É incrível como a morte de alguém pode trazer a sua casa gente que nunca falou com você, que nunca olhou para a sua cara, que você odeia e acima de tudo que você nem lembrava que existia. Em uma semana vi todas as senhoras participantes da associação de moradoras do bairro central de Londres passarem pela minha casa com um prato de torta nas mãos e me dando tapinhas nas costas, seguidos, é claro, por frases de consolo como "Sei como ela devia ser importante para você." "Aposto que ela jamais irá descuidar de você lá no céu." e a pior de todas "Seu pai deve estar arrasado".

A pior entre todas as visitas foi a da presidente da Associação. Imagine uma velha, chata, irritante e acima de tudo arrogante (com um toque especial de superioridade), agora imagine isso numa velha que tem cara de boazinha, mas na verdade é o capeta em pessoa, agora imagina esse demônio na porta da minha casa chorando lágrimas falsas e dizendo que sente muito pela morte da minha mãe, multiplique por 10, essa é a fórmula que descreve a senhora Marshall. Lembro de quando eu era criança e ela e as senhoras da associação chamavam a minha mãe de "Feminista estranha encalhada" e de quando me proibiram de ir para a escola do bairro por causa dela e do seu estilo nada estiloso.

Sei que nada foi pior que a visita daquela velha mal comida, mas teve uma que empatou a tia avó Maryl e a prima Trudd, elas não foram exatamente uma visita, mas passaram 12 horas antes do velório começar na minha casa, e tudo que ouvi foi, "A prima Helen nunca foi um exemplo, mãe solteira? Hunf, sempre foi muito delinquente, sinto pena dela que não casou com alguém tipo o meu Bob" "Sempre soube que aquele namorado esquisito da Helena ia pular fora uma hora ou outra vó Maryl" "Ele era só mais um ficante bonitinho que ela tinha Trudd, não siga o exemplo dela, aposto que ela ensinou todos os macetes de como ser uma mulher dada para aquela filha dela." "Como ela conseguiu uma casa dessas vó?" "Deve ter dado algum golpe." Falar da minha mãe, na casa dela e praticamente na minha frente me fez querer repensar seriamente se eu queria estar naquela família cheia de fofoqueiras e vadias mal comidas como a prima Trudd.

Talvez a única visita decente fora a dos meus vizinhos e únicos amigos verdadeiros da minha mãe, a tia Sibyl e o tio Jerry, os pais de Andrew, meu melhor amigo (um biscateiro que me abandonou para estudar num internato na Bulgária esse ano). Eles não me disseram frases de consolo, apenas que se eu precisa a porta da casa ao lado sempre iria estar aberta, eles eram quase como os meus segundos pais.

Foi uma semana infernal completamente, mas posso dizer a partir de hoje, eu não abro mais a porta para vizinhas irritantes , chatas ou velhas carcomidas, nem mesmo para a tias avós.