Silence escrita por Natmed


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Foi mal pela demora para postar :(



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Não fazia ideia de quanto tempo eu estava ali, deitada no chão em posição fetal.

Eu esperava que a qualquer momento eu iria abrir os olhos, e estaria em meu quarto. Percebendo que tudo não tinha passado de um sonho ruim. Mas o tempo foi passando e isso não aconteceu.

Reunindo o pouco de força que ainda tinha, me levantei e fiz uma pequena avaliação do meu corpo. Minhas pernas estavam começando a ficar roxas em alguns pontos e sangrando em outros. Não sabia dizer se o sangue era de algum corte em minha perna ou se era porque havia perdido a minha virgindade. Roubada, seria uma descrição melhor. Apesar de parecer uma frase dita por uma donzela em perigo, em algum tipo de romance brega.

Meu suéter estava com alguns pequenos rasgos e meu corpo todo estava dolorido, como se tivesse ido a academia pela primeira vez. Eu não precisava desse tipo de lembrete sobre o que aconteceu. Eu só queria esquecer. O mais rápido possível. Chutei o que sobrou da minha meia-calça e calcinha para longe, peguei a minha bolsa do chão e sai daquele lugar a passos largos, com a visão turva devido às lágrimas. Eu só queria ir para casa e esquecer o que havia acontecido. Mesmo sabendo lá no fundo, que não era tão simples assim.

Abri a porta do meu quarto e fui direto para o banheiro. Estava hesitante em me olhar no espelho, com medo do que poderia encontrar lá. Mas sabia que precisava saber a extensão dos danos.

Quase não reconheci a garota que estava olhando para mim. Ela estava descabelada, com alguns arranhões espalhados pelo rosto, um pequeno corto pouco acima do lho e uma marca arroxeada perto do queixo. Mas não foram as contusões em seu rosto que me chamaram a atenção, mas sim, os seus olhos. De um tom incrível de azul, que lembrava o céu e estavam constantemente brilhantes e cheios de vida, eles viraram um olhar vazio. Sem vida. Como se o que eu estivesse vendo no espelho fosse apenas uma casca do que um dia havia sido, uma garota feliz e cheia de sonhos. E eu não podia culpa-la por estar quebrada desse jeito. Isso poderia ter acontecido com qualquer um.

Mas não aconteceu com qualquer um. Aconteceu com você. Uma vozinha irritante disse dentro da minha cabeça. Você deveria saber que isso aconteceria. Você realmente achou que aquele cara estaria interessado em algo mais, além de querer foder você?! Você é tão patética por ter acreditado nele.

Fechando os olhos, tentei o máximo que podia calar essa voz insuportável e tirar as lembranças de David em cima de mim, de dentro da minha cabeça. Mas o fato de estar com o cheiro dele impregnado em mim, não estava ajudando em nada no processo de esquecimento. Tirei a roupa e entrei no Box do chuveiro, esperando que a água lavasse toda a dor que estava sentindo por dentro. Mas quanto mais eu tentava esquecer, mais o meu cérebro fazia questão de me lembrar. Quando dei por mim estava sentada no chão, encostada na parece, deixando que as minhas lágrimas se misturarem com a água do banho.

Acordei no dia seguinte com o barulho de panelas no andar debaixo. Olhei ao meu redor e percebi que havia adormecido no chão do banheiro. Levantei-me e liguei o chuveiro. Precisava de um banho para pensar no que fazer. Eu sabia que a coisa certa a fazer era contar para alguém o que havia acontecido, mas eu não conseguiria fazer isso. Era vergonhoso demais. E contar o que havia acontecido, reviver isso... seria como ser estuprada de novo. Eu não conseguiria lidar com a dor. Se somente alguns flashes do que havia acontecido, já estavam me dilacerando por dentro, reviver tudo aquilo em detalhes iria acabar comigo. Era uma decisão covarde a que eu estava tomando, mas eu sabia até onde a minha coragem ia. Eu não precisava que essa história se espalhasse e as pessoas me olhassem com pena. Eu não precisava de nada disso. Só precisava esquecer. E como tempo, isso iria acontecer. Eu só esperava que o enjoo que sentia quando lembrava de... David e o que ele havia feito, e a sensação de me sentir suja, desaparecessem junto.

Fui para a cozinha tentando parecer o mais normal possível. O que foi um grande esforço. A única coisa que eu queria fazer era me enrolar como uma bola e chorar.

O olhar zangado de minha mãe deu lugar a um preocupado assim que ela me viu na porta da cozinha.

– O que aconteceu com você querida?!

Congelei no lugar onde estava imaginando se eu estava com algum adesivo na testa, escrito “Fui estuprada”. Tudo bem, eu não estava a pessoa mais feliz do mundo naquele momento, mas eu estava dando o meu melhor para parecer um ser humano normal. Foi então que me lembrei das contusões no meu rosto. Eu havia esquecido delas, e não estava muito criativa para pensar em uma mentira convincente.

– Eu caí na escada ontem à noite, quando estava subindo para o meu quarto. – disse me dirigindo para uma das banquetas da cozinha.

– Como você voltou para casa ontem? – disse ela com as mãos nos quadris.

– Eu chamei um táxi.

– Você chamou um táxi ou pegou carona com alguém?

Eu fiquei tensa com as suas perguntas. Eu odiava quando ela me tratava como um dos seus clientes e ficava me interrogando.

– Eu peguei um táxi. – disse com os dentes cerrados.

– Porque você não ligou para mim ou para o Jack, como havíamos combinado?

– Eu liguei! Toma, pode olhar! – disse jogando o celular na mesa para ela pegar. – Eu liguei para o seu celular e estava desligado. Liguei para casa e para esse... Desperdício de oxigênio também. – disse gesticulando em direção ao Jack que havia se mantido quieto até agora.

– Lucy, eu não acho que seja muito educado as sua parte, falar comigo desse jeito. – disse Jack.

– Ah, vai à merda você também.

– Lucy! Essa não foi a educação que eu te dei! – disse minha mãe com o meu celular na mão. – O meu celular estava ligado ontem a noite quando fui dormir e estava ligado hoje pela manhã. Você tem certeza que o meu celular estava desligado quando você “supostamente” me ligou?

– Porque você esta me enchendo de perguntas mãe?! Eu não sou um dos seus clientes! Você esta com o meu celular, e está vendo a maldita chamada! – disse me levantando da mesa. – Eu vou para a escola que eu já estou atrasada. – disse saindo pela porta da frente.

Eu só esperava que esse não fosse um indício de com seriam os próximos dias. Porque se fosse o caso, o meu segredo deixaria de ser um segredo em breve.


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