Silence escrita por Natmed


Capítulo 3
Capítulo 2




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Me acordei pela manhã com o barulho do telefone tocando. Fiquei deitada esperando que minha mãe atendesse. 1...2...3...4... Já estava no 5º toque e ela ainda não havia atendido. Foi então que me dei por conta, que talvez ela não estivesse em casa. Me levantei correndo da cama, tropeçando nas cobertas e nos meus tênis que estavam no caminho. Desci as escadas quase num salto e corri em direção à cozinha.

- Alô?? - disse ofegante.

- Oi, eu gostaria de falar com a Nicolle se possível. – disse o que parecia ser uma senhora de idade.

- Me desculpe senhora, mas aqui não mora nenhuma Nicolle. Tem certeza que a senhora discou o número certo?

- Qual é o número do seu telefone?

- 55537...

- Oh, me desculpe! Eu acho que liguei errado.

- Tudo bem. Não tem problema.

Que ótimo. Toda aquela correria para nada. Olhei em cima da mesa e vi que havia um bilhete.

 Lucy,

Fui à casa do Jack pegar algumas coisas e depois vou ao supermercado.

               Beijos

                      Mãe

É eu estava certa. Ela não estava em casa. Olhei para o relógio e vi que era cedo ainda. Eu poderia voltar para cama. Mas eu não conseguiria ficar muito tempo deitada, já havia perdido completamente o sono. Decidi tomar café da manhã e depois começar a fazer uma limpeza na casa.

Minha mãe passava a maior parte do tempo no trabalho, exceto nos finais de semana e quando ela tinha folga - o que era raramente. Ela era advogada, e trabalhava em um escritório no centro da cidade. Quando o meu pai morreu, ela meio que teve um surto e ficou obcecada pelo trabalho, chegando a dormir no escritório inúmeras vezes. Mas agora ela já estava melhor, e não estava mais tão obcecada – pelo menos não parecia estar.

Enfim, como ela passava a maior parte do tempo fora de casa e eu na escola, nós não tínhamos muito tempo para fazer limpezas durante a semana então, nós tentávamos sujar o mínimo possível, e limpar no fim de semana o que tivesse que ser limpo. Não que a casa ficasse extremamente suja e nós vivêssemos como porcas. Mas nem sempre dava para fazer uma limpeza além da básica.

Me surpreendi pelo fato dela ter ido ao supermercado, pois ela nunca o fazia. Normalmente essa tarefa era minha, e eu a cumpria depois da escola sempre que necessário. O mais próximo que minha mãe chegava do supermercado, era a lista que ela fazia, com o que precisava ser comprado.

Terminei o café e subi para o quarto para trocar de roupa. Fiz um rabo-de-cavalo e coloquei um cd no cd player da sala, para ouvir enquanto limpava. Quando estava terminando de limpar a sala, minha mãe chegou. Ela estava toda atrapalhada, com várias sacolas nas mãos. Mal conseguia caminhar. Não consegui conter uma risada.

- Lucy, você pode me ajudar com as compras, por favor? Tem mais sacolas no carro.

- Bom dia para você também. - disse, rindo ainda mais, e ajudando-a a carregar as sacolas.

Quando cheguei no carro vi que ela havia comprado quase o supermercado inteiro. Aquela comida toda duraria uns 3 meses tranquilamente.

- Hãm... Mãe. Você deixou alguma coisa dentro do supermercado?! Por que... Você sabe, as outras pessoas também precisam comprar. - disse, com um pouco de sarcasmo.

- Ha, ha, ha. Engraçadinha. Eu vou dar um jantar hoje. Para algumas pessoas do escritório.

Quando ela falava "algumas pessoas", podia ter certeza que era o escritório todo. Eu não fazia à menor idéia de onde ela iria colocar tanta gente. A nossa casa não era pequena, mas também não era nenhuma mansão. Tinha bastante espaço para nós duas. Mas não para trinta e uma pessoas. A nossa casa era... Simples. Mas de muito bom grado. Não era grande demais, e nem pequena de mais. Os móveis não eram exclusivamente os mais caros -- apesar de termos dinheiro suficiente para comprá-los se quiséssemos - mas também não eram de uma qualidade ruim.

Depois de ajudá-la a carregar as compras, subi para o meu quarto, enquanto ela guardava as coisas e se organizava.

