Eles se olhavam de um jeito que pareciam querer se matar, e eu estava olhando fixamente para a paisagem, somente para não ficar no meio do fogo cruzado. Eu não tinha nada para fazer, peguei o Notebook e tentei em vão uma conexão com a internet, mas era quase impossível, o trem dava uma estática tão forte que mal havia sinal no celular. Aquilo era mais desanimador ainda.

-Não é só a estática- Erick falou enquanto eu tentava conectar- nos interferimos também, uma droga.

-Serio? Nunca tive problemas antes.

-Isso por que você não sabia quem era seu pai e por que não tinha mais dois meios-sangues por perto.

-Eu desisto- guardei o Notebook na bolsa e digitei uma mensagem para a Annabeth, a única que eu falo que tem celular, "No trem, não sei como vou sobreviver a essa viajem, se eu voltar mereço um premio, eles mal sentaram e ja estão se encarando como dois idiotas".

Encostei a cabeça na janela e tentei ignorar os dois, serio, quando você esta em uma viajem com dois garotos ja é estranho, agora, quando um deles fez uma aposta que ficaria com você e o outro diz que gosta de você de um jeito que nunca gosto de nenhuma outra, as coisas ficam muito estranhas e constrangedoras.

Logo eu adormeci e quando acordei, não faço ideia de quanto tempo depois, apenas o Nico estava acordado e comendo biscoitos. Erick estava praticamente desmaiado, possivelmente não acordaria fácil.

-Obrigada- falei surpreendendo ele, que fez uma cara de confuso e tive que explicar- por me salvar na floresta, eu poderia ter morrido com o veneno.

-Achei que você tivesse me culpado por ter sido atacada- ele riu me oferecendo um biscoito e eu aceitei- eu ouvi quando falou para a Annabeth.

-E foi mesmo sua culpa- olhei pela janela, evitando aqueles olhos negros- se não tivesse me distraído eu não teria me surpreendido com aquele bicho... O que era mesmo?

-Dracaenae- ele deu de ombros- ela queria mesmo matar você, aquele monstro foi convidado a entrar no acampamento, ja que nenhum dos de lá tem acesso a veneno.

-Então alguém queria que eu morresse? Nossa e eu que achei que meu pior problema fosse os boatos das filhas de Afrodite.

-Serio que se importa com o que aquelas vadias dizem?- o sorriso sarcástico voltou ao seu rosto- não deveria, elas só estão com ciúmes, por você ter dois dos mais populares caidinhos por você.

-E quem são?- olhei para aqueles olhos negros, fingindo não ter entendido a indireta.

-Então não percebeu ainda?- ele entrou na brincadeira- eles estão disputando sua atenção como loucos, só que um deles esta perdendo, já que você não quer perdoa-lo por um erro cometido antes de te conhecer.

-Ele vai ter que merecer ser perdoado- eu desviei o olhar, fixando em uma coisa estranha, uma mulher que mais parecia uma modelo, eu podia dizer que ela era linda, só que alguma coisa em seus olhos me deva medo, me fazendo arrepiar, tanto que eu olhei para outro lado- e não será tão fácil.

-E o que ele tem que fazer para isso?

-Mostrar que não esta tentando ser perdoado apenas por causa de uma aposta, vai ter que dar motivos para ser perdoado.

-Salvar você não ajuda?- ele ficou serio e se inclinou um pouco para a frente, olhando em meus olhos, me obrigando a olhar nos seus olhos.

-Um pouco- eu corei com aquele olhar, e eu odiei ter corado- mas não é suficiente. Você não tinha o direito Nico, não vai ser fácil confiar em você de novo.

-Eu sei- ele se se encostou à poltrona.

Fomos avisados que iríamos parar na próxima estação em alguns minutos, e eu fiquei quase todo esse tempo tentando acordar o Erick.

Quando finalmente consegui saímos do trem, tínhamos duas horas até o próximo embarque. Saímos andando por Harrisburg, capital da Pensilvânia, procurando um restaurante ou lanchonete. E assim que encontramos fomos comer. Eu só fui ver o problema depois.

Nico ficou encarando a garota, que mais parecia uma modelo, e quando virei para ver o Erick, ele também não conseguia tirar os olhos dela, o problema era que aquilo não era uma garota, sua imagem tremeluzia e eu podia ver que monstro tenebroso ela era.