Silence escrita por Natmed


Capítulo 15
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Foi mal pela demora :(
Estou sem computador e sem tempo de escrever/postar.
Talvez eu demore um pouquinho para postar o próximo. Enfim, espero que gostem.



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Senti o colchão mudar embaixo de mim, e nem precisei me virar para saber que tinha alguém na minha cama.

– Mãe, eu não estou afim de conversar agora, ok? Eu estou cansada. Mais tarde a gente conversa.

– E se eu não quiser conversar mais tarde? - sussurrou no meu ouvido.

Congelei no instante em que ouvi essa frase. Não por causa do que ela implicava, mas sim porque era impossível que isso estivesse acontecendo. Aquela voz. Que ultimamente vinha assombrando meus pensamentos. Que havia destruído tudo de vivo que havia em mim, estava ali.

Me virei lentamente, mesmo sem precisar de uma confirmação.

– Olá, lindinha. - disse David com um sorriso malicioso. Antes que eu sequer processasse a informação de que David estava ali no meu quarto, na minha cama, eu tentei ficar o mais longe dele possível, correndo em direção à porta. Mas David foi mais rápido, me agarrando pelo pulso e me jogando de volta na cama. Tentei uma segunda vez mas novamente não tive sucesso, e antes que eu percebesse, ele havia me imobilizado na cama e estava montado em cima de mim, sorrindo.

– Porque você ainda tenta fugir de mim? Você sabe que não vai conseguir.

Comecei a me debater tentado me desvencilhar dele. Eu não o deixaria fazer isso comigo. Não de novo.

– Me solta! Seu porco nojento! Não me toque! - gritei, conseguindo desvencilhar uma mão, e acertando-o no estômago. Na minha cabeça esse era um bom plano. Bater nele para que saísse de cima de mim, e sair gritando porta a fora; torcendo para que minha mãe ouvisse antes que David me alcançasse. Mas ao que parecia, o meu "quase soco" não tinha surtido efeito algum. A não ser deixá-lo com raiva por ter sido pego desprevenido.

– Bancando a difícil, hein lindinha?! - disse ele, segurando os meus pulsos com mais força - agora ambos presos.

– Me solta! Mãe, me ajuda! - gritei, desesperada para que alguém me ouvisse.

– Pode gritar o quanto quiser. Ninguém vai ouvir você. - disse David sorrindo enquanto abria a minha calça e se aproximava do meu ouvido - Nós estamos sozinhos. Você é minha para fazer o que eu quiser.

Senti meu corpo todo gelar diante dessa declaração. Isso não podia estar acontecendo de novo. O quanto Deus me odiava, para me fazer passar por toda essa merda de novo? Se isso acontecesse, o resquício de esperança que eu tinha te tentar voltar a ser uma pessoa "normal", sumiria num piscar de olhos. Eu não conseguiria me erguer de novo. E não teria nem vontade para fazê-lo.

Minha visão estava embaçada pelas lágrimas que desciam descontroladamente pelo meu rosto, mas não embaçada o suficiente para que não visse David abrir a própria calça. No momento em que ele estava tentando se ajeitar entre minhas pernas - o que estava se tornando difícil para ele, devido aos meus esforços de mantê-las fechadas - comecei a ouvir um barulho de algo batendo na madeira, cada vez mais alto. No instante em que David conseguiu abrir minhas pernas, ouvi minha mãe me chamando do lada de fora da porta do meu quarto. Abri os olhos - que nem havia percebido que estavam fechados - e com a respiração ofegante, percebi que estava sozinha no meu quarto. Totalmente vestida.

Havia sido um sonho. Um sonho muito cruel. Um pesadelo, melhor dizendo.

– Lucy?

– Sim mão, entra. - disse respirando fundo, tentando acalmar o meu coração. Foi só um sonho, repeti para mim mesma inúmeras vezes, enquanto esperava a minha mãe entrar e se sentar na cama, olhando para mim.

– Lucy, aconteceu alguma coisa?

– Não, por quê?

– Bom, você está com o rosto molhado e com os olhos vermelhos. O que quer dizer que você estava chorando. Além disso, você está com um olhar triste.

– Eu estava dormindo e tive um sonho ruim.

desde o dia da festa, essa foi a coisa mais sincera que disse a ela.

– Lucy, o que está acontecendo com você ? E não me diga que não é nada, porque alguma coisa está seriamente errada aqui. Você não era assim. - disse ela, com preocupação escorrendo da sua voz.

– Assim como ? - murmurei na defensiva.

– Assim... - disse ela gesticulando na minha direção - tão...tão... fechada e... agressiva. Tudo bem, você me disse aquele dia, que não gostava do Jack e... bom, eu não posso obrigá-la a gostar dele. Mas você nunca foi tão... hostil com ele antes. Aconteceu alguma coisa? Ele fez alguma coisa para você?