Comecei a limpeza pela minha cama. Depois limpei o chão, o meu armário, a mesinha do computador, e por último organizei a minha pequena estante de livros. Quando já estava tudo no seu devido lugar, decidi colocar mais alguns papéis na parede. Já estava começando a me irritar ver o quarto sempre do mesmo jeito - uma mudança, mesmo que pequena já servia. Na parede do meu quarto tinham desde fotos de bandas e pôsters de filmes, a encartes de cd´s e papéis que eu guardava de recordação. Quando dei por mim, já estava mudando todo o quarto de lugar.

Não demorou muito, e minha mãe me chamou para almoçar.

- Hum. Eu gostei do seu quarto assim. Ficou melhor do que antes.

- É, eu também acho.

- Já nem me lembrava mais como era o chão do seu quarto. Fazia tempo que eu não o via. - disse ela brincando.

- Ah, vai. Ele nem estava tão sujo assim. - disse rindo.

Depois do almoço subi novamente para o meu quarto, e liguei o computador. Coloquei no cd player um cd do Muse, que havia ganhado da Grabrille de aniversário. Era um ótimo cd. Eu o escutava praticamente todos os dias, e já sabia a letra de quase todas as músicas.

Passei uma boa parte da tarde pesquisando e comprando livros pela internet. As bibliotecas daqui tinham quaisquer livros que você possa imaginar. Menos os que você queria. Por isso a minha única solução, era comprar pela internet. Ou ir até a cidade mais próxima e procurar nas livrarias. Mas a minha mãe era meio neurótica em relação a "viajar". Por menor que fosse a viagem. Ela sempre achava que alguma coisa ruim iria me acontecer. Como se fosse preciso viajar para coisas ruins acontecerem. Comecei a ouvir um barulho extremamente alto vindo da cozinha. Desci para ver o que era, apesar de já saber sobre do que se tratava.

- Hãm... Mãe, você precisa de ajuda em alguma coisa?

Quando cheguei na porta , empaquei. Ela havia feito a maior zona na cozinha. Não queria nem pensar no trabalho que iria dar para limpar tudo aquilo.

- Se você não estiver ocupada...

Depois de ajudá-la a aprontar a comida e limpar toda aquela sujeira, eu subi para tomar um banho. Saí do chuveiro enrolada em uma toalha e fiquei cerca de 20 minutos parada em frente ao armário, pensando no que iria vestir. Eu não era de inventar muito, normalmente eu optava pelo básico. Mas eu sabia que esses jantares eram importantes para a minha mãe, então eu sempre tentava dar o meu melhor, e me comportar da maneira mais apropriada.

Acabei optando por um vestido azul bebê que havia ganhado dela há algum tempo atrás. Ele era simples. Nada de muito extravagante. Com alças, e de comprimento pelos joelhos. Lutando contra a vontade de colocar um tênis, pus uma sapatilha - que era o mais próximo que eu chegaria de um sapato confortável - e desci para receber os convidados. Não haviam chegado muitas pessoas ainda, e a grande maioria das que estavam ali me eram desconhecidas.

Depois de um tempo, comecei a me sentir do mesmo modo que me sentia na escola. Uma estranha no ninho. Apesar de já ter me acostumado com isso há algum tempo e, de certo modo aceitado - até porque, era melhor ser diferente a ser igual a todo mundo - aquela sensação que eu sentia no início estava voltando, e eu não sabia o por que. Está certo que 90% das pessoas que estavam ali eu não conhecia, mas isso não me parecia um motivo válido para me sentir tão estranha assim - mais até do que o normal. As únicas coisas que eu tinha que fazer era sorrir, e fingir que estava adorando estar ali. Então porque eu estava me sentindo tão mal assim? Achei melhor deixar para analisar isso mais tarde, quando estivesse sozinha no meu quarto. Até porque, ali não era o lugar e nem o momento para isso.

Acabei passando o restante do jantar na cozinha - que era onde havia menos pessoas - pois além de não estar me sentindo nada bem, já não agüentava mais ver o Jack dando uma de "super namorado" para cima de todo mundo. Fingindo que ele era o homem mais perfeito que existia, e que a minha mãe tinha tirado a sorte grande conseguindo namorar ele. Eu já estava a ponto de vomitar. Nunca pensei que fosse possível odiar tanto alguém do modo com eu o odiava. Se eu não fosse ser presa, e não fosse deixar a minha mãe infeliz... eu já teria matado ele à muito tempo. Dei graças a Deus quando aquilo finalmente acabou e eu pude ir para o meu quarto. Coloquei o pijama e fui para cama desejando que o próximo dia fosse melhor que aquele.


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