Quando eu disse que Dumbledore estava realmente contado uma história estranha, não era mentira. Estava tudo confuso e meio nublado para mim, porque eles pareciam falar em códigos e citavam coisas... Estranhas.

- Desculpe Dumbledore, mas acho que devemos ficar como estamos... – Meu pai começou dizendo, enquanto o diretor o observava com aqueles olhos enigmáticos que possuía. Papai parecia um pouco nervoso e desconfortável enquanto proferia suas palavras. - Não acho que a “verdade deve vir à tona”, porque não é necessário. – Dumbledore apenas arqueou suas sobrancelhas e cruzou os dedos no colo.

- Meu caro Harold, há motivos. – Ajeitou o oclinho meia-lua e voltou a falar com toda calma do mundo. – Motivos muito grandes que você mesmo conhece. Motivos que por muito tempo foram escondidos, mas agora não é possível ocultá-los mais. – Por fim deu seu sorriso bondoso e tudo parecia um pouco mais brando. Parecia.

- Ela corre perigo? – Mamãe perguntou e de algum modo eu sabia que o “ela” se referia a mim e mais uma vez eu não entendia nada. Quais eram os motivos que Dumbledore havia falado? O quê não dava para esconder mais? Por que eu corria perigo?

- Qualquer um nos tempos atuais corre perigo. – Hagrid disse debochado. Ele não tinha paciência como Dumbledore, não sorria bondosamente de vez em quando e dava medo na maioria do tempo. – Entenda, até mesmo vocês correm perigo, mas principalmente ela. – Por que raios alguém iria fazer mal a mim?

- Desculpe-me Dumbledore, mas... – Mamãe suspirou e me olhou aflita. – Tenho que concordar com Harold. Se não é segura para ela, por que então deixaríamos Anne saber sobre o seu mundo? – Calma! Havia coisas que eu não sabia, mas que todos ali presentes sabiam, coisas que, pelo que entendi me colocariam em perigo. Olhei para todos e comecei a bravejar.

- Por que sou a última a saber de tudo? Por que corro perigo? Que mundo deles é esse? E que verdade é essa? – Bradei enquanto bufava. Estava ofegante e com certeza parecia um tomate. Podia sentir algumas gotas de suor se formarem em minha testa. – Eu quero saber!

- Então vai! Mas não venha reclamar para mim depois. – Harold disse cruzando os braços e encostando na parede. Assenti para ele e olhei para Dumbledore que deu aquele sorrisinho bondoso.

- Anne, peço que me escute e deduza as informações com atenção. Não me interrompa, é crucial que você entenda tudo. – Assenti. Dumbledore se ajeitou mais em sua poltrona, mas não perdeu o contato visual comigo. Aquele olhar enigmático que parecia ver a alma estava um pouco nublado. – A história é um pouco longa... – E então Dumbledore começou a contar uma história sobre jovens bruxos, sim bruxos! Quando comecei a gargalhar, mamãe e papai me disseram que era plenamente verdade o que Dumbledore dizia e me calei.

O diretor contou a história de Lily Evans, James Potter e Severo Snape. Relatou como Hogwarts e o mundo da magia eram, até chegar em um ponto crucial: o nascimento do primeiro filho de Lily e James, Harry. Três meses após o nascimento de Harry, James e Lily tiveram uma “separação” e então a mulher correu para os braços de Snape.

Dumbledore disse que nove meses após o ocorrido (James e Lily estavam mais juntos que nunca) uma garotinha nasceu. Dois meses após o nascimento, o casal foi assassinado pelo perigo que agora rondava a todos, apenas Harry e a meia-irmã sobreviveram. Ela por pura sorte e ele por amor.

Quando terminou de me contar tudo, Dumbledore estendeu a mão me dando uma carta. Não, aquilo estava errado. Eu não era uma bruxa! Não podia ser... Aquilo estava completamente estranho e errado. Eles estavam malucos.

- Não sou bruxa, simplesmente isso é loucura! – Falei debochada, até gargalhei um pouco de nervosos. Loucura, sim essa era a palavra certa para se usar. Eles estavam equivocados, eu jamais poderia ser uma deles.

