmo assim... Acabou me encontrando e ainda por cima, teve que me emprestar sua blusa... Quem não se sentiria incomodado, não é...? Estou tão triste...”
— E-eu... — Lia quer falar algo para mudar o clima, mas não sabe nem o que dizer.
Ela aperta a blusa dele em si mesma.
“A blusa dele é tão quente e cheirosa... Ahh não. Estou com vontade de chorar... Esse idiota está me tratando de forma tão indiferente... Eu é que deveria estar assim! Perdi meu primeiro beijo na frente da sala inteira e ainda... O cara que eu gosto, gosta de outro cara... E o outro cara é o Lain-sama, o mais popular da escola... Está doendo... Eu não quero o Ri-chan me tratando assim... Eu vou acabar chorando... Eu não quero!”
Seus olhos se enchem de lágrimas.
— Nossa... — Ele começa a dizer algo de forma um pouco lenta e baixa. — Estou com frio, mas também... Estou com calor... Me sinto estranho...
Rikku fala tão baixo que Lia não consegue ouvir nada.
— O que disse? — Pergunta curiosa.
— Hum... Nada não.
“Ele realmente não quer falar comigo... Deve ter reclamado para ele mesmo... Que raiva... Quero sumir!”
Os dois, depois de andarem vagarosamente, enfim chegam à escola. Está muito mais cedo que o normal. Pelo menos a escola é mais quente.
Eles param no pátio da cantina. Cantina essa que já tem alguns alunos sentados comendo.
— E-eu vou comer algo... Depois vou limpar os banheiros... — Ela começa a andar.
“Já vou te livrar de mim...”, pensa toda sentimental.
— Espera Lia. — Ele anda mais rápido para alcançá-la. — Eu vou com você também...
“P-por que esse idiota quer vir comigo? Eu não estou o incomodando? Já não o entendo...”
Eles param no balcão.
— O que vão querer? — A atendente da cantina pergunta.
— Bom, eu vou querer... — Lia começa a responder.
— E-eu quero aquele sanduíche de queijo d-do outro dia... — Fala corado.
“O sanduíche de queijo que ele disse que era algo gorduroso? Por que ele iria querer o mesmo lanche que o meu...? Ah! É claro. É porque o Lain-sama também comeu... Óbvio... Hun...”
— E você senhorita? — Olha para Lia.
— Ela vai comer o mesmo que eu. — Responde sério, olhando para o lado com o rosto vermelho.
— Não responda por mim! Idiota... — Lia fala com raiva. — Mas sim... Eu quero o sanduíche de queijo...
“Eu não consigo entendê-lo... Sinceramente. Não entendo. O que ele está pensando?”
— Vão beber algo? — A moça volta a perguntar.
— Sim. — Rikku responde. — Dois chás verdes bem quentes, por favor.
— Entendido. — A atendente volta a preparar as coisas.
— Eu não disse que iria querer chá... — Lia fala emburrada.
— Mas... — Ele olha para ela. — Você pegou friagem lá fora, se não se aquecer vai ficar doente.
Lia cora.
“O-o-o que esse idiota está dizendo? Me trata mal e do nada começa a se importar comigo! Eu realmente não consigo entende-lo! Mas eu o...”
Passam-se uns instantes.
— Prontinho. — A atendente diz sorrindo.
Na hora que Lia estava pegando seu dinheiro, Rikku já havia pagado.
— Vamos nos sentar... — Pega a bandeja com as coisas e começa a andar.
Lia o segue.
— Não precisava pagar para mim...
— Não se importe com isso... — Novamente ele responde de forma estranha.
Eles se sentam em uma das mesas mais distantes. Bem perto de vários vasos de plantas.
Lia continua emburrada. Eles começam a comer.
— Hum! Esse lanche é realmente bom! — Rikku enfim da um sorriso.
— Eu disse que era bom... — Ela responde mordendo um pedaço logo em seguida.
— Agora entendo. — Ele diz sorrindo. — Agora eu entendo o porquê...
“Sim, entende o porquê seu amado Lain-sama gostou tanto desse lanche gorduroso...”, pensa irritada.
— Entendo o porquê você gosta tanto desse lanche gorduroso! — Ele comenta sorrindo. — Só você mesmo, uma caipira boba para me fazer ficar com vontade de comer algo assim.
“Ãhn? Não foi por causa do Lain-sama? Mas... E-eu...”
Eles continuam a comer em silêncio. Lia se sente mais feliz, ainda mais porque ele está com um belo sorriso no rosto.
Enfim terminam de comer. Jogam fora o lixo e correm para arrumar as coisas para limpar os banheiros.
Vão para o armário de baixo da escada.
— Pfffff. — Lia bufa alto. — Eu não quero mexer com água nesse frio!
Rikku da um sorriso. Pega um dos panos e lava no tanque pequeno que tem ali do lado.
Abre a torneira.
— Ai. — Da um leve grito. — Que água gelada. — Ele reclama.
— Pior que temos que lavar todos esses panos para amanhã. — Lia o lembra.
— S-sim... D-deixa aqui... Em cima — Ele começa a falar mais baixo. — P-por favor...
— Ri-chan? — Lia estranha.
Ela vai próxima a ele, e o olha. Pode notar que está totalmente vermelho, com uma cara estranha.
— Né Ri-chan... O que você tem? — Pergunta com certa preocupação.
Ele para de mexer nos panos e se apóia no tanque.
— L-Lia-chan, eu... Estou me sentindo fraco...
— O-o que? — Lia se aproxima dele.
Rikku gruda em Lia, puxando-a e a abraçando.
“O corpo dele está tão quente! Está muito quente!”
Lia se afasta um pouquinho. Ainda abraçados, aproxima seu rosto do dele. Colando sua testa na dele.
— Ri-chan... Você está queimando de febre! — Avisa alarmada.