Eu sabia o que ela estava me perguntando. O que estava insinuando. O tom de voz dela deixava isso muito claro. E seria muito fácil dizer sim, me livraria de dois problemas de uma vez só. Me livraria do Jack e ainda contaria para alguém o que havia acontecido comigo. Mas eu já havia assistido seriados policiais o suficiente para saber que isso não acabaria bem.

– Não mãe, o Jack não me fez nada. Eu só... ando estressada com as coisas na escola e, eu briguei com a Ashley hoje então... - deixei a frase inacabada e dei de ombros, como se não fosse nada importante, apenas alguma fase adolescente idiota.

– Se é o que você diz... -disse ela um pouco mais aliviada, apesar de ainda ser visível a preocupação em seus olhos. - Você sabe que pode me contar qualquer coisa, certo? O que você quiser. Eu vou sempre ouvir você.

Nunca imaginei que ficaria tão feliz por minha mãe ser advogada, como fiquei naquele momento. Se ela fosse psicóloga ou algo do tipo, aí sim eu estaria ferrada. Seria praticamente impossível mentir para ela. Eu já me sentia mal por fazê-lo, se ela me pressionasse seria ainda pior.

– Sim, eu sei mãe. Não precisa se preocupar, eu estou bem. - disse tentando soar o mais natural possível. Não tentei sorrir, pois sabia que se tentasse sairia falso, e ela veria que eu estava mentindo. E também porque a última coisa que eu queria fazer, era sorrir. - E eu vou tentar ser menos... hostil com o Jack. - disse fazendo uma careta.

– Eu já ouvi isso antes. - disse ela se levantando e indo em direção a porta.

– Bem... eu vou tentar mais. - disse lutando contra o nó que estava se formando na minha garganta.

– O jantar está quase pronto.

Acenei com a cabeça, sabendo que se abrisse a boca naquele momento, a única coisa que sairia seria um soluço estrangulado e não conseguiria parar de chorar por um bom tempo. Esperei até não conseguir ouvir mais o barulho de seus passos na escada para desabar novamente na cama e colocar para fora toda a tristeza que estava segurando dentro de mim.

Ou pelo menos um pouco dela.

– Jack, a Lucy gostaria de falar com você. - disse minha mãe, sentada do outro lado da mesa, depois que um silêncio desconfortável havia se estabelecido no decorrer do jantar.

Tirei os olhos do meu prato e olhei para ela sem entender. Não havia nada que eu quisesse falar com o Jack. Na verdade, eu fazia o máximo que podia para ignorá-lo. Foi quando percebi - pela expressão no rosto dela - o que ela queria que eu dissesse. Ela estava com o mesmo olhar de quando eu era criança e fazia algo errado. E era como eu me sentia por ter que fazer aquilo.

– Hã... - disse franzindo o cenho - é, eu... queria pedir desculpas pelo meu comportamento mais cedo.

– Lucy. Eu não quero que você peça desculpas, se você não estiver falando sério. - disse ele com uma expressão calma no rosto, mas pude ver pelo brilho nos seus olhos, que ele estava se controlando para não me mandar para longe. Sempre tentando bancar o bonzinho perto da minha mãe. Patético.

– Tudo bem. Você que sabe. - disse dando de ombros. Tentei focar a minha atenção na minha comida, mas estava se tornando difícil com a minha mãe me encarando em expectativa.

– Você não vai dizer nada Lucy? - disse ela.

– Dizer o que? Você ouviu o que ele disse, ele não quer que eu peça desculpas se eu não quiser realmente dizer isso. E todos nós sabemos que eu só pedi desculpas porque você queria, então... - disse dando de ombros novamente. - não sei exatamente o que eu deveria dizer.

– Lucy James! Você está agindo como uma criança!

– E você está me tratando como uma criança, me obrigando a pedir desculpas para...ele. - Me controlei o máximo que podia para não falar outra coisa. Se eu xingasse Jack novamente, com certeza a minha situação pioraria. E ela já estava ruim o suficiente.

– Está tudo bem Lauren. - disse Jack colocando a mão no braço da minha mãe - Eu não quero que ela seja obrigada a me dizer qualquer coisa, e sim, que ela diga por livre e espontânea vontade...

Certo. Espera sentado amigo, pensei comigo mesma.

– Além do mais, a Lucy deve estar passando por uma fase ruim. Tenho certeza que logo as coisas vão voltar ao normal.

– Uau. De Bob, o construtor* para psicólogo. Que promissor. - murmurei, cutucando a minha comida com um garfo.

– Lucy. - disse Jack com um tom de advertência em sua voz. Sobre o que ele estava me advertindo eu não fazia ideia. A essa altura, eu pensei que ele já tivesse percebido que ele poderia me direcionar quantos olhares raivosos ele quisesse. Eu não tinha medo dele.