- Não, minha menina, não é loucura e sabe por que? – Engoli em seco quando meus olhos encontraram os azuis enigmáticos de Dumbledore. – Porque você é filha de dois excelentes bruxos. - Olhei para Harold e Mary. Bruxos? Sério? – Não, criança. Estes sãos seus pais de criação, seus verdadeiros pais são Lily Evans e Severo Snape. – Minha boca se abriu, eu estava em choque. Meus olhos correram para os dois “trouxas” ali presentes que assentiram, confirmando a notícia que Dumbledore acabara de me dar.

Peguei o pergaminho grosso e bege, virei-o e li o endereçamento em caligrafia perfeita:

Para: Srta. A EVANS SNAPE.

Terceiro quarto no segundo andar.
15, Paris Gardens,
Greater Manchester,
Bolton.

- Abra. – Mary incentivou. Ainda estava realmente surpresa por ver que sabiam até qual quarto eu dormia e confesso que, nesse momento passei a acreditar um pouco mais no mundo dos bruxos.

Abri a carta e ela era enorme, tinha no mínimo umas três partes, ainda na caligrafia perfeita. Era endereçada a mim e exclusivamente a mim, continha o logo de Hogwarts e tudo que eu precisaria. Um sorriso involuntário escapou do meu rosto enquanto lia as informações contidas na carta:

Cara Srta. Snape

Temos o prazer de informar que a Srta. foi aceita na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.
Estudantes são obrigados a comunicar a Câmara de Recepção sobre sua chegada, as datas para as quais devem ser devidamente aconselhados.
Por favor, assegure sua atenção máxima para a lista de requisitos junto a esta carta.
Estamos muito ansiosos para recebe-la como parte da nova geração de Hogwarts.
Atenciosamente,

Profª. McGonagall.

Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts.
Diretos Albus Dumbledore, D.WIZ, XJ (SORC), S.OF MAG.Q.

Estão anexados os itens que precisará para as aulas:

Uniforme:
1. Três conjuntos de vestes comuns de trabalho (pretas)
2. Um chapéu pontudo simples (preto) para uso diário
3. Um par de luvas protetoras (couro de dragão ou similar)
4. Uma capa de inverno (preto com fechos prateados)
5. Se for opcional do aluno, também poderá levar sua vassoura.
Obs.: As roupas do aluno devem ter etiquetas com seu nome.
Livros:
O Livro Padrão de Feitiços (pedimos que compre do volume 1 ao 4), de Miranda Goshwak
História da Magia, de Batilda Bagshot
Teoria da Magia, de Adalberto Waffling
Guia de Transfiguração para Iniciantes (e o Intermidiário), de Emerico Switch
Mil Ervas e Fungos Mágicos, de Fílida Spore
Bebidas e Poções Mágicas, de Arsênio Jigger
Animais Fantásticos e seu Hábitat, de Newton Scamander
As Forças das Trevas: Um Guia de Autoproteção, de Quintino Trimble
Outros equipamentos:
1 varinha mágica
1 caldeirão (estanho, tamanho 2)
1 conjunto de frascos
1 telescópio
1 balança de latão
Obs.: Os alunos podem ter uma coruja, um gato ou um sapo.

Assim que terminei de ler, tudo parecia ainda meio louco para mim. Onde arrumaria essas coisas? Com certeza esse tipo de “material” não era vendido em qualquer loja por aí. Bufei com esse pensamento, seria realmente muito fácil achar tudo.

- Semana que vem Hagrid passará para te buscar, irão comprar o material no Beca Diagonal. – Dumbledore disse enquanto se levantava, piscou para mim e foi acompanhado com Hagrid até a porta. – Lá você achará tudo. – Deu um tapinha gentil em meu ombro. – Anne, é importante que saiba que seu irmão é uma ótima pessoa, porém é famoso, não há uma única pessoa em nossa mundo que não saiba seu nome e bem... Seu pai leciona em Hogwarts. – E foi com essas últimas palavras que Dumbledore e Hadrig foram embora, despedindo-se de mim com um simpático “até logo”.

Entrei novamente em casa e olhei para aqueles que amava tanto. Suspirei, afinal, seria difícil deixar de lado o que você acreditou sua vida inteira ser a realidade. Abracei os dois. Não havia tristeza ali, porque por algum motivo desconhecido, eu me sentia feliz.