Sobre a Neve escrita por keyci


Capítulo 3
Na casa




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A neve poderia ser considerado algo puro. Branca, graciosa, pequena. Mas parecia haver junto com ela a teoria de que toda coisa boa se dissolve. O mesmo que acontecia com a neve ao tocar algo mais quente era similar a um sentimento sendo dissolvido. Dimitri fazia essas comparações enquanto observava o monte de neve através da janela de sua casa.

O que estava fazendo? Acolhendo uma completa estranha, mesmo que fosse estranha para ela mesma... Não, apesar de tudo aprendera a anos a servir aos outros mesmo que tentasse tirar aquele defeito dele. Mas que droga, justo porque começava a se habituar a viver só! Fora necessário 5 anos!

Escutou o som de passos de longe, mesmo que de leves. Talvez fosse seu treinamento. Virou a cabeça devagar e analisou a garota que descia suas escadas. Era um tanto alta, um e setenta e pouco de altura, apostava. Tinha o cabelo castanho claro, lisos até os ombros e olhos de um âmbar incrível. E que estavam perdidos.

“Diabos, como posso deixá-la sozinha? Não sou um crápula afinal de contas!”

Usar a expressão de indiferença já era algo natural seu, algo que ganhou ao longo dos anos. Sentiu a garota hesitar no final da escada e não precisou imaginar muito o que ela pensava. Estava sem memórias, em uma casa desconhecida com um homem mal-humorado e perigoso. É, ela estava bastante encrencada.

_Tudo bem? – Dimitri questionou.

_Tudo sim, tem uma casa bonita e o quarto está bom – ela respondeu colocando uma mecha castanha do cabelo atrás da orelha – E bem... obrigada. Realmente não sei o que seria de mim sem você.

_Não agradeça – ele ordenou automaticamente – Só estou fazendo minha boa ação do mês.

_Só estava sendo educada – Lara encolheu-se – O que é verdade... Eu morreria congelada se não fosse você.

_Chega! – Dimitri irritou-se, não era um herói – Não quero saber desse assunto. Você está bem, respirando e com um teto pra dormir até lembrar quem você é.

Lara deu um passo para trás e Dimitri amaldiçoou o seu impulso de auto-proteção. Levantou-se e foi ajeitar a lenha na lareira para usar mais tarde.

_Mora aqui sozinho? – Lara perguntou encostando-se em uma parede.

_Moro – Dimitri respondeu ainda agachado.

_Sempre foi sozinho?

_Sim.

_Porque não tem mulher, filhos?

_O que é isso? Se eu quisesse falar de minha vida procurava um psicólogo!

Adeus silêncio. Dimitri seguiu para cozinha para buscar um pouco de café quente, quando voltou viu algumas lágrimas escorrendo teimosas pelo rosto ainda pálido de Lara. Sentiu-se culpado, estava sendo grosso com alguém frágil no momento. Ofereceu o café a ela sem saber o que dizer.

_Agradeça ao café – disse por fim.

_Obrigada, não precisava preparar um para mim e...

_Não por isso, eu estava indo comprar café quando a achei – Dimitri explicou mais suave e a fitou – Você deve está assustada, desculpe, só não estou acostumado a lidar com pessoas.

Ela o fitou um tanto surpresa. Isso não era novidade para ele, as pessoas o viam apenas como o Titã, um ser fechado e frio, coração de pedra. Mas tudo o que ele queria, na verdade, era paz. E em sua concepção, paz era ficar só, sem problemas ou preocupações. Que culpa teria ele se para isso agia rudemente?

_Você não parece ser daqui – comentou a Lara indo sentar-se no sofá.

_Eu também não me sinto daqui – ela hesitou, mas sentou-se defronte a ele – Sabe... eu sinto algumas coisas, coisas que meu subconsiente sabe.

_Coisas de que tipo?

_Han... não gosto do frio. Não gosto da neve. Não gosto da cor da parede do seu quarto, é escura demais – ela contou dando um meio sorriso.

Dimitri tentou conversar com ela, para tentar amenizar o impacto de estar naquele mundo perdida. E descobriu que não era difícil. A voz dela era arrastada, pesada pela emoção do momento, mas mesmo assim ela não deixava de ser linda. Muito linda aliais.

Pedira a sua vizinha a professora do primário, Rosemary, para que lhe emprestasse roupas para Lara. Fora uma cena inesquecível para a sua vizinha do lado. A mulher a sua frente agora usava calças e tênis, duas blusas uma sobre a outra e um capote. O frio exigia muitas roupas, mas Dimitri não duvidava de que qualquer trapo ficaria bonito dela.

“O que eu to pensando?!”

_Bom... fique a vontade – Dimitri disse – Tenho de resolver negócios na internet.

_Tudo bem, desculpe incomodo e...

Lara ficara tonta de repente. Dimitri aproximou-se rápido e ela começara a tossir. Levou quase dez minutos para que a garota voltasse a respirar novamente e apenas alguns segundos para que ele notasse que a estava segurando, apoiando.

Quanto tempo não fazia aquilo? Quanto tempo não ajudava alguém de verdade? Afastou-se bruscamente, como se ela queimasse. Passou a mão no cabelo tentando ordenar os pensamentos. Precisava se concentrar na virose dela, e não o quanto ela era quente.

_Tudo bem? – perguntou por fim.

_Tudo, eu acho, foi apenas efeito da gripe – o tom de voz dela vacilava.

_Melhor você descansar. Foi um dia exaustivo para você.

_Tem razão. Mas eu precisava agradecer a você.

_Tudo bem, vá descansar.

E ela partiu. E ele a observou ir para o quarto que ficava ao lado do seu.

“Sentir atração por ela é a ultima coisa que você quer rapaz!”

Não se culpava tanto. Lara era bela e estava frágil, precisava dele e qual homem não se sentia importante naquela situação? Mas ela não podia, não devia, não queria... Ok queria, mas tentava enganar-se a todo custo. Subiu para o seu escritório para afundar-se nas compras e vendas de ações pela internet. Seu principal trabalho.

Era perto da meia noite quando ele lembrou de que precisava dormir. Foi ao seu quarto escuro, e lembrou-se de que Lara não gostava de cores escuras. Ao contrario dele, ele amava o escuro. Era teoricamente o nada segundo a física já que o preto absorvia as cores. E ali onde ele sempre quis estar. No nada.


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