Pov Élio

Kenna estava prestes a me perguntar sobre o que aconteceu na mansão, mas foi interrompida e eu fiquei aliviado, não queria ter que responder, na verdade eu não queria nem ter tido que usar meu poder, tentei passar por um humano comum, porém no momento que vi Kenna em Postia soube que logo eu seria forçado a fazer coisas que não gosto, forçado a ser o que mais abomino. Mas meu alívio passou quando me dei conta das criaturas que nos cercam, Harunas, um bando todo de criaturas parecidas com macacos gigantes. Olho para Kenna e ela desce do cavalo já com sua espada na mão, todos já desceram dos cavalos, eles querem lutar, mas não é uma boa ideia enfrentar Harunas , entretanto parece que só eu e Dione sabemos disso. Dione prepara um de seus encantos, ótimo assim é melhor. O problema é que as Harunas não esperam e vem para cima de nós, Kenna prevê um golpe de uma criatura que está acima dela e tenta cortar a Haruna, mas foi inútil, o pelo das Harunas não deixa que se firam,e esse não é nosso pior problema, e sim o fato de seus pelos serem feitos de aço e quando elas se arrepiam , ele torna espinhos altamente perigosos e então o melhor é correr pois quando as criaturas lançam seus espinhos é como se lançassem mil flechas. E eu sabendo disso e vendo a Haruna que atacou Kenna se irritar, pego na mão de Kenna e a puxo para dentro da floresta, ela tenta protestar mas logo se deixa levar, eu corro o máximo que posso e Kenna segue meu ritmo facilmente, olho para trás e vejo a criatura nos perseguindo, logo ela nos alcançará e lançará seus terríveis espinhos, não me importo de ser atingido, mas Kenna não sobrevirá se mil espinhos atingirem seu corpo. Preciso fazer alguma coisa rápido, não quero matar a Haruna na frente de Kenna, se ela  visse o que sou capaz de fazer ficaria muito assustada. Uma ideia surge na minha cabeça, eu paro um instante e Kenna quase cai com a parada repentina.

    - O que está fazendo?- Me pergunta sem entender por que parei.

    - Confie em mim. - É tudo o que digo e logo volto a puxá-la para a corrida, temos que pular na água, é nosso única chance já que Harunas não suportam água.

    Corremos mais um pouco e logo vejo o pequeno rio a nossa frente, é raso mas sei que tem uma cachoeira no final e é suficiente para mergulharmos. Apresso o passo, mas Kenna para quando vê a queda d’água a menos de um metro a frente. Olho para trás e a Haruna já está arrepiada, então ela lança seus espinhos. Só tive tempo de por Kenna a minha frente, senti os espinhos perfurarem a carne das minhas costas e de meus braços, segurei Kenna pela cintura e num impulso nos joguei para as águas. Caímos com força e afundamos bastante, não imaginei que fosse tão fundo, Kenna lutou para subir mas eu a segurei um pouco mais, não podamos subir rapidamente ou então a Haruna nos verá. Ela para de ´se debater e vira a cabeça para me olhar, eu a solto e vejo seus olhos se voltarem para minhas costas. A água ao nosso redor está vermelha, estou sangrando. Kenna me puxa para cima e saímos cambaleantes da água.

    - Você está sangrando muito. - Ela diz segurando em meus braços.

    - Estou bem. - Me sento a beira da água. - Não se preocupe.

    - Como não me preocupar com tantos espinhos cravados em suas costas? - Kenna contesta.

    - Isso não é nada. Vou ficar bem logo. - Afirmo e é verdade. Logo não restará nem sinal desses espinhos.

    - Você me salvou. - Declara ela. - Esses espinhos eram para mim. Se você não tivesse me colocado a ...

   - É mesmo? - A interrompo. - Nem percebi. - Debocho do assunto, não quero que ela me veja como herói porque não sou.

   - Vou atrás de Feo ou Dione, eles podem curar você. - Ela tenta se levantar mas eu seguro seu braço.

   - Não. - Digo seriamente. - Não é necessário. Você mesma cuida de mim.

    - O que? - Me olha confusa. - Eu não tenho o poder de cura. Você precisa deles!

   - Não, eu não preciso. - A puxo para perto de mim. - Tudo o que eu preciso é que você tire esses espinhos de mim. Ficará tudo bem Kenna, você vai ver.

    Então Kenna começa a tirar os espinhos de mim, um por um, e são muitos. Ela tenta tirar com cuidado para que eu não sinta dor, mas é bobagem fazer isso já que a dor que esses espinhos me causaram é mínima. Depois de meia hora não há mais nenhum. Tiros as roupas rasgadas pois não deu para tirá-las com os espinhos.

    - Mas o que é isso?! - Espanta-se Kenna ao olhar minhas costas. - Não há nada aqui Élio.

    - Isso é por que você tirou todos os espinhos , não foi? - Debocho novamente, mas sei do que ela está falando e vai ser difícil de explicar.

    - Não tem nenhum ferimento. - Afirma me olhando. - É como se nem tivesse sido atingido. - Então ela se levanta. - Quem é você Élio? O que é você?

   - Eu não sei. -Minto para ela. - Só sei que meus ferimentos se curam rapidamente.

    - E quanto ao fogo? - O fogo, sabia que ela perguntaria sobre ele, - Você matou aquele Aswang com fogo vermelho!

    - Eu também não sei como posso fazer isso Kenna. - Minto novamente para ela. Não posso lhe dizer a verdade, ainda não. - Eu não sei como posso fazer essas coisas. - Me levanto e me aproximo dela. Ela não recua, não está com medo de mim. - É por isso que não deixei você chamar o Feo ou a Dione, não quero que eles saibam sobre mim, não poderia explicar o que sou por que eu não sei. - Continuo a mentir, a verdade é que se os irmãos de Kenna souberem sobre isso não permitirão que eu vá juntos com eles nesta viajem, mas eu tenho que ir!

    - Está bem. - Ela acreditou em mim.- Você não sabe mesmo o que é? - Pergunta e eu digo que não com a cabeça. - Tudo bem então, não direi a ninguém sobre isso. Mas como vamos explicar suas roupas rasgadas?

    - Isso é o de menos. - Declaro e me aproximo mais, fito seus olhos extremamente verdes e ela treme um pouco, tenho certeza que não é de frio. Eu queria beija-la neste momento, mas não posso. Sei que ela gosta de mim, mas nosso destino não é ficarmos juntos, nosso destino é a morte. - Obrigado.

    - De nada. - Ela sussurra e eu me afasto, o que vai acontecer conosco já é ruim o bastante, não quero partir seu coração também, não quero magoá-la.

    - É melhor voltarmos agora não acha? Os outros devem estar  nos procurando. - Afirmo tentando encarar a realidade.

    Encontramos os outros rapidamente, Terry me olhou estranhamente por eu estar só de calças, mas eu disse que uma Haruna tinha rasgado minhas roupas, ele não acreditou , mas depois de Kenna confirmar minha versão, ele não teve o que falar. Eles estavam bem, pois Dione fez seu encanto e as Harunas fugiram. Voltamos para a estrada e continuamos nossa jornada, e eu devidamente vestido é claro. Agora cavalgando com pressa, corremos pois perdemos muito tempo. Kenna está ao meu lado esquerdo, eu a olho e ela me sorri timidamente, se ela soubesse quem sou realmente estaria tentando me matar agora e não sorrindo para mim. Mas duvido que ela acreditasse se eu lhe contasse toda a verdade, terei que mostrar a ela, no devido tempo tudo se será esclarecido e eu finalmente cumprirei meu destino. Só espero ter coragem suficiente para tal.