– Tanto faz. - disse revirando os olhos - Vocês queriam que eu pedisse desculpas e eu pedi. Agora, se você aceita ou não, não é problema meu.

– Lucy, chega! - disse minha mãe, batendo na mesa com o punho, me fazendo pular na cadeira ao ser pega desprevenida.

– Desculpa. Mas eu só estou sendo sincera. Eu só pedi desculpas, porque você queria. Do contrário eu teria deixado essa história de lado. E eu sei que prometi a você, mas eu não vou ficar calada enquanto ele faz suposições idiotas a respeito da minha vida, como se ele fosse meu confidente. Ele não me conhece para querer falar esse tipo de merda!

– Olha o linguajar, mocinha! - disse Jack me olhando com falsa reprovação. Me levantei da minha cadeira como se ela estivesse pegando fogo.

Eu podia lidar com ele me atacando verbalmente, ou se passando por bonzinho para minha mãe. Mas ele falar comigo daquele jeito... como se ele fosse meu pai... era a gota d'água.

– Você não é meu pai! - disse com os dentes cerrados. - Então pare de tentar agir como tal!

– É esse o problema, então? Você achar que eu quero substituir o seu pai? Porque Lucy, eu n...

– PARA DE TENTAR ME ANALISAR, DROGA! - gritei, saindo mais alto do que pretendia. - Só... parem, e me deixem resolver os meus problemas sozinha.

Me dirigi as escadas, pensando seriamente em me esconder lá até o dia seguinte.

Lucy eu estava pensando, porque você não convida a Ashley para jantar aqui em casa hoje à noite? Assim você pode se desculpar com ela. - disse minha mãe, tirando a minha atenção do meu café.

– Me desculpar com ela? - perguntei confusa.

– Sim, você disse ontem que vocês haviam brigado. Enfim, é só uma ideia. - disse ela com cautela. Me senti mal por ela estar falando comigo daquele jeito, como se eu fosse algum tipo de animal selvagem, pronto para atacar a qualquer sinal de movimento brusco. E eu não podia culpar ninguém além de mim mesma por isso.

– É uma boa ideia sim, eu vou falar com ela hoje. - disse sorrindo para ela, em uma tentativa falha de me desculpar pelo que vinha acontecendo. - Obrigado mãe.

– De nada querida. - disse ela dando um beijo no topo da minha cabeça.- Você se importa de passar no supermercado no caminho para casa? Eu preciso de algumas coisas para o jantar.

– Sem problemas. Mas você sabe que a Ashley adora a sua comida, qualquer coisa que você fizer ela vai gostar.

– Fico feliz em ouvir isso. - disse ela rindo. - Mas além da Ashley, nós vamos ter outro convidado.

– Oh!Ok.

– Obrigada querida. Eu vou deixar a lista em cima do balcão. Não esqueça de falar com a Ashley. Até mais tarde meu anjo, eu preciso encontrar um cliente antes de ir para o escritório.

– Ok, pode deixar. Tchau mãe.

– Olá?! Tem alguém em casa?

– Aqui na cozinha querida.

– Aqui estão as suas compras. - disse colocando as sacolas em cima da mesa. - Você precisa de ajuda?

– Não, está tudo bem. Eu acho que dou conta. Você falou com a Ashley?

– Sim, ela aceitou o convite. Ela quis passar em casa primeiro para se arrumar.

Convencer Ashley a aceitar o convite, não foi tão difícil quanto eu pensava. Só precisei pedir desculpas, dizendo que eu estava errada e que o Tommy estava definitivamente gostando dela. E ouvi-la descrever o 3º encontro deles. Minuciosamente.

– Eu vou subir e me arrumar então, se não tiver problemas.

– Pode ir.

Após o banho, decidi vestir o mesmo vestido azul havia usado no jantar anterior. Como uma espécie de sinal de "trégua", eu acho. Pois sabia o quanto minha mãe gostava daquele vestido, e o sabia que ela ficaria feliz ao me ver usando-o. Quando estava descendo as escadas, ouvi alguém tocar a campainha.

– Pode deixar que eu atendo. - gritei me dirigindo a porta. - Deve ser a Ashley.

Quando abri a porta, congelei onde estava. Minha respiração vacilou, e meu coração estava desesperadamente tentando sair pela boca. Junto com tudo o que havia no meu estômago. A única coisa que consegui fazer foi ficar ali parada, olhando atônica, sem querer acreditar no que estava vendo.

–Olá lindinha.


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Notas finais do capítulo

* Fazendo referência a um desenho infantil em que um boneco/cara/o-que-for constrói coisas com a ajuda de suas ferramentas que falam.
Lembrando que Jack e David trabalham no ramo de construções.



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