Fechei os olhos e respirei fundo duas vezes. Eu já estava naquele colégio há um ano, mas depois do incidente de semana passada, que havia abrido um rombo na minha memória, qualquer mudança parecia complicada. Como viver o futuro se você desconhece o passado? Dois dias. Quarenta e oito horas esquecidas, provavelmente as mais traumatizantes e importantes horas da minha vida. Eu ainda me lembrava das palavras da Dra. “Você foi abusada, Rebecca. Brutalmente. Mas felizmente não está grávida.” Felizmente! O que ela tinha na cabeça? Isso é um crime. Balancei a cabeça, afastando os pensamentos, respirei fundo e adentrei pela porta do colégio. Entrei de cabeça baixa, mas quando levantei, só vi olhares, muitos olhares. Olhares de pena, olhares de deboche, até um pouquinho de compaixão. Fiquei me perguntando se eles sabiam do acontecido. Torcia para que não. Minha vida já estava mudada que chega. Do nada senti uma mão na minha cintura, dei um pulo, fazendo minhas coisas caírem no chão.

— Não! — berrei tão alto que mais olhares se voltaram em minha direção.

— Calma Becca, sou eu. — Jodie falou com preocupação.

Jodie é minha melhor amiga desde os cinco anos. Sempre contei tudo a ela, sempre confiei nela.

— Me desculpe Jodie. — Levantei meu olhar, olhando diretamente para ela, sua expressão de preocupação ainda não avia saído de seu rosto.

— Ei, tudo bem. — Ela disse e me abraçou.

Tentei me desvencilhar, pois o toque era muito difícil para mim. Mas o dela era tão protetor, que apenas retribui o abraço.

— Vai ficar tudo bem Becca, vou estar aqui sempre que você precisar.

— Obrigada. — Sussurrei quebrando o abraço.

Abaixei-me para pegar minhas coisas e Jodie me ajudou.

— O sinal já bateu, vamos?

Jodie se levanta e estende a mão para me ajudar a levantar, que logo aceito sua ajuda e dou um sorriso.

— Vamos. — Falo e saímos andando.

Nossa primeira aula era de Geografia, eu odiava aquele professor. Então nem prestei atenção na aula, fiquei tentando lembrar algo do acontecimento de dois dias atrás, até que uma mão encosta no meu ombro e estremeço.

— Esta tudo bem Srta.Hale? — O professor Hunter me perguntou.

— Esta sim. — Minto com facilidade.

— Não é o que a sua expressão está transmitindo. — Ele fala e volta a explicar sua matéria.

A aula passa se arrastando. Tentei várias vezes prestar atenção, mas minha mente me forçava a pensar sobre o que eu menos queria no momento. Estava tentando achar alguma lembrança em minha memória, até que Jodie aparece em minha frente me trazendo de volta a realidade.

— Becca. — Jodie me chama.

— Oi.— Respondo ainda meio desligada sobre o que estava acontecendo.

— O intervalo já começou há 5 minutos e você ainda está ai parada olhando para o nada. — Ela fala meio irritada.

— Sério? — Olho ao meu redor e vejo a sala vazia. — Caramba, estava tão concentrada nos meus pensamentos que nem percebi que já tinha acabado a aula.

— Então trate de levantar essa bunda da cadeira e ir para o intervalo. — Ela diz e sai andando, me deixando sozinha.

Levanto-me e vou para o refeitório. Pego um sanduíche natural e me dirijo a uma mesa, me sentando ao lado de Jodie.

— Becca, você quer conversar sobre hoje mais cedo? — Ela perguntou.

Fico pensativa. Olho para frente e balanço a cabeça negativamente.

— Eu sei o que aconteceu, e eu sinto muito. — Eu olho para ela espantada. Como ela sabia? Será que todo mundo já sabe? — Só quero que saiba que quando precisar falar alguma coisa, pode contar comigo.

Assenti com a cabeça.

— Eu realmente falaria disso com você, Jodie. Mas a questão é que... Eu não me lembro de nada.

Ela franze as sobrancelhas.

— Nada?

Nego com a cabeça.

— Nadinha.

— Por quê?

— Os médicos ainda estão investigando.

Jodie continua de sobrancelhas franzidas e encara a mesa, pensando.

— Isso é bizarro. — Ela sussurra.

— Mais do que bizarro. — Concordo.