Sobre a Neve escrita por keyci


Capítulo 4
Barreiras




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Uma semana. Uma semana no frio do Canadá seria divertido para qualquer outro turista. Esquiar pelas montanhas, navegar pelos lagos gelados... Mas pala Lara nada disso importava, pois passara em completo vazio.

 

Não podia ir trabalhar, por isso optou por ficar na casa e cuidar dela. Lavava, passava e cozinhava. Sinceramente não reclamou por causa disso, afinal estava de favor ali. E acabara por descobrir algumas coisas assim. Gostava de cozinhar e quando escutou rádio percebeu que gostava de clássicos. Preferia usar vestidos a calças, não reclamava em fazer o trabalho domestico.

 

Mas aprendeu principalmente sobre Dimitri MacNight. Maior parte do tempo ele passava no escritório, trabalhando. Outra hora saia para beber em um bar e em uma dessas vezes a levou. Lara descobriu que seu estômago era fraco para álcool e de como Dimitri sorriu quando ela fez uma careta. Foi a primeira vez que ele sorriu para ela.

 

Toda manhã, sempre as seis, ele levantava e ia para o lago pescar ou simplesmente navegar em seu barco. Lara negara o convite dele uma vez, sabia que ia ficar enjoada. E isso foi incrivelmente bom.

 

As coisas viam aos poucos, algumas lembranças sem anexo, desejos e controvérsias que a ajudava a se conhecer. Porém não ignorava as coisas pelas quais estava se adaptando. Viver com um Titã exigia paciência, muita paciência. Dimitri não falava nos primeiros dias, a evitava como o diabo a cruz.

 

Lara perguntava-se o que fazia de errado, se não o agradava ou se o incomodava. Mas aos poucos notava como ele se preocupava sempre indo verificar se tomava os remédios ou se estava com febre. Às vezes perguntava se lembrava de algo, outras vezes o que queria fazer. Lara, sinceramente, o achava fascinante.

 

_Lara – Dimitri apareceu na cozinha – O que está preparando?

 

_Um bife a molho pardo – Lara sorriu grande – Gosta?

 

_Acho que sim – e então ele deu um meio sorriso.

 

_Acordou feliz – Lara comentou enquanto virava o bife.

 

_Ah sim, consegui comprar umas ações importantes – Dimitri comentou pegando uma maça – Isso sempre me deixa de bom humor.

 

_Então seria pedir demais que coloque a mesa?

 

Dimitri a obedeceu sem resmungar. Aquilo era um avanço, analisou Lara. Olhou para ele pelo canto dos olhos, sempre fazia isso quando ele estava ocupado. Era uma mulher sem passado e vivendo um presente confuso. Mas uma coisa estava certa, aquele homem era perigoso, sensualmente perigoso.

 

O dia não estava tão frio, ela própria usava um vestido lilás com pequenos detalhes branco formando flores pelo vestido e botas. Dimitri MacNight estava... Divino. Usava apenas uma camisa pólo, calça escura, e o cabelo preto ainda estava molhado e rebelde. A pele dele estava ainda mais morena, provavelmente por causa do dia escuro, mas não deixava de ficar charmoso e combinar perfeitamente tonalidade dos olhos castanho-esverdeados.

 

_Eu fiz algo errado? – Dimitri questionou quando colocou o prato na mesa.

 

_Como? – Lara ficou confusa.

 

_Está quieta, esse não é o seu normal.

 

_Estou apenas pensando – Lara sorriu de leve.

 

_No que?

 

“Em como você é bonitão?” Essa com certeza era a resposta sincera e isso a fez corar um pouco. Não respondeu a pergunta e voltou a se concentrar na comida. Comeram em um estranho silêncio, Lara não o encarou pois sabia que ele a encarava, Dimitri sempre olhava diretamente para a pessoa, sem demonstrar medo ou qualquer outra reação.

 

_Alguma lembrança? – Dimitri perguntou enquanto comia.

 

_Coisas inúteis, lembrei que gosto de púrpura – Lara contou brincando com a comida.

 

_Não devia reclamar tanto, tem pessoas que dariam tudo para perder a memória e tirar coisas da cabeça.

 

_Você é uma delas? – Lara perguntou por impulso.

 

Dessa vez o fitou porque queria muito descobrir aquela resposta. Quem era aquele homem que vivia em uma vila de Montreal e que estava sozinho a tanto tempo? E por que queria viver assim? Eram tantas perguntas sobre ele que as vezes Lara optava por pensar em Dimitri para não fazer questões a sobre si mesma.

 

_Sim – ele disse baixo, duro.

 

E mais nada. Nem mais uma palavra pelos segundo seguintes. Lara queria saber mais, descobrir mais. No entanto não imaginava Dimitri MacNight chorando em seu ombro por causa de seu passado. Ao invés disso, depois de um tempo, ele disse mais suave:

 

_Mas sabe, por pior que sejam as lembranças você tem de usá-las para ficar forte. Se não pode afogar-se na amargura delas. Se você viveu algo triste... Pois bem, não esqueça aquilo, use como experiência e não repetir seja lá o que fosse.

 

Naquele momento Lara viu que ele fizera uma escolha e a havia seguindo fielmente. E aquele homem a sua frente era produto daquilo.

 

_Sabe... Você pode ser impertinente as vezes com sua mania de dar ordens, porém completamente lógico nelas. Pode exalar perigo com apenas um olhar. Mas no fundo, é um cara bom.

 

_Um cara bom? Como assim? Falhei em assustá-la? – Dimitri questionou escondendo um sorriso.

 

_No inicio deu certo. Com o tempo fui me acostumando e sinceramente nunca sei dizer o que você sente ou o que está pensando. Mas sei que não faria mal a uma mosca.

 

_Eu não teria essa certeza se fosse você. Pode se dar mal em confiar nas pessoas tão rápido.

 

_Talvez, ou então estou apenas acreditando na pessoa. Afinal estamos aqui para conseguir experiências, como você disse, sejam elas ruins ou boas. Confiar no próximo seria algo natural se as pessoas não nos desse motivos para questionar sua honra.

 

_Entretanto isso ocorre a todo o momento, pessoas desonestas, mentirosas estão a cada esquina. Infelizmente o homem mudou a tão ponto de caçar a se próprio, de uma maneira metafórica, já que um desconfia do outro como dois animais enfrentando-se.

 

A conversa continuou, Lara não deixava de acreditar que as pessoas boas realmente existiam. Dimitri não deixava de defender que todo ser humano tinha algo de ruim dentro de si e que até mesmo ele era um ser amargo em certos aspectos. O diálogo prolongou-se até a sala perto da lareira e mudou diversas vezes sobre vários assuntos. Pouco a pouco Lara vencia as próprias barreiras com o seu salvador e, mais lento ainda, as próprias barreiras dele.


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